As iniciativas comunitárias de defesa do rio Jauquara tiveram início com a fundação do Comitê Popular do Rio Jauquara, aquele fundado no dia 28 de abril de 2018. Ele compõe um grupo de 13 comitês populares de afluentes do rio Paraguai, maior corpo d’água da região, cujo comitê de defesa foi o primeiro a ser fundado e é fortalecido por todos os outros.
Um dos fundadores do Comitê Popular do Rio Paraguai, o ativista ambiental e integrante da organização Fé e Vida, Isidoro Salomão, explica que a iniciativa partiu da ausência de autonomia de luta nos comitês oficiais das bacias hidrográficas, que reúnem representantes do governo, da sociedade civil e de usuários das águas, grupo formado principalmente por grandes empresas. Salomão explica que este último grupo, “que tem dinheiro”, tem mais espaço nos comitês oficiais.
A partir da organização dos comitês populares, os moradores da bacia do rio Paraguai passaram a organizar suas demandas coletivamente nos espaços populares para então pautá-las dentro dos espaços oficiais. “Antes nós íamos para as audiências públicas para escutar políticos falarem. Hoje, a gente fala e eles escutam”, resume.
Com a criação do Comitê do Rio Paraguai, percebeu-se a necessidade de expandir a organização para cada um dos rios que formam a bacia. “Nos inspiramos no funcionamento das próprias águas. Rios pequenos se juntam para formar o grande, e por isso não são menos importantes. Com os comitês é a mesma coisa. Ao lado de cada rio a gente juntou o povo para cuidar daquela água”, explica.
A fundação dos comitês populares aconteceu por meio da formação de lideranças comunitárias pela Escola de Militância Pantaneira, criada por Salomão e por sua companheira na jornada do ativismo ambiental, Vanda Aparecida dos Santos. Na escola, os representantes aprendem sobre recursos hídricos, meio ambiente, estratégias de luta e de participação pública.
Desde então, os comitês populares se tornaram “guardiões das águas”, explica Vanda. “Os moradores fazem um elo de vigilância, estão sempre em estado de alerta”, completa. E para a ativista, os dias dos rios são um motivador sagrado para esse movimento. “Ali é o momento em que a mística alimenta todos esses seres pantaneiros e pantaneiras para o cuidado com a casa comum”.
Vanda e Salomão nasceram e foram criados no município de Cáceres, às margens do rio Paraguai. Salomão visita as margens do rio todos os dias, atento às suas mudanças. “Ele está muito diferente. Eu tenho uma embarcação de pequeno porte que já tem dificuldade de navegar por seis meses ao ano”, revela. O ativista explica que embora as PCHs representem uma das maiores ameaças para as águas da bacia, elas compõem um conjunto de interesses de um mesmo setor: o agronegócio.
“As PCHs beneficiam apenas a um grupo de pessoas, geralmente todos ligados ao agronegócio e à política. Com as leis e a produção nas mãos, eles se unem e montam mais uma empresa que beneficia o agro. Constroem e lucram com isso”, afirma Salomão.
A justificativa do setor elétrico para a construção das PCHs é o aumento da segurança energética no país. No entanto, no Mato Grosso, esses empreendimentos não contribuem nem com 2% da geração de energia, e na prática, essa energia é aproveitada principalmente pelo agronegócio.