Além da nossa resistência territorial, há maneiras estratégicas e criativas de protestar contra a inação de governos diante da crise do clima. Que tal usar a criatividade como ferramenta de resistência e meios alternativos de mobilização? Veja cinco dicas criativas de táticas de ação direta que já foram usadas por ativistas em protestos no Brasil.
Fazer críticas à condução da política ambiental brasileira de forma descontraída e sarcástica pode ser um caminho de garantir que sejamos vistos e ouvidos. E, se quiser realizar uma ação direta de sucesso, veja o nosso guia especial “Ação direta, como planejar e fazer”.
Mas a mobilização não é só sobre protestos e manifestações públicas. Existe um trabalho de base muito importante acontecendo dentro das comunidades. E quem precisa lutar pelo seu território precisa resistir de várias formas. Resistir não é apenas se fortalecer como indivíduo, é também se fortalecer coletivamente, seja por meio de organizações estruturadas, artivismo, comunicação popular. É respeitar também quem veio antes e usar esse conhecimento que foi passado para proteger os de agora e os que vem depois. Ou seja, é quando pensamos não apenas nas nossas florestas, mas nas vidas que estão nelas e no entorno, temos a compreensão do que é o meio ambiente e como resistir diante de tantas violências.
Estratégias no campo e em áreas urbanas
Mesmo em áreas urbanas é possível e necessário pensar em meio ambiente. Usar técnicas de reflorestamento e plantar enquanto nossos inimigos queimam e desmatam faz toda a diferença.
Foi o que fizeram grupos de pessoas em Nova Iguaçu, Rio de Janeiro. Convidadas pelo Instituto EAE (Educação Ambiental e Ecoturismo), que faz trabalhos para promover a preservação do meio ambiente, do patrimônio cultural e natural da conhecida Serra do Vulcão, pessoas entusiasmadas se reuniram em uma grande ação em prol da vida: um plantio de árvores. A ação faz parte da ação #ElesQueimamNósPlantamos.
A comunidade local acredita que é fundamental que as novas gerações olhem para a preservação com cuidado. Uma das pessoas que também foram atraídas para fazer plantios na Serra é a guia de turismo Raimunda Delanda, de 86 anos. Para ela, as gerações atuais devem ser atuantes pela preservação daquilo que já existe e pela reparação do que foi destruído. “Eu falo pro mais jovem pra ele tomar conta do seu espaço. Tomar conta dele, cuidar do meio ambiente, porque o jovem vai precisar muito mais do que eu. Eu ainda estou construindo hoje para vocês, mais jovens. Só que eu estou indo. E alguém tem que ficar cuidando”, disse.
Ativistas e comunidades têm mantido rios vivos, plantado árvores e inclusive mostrando que é possível fazer uma transição energética popular. O projeto Veredas Sol e Lares, uma usina solar fotovoltaica desenvolvida no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, foi uma proposta pelo Movimento Atingidos por Barragens e parceiros, a usina foi desenvolvida com protagonismo das comunidades em todas as etapas. Mais do que um projeto energético, a iniciativa é uma experiência de desenvolvimento comunitário, no qual foram envolvidas aproximadamente seis mil pessoas, em mais de 400 atividades de campo, nos 21 municípios que fazem parte da abrangência da usina.
Mantendo rios vivos
A experiência do Vão Grande, região que reúne cinco comunidades quilombolas no Pantanal mato-grossense, mostra que a relação entre povo e rios é intensa. Em 2021, os quilombolas conseguiram barrar na Justiça a construção de uma Pequena Central Hidrelétrica (PCH), tipo de usina que, apesar do porte, causa grandes impactos biológicos e sociais na região onde é construída. Para proteger o Rio Jauquara, cujas margens servem de refúgio e subsistência desde a fuga de seus ancestrais escravizados, uma das táticas usadas foi criar, no dia 28 de abril, o Dia do Rio Jauquara, que valoriza a relação dos quilombolas com o rio, o que serviu de base também para a Justiça impedir a construção que acabaria com esse modo de vida.