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Não está tudo perdido: materiais para pensar, organizar e agir no combate à crise climática

A Escola de Ativismo traz um grande apanhado de mais de 30 materiais que produzimos sobre resistência climática, ação direita e cuidados integrais

Basta respirar e piscar os olhos para perceber os efeitos da crise climática. Ou viver numa região afetada pelas chuvas ou secas. Frente a este cenário triste e trágico, podemos algumas vezes nos desesperar e nos sentir impotentes. Só que, por mais que o problema seja enorme, há muitas formas de seguir na luta. Aqui, na Escola de Ativismo, pensamos no cuidado coletivo e o autocuidado, que passam por lembrar das nossas fragilidades e nos cuidarmos para não cair; ter uma comunicação mobilizadora; pressionar representantes do povo; e nos organizar politicamente para pensar em propostas de curto, médio e longo prazo. 

Mas por onde começar? A situação é grave e pode ser um pouco aterrorizante e confuso saber como dar início a essa luta. Para lidar com o problema precisamos entender bem os desafios que estamos enfrentando. E, mais importante, contra quem estamos lutando. 

Trazemos abaixo uma compilação de conteúdos (é chuva de links!) para ajudar a pensar e agir nesse cenário. Convidamos você a navegar por tudo e/ou clicar nos temas que mais te interessarem. 

AQUI VOCê VAI ENCONTRAR

  • ESTRATÉGIAS DE RESISTÊNCIA E FERRAMENTAS DE AÇÃO: ações criativas, o uso da cultura, como se relacionar e cuidar do território de outros modos. Uma lista de conteúdo para quem quer e precisa se organizar 
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QUEM SOFRE DE VERDADE COM OS IMPACTOS DA CRISE CLIMÁTICA: confira as consequências das alterações extremas no clima pensando raça, identidade, território, renda, gênero/orientação sexual e também as sequelas nas infâncias.

CUIDADOS COM O CORPO, ALMA E MENTE: Tentativas de silenciamento surgem principalmente contra quem se coloca na linha de frente na defesa do planeta. É preciso contar com camadas extras de proteção física, cuidados digitais, atenção com a saúde mental e pedir proteção espiritual.

COMO ENTENDER NOSSOS INIMIGOS E LUTAR: extrema-direita, rede de desinformação, negligência de lideranças políticas e ações de degradação do meio ambiente são fatores importantes a serem analisados e combatidos.

ESTRATÉGIAS DE RESISTÊNCIA E FERRAMENTAS DE AÇÃO

Além da nossa resistência territorial, há maneiras estratégicas e criativas de protestar contra a inação de governos diante da crise do clima. Que tal usar a criatividade como ferramenta de resistência e meios alternativos de mobilização? Veja cinco dicas criativas de táticas de ação direta que já foram usadas por ativistas em protestos no Brasil.

Fazer críticas à condução da política ambiental brasileira de forma descontraída e sarcástica pode ser um caminho de garantir que sejamos vistos e ouvidos. E, se quiser realizar uma ação direta de sucesso, veja o nosso guia especial “Ação direta, como planejar e fazer”.

Mas a mobilização não é só sobre protestos e manifestações públicas. Existe um trabalho de base muito importante acontecendo dentro das comunidades. E quem precisa lutar pelo seu território precisa resistir de várias formas Resistir não é apenas se fortalecer como indivíduo, é também se fortalecer coletivamente, seja por meio de organizações estruturadas, artivismo, comunicação popular. É respeitar também quem veio antes e usar esse conhecimento que foi passado para proteger os de agora e os que vem depois. Ou seja, é quando pensamos não apenas nas nossas florestas, mas nas vidas que estão nelas e no entorno, temos a compreensão do que é o meio ambiente e como resistir diante de tantas violências.

Estratégias no campo e em áreas urbanas 

Mesmo em áreas urbanas é possível e necessário pensar em meio ambiente. Usar técnicas de reflorestamento e plantar enquanto nossos inimigos queimam e desmatam faz toda a diferença. 

Foi o que fizeram grupos de pessoas em Nova Iguaçu, Rio de Janeiro. Convidadas pelo Instituto EAE (Educação Ambiental e Ecoturismo), que faz trabalhos para promover a preservação do meio ambiente, do patrimônio cultural e natural da conhecida Serra do Vulcão, pessoas entusiasmadas se reuniram em uma grande ação em prol da vida: um plantio de árvores. A ação faz parte da ação #ElesQueimamNósPlantamos.

A comunidade local acredita que é fundamental que as novas gerações olhem para a preservação com cuidado. Uma das pessoas que também foram atraídas para fazer plantios na Serra é a guia de turismo Raimunda Delanda, de 86 anos. Para ela, as gerações atuais devem ser atuantes pela preservação daquilo que já existe e pela reparação do que foi destruído. “Eu falo pro mais jovem pra ele tomar conta do seu espaço. Tomar conta dele, cuidar do meio ambiente, porque o jovem vai precisar muito mais do que eu. Eu ainda estou construindo hoje para vocês, mais jovens. Só que eu estou indo. E alguém tem que ficar cuidando”, disse. 

Ativistas e comunidades têm mantido rios vivos, plantado árvores e inclusive mostrando que é possível fazer uma transição energética popularO projeto Veredas Sol e Lares, uma usina solar fotovoltaica desenvolvida no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, foi uma proposta pelo Movimento Atingidos por Barragens e parceiros, a usina foi desenvolvida com protagonismo das comunidades em todas as etapas.  Mais do que um projeto energético, a iniciativa é uma experiência de desenvolvimento comunitário, no qual foram envolvidas aproximadamente seis mil pessoas, em mais de 400 atividades de campo, nos 21 municípios que fazem parte da abrangência da usina. 

Mantendo rios vivos 

A experiência do Vão Grande, região que reúne cinco comunidades quilombolas no Pantanal mato-grossense, mostra que a relação entre povo e rios é intensa. Em 2021, os quilombolas conseguiram barrar na Justiça a construção de uma Pequena Central Hidrelétrica (PCH), tipo de usina que, apesar do porte, causa grandes impactos biológicos e sociais na região onde é construída. Para proteger o Rio Jauquara, cujas margens servem de refúgio e subsistência desde a fuga de seus ancestrais escravizados, uma das táticas usadas foi criar, no dia 28 de abril, o Dia do Rio Jauquara, que valoriza a relação dos quilombolas com o rio, o que serviu de base também para a Justiça impedir a construção que acabaria com esse modo de vida.

Cultura como ponto de partida

Pense que existem formas variadas de fazer resistência. A cultura, por exemplo, tem a ver com a crise climática e pode ser uma estratégia de mobilização. Marcele Oliveira,  produtora cultural, comunicadora e ativista climática, refletiu sobre como cultura pode, de forma efetiva, ser aliada no combate à emergência climática. 

Ela explica que utilizar o discurso ‘cancele o evento cultural’ para contestar as consequências das mudanças climáticas que nos atingem não é eficiente.  E se formos falar em eventos, ecobag e copo eco já não são as inovações do momento. “Sustentável mesmo é envolver cooperativas de resíduos sólidos e visibilizá-las ao público, valorizar trabalhos feitos por comunidades que protegem o bioma onde aquele encontro se realiza, alocar o discurso de solidariedade ao discurso de emergência, cobrança e mobilização em torno de um apoio governamental para adaptar os editais culturais considerando medidas alternativas para ondas de calor ou de chuvas excessivas. É necessário prevenir, conscientizar e politizar sim o debate nesse âmbito, onde o encontro e união de pessoas para a diversão também as sensibiliza para olhar além da tragédia em si”, afirma Marcelle. 

A cultura para fomentar a luta em defesa dos territórios e fortalecer narrativas. No Pará, um projeto leva, de barco, filmes regionais para comunidades à beira do rio. A ação itinerante do Instituto Regatão Amazônia exibe curtas e longa-metragens em  aldeias e comunidades ribeirinhas da Amazônia com objetivo de popularizar o cinema e torná-lo um instrumento democrático para manter viva as culturas amazônicas e fomentar a luta em defesa dos territórios da floresta. “Os filmes apresentam conexões com o fazer cultural das comunidades ribeirinhas, o que contribui para preservar nossa biodiversidade. São promovidos diálogos com as comunidades desses filmes que abordam o cotidiano e a cultura das comunidades locais”, diz Marlena Soares, presidenta do Instituto.

A força do ativismo ancestral

O que pode ter mais força do que o ativismo ancestral? Povos quilombolas provam que o afeto, a identidade, autocuidado e educação são bases da resistência principalmente entre as mulheres. Os modos de vida dentro dos territórios são fundamentais para o fortalecimento da luta contra diversas desigualdades. Esse movimento tem despertado as novas gerações para o empoderado e para a luta

A luta pelo território, pela natureza e pela vida leva comunidades a outras discussões importantes, entre elas, a liberdade estética. Apesar das violações de direitos que ainda afetam os quilombos, o ativismo ancestral acendeu uma nova geração: a de mulheres e meninas quilombolas empoderadas e orgulhosas da aparência e da identidade ancestral.  

“Cresci me achando linda graças às mulheres do meu quilombo, à luta do movimento quilombola e à construção matriarcal da minha comunidade. Em nenhum momento da vida fui ensinada que eu teria que me adequar aos espaços. Pelo contrário. Eu cresci ouvindo que os espaços teriam que se adequar à minha presença e a tudo que sou, desde o meu tom de pele a todas as formas que gosto de usar meu cabelo. O amor próprio se constrói e, como eu cresci nesse processo, sempre fui instigada a me amar”, disse Lorena Bezerra, quilombola da comunidade Conceição das Crioulas, em Salgueiro (PE).

CONFIRA ABAIXO TODOS OS CONTEÚDOS COMPLETOS, CLICANDO NOS TEXTOS:

Resistência climática: rememorando táticas de ação direta criativa
Protesto na paulista, ativistas pelo clima erguem faixa escrito "mude o sistema não o clima" como ação direta criativa

Moradores fazem mutirões de plantio para reflorestar áreas degradadas na Serra do Vulcão, em Nova Iguaçu.  No entorno da Serra, é possível ver como Nova Iguaçu é grande: de acordo com o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a população iguaçuana conta com 785.867 pessoas. Em um lugar tão bonito e potente, o racismo ambiental também reina — o último Mapa da Desigualdade da Casa Fluminense mostra que 93% foi o percentual de negros internados por doenças transmitidas pela água em relação ao total de internados.  LEIA AQUI 

OS MAIS IMPACTADOS PELA CRISE CLIMÁTICA

Frente às mudanças climáticas, as pessoas não são afetadas da mesma forma. Quem mais sofre com os impactos das mudanças climáticas são as pessoas mais preocupadas em não poluir. Fatores como raça, gênero e classe evidenciam essas injustiças climáticas e ambientais e tornam algumas pessoas e lugares mais suscetíveis a sofrerem grandes perdas. Não é segredo para ninguém que o aumento da frequência dos eventos climáticos extremos têm deslocado e vulnerabilizado cada vez mais pessoas no Brasil. 

Por isso, o texto escrito por pesquisadoras da Rede Sul-Americana para as Migrações Ambientais (RESAMA) discute termos como “refugiado climática”, explica como os efeitos adversos da mudança climática colocam em risco os direitos humanos e aponta que os desastres são resultados de escolhas humanas e decisões políticas. Os eventos escancaram o despreparo das cidades brasileiras em prevenir, responder e se adaptar aos eventos climáticos, especialmente no que diz respeito aos grupos e comunidades mais expostas.  

“Aos milhares de desalojados e desabrigados em caráter temporário, somam-se os indivíduos e comunidades que foram deslocadas pelo desastre ou que agora planejam migrar. Ao perderem suas casas, territórios e meios de subsistência, as pessoas que já estavam em uma situação de vulnerabilidade, ficam ainda mais expostas à violações de direitos humanos e nem sempre conseguem retornar ao seu lugar. Assim, pessoas desabrigadas ou desalojadas podem se tornar deslocadas à medida que o cenário do desastre ou efeito da mudança climática se desenrola; da mesma forma como os deslocamentos temporários podem se prolongar no tempo e se tornarem permanentes”. 

Infâncias impactadas

Os  eventos climáticos extremos também têm aumentado a vulnerabilidade infantil e prejudicado o desenvolvimento das crianças, principalmente de meninas. Os motivos para a violação vão desde a desigualdade econômica até a violência de gênero. 

O casamento infantil no país é uma das violências que as meninas já sofrem, mas que é — e pode ser ainda mais — agravada pela crise climática. A falta de acesso à água, inundações, falta de abrigo, secas… são situações que ocasionam um aumento da miséria dentro desses contextos. Diante de tanta instabilidade, famílias podem ver vantagem em casar uma filha para reduzir o número de pessoas na casa e fugir da pobreza extrema. 

A UNICEF relata que, em 2021, um bilhão de crianças e adolescentes foram expostos a pelo menos um risco climático, sejam secas, inundações, poluição do ar e ondas de calor. No mundo inteiro, isso gera fome, desnutrição, doenças respiratórias, perda de patrimônios socioculturais, rompimento de vínculos familiares e até mesmo mortes.

População LGBTQIA+ entre as mais afetadas

Lidar com as mudanças climáticas requer estratégias de prevenção, o que traz a necessidade de pensar no cuidado voltado para grupos que já são vulnerabilizados, como lugares seguros para a população trans. De acordo com um estudo do Chapin Hall na Universidade de Chicago, os jovens LGBTQIA+ são 120% mais propensos a viver sem-teto do que os jovens não-LGBTQIA+. Na realidade brasileira, pesquisas regionais têm apontado para o crescimento da população LGBTQIA+ nas ruas. A situação coloca essas pessoas na linha de frente das mudanças climáticas, sendo as primeiras impactadas pelo calor ou frio extremos, chuvas, seca, poluição e outros riscos.

Mas a luta climática pode ser construída junto à pauta LGBTQIA +. É possível visualizar a força que a essa comunidade possui para a união em momentos de emergência. Isso somado a nossa forma de olhar para o outro de maneira cuidadosa, com respeito e empatia sobre a diversidade que compõe a história de cada um, pode ser uma ferramenta essencial para construir pontes, ao invés de muros e mudar o curso da crise climática que assola o nosso planeta. 

Na linha de frente

Quem se coloca na linha de frente para a defesa do planeta acaba sendo atacado. Ativistas climáticos, defensores do meio ambiente e lideranças indígenas e quilombolas estão em situação de risco. 

Um levantamento da Comissão Pastoral da Terra (CPT) contabilizou 2.203 conflitos no campo no ano passado, uma média de seis por dia – o maior número registrado em uma década, desde o início da pesquisa. O aumento foi de mais de 7% se comparado com 2022. As ocorrências envolvem povos quilombolas, indígenas, ribeirinhos, assentados e outras comunidades tradicionais. 31 pessoas foram mortas no período.

A lentidão em resolver processos de regularização territorial é um dos fatores de ameaça para as comunidades quilombolas. Em todo o Brasil a luta pela titulação de territórios quilombolas é um ato de resistência, principalmente contra a mercantilização da terra ancestral.

Lideranças, ativistas e defensores de territórios tradicionais cobram celeridade nas titulações. É o mínimo, já que o Estado Brasileiro age rapidamente para liberar licenças ambientais que permitem grandes desmatamentos, mas demora séculos para titular os territórios quilombolas em que vivem famílias em situação de perigo, vulnerabilidade e sem acesso a políticas públicas. 

Tentativa de silenciamento 

Defender os biomas e seus territórios no país costuma ter um preço muito alto, que ficou ainda mais caro nos últimos anos por conta de uma política agressiva e de não inclusão de pautas ambientais nos seus projetos. Quem fala sobre essas injustiças fica na mira. Comunicadores da Amazônia vivem sob ameaças e perseguições porque trabalham denunciando e dando visibilidade às invasões de territórios indígenas, garimpo ilegal, exploração de madeira e outras irregularidades que resumem uma disputa brutal por territórios e recursos.

O relatório “Fronteiras da Informação” do Instituto Vladimir Herzog, divulgou informações sobre jornalismo e violência na região. A pesquisa mostra que as apurações que envolvem crimes na Amazônia motivam ameaças, agressões e mortes, como as do jornalista Dom Phillips e do indigenista brasileiro Bruno Pereira, assassinados em junho de 2022 enquanto apuravam crimes ambientais na região do Vale do Javari, no Amazonas.

 

CONFIRA ABAIXO TODOS OS CONTEÚDOS COMPLETOS, CLICANDO NOS TEXTOS:

Desastres, migração e deslocamento: a luta por direitos das pessoas e comunidades afetadas pela crise climática no Brasil

CUIDADOS COM O CORPO, MENTE E ALMA

As comunidades originárias e tradicionais, ativistas e defensores precisam estar em segurança para continuar na luta. É impressindível ter estratégias para segurança integral e ter camadas extras de proteção. Construir protocolos e contar com medidas de segurança podem estimular e fortalecer o processo de luta política por direitos no Brasil. 

 A responsabilidade da garantia de segurança às vítimas é do Estado, mas com tantas falhas, é importante que as pessoas que vivem em condições de vulnerabilidade também se auto protejam e participem de todo o processo da elaboração da sua própria estratégia de segurança. Por isso, a Escola de Ativismo desenvolveu o “Guia de Avaliação de Riscos e Medidas de Segurança”. Isso mitiga perigos e permite que os grupos possam continuar fazendo seus trabalhos mesmo sabendo que o governo não proporciona toda a segurança esperada.

No seu ativismo, cuide também da saúde mental, por isso mostramos como ativistas lidam com a ansiedade a angústia de viver a crise do clima. Não existe tranquilidade quando o território está em perigo. O medo, apagamento de modos de vida tradicionais e sensação de impotência fazem parte da ansiedade climática. Para combatê-la busque apoio e acolhimento nos movimentos dos quais faz parte. Entender a ansiedade climática como uma questão coletiva é fundamental para atravessá-la.  Por isso temos um caderno de cuidado específico sobre o tema da ansiedade. Do mesmo modo, sabemos o quanto é importante pensar nas noites tranquilas, e a necessidade de pensar sobre a insônia. Também faça exercícios físicos e tenha hobbies paralelos à luta. Cuide do corpo e da mente. 

capa do zine sobre ansiedade
Capa do ZIne sobre insônia

A proteção espiritual

O trabalho da Escola de Ativismo abarca várias dimensões da segurança, como a digital, de informação, física, patrimonial e organizacional. Nesse campo, a Escola atua com toda a diversidade de povos e comunidades tradicionais, assim como com as organizações e movimentos populares que os apoiam. “Na trajetória da Escola, atuamos muito com oficinas, em espaços de escuta das demandas das comunidades e das organizações, e, nesse processo, entendemos que os aspectos psicossociais e espirituais são fundamentais para como esses povos se organizam. Por entender essa importância, é algo que temos incorporado em nossas oficinas de segurança integral”, contextualiza Márcia Maria Nóbrega, a Escola 

Márcia explica que tem ouvido muito nas oficinas que nunca alguém ou algo está seguro se não há uma proteção espiritual. “Por isso temos tentado entender como podemos trazer essa sabedoria dos povos tradicionais para os processos formativos e para os planos de ação e segurança elaborados junto às organizações e comunidades.  A proteção espiritual é algo novo para nós, e ancestral para os povos.” Por isso, busque também proteção espiritual.  É sempre bom fazer orações, preces, rezas…  Pedir proteção às forças ancestrais, à natureza e ao que você acredita também é tática de defesa. 

E não esqueça da parte digital

Hoje é praticamente impossível realizar alguma luta política sem o uso de tecnologia. Seja no monitoramento territorial de terras indígenas até no uso das redes sociais, os coletivos ativistas têm na internet um forte aliado, mas também uma grande vulnerabilidade. 

Pensado nisso, a Escola de Ativismo tem uma página especial sobre segurança digital, com mais de 20 conteúdos específicos sobre o tema. Vai desde como usar navegadores e aplicativos de conversas mais seguros, passando também por como podemos proteger nossos dados e apagar nossos rastros quando estamos sendo espionados. Conheça a página especial aqui. 

“Pessoas em exposição constante são alvos mais visíveis, tanto para seus inimigos diretos, quanto para golpistas no geral. Ao mesmo tempo que ativistas do interior que lutam por demarcação de território, enfrentam latifundiários, empresários, garimpeiros, também colocam seu rosto e sua identidade na internet ou viram alvo para tentativas de extorsões a partir do sequestro de dados de organizações que estes ativistas participam ou são aliados. Não somente a pessoa ativista é alvo, mas sua comunidade e seus principais companheiros e companheiras de luta”, afirma Rafael Ramires, da Escola de Ativismo. 

 

CONFIRA ABAIXO TODOS OS CONTEÚDOS COMPLETOS, CLICANDO NOS TEXTOS:

Guia para uma avaliação de risco e medidas de segurança

Leia o guia completo da Escola de Ativismo sobre como adotar medidas de segurança, construindo um plano para você e para seu coletivo. 

Veja também a matéria que mostra outros materiais que podem ajudar a fortalecer sua proteção. 

Foto: Vitória Rodrigues

COMO ENTENDER NOSSOS INIMIGOS E LUTAR CONTRA ELES

Não é porque a extrema-direita nega a importância da pauta do clima que ela não se movimenta 24 horas por dia contra essas políticas. Parte da estratégia é exatamente essa.  

Graziela Souza, cientista social e coordenadora de relações governamentais no Instituto Clima de Eleição, explica que as consequências das mudanças climáticas acentuarão todos os tipos de desigualdade e injustiça, incluindo a política. Ela pontua que é preciso avaliar atentamente a postura dos candidatos nessas eleições municipais e tomar cuidado com o greenwashing, principalmente da extrema-direita, já que a narrativa do negacionismo climático ainda é forte e um inimigo a ser combatido, e provavelmente estará bastante presente no período eleitoral.  

“O principal objetivo da extrema direita é manter o status quo, ou seja, garantir a continuidade do modelo de produção capitalista baseado na emissão de carbono”, afirma. 

Para começar, as emissões de dióxido de carbono (CO2) são desiguais entre países ricos e pobres e, se nada for feito, essa situação tende a piorar. “O paradoxo é que, se a extrema direita não se opuser a esse modelo de produção, não haverá futuro para ela, pois a degradação ambiental causada por esse sistema afetará a vida no planeta como um todo”, diz Graziela. 

Redes de desinformação 

Nessa batalha, temos que lutar também contra a disseminação de notícias falsas. A pesquisadora Lori Regattier explicou como redes de desinformação têm destruído o meio ambiente. A consultora em tecnologias justas e sustentáveis e fundadora da plataforma Eco-mídia afirma: “Através da propagação de narrativas falsas, atores políticos e econômicos podem minar os esforços de conservação, restauração e de respeito aos direitos territoriais dos povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais.  E ela não se limita apenas à comunicação de mensagens falsas: envolve a manipulação das intensidades emocionais e psicológicas das pessoas”. 

O objetivo não é só negar as mudanças climáticas, mas também prejudicar a conscientização da população sobre o tema para conseguir alcançar interesses próprios.

“A desinformação socioambiental é frequentemente disseminada por interesses comerciais e políticos que negam as mudanças climáticas ou minimizam sua gravidade, cria confusão e ceticismo entre o público em geral. Isso resulta em uma divisão na sociedade, com parte da população duvidando da existência das mudanças climáticas e da necessidade de ação urgente. Isso também prejudica a mobilização da sociedade civil e a conscientização sobre a importância da justiça climática. Quando informações errôneas são disseminadas, aqueles que estão buscando criar uma mudança positiva muitas vezes têm que gastar tempo e recursos consideráveis desmentindo falsidades e educando o público sobre os fatos científicos reais. Isso desvia o foco das ações concretas necessárias para lidar com as mudanças climáticas e cria um ambiente de desconfiança em relação à informação legítima” – Lori Regattier

 

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Crise climática ampliará desigualdade política e impactará democracia, diz especialista

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