Escola de Ativismo

Luh Ferreira

Educadora Popular, ativista, doutora em Educação

Encantada com o mundo, indignada com a situação dele

Eu não quero crescer! Uma seleção ativista de músicas para crianças

Por Arthur Dantas

Disco de vinil tocando em uma vitrola

A música sempre esteve presente como forma de denúncia e protesto | Foto: Pixabay

Ser criança não deve ser um desafio, diz o senso comum. Mas não exatamente o que mostram as estatísticas locais e globais. Diariamente, milhões de crianças são obrigadas a conviver com a pobreza, a violência e a falta de oportunidades. Há inclusive aqueles que deixaram de aprender a escrever para treinar para a guerra, substituindo o papel por armas. Outros vivem abusos domésticos, nas escolas (conhecido como bullying) e se veem obrigados a silenciar abusos e humilhações.

A música sempre apareceu como uma plataforma de denúncia e protesto.

Praticando uma paternagem punk, com uma menina de 11 anos, exercito bastante uma seleção musical um pouco voltada para minhas raízes punks esquerdistas. Ao mesmo tempo, gosto de compartilhar músicas que apresentem nossos irmãos latino-americanos, a realidade triste da guerra e um pouquinho também das minhas predileções infantis “contestatórias” de quarentão.

É isso que apresento agora pra vocês!

Garotos Podres – “Vou fazer cocô” e “Papai Noel, velho batuta”

Tendo passado infância e pré-adolescência no ABC paulista do pós-Ditadura, filho de classe operária fabril, minha porta de entrada no universo punk foi os Garotos Podres. E tem duas músicas deles que eu compartilho sempre com as crianças: “Vou Fazer Cocô”, que ensina a desconfiar dos políticos profissionais, e “Papai Noel, Velho batuta”, que é uma ótima canção pra tratar de desigualdade e consumismo numa data na qual os parentes enchem as crianças de bugigangas.

Leucopenia – “Infância”

Leucopenia foi uma banda da Baixada Santista que era trilha sonora obrigatória de todo punk anarquista dos anos 1990 na região sudeste. E eles tinham essa canção, “Infância”, que era um tema bradado a plenos pulmões nos shows pelo público, com versos marcantes como “No olhar / daquela criança está / o seu modo de viver / o seu jeito de brincar / não teve paz / só ódio e incompreensão / agora segue seu caminho / sem saber, vão lhe destruir”. Uma canção de infâncias perdidas para a brutalidade, disparadora de diversas conversas interessantes com as crianças.

Gilberto Gil – “Sítio do pica pau amarelo”

Mas nem só de música punk vive uma trilha ativista pra crianças! Sítio do pica pau amarelo, do indefensável Monteiro Lobato, movia minhas manhãs na tela da TV e essa música pra mim, é a verdadeira exortação de uma vida no campo mais feliz e abundante, o que hoje eu associo imediatamente à agroecologia. Se tinha uma utopia possível na infância, era essa!

Os Saltimbancos – “História de uma gata”

Não há refrão mais libertador do que “nós gatos já nascemos pobres / porém, já nascemos livres” cantado, a plenos pulmões, por um monte de crianças! Era redentor, era libertador, e ainda hoje tem o mesmo apelo que tinha nos anos 1980.

Titãs – “Comida”

“A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte“. A batida primal, o gingado discreto e a letra direta dessa música foi uma febre na minha infância e ainda mexe com os brios da molecada! A mensagem direta da letra cala fundo com qualquer criança que vive uma realidade modorrenta de casa – escola – casa, sem muitas brechas pra ludicidade e pra diversão desenfreada que essa canção parecia prometer.

Pink Floyd – “Another brick in the wall, pt.2”

Relembrando um tema clássico da banda britânica Pink Floyd ,  “Another Brick in the Wall, Pt.2”,  não só reuniu as crianças num coro de vozes como o complementou com um recorte visual do seu longa filme The Wall (1982); que se tornou o vídeo oficial desta música. Um protesto de Roger Waters contra suas antigas escolas e a rigidez no sistema educacional, eu ainda consigo lembrar de ouvir essa música com meu pai (muito fã da banda) e ele se esforçando pra traduzir a letra para mim. Tradição que perpassou gerações.

Mundo Bita – “Nem tudo que sobra é lixo”

Confesso que sou um pouco pé atrás com essa enorme indústria da música feita para crianças que se desenvolveu no Brasil, mas essa agradável música do Mundo Bita se faz relevante em tempos de emergência climática, onde o apelo à reciclagem e ao reuso se faz pertinente!

Juny & Tony – “Activistas del derecho de animales”

De todas as “febres” infantis midiáticas, foi com Juny & Tony que eu mais fui condescendente com minha menina, mas em sua versão em castelhano! Era uma oportunidade pra conhecer a língua de nossos vizinhos e uma válvula de escape possível. Essa canção dos ativistas dos direitos dos animais deixa antever um ativista do P.E.T.A ou do Animal Liberation Front no futuro das crianças!

Emicida & Drik Barbosa – “Sementes”

Esse rap faz parte de uma campanha mais ampla contra o trabalho infantil, uma realidade miserável para muitas crianças em nosso país, e vem embalada por rimas e versos poderosos do Emicida e da Drik Barbosa.

Aterciopelados – “Florecita rockera”

Na tentativa de aproximar minha menina da cultura dos países latino-americanos, apresentei essa música chiclete dos colombianos dos Aterciopelados, um tema fofinho ecológico.

Ana Tijoux – “Luchin”

Ainda na missão de aproximar as crianças de uma América Latina de luta, dessa vez trouxe a cantora chilena Ana Tijoux, que resgatou em 2016 uma das canções mais emocionantes de Víctor Jara, um artista-herói das lutas sociais do nosso continente, para relembrar a realidade de jovens empobrecidos que foram obrigados a fazer da rua a sua casa e para quem canta: “Se há crianças como Luchín / que comem terra e vermes / vamos abrir todas as gaiolas / para que voem como pássaros”. O tema original, escrito em 1972, reativa seu poder de denúncia em uma versão em que Tijoux transforma Luchín em uma criança afrodescendente , filho de uma família que emigrou para o Chile em busca de melhores condições de vida. Perfeito para discutir a imigração em nosso país, inclusive.

Boom boom kid – Feliz

A escolar e os meios de comunicação de massa sempre tendem a uniformizar e padronizar as crianças. Então nada melhor que essa canção pop punk dos argentinos do Boom boom kid que proclama “E não me importa o que digam / o que me importa o que dirão / não estamos loucos / não estamos sozinhos / não!”. Canção singela e potente que celebra a diferença.

Ansan – “Heartbeat”

Ansam é uma das três milhões de crianças que foram forçadas a deixar suas casas devido ao conflito militar na Síria. Com apenas 10 anos, ela se tornou a voz condutora de Hearbeat , uma música com um coro de outras 22 meninas e 18 meninos sírios que compartilham com o mundo o desejo de recuperar a infância após sete anos de guerra. Perfeito pra discutir a realidade muito triste das diversas guerras que assolam o planeta.

Ramones – “I don’t want to grow up”

O hino definitivo da insurgência infantil contra o mundo de rotina, remédios e ordem dos adultos! Definitivamente, eu também não queria crescer! A promessa de uma vida eterna sem preocupações e rotinas é o tema de mais um hino dos Ramones!

Lute como uma criança

Por Vitor Janei

Criança nas costas de um adulto segura uma faixa feita de papelão

Então, como as crianças lutam? De que forma resistem? De que modo elas escapam das estratégias de dominação que lhe são impostas? | Foto: Jenny Sowry/Divulgação

Embora hajam exceções, sabe-se que as crianças, em geral, não estão organizadas em um sindicato, partido ou associação, para fazerem ouvir seus protestos, defenderem seus interesses, reivindicarem seus direitos. Da mesma maneira, elas não formam nenhum exército, tropa ou milícia de resistência, ainda que muitas delas sejam recrutadas pelo tráfico ou grupos armados mundo afora.

Há nessas duas estratégias, o sindicato e o exército, uma certa relação com o Estado, regida por todo um conjunto de códigos, regras, instituições, hierarquias e comandos. Porém, o modo como as crianças resistem é alheio aos carros de som, passeatas, cartazes, votações, eleições de representantes ou aos códigos de honra e de conduta, à hierarquia, patentes, ordens e disciplina.

Então, como as crianças lutam? De que forma resistem? De que modo elas escapam das estratégias de dominação que lhe são impostas? De que maneira rompem com as técnicas de controle, administração e governo de seus corpos nas instituições? De que jeito elas recusam os discursos, expectativas, modelos, padrões, clichês, representações, imagens e ideias que imperam sobre elas? Como elas fazem para que suas manifestações e gritos de protesto sejam ouvidos?

 

Fundado em 2000, o sindicato União das Crianças e Adolescentes Trabalhadores da Bolívia (Unastbo), foi criado por crianças trabalhadoras que reivindicavam que seus direitos fossem respeitados. Em 2014, o sindicato conseguiu que a Assembleia Nacional aprovasse uma reforma do Estatuto da Criança e do Adolescente do país, para reduzir a idade mínima de trabalho para dez anos em casos excepcionais. Fonte: Lorena Arroyo, BBC Mundo

Resistir não é apenas bater de frente com o inimigo, confrontar-se, chocar-se, opor-se. O embate, seja ele físico ou político, é apenas uma entre muitas estratégias que pode ser adotada. A dialética é somente um jeito de ver o jogo de forças, ela reúne uma diversidade de elementos e as reduz a um jogo de opostos e de contraditórios, a dois pólos, em que a contradição é o motor da diferença. Há outras maneiras de resistir. Na perspectiva de Gilles Deleuze, o ato de criação é, de certa maneira, ato de resistência. Resistir é criar, resistir é inventar.

Muitas das perguntas colocadas pelas crianças para nós se encontram na dimensão daquilo que ainda não é conhecido, naquilo que é possível inventar, numa dimensão anterior às perguntas e respostas já formuladas, dos problemas já construídos e resolvidos, com soluções dadas e correspondentes. As crianças habitam o desconhecido. Tudo é novo, é estreia, inauguração, primeira vez. Nada está dado, tudo está em aberto. Tudo está para ser criado e inventado.

Para Anete Abramowicz, “a infância é uma espécie de outro do mundo”. Talvez as crianças possam nos ajudar a pensar um novo modo de pensar a resistência, a dar um novo início às lutas políticas, a criar outras formas de resistir e pode ser que nesse encontro com a criança, nasça uma “infância da resistência”, um modo infantil de luta política.

Cito dois exemplos: o primeiro tem a ver com a atual campanha eleitoral para a presidência no Brasil. É possível ver, nos últimos meses, toalhas estampadas com os rostos dos candidatos sendo vendidas nas ruas e esquinas pelo país afora. E, as vésperas do primeiro turno, as mídias sociais divulgaram um “toalhaço”, manifestando apoio a um dos presidenciáveis. Ver pessoas desfilando com suas toalhas é algo irreverente, insólito, inusitado. Parece até “coisa de criança”, no bom sentido do termo.

O segundo, é o projeto “Motoca na praça”, realizado pela Escola Municipal de Educação Infantil “Armando de Arruda Pereira”, em que as crianças ocupam o centro da cidade de São Paulo usando triciclos. Elas visitam parques, praças, museus e outras instituições públicas e privadas, acompanhadas pelas professoras. Experimentam o espaço urbano de modo novo, inédito. E, “o que é inédito para as crianças, muitas vezes é inédito para a cidade”, como afirma uma das docentes que participa da proposta.

Neste sentido, afirmar uma “infância da resistência” tem a ver com tirar a resistência do “seu” lugar e situá-la em outros lugares, reconectá-la com o intensivo no mundo, com as forças intempestivas que habitam o cosmos e arrancá-la dessas formas caducas e engessadas de luta política. É preciso inventar um novo modo de pensar a resistência, ter um novo início a partir de um lugar minoritário, molecular, intensivo.

O imperativo “Lute como uma criança” tem o intuito de provocar o pensamento e o ato político. Lutar como uma criança não é imitá-la ou assemelhar-se a ela, mas sim pensar e agir de modo infantil política, conceber a resistência à maneira da criança, de modo novo, outro, inédito e inventivo. Talvez pudéssemos falar de um devir-criança da resistência. Devir não é imitar, assemelhar-se ou tornar-se outra coisa num tempo sucessivo. Sendo assim, devir-criança não é tornar-se uma criança ou imitá-la, muito menos infantilizar-se. Devir é encontro, entre acontecimentos, movimentos, ideias, multiplicidades, diferenças, afetos.

Mais do que tentar aprender ou apreender na infância outras formas de resistir, é necessário instaurar zonas de vizinhança, espaços de encontros, de atravessamentos, de contaminação e de contágio com a infância; uma tentativa de reconectar a resistência com o intensivo no mundo, com as forças intempestivas que habitam o cosmos, com os fluxos que atravessam a sociedade, a fim de reinventarmos nossas estratégias de resistência e criarmos novas formas de luta política.

Dia das crianças na escola

Por Ivan Rubens

Logo da Escola Família Agroextrativista do Carvão

Parede da Escola Família Agroextrativista do Carvão, no Amapá | Foto: Facebook/Reprodução

Era 12 de outubro. Para Jaquelline e Gabrielle, 12 de outubro é o dia das crianças. Poderia ser mais do que isso, mas o que interessa para  elas é o dia das crianças. Jaquelline tem 9 anos e Gabrielle tem 6 anos de idade. A história que vamos contar aconteceu numa escola. Quando você  lê a palavra escola, logo pensa em uma escola assim… dessas que ficam  na cidade, entre muros e grades, afinal, é preciso ter muita segurança  nesse espaço dedicado a estudantes. Dessas escolas com espaço delimitado  para tudo: quadra, pátio, refeitório, parquinho, sala de aula etc. E  tem hora pra tudo: bate o sinal, termina uma aula e começa outra, bate o  sinal começa o recreio, termina o recreio. Corre pra merendar, corre pro xixi, corre pra sala. Aliás, quando eu uso a palavra sinal, talvez  você pense num apito, numa sirene ou até numa música. Pois bem, mas nossa história aconteceu numa escola um pouco diferente.

Primeiro  porque não é uma escola urbana. A escola de onde falamos fica na  floresta. Uma escola sem muros e nem grades, sem separação entre o  espaço da escola e o espaço da floresta. A escola de onde falamos tem uma proposta pedagógica interessante: pros dotô o nome é ‘pedagogia da alternância’, na comunidade é ‘escola família’. Na escola família,  adolescentes e jovens ficam 15 dias direto na escola estudando juntos, dormindo e acordando, comendo e cuidando da escola. Podemos dizer que a  escola de onde falamos é uma graaande família. Agora que você conhece um pouco da beleza de uma Escola Família Agroextrativista, uma escola integrada à comunidade, integrada à floresta, podemos voltar para nossa  história.  

Era 12 de outubro. O almoço na Escola Família Agroextrativista foi muito especial, afinal era o dia das crianças. Jaquelline e Gabrielle não são alunas matriculadas na Escola, mas, sendo família, comemoraram na Escola. No almoço teve uma salada especial de  legumes e folhas com temperos vindos do laboratório de produção de alimentos da própria Escola. Do mesmo laboratório vieram o açaí e a farinha de tapioca. Do igarapé vieram as proteínas: peixe, Tamuatá e  Acarí, e camarão. Do laboratório de frutas veio o cupú para o suco natural. A pesquisa de alunos e alunas foi descobrir qual o cupuaçuzeiro com os frutos mais maduros para o suco ficar ainda mais gostoso. No final, a deliciosa mistura de castanha do pará e farinha de tapioca. Na  Escola Agroextrativista, a floresta é um grande laboratório de experimentações, a floresta é sala de aula e a sala de aula é a floresta.

Mas a surpresa ainda estava por vir. Ceci, a monitora, fez uma pequena surpresa para Jaquelline e Gabrielle. Ceci chamou as  pequenas e lhes entregou um presente do dia das crianças. Era uma banheira de bonecas. Agora as bonecas de Jaque e Gabi tomam banhos no igarapé ou na banheira quando quiserem. Mas a emoção de passar o dia das crianças na Escola Família Agroextrativista é indescritível.

Este texto foi escrito junto com Sâmila e Jaine, jovens escritoras do distrito do Carvão/AP e contadoras de histórias.

Mazagão/Amapá – Distrito Do Carvão

Ivan Rubens, Sâmila como Jaquelline e Jaine como Gabrielle.

História real produzida pelos próprios personagens.

Texto publicado originalmente no Blog do Ivan Rubens

 

Estratégias de resistência por meio do auto-cuidado e do cuidado coletivo nas eleições

Algumas ideias sobre como tratar insônia e ansiedade enquanto problemas sistêmicos

imagem com nuvens e coração escrito como você cuida dos seus

Você sabia que cuidado é estratégia de resistência?  Talvez sim, mas muitas vezes a gente se esquece. Ficamos atolados de tarefas, angústias e ansiosos com nossa própria vontade de mudar as coisas e enfrentar a situação terrível que nosso país atravessa. Sabemos que criar um plano cotidiano para enfrentá-lo é desafiador e pode levar muitos de nós a altos níveis de esgotamento.Para combater os desafios que nosso contexto nos impõe, é necessário elaborar estratégias autocuidado e cuidado coletivo. Não basta só uma pessoa. As organizações precisam ter estratégias e táticas de cuidado que contribuam para a nossa resiliência e bem estar. Afinal, a nossa luta é sempre coletiva e o bem viver é um lugar que queremos chegar nessa vida ainda.

Mas o que é autocuidado?

O autocuidado deve ser compreendido como um ato político, que fomenta espaços e medidas de afirmação da existência de si. É a busca de consciência e autonomia para a criação de hábitos que aumentam a resiliência e resistência.  

Um plano individual de autocuidado pode incluir: contar com uma rede de apoio (familiares e amigos), cuidados com a saúde (dormir, se alimentar bem, realizar exercício), desfrutar de artes (escutar músicas, pintar, ler), ter contato com a natureza, gerenciar o tempo de uso de dispositivos tecnológicos, por exemplo.

Sabemos que criar um plano cotidiano de autocuidado é desafiador pelo sentimento de culpa e o autossacrifício, norma cultural prejudicial em que estamos inserides. Como resultado, muitos de nós enfrentamos altos níveis de esgotamento. 

Por isso é fundamental que o autocuidado seja aliado ao Cuidado Coletivo.

 E o que é cuidado coletivo?

Cuidado coletivo é compreender que,  para cuidar de si, é necessário cuidar do todo e do outro, pois eles também fazem parte de você. Reconhecer que somos seres individuais e coletivos ao mesmo tempo. Portanto, o cuidado coletivo é o cuidado integral.

Cuidado coletivo também deve ser compreendido com um ato político, que fomenta e fortalece espaços, medidas e ambientes seguros, saudáveis e adequados para que seja possível que ativistas e defensores de direitos humanos desempenhem suas atuações com resiliência e resistência.

Sua rede de apoio e cuidado

Esse cuidado pode ser oferecido pela sua comunidade, rede de apoio e/ou organização. Devido a isso, ajuda muito na possibilidade de um indivíduo realizar também seu autocuidado. 

As possibilidades dos cuidados coletivos incluem: conhecimento e acesso à rede de saúde e apoio psicossocial; medidas que estimulem e promovam a saúde física; gerenciamento da carga de trabalho; colaboração coletiva se alguém precisar ter um tempo de descanso, por exemplo.

Destacamos que adotar uma estratégia de autocuidado e cuidado coletivo envolve avaliar a estrutura pessoal e organizacional, que são possibilidades específicas e múltiplas, pois devem levar em conta suas realidades, potenciais e limitações.

Poxa, legal, quero saber mais

Que bom! Para não ficarmos só no bla-bla-bla, separamos alguns materiais. Convidamos você a acessar nossa biblioteca também para encontrar mais materiais.Deixemos aqui também o link para dois materiais que o Lab Cuidados da Escola de Ativismo produziu sobre ansiedade e insônia, que trazem uma lista de cuidados e orientações possíveis.

Por que cuidar da insônia?

Se cuidar para não ter insônia é um ato de cuidado integral e de resiliência. É também uma forma de reivindicar o seu direito de bem viver. É importante olhar para a insônia com atenção e acolhimento para entender se ela é causa ou efeito, e então descobrir formas acessíveis e viáveis pra você, de combatê-la. Ignorá-la não é uma opção.

No Lab Cuidados, deixamos um livreto (zine) com diversas recomendações para o cuidado e prevenção da insônia. Apesar de contar bastante sobre o contexto de isolamento social, o zine também é útil para outros contextos, como eleições, momentos de mobilização externa, exposição pública, ou até para enfrentar as diversas crises que nos cercam no dia a dia: o endividamento, a pobreza, fome… São diversas as preocupações que nos perturbam enquanto ativistas e principalmente, enquanto seres humanos. Se achar que o Zine lhe será útil, pode ler aqui gratuitamente: Zine 1 – Insônia.

Capa do ZIne sobre insônia

Por que cuidar da ansiedade?

A ansiedade é uma distorção cognitiva que afeta os nossos mecanismos instintivos de defesa, desequilibrando a nossa própria ótica da realidade.

Ela também é um distúrbio comum em ativistas que padecem de preocupações e ameaças reais. Cuidar para que a ansiedade não se torne um problema ou fuja do controle pode ser importante como forma de prevenção de danos. E como dito anteriormente, como estratégia de resiliência.

Listamos alguns motivos pelo qual você ativista, deve procurar meios de cuidado e prevenção da ansiedade:

  • Para equilibrar as análises de risco, já que a ansiedade é uma distorção cognitiva e a tendência do ansioso é ver as coisas de uma ótica catastrófica e exagerada;
  • Para evitar gasto de energia, tensão e dores;
  • Para prevenir o pânico e a fobia social;
  • Para impor limites a nossa capacidade humana de agir e sentir; 
  • Evitar estresse e alterações repentinas de humor;

Nenhum desses motivos transforma a ansiedade em um problema individual ou moral. É importante lembrar que a ansiedade é um sintoma do nosso tempo e do modo de produção capitalista, que tem por natureza o objetivo de explorar, alienar até a exaustão extrema. Quem consegue relaxar sem saber se terá teto, comida e cuidado amanhã ou no futuro?
No Lab Cuidados, deixamos um zine com diversas recomendações para o cuidado e prevenção de ansiedade. Se ficar intessade, pode ler aqui gratuitamente: Zine 2 – Ansiedade.

capa do zine sobre ansiedade

Se estiver convencide de que o cuidado da insônia e da ansiedade é importante, dedique um tempo de apreciação e leitura dos materiais que deixamos disponível na nossa Biblioteca.

Esses são os primeiros zines experimentais para falarmos sobre saúde e ativismo sob uma perspectiva feminista, antiracista e autonomista. Toda e qualquer crítica ou sugestão é bem vinda através do e-mail contato@ativismo.org.br.
Obrigada por ter lido até aqui e fique à vontade para explorar outros conteúdos de suporte e cuidado. 

Se gostou do assunto dessa matéria, leia também:

  1. #JuntesnaRede, uma Campanha de Cuidados Digitais – Escola de Ativismo – https://escoladeativismo.org.br/juntesnarede-uma-campanha-de-cuidados-digitais;
  2. Entenda os cuidados e riscos de participar de boicotes para esvaziar eventos – https://escoladeativismo.org.br/entenda-os-cuidados-ao-participar-de-boicotes-que-esvaziam-eventos;
  3. Cuidados Integrais – Escola de Ativismo – https://escoladeativismo.org.br/project/cuidadosintegrais-1;

Como uma senha mudou minha vida? – Escola de Ativismo – https://escoladeativismo.org.br/como-uma-senha-mudou-minha-vida

A defesa das águas também é assunto de criança

por Escola de Ativismo

Duas crianças seguram folhas de protesto pela defesa do rio Jauquara

Crianças se manifestam no dia do rio Jauquara no Vão Grante | Foto: Pedro Ribeiro Nogueira

da O dia do Rio Jauquara é igual uma festa de santo

tão abençoado 

neste dia

nós não faz nada

só trabalha de ajudante na festa

E tem até hino de homenagem ao rio Jauquara

O hino é do Dito Ilino

A festa do rio Jauquara tem Salomão, Vanda, Mariana, Ivan e João e Silvio

Esses são os autores da festa

Nessa festa tem até cururu

Por isso a festa é tão importante

Claudenilson, estudante da Escola Estadual José Mariano Bento, de educação quilombola no território do Vão Grande

No quilombo Vão Grande, em Mato Grosso, crianças e adultos se mobilizam pela defesa de seu rio, o Jauquara, fonte de água, lugar de banho, morada de peixes e dos encantados que habitam a região. Como já mostramos em um vídeo gravado pela Escola de Ativismo, o rio é parte essencial da vida de  quem vive por ali. E diante das ameaças da construção de empreendimentos que visam o território, crianças e adultos se unem na luta popular pela defesa do rio. 

 A  Escola Estadual José Mariano Bento é uma escola quilombola localizada no Baixius, uma das comunidades do Vão Grande. Por ali, enquanto os adultos da comunidade se articulam como Comitê Popular do Rio Jauquara, as crianças  tem desenvolvido atividades e projetos em sala de aula na mesma temática. 

 

Poema escrito à mão em uma folha de caderno

Poema escrito por estudante da Escola Estadual José Mariano Bento sobre o Dia do rio Jauquara

O poema que abre esta publicação é uma das produções dos alunos da professora Neide. Até os pequenininhos da educação infantil estão envolvidos e fazem atividades baseadas no livro Narrativas do Interior, livro que conta a história do território, sua cultura e seus habitantes e que pode ser baixada gratuitamente no site da Escola de Ativismo. Aliás, a obra  que foi produzida por Pedro Silva junto com a comunidade já virou material paradidático na escola José Mariano Bento. O autor esteve na escola e conversou com os estudantes sobre a experiência da escrita sobre o lugar onde cresceu. Foi em um dia em que jovens de diferentes turmas se reuniram para assistir ao filme Narradores de Javé, produção brasileira que fala sobre escrita, memória, registro, território e capital.

Outro personagem de destaque por ali é Benedito Ilino, que criou uma música sobre o Jauquara e que agora é considerada o hino da luta pelo rio. Além de músico, ele é vigia da escola, ajuda na horta, é agricultor e pescador. Foi convidado para uma conversa com alunos e alunas a respeito da canção e do ato de escrever uma canção, e falou pela primeira vez para uma turma toda.

É interessante perceber como a dimensão criativa está presente na escola e a presença dessas pessoas que são parte da comunidade valoriza o rio, valoriza o território, valoriza a própria comunidade, valoriza o Comitê Popular e estimula mais gente a criar e escrever sobre o Vão Grande. É interessante também perceber como a escola é comunidade. Ali é um dos únicos pontos de internet. O portão fica aberto até de madrugada. Entra e sai quem quer. E se comunidade é rio e escola é comunidade, logo, escola também é rio. 

Dicas para continuar se comunicando caso haja bloqueios na internet

Dicas para continuar se comunicando caso haja bloqueios na internet

Aprenda estratégias para burlar desde as mais simples às mais complexas situações de ausência de comunicação digital

ilustração de dois seres com cabeça sinfônica, representando uma comunicação sem internet.

Já imaginou se, de uma hora para outra, você não tivesse mais acesso a certos serviços de comunicação na internet como visitar determinados sites ou usar mensageiros? Provavelmente você se perguntaria como se comunicar com seus pares, já que estamos acostumados com as formas convencionais digitais. Elaboramos este guia justamente para se preparar para estas ocasiões.

Por mais que esta situação pareça uma história de ficção científica, existem exemplos de outros países e até no Brasil que alertam para este risco. Decisões da justiça brasileira já bloquearam o uso do WhatsApp em 2015 e 2016 e o Telegram esteve na iminência de ser bloqueado em 2022. Além disso, a Operação 404, uma investigação do Ministério da Justiça e Segurança Pública, em parceria com as polícias civis de 11 estados, resultou no bloqueio de mais de 700 sites e aplicativos ilegais de streaming, em 2022. Uma operação inclusive questionada por especialistas por não haver uma ordem judicial.

Dito isto, é real a possibilidade de bloqueios de serviços que usamos em nossa rotina impedirem a comunicação entre ativistas. Especialmente com ameaças de golpe de estado. Por isso, a organização Digital Defenders Partnership criou o “Guía para seguir comunicándonos ante bloqueos de internet”, um material que ensina como funcionam os bloqueios e estratégias para superá-los. Nos baseamos na cartilha para trazer algumas dicas práticas.

Os impactos de um bloqueio de internet

A organização Access Now e a coalizão #KeepItOn registraram, entre 2018 e 2020, pelo menos 564 apagões em todo o mundo. Embora a maioria dos bloqueios tenha acontecido na Ásia, África e Oriente Médio, o fenômeno também vem se espalhando pelas Américas.

Relatos de bloqueios da internet mostram que eles ocorrem com mais frequência em contextos onde já estão ocorrendo várias violações de direitos humanos como o acesso a direitos básicos, como serviços de água e luz, alimentação, saúde, moradia ou educação.

Além do direito à informação e à liberdade de expressão, um bloqueio de internet também interfere em outros direitos como educação, saúde, trabalho e lazer, já que a nossa vida está conectada. Nosso atual uso das tecnologias digitais muitas vezes impede os ativistas de imaginar outras possibilidades de comunicação.

Tipos de bloqueio de internet

Lembra quando se referiam a internet também como rede mundial de computadores? Isso nos mostra que ela tem dois tipos de infraestrutura: lógica e física. Ela é formada por um conjunto de acordos ou protocolos entre Estados, organizações internacionais, instituições públicas, desenvolvedores de software, provedores de telecomunicações e fabricantes de hardware, que permitem o uso de uma infraestrutura de comunicação composta por servidores, cabos de fibra ótica e de cobre, satélites e o próprio espectro radioelétrico, entre outros.

Desta forma, quando falamos de bloqueio nos referimos, em um sentido amplo, à interrupção ou rompimento intencional e direcionado da internet ou das comunicações eletrônicas para exercer um controle sobre o fluxo de informações. Aqui, vamos listar bloqueios dentro da infraestrutura lógica. ​​

Provedores de serviços de Internet podem bloquear o acesso a todos ou parte dos serviços, como no caso do WhatsApp no Brasil. Isso pode ser resultado de políticas internas da empresa ou solicitações governamentais, por exemplo, para impedir o fluxo de comunicações ou acesso a determinados sites, como no caso da operação 404.

DNS

O DNS (Domain Name System) é o Sistema de Nomes de Domínio. Ele serve para converter um IP (Internet Protocol), um Protocolo de Internet, ao que chamamos de endereço ou domínio, os nomes legíveis. Já o IP é o protocolo de internet que são números que localizam um site. O DNS, portanto, facilita a navegação para os usuários, pois não precisamos saber o número exato do IP para encontrar um site e sim o seu endereço. Com isso explicado, o bloqueio de DNS impede essa ligação do domínio ao número de IP e o servidor não pode ser encontrado. Ele acontece quando há o intuito de retirar um site do ar.

IP

Os ataques ao IP ocorrem quando um provedor de serviços de Internet bloqueia o acesso a um endereço de IP. Desta forma, os diferentes serviços nos servidores de destino tornam-se inacessíveis. Ao contrário do ataque de nível DNS, aqui você não pode acessar o servidor mesmo se souber o endereço IP que está tentando acessar. 

Pacote de dados

Acontece quando um provedor de serviços de internet usa a técnica DPI (Deep Packet Inspection), em português Inspeção Profunda de Pacotes. Ela permite monitorar parte do tráfego de entrada e saída dos equipamentos conectados à rede. É muito usada para implementar certas políticas que cobrem as violações de direitos autorais, conteúdo ilegal e utilização abusiva da largura de banda. Além disso, pode ser usada para filtrar dados de acordo com as leis de um país.

Essa técnica também pode ser usada para bloquear sites ou aumentar a velocidade de acesso a eles. O ataque mais difundido consiste em saturar um servidor com mais solicitações do que ele tem capacidade de responder. A saturação faz com que o serviço caia e, assim, fique inacessível. Esse ataque é chamado de DDoS, um ataque de negação de serviço. É uma invalidação do serviço por sobrecarga.

 

Como continuar se comunicando durante um bloqueio

É importante estar preparado e não esperar que aconteça um bloqueio ou limitação no acesso à internet para pensar em alternativas de comunicação. Um processo coletivo de avaliação de risco deve levar em conta a dimensão da comunicação e definir as estratégias preventivas que mitiguem o impacto desse tipo de ataque. Conheça algumas delas para seguir se comunicando nesta situação.

VPN 

A VPN (Virtual Private Network) é uma forma de conexão segura que permite contornar bloqueios e limitações de acesso à Internet. Este serviço torna anônima a localização geográfica da ligação e encripta o tráfego entre o nosso dispositivo e o servidor VPN, através do qual passamos posteriormente à Internet.

As VPNs são usadas ​​para simular que estamos em outro local e acessar conteúdos bloqueados em nosso país. Também é uma boa opção para proteger a conexão quando usamos redes Wi-Fi públicas, pois a camada de criptografia protege contra invasões.

Mas é muito importante confiar no provedor do serviço VPN, pois ele terá acesso ao seu tráfego de internet: desde o histórico de navegação até os aplicativos e serviços que estão sendo executados no computador ou celular. Recomendamos o RiseUp e o Orbot.

Navegador Tor

O Tor é um navegador de software gratuito que fornece anonimato e privacidade. Ele faz isso conectando-se à rede TOR (sigla para The Onion Router, em português Roteador Cebola), uma rede de computadores que impede o rastreamento. Por isso, sua navegação pode ser um pouco mais lenta do que o normal. Ela é mantida por voluntários e ativistas em todo o mundo. Dependendo do tipo de bloqueio, este navegador também permite contornar a censura.

Onion Services

Os sites .onion ou “onion services” (serviços de cebola) permitem que você tenha um site acessível exclusivamente a partir da rede Tor. Em situações de bloqueio ou limitação de acesso à internet, esses sites permanecem online. Privacidade e anonimato são outros benefícios.

Espelhar sites e backups

O espelhamento é um processo de cópia exata de um site que é hospedado com um outro servidor. Ele pode ser espelhado para reduzir o congestionamento ou servir como um backup. Esta é uma estratégia de segurança digital que facilita o acesso ao site em questão em caso de bloqueio ou ataque. Outra possibilidade é manter um backup do seu site atualizado para que você possa carregá-lo rapidamente para outro servidor em caso de ataque.

Internet via satélite

O serviço de internet via satélite é uma conexão à internet fornecida por meio de satélites de comunicação. Funciona quando um provedor de serviço de internet envia sinais para um satélite no espaço que os devolve para uma antena parabólica na Terra e vice-versa. Embora as conexões de internet via satélite possam ser uma opção diante de bloqueios ou em casos em que a infraestrutura de telecomunicações não chega ao território, elas são fáceis de monitorar e revelam facilmente sua localização.

Bluetooth

O bluetooth é uma tecnologia de rede sem fio que usa frequências de comunicação de rádio para transmitir dados em distâncias curtas. O uso mais comum é conectar dispositivos próximos, como caixinhas de som ao celular. Mas é possível usá-la para enviar mensagens. Há aplicativos que permitem conectar muitos dispositivos próximos uns dos outros, em uma espécie de rede distribuída que aumenta seu alcance. Desta forma, é possível transmitir mensagens em contextos de bloqueio do serviço de telecomunicações móveis.

Ondas de rádio

As ondas de rádio podem ser usadas para diferentes tecnologias de comunicação e tanto a radiocomunicação quanto a radiodifusão oferecem vastas possibilidades. A radiocomunicação inclui os walkie-talkies (aqueles comunicadores muito usados por policiais) e o rádio amador, cuja estação precisa ter uma outorga. Este tipo de comunicação requer equipamentos especializados que não são totalmente acessíveis. Ainda que a comunicação de rádio seja destinada à transmissão de som, ela também pode transmitir pacotes de dados, mesmo criptografados, em frequências de ondas curtas, uma ferramenta muito usada na Amazônia, por exemplo.

Já a radiodifusão é a transmissão de sinais de rádio e televisão. O principal uso é através das rádios comunitárias, educativas, populares e alternativas. Segundo a lei brasileira, as rádios comunitárias têm a frequência modulada e são operadas em baixa potência e com cobertura restrita. As outorgas são concedidas a fundações e associações comunitárias, sem fins lucrativos, com sede na localidade de prestação do serviço. 

Dead drops e burn stations

As duas estratégias são semelhantes, pois envolvem ir a um local físico para baixar conteúdo em um dispositivo. Dead-drops são pendrives colocados em locais públicos para que outras pessoas copiem informações. As burn stations (estações de gravação) são computadores disponíveis ao público através dos quais as informações podem ser trocadas localmente. Uma pessoa pode deixar seu conteúdo e, ao mesmo tempo, levar outros. Tanto os dead-drops quanto as burn stations podem ser portáteis e instaladas próximas aos locais onde são convocadas manifestações, por exemplo.

Sneakernet

O termo inglês sneakernet é composto pelas palavras sneaker (tênis) e net (de network, rede) para se referir a estratégias de transferência de dados carregando uma unidade de armazenamento de um lugar para outro fisicamente, em vez de uma rede de computadores. Podem ser usados pendrives e HD externos, por exemplo.

Redes comunitárias de telecomunicações

As redes comunitárias são uma solução para garantir a conectividade. Estas redes, geridas pelas próprias comunidades, funcionam com o formato de uma rede mesh, quando um grupo de dispositivos age como se fosse uma única rede Wi-Fi. Com o auxílio de uma antena parabólica, o sinal de wifi de um modem pode ser direcionado e amplificado. Por depender de uma certa infraestrutura, não é uma solução imediata.

Servidores locais autônomos

É possível configurar um servidor local que é acessado a partir da mesma rede Wi-Fi sem a necessidade de internet, e oferecer todo tipo de serviços como páginas, chats, entre outros. Esse tipo de servidor pode ser configurado e instalado rapidamente em em locais movimentados como um centro cultural ou uma escola. Tudo que você precisa é de um computador e um roteador Wi-Fi.

Se você gostou do assunto dessa matéria, veja também:

1 – #JuntesnaRede, uma Campanha de Cuidados Digitais. – escoladeativismo.org.br/juntesnarede-uma-campanha-de-cuidados-digitais

2 – Meu perfil nas redes foi invadido. E agora? – escoladeativismo.org.br/meu-perfil-nas-redes-foi-invadido-e-agora

3 – Página de Cuidados Integrais – escoladeativismo.org.br/project/cuidadosintegrais

Eleições ativistas: plataformas ajudam a acertar no voto e na defesa da democracia

As Eleições para presidência, governo estadual, senado e legislativo estão se aproximando e a Escola de Ativismo tem algumas sugestões que podem te ajudar a tornar a se informar e mobilizar na semana que antecede as eleições – e depois dela também.

Se para presidente a escolha não é Lá muito difícil, nas casas legislativas abundam bons nomes, que defendem causas importantes e podem ajudar a segurar e anular as boiadas, além de avançar nas conquistas de direitos sociais.

Confira 9 plataformas que te dão ferramentas para convencer aquele parente e também para escolher suas candidaturas nas eleições.

1) Tira Voto do Jair

 Você pode fortalecer a luta para tirar Bolsonaro do poder! Esta plataforma tem um guia prático para derrotá-lo nas urnas. São diversas estratégias para adotar ao longo das Eleições 2022. Acesse aqui a TIRA VOTO DO JAIR

2) Sinal de Fumaça

É um monitor socioambiental e independente, atualizado semanalmente, que sistematiza os principais fatos, notícias e discursos relacionados à Amazônia. Pras eleições desse ano, eles elaboraram um guia analisando os quatros anos de Bolsonaro e do bolsonarismo na Amazônia Legal. Acesse aqui o Sinal de Fumaça.

3) Ruralômetro 

Nessa ferramenta da Repórter Brasil você pode conferir um termômetro que mede como cada deputado federal tem atuado nos partidos nos últimos anos em relação a leis importantes para o meio ambiente, povos indígenas e trabalhadores rurais.  Clique aqui para conferir o Ruralômetro! 

4) PANE – Plataforma Antirracista nas Eleições.

A plataforma reúne as ações e ferramentas que o Instituto Marielle Franco  está construindo para transformar a estrutura política do Brasil tendo em vista questões de raça, gênero e classe. Inscreva-se para receber oportunidades de ação!  Confira aqui a PANE – Plataforma Antirracista nas Eleições.

5) Mulheres Negras Decidem – O MND qualifica e promove a agenda liderada por mulheres negras na política institucional, com objetivo de fortalecer a democracia e superar a falta de representatividade nas instâncias de poder. Veja as publicações. Saiba mais em Mulheres Negras Decidem ou @MNdecidem 

6) Vote Pelo Clima 

Promovida pelo Clima de Eleição, a plataforma agrupa os candidatos que estão comprometidos com a agenda climática. Só entra nessa lista quem fizer um curso de formação no tema. A plataforma é atualizada semanalmente. Clique aqui no Vote Pelo Clima 

7) Quilombo nos Parlamentos 

A iniciativa da Coalizão Negra Por Direitos para apoiar mais de 100 candidates ligados ao movimento negro que concorrerão a cargos na Assembleia Nacional e na Assembleia Legislativa do país. Apoie em seu estado! 

8) Campanha Indígena

Promovida pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, a plataforma  reúne 30 candidaturas indígenas ao legislativo de todas as 5 regiões do Brasil. Acesse aqui Campanha Indígena

9) Farol Verde 

É uma ferramenta de exercício da cidadania, construída para fortalecer a democracia. Nela você pode pesquisar informações e posicionamentos de candidaturas sobre as mudanças climáticas. Confira aqui o Farol Verde.

Segundo turno?

A colunista Luh Ferreira reflete sobre o cenário político a importância da escolha do candidato no primeiro turno das eleições

Uma urna eletrônica exibe a palavra "fim" na tela. Um dedo indicador toca a tecla verde "confirma"

Domingo dia de tomar café da manhã mais tarde, em família… conversa vai, conversa vem e eleições. Claro…

Falamos, sobre candidatos, sobre zap, sobre apelações, sobre horário político, debate… uso da máquina estatal para fazer campanha e até a família Adams que compareceu no velório da rainha. O pretinho caiu mal na primeira dama que nunca teve nenhum gesto de solidariedade com o povo brasileiro, agonizamos nesses anos de pandemia e pandemônio, foi ter com a queen-colonizadora.

Feio demais Micheque.

Muito papo aleatório depois, minha mãe, aniversariante da semana, perguntou:

– Mas por que têm segundo turno?

Eu que nunca nem tinha pensado nisso, pois, desde que me entendo por gente, sei que o segundo turno faz parte de um processo democrático na escolha dos nossos representantes, uma espécie de confirmação do povo sobre o melhor candidato, me coloquei a pensar sobre o assunto.

Rapidamente lembrei da primeira vez que ouvi falar em campanhas eleitorais. Um ano após a constituinte vieram as eleições diretas! Lula e Collor disputaram fervorosamente o pleito.

Eu, com 6 anos, escutava “a eleição vai ser disputada por um playboy e um trabalhador!”

A maioria lá em casa era trabalhadora, mas nem todo mundo votou no trabalhador…

Isso deve ter se repetido em muitas famílias, porque, o Collor venceu no primeiro e confirmou a vitória no segundo turno, apertadinho, mas foi…

A constituição federal de 1988 organiza as eleições em dois turnos, justamente para que o povo possa confirmar a sua escolha, e o candidato de preferencia seja eleito com a maioria absoluta dos votos. Segundo turno vale para eleições dos cargos executivo: presidente, governador e prefeito – para municípios com mais de 200mil eleitores.

Por duas vezes, desde a redemocratização, não rolou segundo turno no Brasil – O sociólogo Fernando Henrique Cardoso se elegeu com maioria absoluta em 1994 e 1998.

A história em 2002, 2004, 2008, 2012, 2014, 2018, todo mundo já sabe…

E para que a gente não se esqueça: sim, 2016 foi golpe!

Mas voltemos ao papo lá de casa.

Depois de falarmos sobre o porque do segundo turno, a gente se deu conta de como está difícil defender o estado democrático, os direitos básicos, neste últimos anos. Não se trata de eleições apenas, estamos em uma guerra.

Estamos lutando contra o autoritarismo, contra o fascismo, contra o genocídio do nosso povo, das florestas, da cultura brasileira.

A opção da minha família é que as eleições sejam finalizadas já no primeiro turno, pois ninguém aguenta mais todo esse ódio, toda essa degradação.

Em casa sempre rolou polarização. Sempre teve espaço pra treta.

Aqui é palmeiras, lá é corinthians.

Um vasco, outro é mengão!

E a gente vê muito disso na política…

Teve Lula contra Collor, Serra contra Lula, Dilma contra Marina, ops Aécio… teve até Haddad contra Coiso!

Mas esse ano de 2022, aqui em casa a gente escolheu levantar a mesma bandeira. Não por um candidato. Não é apenas pela sua trajetória. Não é uma questão de justiça. Não é nem porque ele tem o melhor projeto para o país… É apenas para que o fascismo não vença e o ódio não se faça presente por mais 04 anos nos corroendo, nos destruindo por dentro enquanto pessoa e por fora enquanto povo.

Muita gente lá de casa votou em Collor em 1989.

Nesta eleição geral, novo, velho, esquerda, direita, frente e costas, até quem tem mais de 80 vai fazer o L.

E pronto, vai dar primeiro turno e nós vamos assistir a copa juntos, de camisa amarela com estampa de onça, rua pintada, cervejada e tudo, e acabou.

Em 2023 o coro volta a comer!

Os 200 anos das independências latino-americanas diante de um momento terrível da história brasileira

Por Sigifredo Romero Tovar

Como se deram as “rupturas de tempos históricos” em nosso continente e que reflexos elas guardam até hoje com nossa realidade? O filósofo colombiano Sigifredo Romero Tovar coloca nossas histórias em perspectiva

 

“As independências são coisa dos entusiastas do estado liberal moderno. Já as classes populares, vivem sua história como uma série de confrontos contra essa mesma entidade” l Foto: Calendário Insurrecional 2022

,Duzentos anos

A humanidade fraciona o tempo histórico, ou seja, seu próprio tempo, o tempo da sua experiência no mundo, o quebra. Antes e depois de Jesus, antes e depois da conquista, antes e depois da independência ou da criação do país. É assim que sabemos em que esquina da história estamos vivendo. As efemérides, nesse sentido, são pontos de conexão com o passado. E por isso, com o futuro.

Se a morte ou nascimento de um famoso filósofo ou personagem histórico completa 100, 200 ou 500 anos, os seus seguidores acadêmicos, pesquisadores, exegetas, professores, estudiosos independentes fazem alvoroço, se reúnem, e se renova o interesse naquela pessoa. Se fazem também reelaborações e o personagem passa por novos escrutínios e leituras. Às vezes se afirma poeticamente que ele ainda está vivo.

Na América Latina que o Brasil habita – sem saber, porque o Brasil não se olha no mapa – por estas épocas comemoramos timidamente 200 anos da independência da metrópole europeia. Os primeiros a comemorar são os haitianos que completaram a sua revolução em 1804, vários anos antes que os outros.

Nos outros países, o processo revolucionário só ia começar depois da invasão napoleônica da península ibérica em 1807 e 1808. Enquanto a monarquia portuguesa conseguiu fugir para o Brasil, os reis espanhóis caíram nas mãos de Napoleão. Esse acontecimento sobre o qual nenhum habitante das colônias ibero-americanas tinha o menor poder, propiciou as condições históricas para as independências.

Leia também: As Independências, o coração que vem da Europa e as revoltas que os senhores ainda tentam silenciar

A queda da monarquia fez brotar movimentos autonômicos e independentistas nas colônias hispânicas que vinham sendo incubados por 50 anos de mudanças socioeconômicas e culturais importantes. Na geral, foram as elites crioulas brancas que impulsionaram os movimentos nos diversos territórios e cidades: comerciantes, funcionários, militares, sacerdotes, pequenos proto-despotas ilustrados. Os movimentos foram particularmente fortes nas periferias do poder hispânico, como na Venezuela e em Rio de la Plata.

Entre meados da década de 1810 e meados da de 1820, a maioria das colônias hispânicas se libertaram da Espanha por meio das armas. A batalha de Ayacucho, que aconteceu no dia 9 de dezembro de 1824 foi o último grande embate militar que por fim quebrou o poder espanhol no seu grande bastião político e econômico da América do Sul, o Peru. Outras batalhas decisivas na América do Sul foram Tucumán (1812), Salta (1813), Chacabuco (1817), Maipú (1818), Boyacá (1819), Carabobo (1821), Pichincha (1822) e Junín (1824).

É isso que se comemora em primeiro lugar, umas batalhas, uns gritos libertários, umas cartas constitucionais que entregaram a América Latina para as elites locais. Nessas vitórias de curto prazo, as elites latino-americanas foram bem-sucedidas. E, com isso, conseguiram quebrar o tempo histórico criando uma nova era.

O conteúdo dessa nova era viria a ser, a médio prazo, o principal problema político das novas elites nacionais em formação. Os projetos nacionais foram sociedades organizadas pelo estado liberal e orientadas à exploração das riquezas naturais e humanas com o máximo de estabilidade política possível. Se hoje em dia temos muito mais do que isso é por causa da luta bicentenária dos camponeses, indígenas, negros e trabalhadores.

Nas narrativas pátrias, a nova ordem política surgida junto com a independência continua até hoje. Mesmo com golpes de estado, guerras civis, revoluções e ditaduras, reconhecemos nos estados modernos a continuidade dos regimes que começaram a nascer por volta de 1810.

Só a destruição do estado, uma revolução comunista ou anarquista, uma divisão do país, a conformação de uma monarquia ou uma intervenção estrangeira – e outras possibilidades que não imaginamos – poderia quebrar o tempo histórico e finalizar a era política que começou há duzentos anos na América latina.

São dois séculos de repúblicas independentes mais o menos liberais controladas por homens brancos e ricos divididos em federalistas e centralistas, conservadores e liberais, a Igreja católica, caudillos, coronéis e ditadores, onipotentes corporações transnacionais, Londres, Washington e mais recentemente o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional. Será por isso que o povo não celebra com muita alegria e orgulho o bicentenário? Os indígenas, sem dúvida,  se lamentam.

Depois das independências as elites brancas, culturalmente mais próximas da Europa do que da população escrava e indígena deram forma aos estados latino-americanos e sua incorporação ao mercado mundial em um processo que levou décadas. Uma parte fundamental desse processo foi o genocídio indígena e a ocupação das suas terras. Em certo sentido, para eles o século XIX foi um novo século XVI.

Heróis

E pensar que houve gente que supostamente criou um país. A Simón Bolívar lhe são atribuídos cinco. A José de San Martín, três. Homens que um dia foram de carne e osso são reverenciados na religiosidade cívica dos nossos estados liberais como libertadores de países inteiros.

Naquela época houve próceres de todo tipo: os que deram o primeiro berro, os que se decidiram a publicar aquele texto, os primeiros a desobedecer, os que convocaram aquela primeira reunião, os que educaram outros como Simón Rodríguez, o mestre de Bolívar. Eles fizeram coisas que não tinham sido feitas antes, coisas que até esse momento eram inconcebíveis. Mas é aí que tá: talvez até o cara que há alguns dias atirou sem sucesso na cabeça de Cristina Fernández de Kirchner, também se achasse um herói.

Interessantemente, para a tristeza de muitos historiadores e aficionados pela história, os heróis independentistas da religiosidade cívica do estado liberal não excitam tanto a emotividade popular como outros heróis políticos mais recentes.

Parece engraçado que diga isto pois no meu próprio país, há apenas um mês, a primeira ordem do novo presidente Gustavo Petro foi trazer a espada de Bolívar para fazer seu juramento presidencial perante ela. Por outro lado, na Venezuela a obsessão de Chávez por Bolívar fez todo seu extenso governo se parecer a uma representação – ao vivo 24 horas por dia na TV nacional – de Hamlet, com Bolívar como o fantasma do pai. 

Mas a verdade é que no geral, apesar das estátuas, dos livros e dos discursos, as pessoas não têm muita ideia do que Sucre, O’Higgins ou Iturbide fizeram para se tornarem quem são. Não são eles que aceleram o coração do povo latino-americano. Isso quem faz são os heróis populares, como Getúlio, Lula, Chávez, Perón, alguns deles bem fascistas, é verdade, mas que conseguiram negociar com grandes faixas da população melhorias importantes nas condições de vida dos trabalhadores e ganharam em troca  uma devoção quase religiosa ao líder amado. Claro que o Bolsonaro aqui não entra porque uma coisa é populismo e outra é doença social de caráter cognitivo e moral.

Afortunadamente os intocáveis populistas não são as únicas fontes de emoção política que agitam a América Latina. A promessa centenária da revolução mexicana, o fogo de luta espalhado pelo continente após a entrada de Fidel Castro em La Habana, a vitória da imaginação humana que o neozapatismo constitui, continuam ainda hoje frutificando em incontáveis lutas no continente inteiro.

Em comparação, nas independências hispano-americanas, e na brasileira mais ainda, se destaca um marcado caráter hierárquico. As celebrações sociais dessas datas são acontecimentos friamente institucionalizados que muitas vezes incluem desfiles militares. Óbvio, já que são os militares e outras forças da criminalidade uniformizada os detentores do máximo poder possível.

As independências são coisa dos entusiastas do estado liberal moderno latino-americano. Para as classes populares em luta, sua história faz sentido praticamente como uma série de confrontos contra essa mesma entidade. Nesses embates essas massas se construíram e transformaram dando forma às diferentes características políticas dos movimentos latino-americanos.

A nossa história política republicana é a história da luta entre uma grande maioria que é roubada dos frutos do seu próprio trabalho, da natureza que habita e da riqueza cultural criada por séculos pela humanidade contra uma pequena minoria de famílias mais ricas que deus e mais poderosas do que qualquer outro ator político da nossa história.

Apesar das vitórias e derrotas, as classes, movimentos e grupos sociais explorados, agredidos e marginalizados continuam a sua luta enquanto têm vida. A luta nossa é de todos os dias porque ela é pela sobrevivência e pela diversidade na natureza e na humanidade.

A nossa maior derrota sempre foi a venda moral, a entrega de todas as outras formas de viver e ver a vida em troca de um bom salário, casa, carro, uma conta na Netflix e a admiração dos desempregados e dos trabalhadores subalternos. A nossa maior derrota foi – e segue sendo – a entrega moral de cada indivíduo a um regime econômico irracional, inumano e ecocida.

Tudo bem que as pessoas consumam recursos sem saber nem se perguntar de onde vem nem quem os produz, tudo bem que as pessoas acreditem na promessa interminável dos índices de pobreza e na palavraria vazia e ridícula dos líderes do estado liberal cuja imaginação apenas alcança para prometer “melhorar a capacidade de compra” de todos os brasileiros. Enquanto isso, tudo ao nosso redor arde ou desaparece.

Já quando um importante número da população de um país está o suficientemente degradado moral e cognitivamente para cair numa enorme seita que tem como propósito efetivar uma aniquilação de tudo o que é vida e diversidade na sociedade e na natureza, podemos afirmar que fracassamos como sociedade. Bolsonarismo é isso: uma lobotomia nacional.

Nunca o Brasil se cobriu de tanta vergonha. Cada dia em que Jair Bolsonaro é presidente do Brasil, tudo aquilo que merece ser amado nesse país é derrotado.  Porque a cada dia em que ele é presidente, uma violenta minoria se sente autorizada a atemorizar, assediar e aniquilar todos os que preferimos a vida, a natureza e a humanidade.

Do possível e o impossível

Entre os anos 1819 e 1824, os exércitos patriotas liderados por Simón Bolívar libertaram do domínio espanhol a região setentrional da América do Sul. Para chegar  ao momento das primeiras vitórias definitivas em Boyacá (atual Colômbia) em julho e agosto de 1819, Bolívar havia acumulado dez anos de avanços e retrocessos no movimento emancipador.

Muito do que tinha acontecido no movimento até então esteve longe da vontade do “herói”: a invasão napoleônica da península ibérica e a timidez das primeiras tentativas de autonomia nas colônias hispano-americanas. Nisso, ele foi um homem historicamente determinado.

Mas para quando os movimentos juntistas e autonomistas crioulos começaram a florescer entre 1808 e 1810, Bolívar já tinha renunciado ao colonialismo espanhol fazia tempo. Era um convencido independentista numa época em que a independência era ainda politicamente impossível, coisa demasiado radical, impensável e estranha. Quando forças históricas externas a ele criaram a crise de legitimidade que gerou as condições para a formação do movimento independentista continental, Bolívar já tinha rejeitado o mundo tal e como era e estava preparado para o impossível que estava por vir. Nisso, ele foi um sonhador sem remorsos.

Por outro lado, Bolívar conseguiu ocupar o lugar que ocupa na história porque era um homem branco, rico, fazendeiro, militar, crioulo descendente de espanhóis. Nisso, Bolívar foi um privilegiado da existência.

Só que Bolívar não é Bolívar porque Napoleão conquistou a península ibérica nem por seus privilégios nem pela sua capacidade para sonhar. Bolívar é Bolívar porque no meio de tudo isso atuou, aproveitou o momento, somou-se aos esforços de outros, fez uso das vantagens dos seus privilégios e terminou o que outros tinham iniciado. Isso é vontade de ação, o elemento sine qua non para participar da história da humanidade.

Em boa medida, quando celebramos a Bolívar, San Martín, Tupac Amaru, Tiradentes, Martí, Zapata, Sandino e muitos outros, estamos celebrando a vontade revolucionária e criadora, a capacidade do ser humano para rejeitar a ordem de coisas dada, a rebeldia do impossível: rejeitar o mundo tal e como ele funciona, se comprometer moralmente contra ele e se atrever a criar um mundo novo.

A grande maioria das pessoas estará sempre comprometida com a realidade exatamente como ela funciona, fidelidade ao estreito mundo do possível. E isso só faz a rebeldia contra a ordem de coisas ainda mais digna.

Manter um pé atrás perante a realidade é viver em harmonia com ela, já que nada nela é para sempre. Uma coisa que qualquer efeméride individual ou social nos lembra é que tudo está sujeito à mudança, inclusive a mais importante, a da morte dos fenômenos, o fim de todas as coisas. Tudo tem um fim. Hoje as sociedades latino-americanas comemoram o fim da dependência política direta da Espanha e de Portugal. No futuro os nossos descendentes estarão comemorando o fim desse nosso tempo histórico.

Os nossos estados liberais, mesmo as nossas nações, estão condenados a desaparecer um dia. Não existe nada para sempre nem na história da humanidade nem na história da natureza. E não existe ordem de coisas, racista, hierárquica, machista, autoritária, teocrática ou patriarcal que não seja imbatível.

Talvez daqui a 20 anos ou daqui a uns poucos meses as condições para o fim do estado amadurecerão. Muitas coisas que fazemos agora e levamos décadas fazendo cobrarão novos e profundos sentidos nesse momento.

A cada dia que passa, novas soberanias estão nascendo e a semente de mundos pós-nacionais e pós-capitalistas se espalha. Agora mesmo estarão nascendo as estruturas culturais e sociais que um dia substituirão o estado liberal. Ou estaremos preparados para criar uma democracia participativa e igualitária ou cairemos em mãos de soberanias neofeudais, corporativas e paramilitares.

As independências ibero-americanas foram possíveis porque a soberania colonial foi quebrada e as elites locais, as melhor posicionadas para aproveitar o momento histórico, se encontraram numa situação em que não tiveram mais saída do que começar a governar.

A passos acelerados a ordem política mundial se vê confrontada com o mais importante de todos os desafios: as consequências ecológicas do modelo econômico que abraça, do qual depende e que legitima. O estado liberal, com a sua democracia a conta-gotas com a sua filosofia econômica orientada à acumulação para uns poucos e o consumo como objetivo de vida para a maioria, dificilmente conseguirá sobreviver às mudanças ecológicas globais cada vez mais catastróficas. A criação de estruturas políticas democráticas, participativas e igualitárias é o problema político mais importante a médio prazo.

No curto prazo, ao menos no Brasil, o problema político é a derrota do fascismo. Digo do fascismo porque é muito provável que o fascista já esteja derrotado. Bolsonaro é pouca coisa e foi elevado ao poder por razões que seu pobre intelecto nem consegue enxergar. Se o bolsonarismo parece ainda um fenômeno em apogeu é só porque poderosos interesses econômicos, a institucionalidade política do estado e a mídia continuam acolhendo-o moralmente e naturalizando-o como elemento constitutivo da sociedade brasileira.

Em outubro o fascista será derrotado nas urnas e será impossível o Brasil voltar ao tempo anterior a Bolsonaro pela mesma razão de que nenhum estupro ou assassinato pode ser desfeito.

Claro que o Brasil vai estar muito melhor com Lula como presidente, mas não por isso as hordas abjetas e embrutecidas que ladram, agridem e destroem vão desaparecer. Elas serão parte da paisagem humana brasileira ainda por muitos anos. Em primeiro lugar porque a liderança do PT não parece muito interessada em superar as condições socioeconômicas e os desenvolvimentos culturais que durante muitos anos incubaram a monstruosidade. Eles ainda tratam Bolsonaro como um acidente.

O bolsonarismo, para toda pessoa que não está possuída por essa doença, deveria ser outra coisa. Além da vergonha e a indignação, tão justas como insuficientes, o bolsonarismo é uma oportunidade histórica para pensar criticamente coisas como o racismo, a misoginia, a homofobia, a bestialidade evangélica, o agronegócio, o parasitismo no estado, a cultura burguesa, o caráter intrinsicamente antissocial e anti-pensamento das forças armadas, o paramilitarismo e a segurança privada, o narcotráfico e a luta contra as drogas. Nada disso é um acidente.

***

Há 200 anos, Bolívar, San Martín e muitos outros rejeitaram moralmente a ordem dada, agarraram o momento e afirmaram a sua vontade sobre o mundo, quebrando assim o tempo histórico.

A crise de legitimidade que serviu de estopim para as independências ibero-americanas foi a invasão napoleônica. A crise de legitimidade que acabe com o estado liberal latino-americano muito provavelmente chegue sob a forma de graus celsius da temperatura planetária. Cairá a atual ordem de coisas com um grau a mais? Com dois? Com quatro?

O que virá depois? O estado se transformará, se fracionará ou se eliminará para que a vida e a diversidade se imponham à máquina de guerra? Do jeito que estão as coisas no Brasil, se a ordem nacional-liberal desaparecesse hoje, se amanhã não tivéssemos de quem receber as ordens, o país viraria uma grande chacina.

É para evitar isso que os insubordinados de todos os dias espalham sementes, criam coisas que não foram criadas antes, agarram segundas oportunidades, fazem coisas de loucos. A luta nossa não é a cada duzentos nem a cada quatro anos. Nós lutamos pela liberdade e a sobrevivência todos os dias. Essa é vitória nossa de cada dia.

*Sigifredo Romero Tovar é filósofo ecosocialista formado em Historia pela Universidad Nacional de Colombia e em Estudos da Religião pela Florida International University. Atualmente, seu interesse acadêmico é a superação do capitalismo para que a humanidade não derreta de calor. Contato: srome039@fiu.edu 

7 lições importantes para impedir um golpe

Foto: CTB/Reprodução

Nós temos um presidente que disse abertamente que talvez não irá respeitar o resultado de nossas eleições.  Eleito diversas vezes para cargos legislativos também, ele faz falsas acusações para criar um clima de insegurança que é propício a um golpe de estado.

Ao seu lado, temos Forças Armadas que estão acusando as urnas eletrônicas, conhecidas em todo o mundo por sua confiabilidade, de não serem seguras.

Bom, são atores que louvam o golpe militar de 1964.

Temos que estar prontos para possíveis sabotagens, desde urnas até redes de transmissões elétricas ou de informações, para um candidato que pode  reclamar vitória antes do fim da contagem dos votos, tentar parar a contagem, ou se recusar a aceitar uma eventual derrota. 

Há quem ache que tenhamos virado o ponteiro da tentativa de golpe de “possível” para “provável”. De todo modo, precisamos nos preparar. 

Necessitamos de planos, ideias e ações para ajudar a evitar um possível golpe. Esse site, por exemplo, faz um excelente trabalho de propor alternativas e resistências a um eventual putsch.

O que trazemos aqui vem do acúmulo de uma iniciativa chamada “Choose Democracy” [Escolha a Democracia] que prepara as pessoas para a possibilidade de um golpe.

Estas diretrizes são extraídas do amplo conjunto de experiências e evidências dos muitos países que passaram por um golpe desde a Segunda Guerra Mundial. Você pode ler alguns estudos de caso mais completos em Choose Democracy ou um manual mais longo baseado em evidências para este momento em “Hold the Line”: Um Guia para a Defesa da Democracia”.

1. Chame um golpe de estado de “golpe de estado”

Uma razão para usar a linguagem de um golpe é que as pessoas sabem que ele é errado e uma violação das normas democráticas – mesmo que não estejam familiarizadas com a definição exata de um golpe.

Temos que estar prontos para declarar em alto e bom som: Isto é um golpe de estado.

Se nos encontrarmos em uma situação de golpe precisamos ajudar as pessoas a ajudar nosso país a entrar em um estado de “ruptura psíquica”, de entender que isso não é normal.

Saberemos que é um golpe de Estado se o governo:

  • Parar a contagem dos votos;
  • Deslegitimar o resultado das urnas;
  • Adiar a eleição;
  • Certificar alguém vencedor que não obteve o maior número de votos;
  • Permitir a permanência no poder de alguém que não venceu a eleição.

Estas são algumas das linhas que não podem ser cruzadas. Caso sejam, as pessoas têm que poder entender de imediato.

Os golpistas sempre afirmam que estão fazendo isso para salvar a democracia ou afirmam que conhecem os resultados “reais” das eleições. Portanto, não necessariamente precisa ter tanques nas ruas e oposição presa em massa para ser um golpe – o golpe do Congresso e de Temer em Dilma Rousseff que o diga. 

Se algum desses princípios for violado, temos que declarar em alto e bom som: é golpe!

2. Lembre-se: golpes já foram interrompidos por pessoas comuns

Tentativas de golpe já aconteceram em todo o mundo e mais da metade falhou. Golpes de Estado são difíceis de orquestrar. Eles são uma violação das normas que exigem a rápida apreensão de múltiplos níveis das instituições de uma só vez sob uma premissa falsa. 

Os golpes tendem a falhar quando as instituições governamentais (como as eleições) são confiáveis; há uma cidadania ativa; e outras nações estão prontas para se envolver.

O papel da cidadania é crucial. Isso porque durante o período logo após uma tentativa de golpe – quando o novo governo afirma que é o governo “real” – todas as instituições têm que decidir a quem ouvir.

Um golpe de Estado falhado na Alemanha em 1920 nos dá um bom exemplo. A população se sentia abalada pela derrota na Primeira Guerra Mundial e pelo alto desemprego. Os nacionalistas de direita organizaram um golpe e conseguiram a ajuda de alguns generais para confiscar edifícios do governo. O governo deposto fugiu, mas ordenou a todos os cidadãos que os obedecessem. “Nenhuma empresa deve funcionar enquanto a ditadura militar reinar”, declararam.

A resistência generalizada e não-violenta começou rapidamente. As gráficas se recusaram a imprimir os jornais do novo governo. Os funcionários públicos se recusaram a cumprir qualquer ordem do golpe. E folhetos pedindo o fim do golpe foram espalhados por avião e à mão.

Há uma história do líder golpista vagando pelos corredores procurando em vão por um secretário para digitar suas proclamações. Os atos de resistência cresceram e eventualmente o governo democrático (que ainda tinha problemas graves) foi devolvido ao poder.

Os momentos após um golpe são momentos de heroísmo entre a população em geral. É assim que tornamos a democracia real.

3. Esteja pronto para agir rapidamente – e nunca sozinho

Normalmente, as tomadas de poder pela força são organizadas em segredo e lançadas repentinamente. A maioria das campanhas que derrotam os golpes o faz em dias: Na União Soviética, em 1991, demorou três dias. A França tardou em 1961 quatro dias e a Bolívia em 1978 levou 16 dias para conter o golpe. 

A ação direta em massa pode ser a única maneira de impedir que Bolsonaro roube os resultados das eleições. É raro que o líder de qualquer país admita publicamente que pode não respeitar os resultados de uma eleição. Há algo que nos ajuda nisso: porque as pessoas que param os golpes raramente têm a chance de receber treinamento, advertência ou preparação. Dessa forma, podemos nos preparar. 

Nos EUA, a iniciativa Transition Integrity Project realizou múltiplas simulações sobre as eleições dos EUA, tais como o que poderia acontecer se Biden ganhasse por uma margem estreita ou se Trump simplesmente declarasse a vitória quando não houvesse um vencedor claro. Em cada simulação eles concluíram que uma “manifestações massivas nas ruas podem ser decisivas”. As pessoas fazem a diferença. 

Para começar a se preparar, fale com pelo menos cinco pessoas que iriam às ruas com você – a maneira mais segura de ir às ruas é com quem você conhece e confia. Converse com pessoas que você conhece no serviço público e na rua. Aproveite o tempo para se preparar para agir.

4. Foque em valores democráticos amplamente compartilhados, não em indivíduos.

Na Argentina, em 1987, um golpe começou quando um major da Força Aérea, ressentido com as tentativas de democratizar os militares e colocá-los sob controle civil, organizou centenas de soldados em sua base.

Enquanto o governo civil tentava negociar um acordo, as pessoas saíam para as ruas. Contra o apelo do governo, 500 pessoas marcharam até a base com o slogan “Viva a democracia! Argentina! Argentina!”. Eles poderiam ter passado algum tempo atacando o major. Ao invés disso, eles estavam apelando para seus concidadãos a escolherem a democracia.

O major tentou mantê-los afastados com um tanque, mas os manifestantes entraram na base de qualquer maneira. Ele sabia que disparar abertamente sobre civis não-violentos faria com que ele perdesse mais credibilidade. Logo 400.000 pessoas saíram às ruas de Buenos Aires para se manifestarem em oposição ao golpe.

Isto deu força ao governo civil. Organizações cívicas, a igreja católica, grupos empresariais e sindicatos de trabalhadores se uniram sob um compromisso de “apoiar de todas as formas possíveis a Constituição, o desenvolvimento normal das instituições de governo e a democracia como único modo de vida viável”. Os golpistas perderam sua legitimidade e logo se renderam.

Esta abordagem é diferente daquelas dos manifestantes que vão para a rua com uma lista de problemas ou uma queixa contra um líder odiado. Em vez disso, a mobilização está exaltando valores democráticos centrais amplamente compartilhados. Em nosso projeto, usamos a linguagem de “escolher a democracia”.

Isto reafirma outra descoberta da nossa pesquisa: como os golpes de Estado são um ataque à instituição atual, os democratas – que podem nunca se juntar – estão abertos para se unir em ações na rua. Isto, claro, é mais fácil se fizermos o convite sobre os valores democráticos com os quais todos podem se conectar.

5. Convencer as pessoas que ficar parado ou paralisado não é a solução

Imagine que em seu trabalho um chefe corrupto é demitido e um novo chefe chega. Em vez de sair, seu antigo chefe diz: “Eu ainda estou no comando. Faça o que eu digo”. Um grupo de seus colegas de trabalho diz: “Só recebemos ordens do antigo patrão”. Nesse ponto, surge a dúvida.

E é essa dúvida que os golpes usam para serem bem sucedidos. Basta a gente congelar e pronto. Mesmo quando apenas uma parte das pessoas se alinha com o golpe e o normalizam, o restante pode vir a aceitá-lo como “inevitável”.

Os golpes não são um momento para apenas assistir e esperar até que “outra pessoa” descubra que ele é errado. Não importa quem você é, você pode fazer parte da escolha pela democracia. 

6. Realize ações que representem o Estado de Direito, a estabilidade e a não-violência.

 Parar um golpe depende do tamanho das mobilizações e da conquista de quem está no meio. É uma luta pela legitimidade. Qual voz é legítima? Algumas pessoas já terão tomado uma decisão. O objetivo, então, é convencer aqueles que estão indecisos- o que pode ser um número mais surpreendente do que se espera.

 Para trazê-los para nosso lado, esse centro indeciso tem que ser convencido de que “nós” representamos estabilidade e “os golpistas” representam hostilidade às normas democráticas.

Historicamente, o lado que mais recorre à violência tende a perder. Em um momento de incerteza, as pessoas escolhem o lado que promete máxima estabilidade, respeita as normas democráticas e parece ser a aposta mais segura. É uma disputa de quem pode ser o mais legítimo.

 A resistência em massa aos golpes de Estado tem como táticas vencedoras: protestos pacíficos, greves, recusa de ordens e paralisação da sociedade civil até que o líder democraticamente eleito seja empossado.

7. Foque na calma, não no medo.

É assustador acreditar que estamos tendo que falar de um golpe militar E sabemos que é menos provável que pessoas com medo tomem boas decisões.

Então, busque a calma. Seja uma fonte confiável, através da verificação dupla de rumores e da divulgação de fatos de alta qualidade. Claro, leia as mídias sociais… mas passe algum tempo, você sabe, fazendo coisas reais que o fundamentam. 

Respire fundo.

Lembre-se de como você lida com o medo. 

Pense em cenários, mas não seja capturado por eles. 

Estamos fazendo isso para nos prepararmos. Estamos nos precavendo. E podemos vencer.

Daniel Hunter é autor de livros como “Manual de Resistência Climática” e “Construir uma movimento para abolir a nova Lei Jim Crow”, além de ser gestor de treinamento global na 350.org.

(Publicado originalmente em 14 de setembro de 2020 no site Waging NonViolence)

 

Coletivo independente constituído em 2011 com a missão de fortalecer grupos ativistas por meio de processos de aprendizagem em estratégias e técnicas de ações não-violentas e criativas, campanhas, comunicação, mobilização e segurança e proteção integral, voltadas para a defesa da democracia e dos direitos humanos.

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