Por Débora Dantas Pio

A comunicação é parte fundamental no desenvolvimento de projetos e campanhas; preparamos um passo a passo

ilustração: um monitor de computador com ícones que indicam vídeo, alto falante, email e textos

Imagem: Reprodução

Na hora de pensar em um projeto ou campanha, normalmente ficamos preocupades com a articulação, materiais, cronogramas — e a comunicação acaba sendo deixada de lado. Mas isso é um erro! A comunicação importa e ela deve fazer parte da estratégia central de qualquer projeto ou campanha e ser desenvolvida junto com os outros processos. A comunicação precisa ser clara, objetiva, consistente e mostrar para o público todas as coisas interessantes que o projeto ou campanha têm a oferecer.  

Por isso, fizemos este guia chamado “Comunicar para Mobilizar”. Ele é um passo a passo com algumas dicas para fazer uma comunicação eficaz. Vamos nessa?

Passo 1: Saiba o que você quer comunicar 

Hoje em dia, com tantas ferramentas e conteúdos rolando o tempo todo em todos os lugares, é muito importante que a comunicação vá direto ao ponto! Primeiro, pergunte o que você quer comunicar? Para quem? De qual maneira? 

Faça um planejamento respondendo às perguntas: 

  1. Qual mensagem quero passar? 
  2. Com quem quero falar? 
  3. Qual impacto quero causar? 
  4. Por que isso é importante? 

Anote as respostas a estas perguntas em um papel ou documento e, em seguida, siga os próximos passos. 

Passo 2: Conheça o seu público-alvo

É muito comum acreditar que uma mensagem irá alcançar um “público em geral”, mas isso pode ser muito genérico. Por isso, é importante que em um primeiro momento você escolha um público-alvo mais específico. Ainda que ele seja diverso, sempre há aquelas pessoas que estarão mais interessadas na sua causa e irão se conectar ao seu projeto ou campanha com mais facilidade. Identifique e vá atrás dessas pessoas!   

Você pode encontrá-las fazendo uma busca por #hashtags temáticas nas redes sociais, buscando em grupos de Facebook ou Telegram, grêmios de escola, sindicatos, coletivos locais, ONGs… Faça contato com alguns grupos e explique o que é seu projeto ou campanha e deixe claro como essas pessoas podem te ajudar! 

Dica: Em geral as pessoas são muito ocupadas com suas demandas, então quanto mais específica você for com seu pedido, maior a chance de receber ajuda. Ao invés de dizer “preciso de ajuda para lançar o meu projeto”, peça “você pode divulgar nas redes do seu coletivo três vídeos sobre o lançamento do meu projeto?”. 

É claro que seu conteúdo pode viralizar e chegar a um público muito mais amplo, diferente do foco que você pensou inicialmente. Mesmo assim, procure priorizar aqueles que de alguma forma já se identificam com sua causa. 

Sobre uma superfície cinza, peças de madeira contêm desenhos de alvo em seu centro. Uma delas tem uma flecha fincada no centro.

Imagem: Reprodução

Passo 3: Crie uma narrativa poderosa

Como você conta uma história? Um projeto ou campanha necessita de uma narrativa poderosa tanto para chamar as pessoas a se mobilizarem quanto para convencer algum tomador de decisão a acatar o pedido que está sendo feito. 

Busque elementos de força, como personagens, resultados, objetivos claros, teoria da mudança e prazos para que a mudança que você está pedindo ocorra. Não é necessário criar narrativas mirabolantes, que tornam o entendimento difícil. Faça uma tradução simples do problema que está acontecendo e escreva em um papel ou documento. O importante é que tanto o público quanto os tomadores de decisão saibam onde você quer chegar! 

Sua narrativa precisa ter um início (contar brevemente o contexto), meio (explicar a teoria da mudança) e fim (falar sobre prazos e resultados esperados).

Exemplo:

Início: 

A reserva ambiental de Cachoeirinha corre o risco de ter o terreno cedido para uma mineradora. Tudo isso porque a prefeitura da cidade de Itapema do Norte autorizou a exploração de minério na região alegando “desenvolvimento econômico e geração de empregos”. Porém, o impacto ambiental da mineração para os moradores da região, que consomem a água do local, é inimaginável. 

Meio: 

Além da ameaça da contaminação da água, há também o risco da mineradora causar desequilíbrio na fauna e na flora locais. Por isso, um grupo de moradores e ambientalistas se reuniu e lançou uma campanha para barrar este projeto absurdo – eles já se reuniram com o Ministério Público local e com parlamentares para embargar o projeto na Justiça. 

Final: 

Mas temos pouco tempo! De acordo com o projeto da prefeitura, as obras podem começar dentro de um mês. Por isso precisamos reunir 1.000 assinaturas até esta sexta-feira! Este abaixo-assinado será apresentado durante audiência pública que acontece na segunda-feira. Até lá, precisamos reunir o máximo de assinaturas e mostrar que somos contra mais um projeto predatório em nossa cidade! Assine agora!

Pronto! Agora você tem uma narrativa! Sempre que possível, procure personagens, fatos concretos e deixe explícito para o seu público como ele pode atuar nesta ação. A gente desenvolveu essa metodologia em outro guia da Escola de Ativismo, focado em te ajudar a construir narrativas para engajar.

Passo 4: Seja consistente 

Após consolidar uma narrativa, seja consistente. Não dá para ficar mudando de opinião o tempo todo ao longo da campanha ou projeto. Crie outras oportunidades de comunicação utilizando a mesma narrativa: faça vídeos, utilize memes do momento, procure outros personagens para endossar a sua história. 

Seja coerente com a narrativa, mostre porque o projeto ou campanha é relevante e insista sempre nos seus valores.

 

Passo 5: O uso das redes sociais 

Cada rede tem um propósito e um tipo de estratégia, então invista naquele que você terá mais condições de produzir conteúdo. 

Hoje em dia existem o Facebook, Instagram, Twitter, LinkedIn, TikTok, Whatsapp, Telegram, YouTube e outras redes disputando a atenção das pessoas 24h por dia. Geralmente queremos produzir conteúdo para todas elas de maneira desordenada ou, ainda, replicar o mesmo tipo de conteúdo em diferentes redes – isso não dá certo! 

Primeiro, procure saber qual é a rede mais eficaz para seu público-alvo e invista nela! Estude as tendências de cada rede e veja qual tipo de conteúdo é o mais adequado para seu projeto ou campanha. 

Exemplo: 

O Instagram tem várias ferramentas dentro dele, como feed, stories, reels, carrossel. Dentro do stories dá pra fazer caixinha de perguntas, enquetes, colocar música, geolocalização. Se seu projeto ou campanha for utilizar o instagram como ferramenta principal, procure explorar todas as ferramentas disponíveis para disponibilizar o seu conteúdo!

E lembre-se: números não são tudo! 

Sua campanha ou projeto não flopou só porque não alcançou números exorbitantes. O importante é o impacto que sua mensagem causa no mundo! Se ela fez história na sua cidade ou no seu bairro, já tá valendo. Use sempre essas experiências para fazer ainda melhor na próxima vez. 

Passo 6: Não abandone seu público 

Muitas vezes o resultado demora a chegar, seja na consolidação de um projeto ou seja na vitória ou derrota de uma campanha. Mesmo assim, seu público precisa estar informado! À medida que seu projeto ou campanha for tendo desdobramentos, vá informando as novidades a todo mundo que se engajou. 

Também procure interagir nas respostas dos posts, as pessoas gostam muito de se sentir ouvidas e reconhecidas pelo engajamento! 

mãos levantada para o alto indicam uma multidão em um evento

Imagem: Reprodução

Passo 7: Sonho que se sonha junto…

Não adianta fazer nada sozinha! Por mais que muitas vezes as melhores ideias partam de uma só cabeça, é fundamental ter mais gente por perto para fazer o sonho acontecer! 

Reúna seu grupo de amigos, colegas de trabalho, da escola, da academia para tocarem esta empreitada com você. As trocas e construção coletivas são sempre muito produtivas. Respeite os diferentes pontos de vista, escute o que as pessoas têm a dizer e aproveite as diferentes ideias na hora de construir seu projeto ou campanha. Sonhar junto é melhor do que sonhar sozinha! 

Passo 8: Levante as métricas 

Ao final de um projeto ou campanha, é normal estar cansade! Mas ainda tem uma etapa final: recolher as métricas e avaliar o que deu certo e o que não deu! Então esta é a hora de checar seus números — seja nas curtidas e compartilhamentos nas redes sociais, dados do Google Analytics sobre o número de cliques em um site, número de assinaturas, pessoas mobilizadas, reuniões realizadas. 

Tudo isso é importante para que você tenha parâmetros para quando quiser fazer tudo de novo. Todos estes processos servem de aprendizado e, ao colocar tudo no papel, você vai ver o quanto você e seu grupo caminharam até aqui. Não pule esta etapa.

Duas telas sobre fundo azul mostram gráficos coloridos

Imagem: Reprodução

Passo 9: Comemore as conquistas 

“Que sentido tem a revolução se não podemos dançar?”, a frase de Jane Berry traduz muito o que muitos ativistas passam ao longo de um projeto ou campanha. É tanto trabalho e empenho para fazer as coisas darem certo que às vezes as comemorações acabam sendo deixadas de lado! 

Por isso, comemore cada primeiro avanço. Reúna o grupo para celebrar, agradecer pelo que foi legal e também tirar aprendizados do que não deu certo. 

Passo 10: Espalhe este guia pra todo mundo! 

Gostou das dicas? Então espalhe este pequeno guia para todas as pessoas que você conhece que estejam querendo começar um projeto ou campanha! Quanto mais gente colocar suas ideias na rua, melhor 🙂 

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