Luh Ferreira
Educadora Popular, ativista, doutora em Educação
Encantada com o mundo, indignada com a situação dele
Berço de movimentos sociais e resistência contra a extrema-direita: conheça o histórico ativista do Sul do Brasil
Por Bárbara Poerner
Apesar do conservadorismo e avanço da extrema-direita no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, os estados foram palco de lutas sociais negras e campesinas determinantes para a história do Brasil

Artur Favaretto em manifestação na cidade de Florianópolis (SC). l Foto: Arquivo pessoal.
“Cria de movimento estudantil”. Essa é uma das formas que Artur Favaretto usa como autodefinição. O historiador viu sua militância ganhar forma com o movimento negro, no período de sua graduação em sua cidade natal, Florianópolis, capital de Santa Catarina. O estado foi o segundo que mais votou em Jair Bolsonaro nas eleições de 2022, perdendo apenas para o Acre, e ajudando o sul do Brasil a garantir o posto de região onde o atual presidente ganhou em todos seus estados.
Entretanto, nada disso aconteceu sem a oposição de movimentos sociais, feministas, negros, indígenas e campesinos paranaenses, gaúchos e catarinenses.
“Embora, sim, Santa Catarina seja majoritariamente bolsonarista, existe muita resistência. Foi aqui que surgiram grandes nomes da política brasileira e bases centrais do movimento comunista, dos movimentos do campo, da pedagogia, e de outros espaços. São vários elementos que colocam novas possibilidades de construção de enfrentamento”, argumenta Artur.
Ele destaca as figuras de Antonieta de Barros (1901-1952), a primeira deputada estadual negra do país, e Cruz e Souza, poeta do simbolismo negro, ambos florianopolitanos. Ainda, Leonel Brizola (1922-2004) é filho de camponeses do interior do estado que governou, Rio Grande do Sul; e Oliveira Silveira é um importante intelectual porto-alegrense, que fez parte da proposição do 20 de novembro como Dia da Consciência Negra. Esses são apenas alguns exemplos de personalidades que contribuíram para a defesa dos direitos humanos no país a partir, também, de sua posição geográfica.
O movimento negro e indígena na região mais branca do país
Artur faz parte dos quase 20% de habitantes catarinenses autodeclarados pretos ou pardos. Isso torna, estatisticamente, Santa Catarina o estado mais branco Brasil. E também o que mais registra casos de injúria racial. Conforme o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, houve uma média de 7,8 ocorrências diárias em 2021.
Os dados não diferem muito do Paraná e Rio Grande do Sul, que têm 34% e 21%, respectivamente, da população autodeclarada negra.
Para o estudante, “articular o movimento negro em SC é a dificuldade de se perceber minoria. É uma experiência de muita resistência, de reivindicar [nossa] presença na construção desse estado, do campo à cidade”, acrescenta, ao citar a importância da cultura para o povo preto e pardo. Os “clubes”, ele lembra, foram um exemplo. Eram organizações que transitavam entre a arte e o enfrentamento, constituindo espaços de sociabilidade e oposição ao racismo contra a população negra.
Um deles, em especial, estava localizado na cidade de Porto Alegre. Chamado de Marcílio Dias, o clube foi o embrião do dia 20 de novembro como o Dia da Consciência Negra. Na data, um grupo realizou um evento em valorização ao “herói Zumbi dos Palmares” e propôs usar o aniversário do abolicionista como referência para o povo negro, invés do dia 13 de maio, quando ocorreu a assinatura da Lei Áurea.

Reunião no clube Marcílio Dias. l Foto: Acervo Oliveira Silveira/Reprodução
Artur destaca o papel das lideranças comunitárias, especialmente das mulheres negras, nessa dinâmica. “É preciso reivindicar a centralidade [delas] na construção do movimento negro, em diversas matizes de luta, perspectivas e formas que vem do campo cultural, mas envolvem lutas ambientais, de saneamento, moradia e infraestrutura, todas ainda muito articuladas na figura de uma mulher”, acredita. O estudante sinaliza, contudo, que uma das maiores dificuldades é lidar com a pulverização dos coletivos negros no estado, algo que ele vê justamente como um produto da disputa política na região.
“Falamos de um [território] que não é só majoritariamente branco, mas também reforça os ideais hegemônicos da branquitude e de uma construção ideológica e político-social. É o que leva, por exemplo, [SC] a ser um estado apoiador do governo Bolsonaro desde 2018, historicamente governado pelas elites de direita, as mesmas familias colocadas frente ao poder, que cerram os espaços de debate do movimento negro”, diz Artur.
A história da região sul do país é composta, ainda, pelos povos originários. Guaranis, Kaingangs e Laklãnõ/Xokleng estão presentes desde o Rio Grande do Sul até São Paulo.
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Os Laklãnõ/Xokleng, recentemente, repercutiram nacionalmente ao protagonizarem a disputa jurídica da tese do Marco Temporal no Supremo Tribunal Federal (STF). mas a etnia já resiste contra o genocídio indígenas há décadas. Eles estão na Terra Indígena (TI) Ibirama-Laklãnõ, que contempla as cidades Vitor Meireles, José Boiteux, Doutor Pedrinho e Itaiópolis, todas em Santa Catarina. O território é palco de disputas desde o século XIX, quando o Brasil começou sua política eugenista de branqueamento, até a década de 1970, quando foi duramente impactado pela construção da Barragem Norte.
Terra e campo
Em 1979, a granja Macali e Brilhante foi ocupada por camponeses do interior do Rio Grande do Sul. Dois anos mais tarde, em 1981, um novo acampamento surge no estado: o Encruzilhada Natalino. Símbolo de luta contra a ditadura que vigorava à época, as 600 famílias acampadas sofreram grande repressão dos militares. Mesmo assim, o evento foi um dos embriões do atual Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Ceres Hadich, coordenadora nacional do MST no Paraná, explica que essas movimentações despertaram o entendimento que a luta não era local, mas nacional, e que havia a necessidade de uma articulação coletiva. Por isso, em 1984, Cascavel (PR) recebeu o encontro que marcou a criação do MST. Um ano depois, em 1985 realizou-se o primeiro congresso nacional em Curitiba (PR). “Quando começaram essas lutas, já existiam movimentos localizados, a grande novidade foi unificar em torno de uma sigla essa organização mais ampla”, continua ela, que se conectou com a militância campesina durante sua graduação em agronomia na UFPR.
O Paraná ser o estado a gestar o primeiro encontro nacional do MST foi uma questão conjuntural, acredita Ceres. “O movimento se esparrama pelo Brasil nos anos 1990, mas naquele momento, nos anos 1980, estava mais maduro e latente na região sul”, argumenta, ao citar o contexto de redemocratização que o Brasil vivia. As consequências da ditadura militar ainda eram experienciadas no cotidiano, inclusive nas ligas camponesas nos estados do norte e nordeste.

Encontro que gerou o MST em Cascavel, PR. l Foto: Acervo MST
O Paraná ser o estado a gestar o primeiro encontro nacional do MST foi uma questão conjuntural, acredita Ceres. “O movimento se esparrama pelo Brasil nos anos 1990, mas naquele momento, nos anos 1980, estava mais maduro e latente na região sul”, argumenta, ao citar o contexto de redemocratização que o Brasil vivia. As consequências da ditadura militar ainda eram experienciadas no cotidiano, inclusive nas ligas camponesas nos estados do norte e nordeste.
Valorizar o histórico de luta
Natural do oeste do Paraná, Ceres acrescenta que na região muitas mobilizações também surgiram em torno da Usina de Itaipu. A obra, construída durante a ditadura militar, mobilizou centenas de famílias agricultoras, atingidas pela construção da barragem, a acamparem em frente ao escritório da empresa, em Santa Helena (PR). A realidade impulsiona a criação do Movimento Atingidos por Barragens (MAB), que atua por um novo projeto energético popular para o país.
Historicamente, os movimentos sociais nacionais compartilham o mesmo período, a partir da redemocratização. Quem explica é Rogério Paulo, coordenador nacional do MAB. Ele cita o trabalho determinante realizado pelo sindicalismo no campo e por alas progressistas das igrejas católica e luterana. “Enquanto organizações, elas criam experiências para construção dos movimentos sociais como MST, MAB, que não surgem do nada, pois já haviam experiências localizadas”, complementa o catarinense filho de agricultores.
É em Chapecó que surge a decisão de criar um órgão que aglutine as lutas dos atingidos. Mais tarde, em 1997, Curitiba recebeu o I Encontro Internacional de Atingidos por Barragens, com delegações de 20 países. Na ocasião, 14 de março foi oficializado como o Dia Internacional de Luta contra as Barragens, Pelos Rios, Pela Água e Pela Vida.

Primeiro Encontro Internacional de Atingidos por Barragens, em Curitiba (PR). l Foto: acervo MAB.
Mesmo com esse histórico de movimentos sociais, um candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) nunca ganhou uma eleição presidencial na região sul. Contudo, na análise do coordenador Rogério, há duas décadas parecia improvável falar de uma ascensão da extrema-direita e do neofascismo, como presenciamos atualmente. “Com o golpe do Governo Dilma, [essa realidade], principalmente no sul e sudeste, surge, ou ressurge, e cria força a partir da possibilidade do governo atual de dar as condições para que ele pudesse se reproduzir na sociedade”, avalia ele.
A diferença entre Lula e Bolsonaro nos estados sulinos foi de quase três milhões de votos, ou 17,8%. É um número considerável, mas Rogério destaca que “achar que a luta de enfrentamento será apenas no campo institucional é um equívoco”, visto que, em sua análise, lidamos com uma extrema direita organizada em suas pautas, agendas e intenções. Ou seja, para o coordenador, é preciso amadurecer o trabalho de base entre organizações e sociedade.
Essa tarefa nunca foi simples ou fácil, e “se fosse fácil, não era pra gente”, acredita Ceres, que reconhece os perigos da luta pela terra, mas mantém a consciência junto da esperança.
Algo que ajuda o “esperançar” pode ser valorizar a resistência histórica do sul do Brasil, justamente para contrapor o conservadorismo que encontra fertilidade nos estados. Sem esse conhecimento, diz Artur, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná ficam restritos a uma realidade e definição homogênea, que endossa o discurso dos setores dominantes. Para o estudante, é um apagamento deliberado, mas é preciso “preciso disputar e construir outra imagem para [o sul do Brasil].”
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Bárbara Poerner é jornalista.
Saiba como fazer uma boa petição online
Plataformas online permitem aumento do alcance dos abaixo-assinados e ampla divulgação de uma causa, mas é fundamental conhecer algumas técnicas para utilizar a ferramenta de forma convincente e cativar o público
Por Marilia Parente

Em outubro de 1993, a novelista Glória Perez fez história ao entregar ao Congresso Nacional um abaixo-assinado com 1,3 milhão de assinaturas pela mudança da lei de crimes hediondos no país. A petição- que resultou na primeira emenda popular do Brasil- foi motivada pelo homicídio brutal da filha da autora, Daniela Perez, assassinada pelo colega de trabalho Guilherme de Pádua e por sua esposa, Paula Thomaz. Após comover o Brasil, a mobilização foi acolhida pelo legislativo, que resolveu incluir crimes de homicídio qualificado na relação dos crimes considerados hediondos. Quase trinta anos depois, novas plataformas digitais representaram a popularização definitiva das petições como ferramentas de transformação social. Através delas, mesmo pessoas anônimas podem alcançar boa visibilidade para uma causa. Nesse sentido, é fundamental conhecer algumas técnicas que podem ajudar a cativar e engajar o público.
De acordo com Débora Pinho, gerente de campanhas da Change.org, uma das maiores plataformas digitais voltadas para petições no mundo, a elaboração de um abaixo-assinado convincente está relacionada à clareza e objetividade com que a demanda é apresentada ao público. “Conte sua história de modo conciso, em um texto que não seja muito longo e exemplifique o que pode acontecer caso o pedido não se concretize. Também é importante deixar muito claro quem é a pessoa responsável pelo problema e que a petição seja factível, evitando pedidos muito amplos”, explica.
A Change também produz conteúdos didáticos e oferece assistência aos peticionários que escolhem a plataforma como canal de ação. “Fazemos inclusive esse meio de campo entre a pessoa que demanda e as autoridades. Mesmo assim, vale acionar tanto suas redes de contato como manter contato com quem assinou, através de atualizações ou, por exemplo, chamando essas pessoas para marcar o tomador de decisão em algum post”, acrescenta Pinho.
Os usuários da plataforma também podem atuar como financiadores das causas, através de doações em dinheiro. “A Change é uma organização não-governamental e sem fins lucrativos. Também não recebemos dinheiro de governos ou empresas. As doações, feitas por pessoas físicas, são investidas em impulsionamento da petição e na própria plataforma, para que a gente continue funcionando sem rabo preso e que nossa equipe continue dando suporte gratuito para as pessoas que nos procuram”, frisa a gerente de campanhas.
No Brasil, a plataforma é um sucesso. Segundo o Relatório de Impacto produzido pela Change em 2021, a base da organização no país é sua segunda maior no mundo, com 39 milhões de usuários. No ano passado, foram 14,9 mil abaixo-assinados criados, apoiados por um total de 33 milhões de pessoas. “A gente tem na Change mais de mil petições vitoriosas, mas nem sempre a vitória significa que ela funcionou. É preciso gerar visibilidade para sua causa, chamar atenção da imprensa e de celebridades e influenciadores se possível, além de fazer a entrega das assinaturas para algum tomador de decisão. Isso já gera um impacto para sua campanha”, completa Pinho.
Porta de entrada no ativismo
Embora conte com termos de uso bem definidos para seus usuários, algumas plataformas globais como a Change não contam com filtro ideológico que exclua de sua base abaixo-assinados que não estejam comprometidos com uma abordagem progressista. Foi diante dessa lacuna que a organização Nossas desenvolveu o Bonde, sua própria plataforma de petições, em que uma análise prévia do conteúdo de cada abaixo-assinado é realizada, com o objetivo de garantir seu alinhamento às pautas progressistas. “Quando a gente cria uma petição em uma plataforma terceirizada, não tem garantia do melhor uso de dados desses ativistas que se mobilizam nas campanhas. Existem plataformas de petição que vendem os dados de quem se mobiliza nelas”, alerta Daniela Orofino, diretora de projetos no Nossas, que lidera o projeto Amazônia de Pé, uma das muitas iniciativas da organização. .
Para Orofino, há ainda uma certa banalização da ferramenta de petições online. “Existe um milhão de campanhas, mas a gente não sabe se elas necessariamente deram em uma campanha ou chegaram ao tomador de decisão. Para o Nossas, a petição nunca termina nela mesma, é fundamental que ela chegue aos tomadores de decisão”, frisa. A diretora de projetos também ressalta que os abaixo-assinados costumam ser uma excelente porta de entrada para transformar pessoas interessadas em um tema em ativistas de uma causa. “Se uma pessoa demorou três minutos para assinar uma petição, a gente sabe que ela está interessada em um tema, então tentamos promover seu reengajamento. Ela é convidada, por exemplo, a comentar no Instagram do tomador de decisão, ligar para ele ou até a ir à prefeitura para fazer pressão direta”, acrescenta.
O Bonde, contudo, não pode ser utilizado por qualquer pessoa que deseje elaborar uma petição. “É aberto para que organizações criem suas campanhas. No momento, a gente tá fazendo uma migração de tecnologia para passar a usar a Action Network, que é uma plataforma internacional do campo progressista para campanhas. A gente vai fazer isso por entender que tecnologia tem um custo muito alto e conseguir fazer parte dessa comunidade global ajuda a diluir esses custos de manutenção”, explica Orofino.
Fundada há dez anos, a Nossas é responsável por projetos como o Meu Rio, a Minha Sampa e o Meu Recife, sendo financiada por organizações brasileiras e estrangeiras, bem como por doações de pessoas físicas que contribuem mensalmente com seus projetos. “O Nossas tem várias campanhas bem sucedidas em que a petição foi uma primeira forma de engajamento. A campanha da Restinga e Mangue teve quase 200 mil assinaturas e a gente fez outras formas de pressão para além da petição, inclusive com uma manifestação em frente ao Supremo Tribunal Federal em 2020”, ressalta Orofino.
Cultura de participação
Uma das organizações que aderiu ao Bonde como plataforma de mobilização foi o Instituto Marielle Franco, que conseguiu mobilizar ativistas de todo o país em sua petição contra a federalização da investigação policial acerca da morte da vereadora carioca e de seu motorista, Anderson Gomes, assassinados a tiros no dia 14 de março de 2018, no Rio de Janeiro. De acordo com o gestor de sustentabilidade e cuidados coletivos do Instituto, Rafael Rezende, o abaixo-assinado foi organizado no início de 2020, quando surgiram denúncias de interferências no caso, inclusive de uma tentativa do governo do presidente Jair Bolsonaro de federalizar as investigações. “Naquele momento, era um risco que o caso estivesse com autoridades federais e isso seria decidido pelo Superior Tribunal de Justiça. A gente fez uma petição junto com as organizações que compõem o Comitê de Justiça por Marielle e Anderson e iniciamos essa petição. Foram mais de 150 mil assinaturas”, frisa Rezende.
Na ocasião, os peticionários imprimiram as assinaturas, que foram encaminhadas para o STJ. Após uma série de comunicações com o órgão, a campanha foi vitoriosa. “A gente sempre cuida para que as petições tenham um objetivo concreto muito bem definido, um alvo, além de um texto simples e popular, que vá direto ao ponto e explique o porquê de esse tema ser urgente”, afirma Rezende.
Segundo o gestor, que atua desde 2011 com comunicação e mobilização para causas, o Instituto também procura trabalhar, em seus abaixo-assinados, no desenvolvimento de uma identidade visual que ajude a comunicar conteúdos para as redes, bem como estratégias de divulgação na imprensa. “As petições são uma das estratégias que a gente usa para promover mudanças de políticas públicas, pressionar autoridades e construir uma cultura de participação da sociedade, principalmente das populações historicamente afastadas dos espaços de decisão”, conclui.

Dicas: criando uma petição convincente
1. Pense em um título simples e direto
Tente cativar a atenção do público com um título claro e objetivo. Ele costuma convencer ou não o público a ler a petição;
2. Faça um pedido concreto
Antes de tudo, é importante ter em mente como o problema apresentado por seu abaixo-assinado pode ser resolvido e que autoridades são capazes de solucioná-lo. Vale contar um pouco de sua história pessoal no texto, mas foque em explicar sua demanda com linguagem simples e direta, evitando textos muito longos e vocabulário complexo ou jurídico.
A Change recomenda que sua história seja contada em aproximadamente quatro parágrafos, contando com uma introdução forte explicando quem você é, quem pode resolver seu problema e quem é o tomador de decisão. Em outro parágrafo, explique sua ligação com o problema que deseja resolver. Nos dois últimos, você pode apresentar os riscos e consequências de a causa não ser acolhida pela sociedade. Quando maiores os riscos, maiores as chances de a campanha receber atenção da sociedade e da imprensa;
3. Escolha um alvo
De acordo com a Avaaz, o alvo é a pessoa que você está pedindo para agir publicamente e diretamente, portanto escolhê-lo bem é crucial para que sua petição seja notada. A plataforma recomenda que seu alvo seja alguém capaz de realmente tomar uma decisão sobre o assunto abordado. É importante que o alvo seja um indivíduo e não um grupo, o prefeito e não “a cidade”, o CEO e não a empresa.
“Eles têm emoções, objetivos profissionais, amigos, família e todas as coisas que outras pessoas têm. Considere como que essas coisas podem influenciá-los na decisão sobre seu assunto e o que isso significa para ele”, orienta a Avaaz.
4. Opte por uma boa imagem
Uma boa imagem é essencial para engajar o público e tornar a petição mais compartilhável nas redes sociais. Pode compensar utilizar a imagem de seu alvo ou algum registro que demonstre a amplitude do problema, como fotos de uma grande área devastada. Segundo a Avaaz, fotos muito violentas, a exemplo das que mostram pessoas feridas ou animais mortos, podem fazer com que as pessoas saiam da página;
5. Abuse das redes sociais
O poder da sua petição aumenta à medida que mais pessoas têm acesso à ela. Assim, é fundamental usar plataformas como o Instagram, o Facebook, Twitter, Tik-Tok, Youtube e Whatsapp. Pense seu conteúdo de divulgação de acordo com a rede social a ser trabalhada, investindo em vídeos explicativos e boas imagens;
6. Busque imprensa e apoiadores
Tente estabelecer contato com a imprensa, buscando mostrar aos jornalistas a relevância da sua demanda. A circulação nos meios de comunicação é capaz de aumentar o interesse público e a pressão de uma campanha. Também é importante cativar personalidades, influenciadores ou pessoas públicas que se sensibilizem com a mobilização e decidam apoiá-la.
De onde vem tanto ódio à escola?
A colunista Luh Ferreira faz uma arqueologia do ódio à escola que se manifesta nos massacres nessas instituições buscando raízes e formas de combater essa cultura

Professores protestam em São Paulo contra a violência nas escolas l Crédito: Fernando Frazão/Agência Brasil
Começa com algo despretensioso. Algo como: “Queremos proteger nossas crianças!”. Pelo menos era isso que bradavam mais de cem pais na porta da câmara municipal de Suzano (SP) em meados de junho de 2016. A maioria deles católicos.
Vimos este ato se espalhar por muitas cidades do Brasil. Pude acompanhar este movimento pelos interiores de São Paulo, onde o conservadorismo cego segue vivo e se espalha pelas casas, pelas ruas, sobre as famílias e atravessa as escolas.
Na ocasião nos perguntávamos: mas que raio é isso? Ideologia de gênero de quem?
E ao escavar a origem deste pseudo manifesto, descobrimos que tratava-se de uma atitude da própria Igreja Romana que, na década de 1990, tratou de tentar coibir tudo aquilo que ela mesma julgava imoral na sociedade. Travou uma verdadeira batalha contra os gêneros para supostamente impedir o avanço de abusos contra crianças e adolescentes. Na época as comunidades de base realizaram um importante trabalho de conscientização junto às famílias, no entanto, abafou – como sempre! – os casos de abusos sexuais cometidos contra crianças e adolescentes por parte do clero. E neste sentido os adultos responsáveis pelas violências cometidas não foram expostos e tão pouco julgados.
Pouco depois, estas denuncias chegaram a ONU e, como o conservadorismo adora criar pseudofatos cabeludos para inflamar o povo, tudo isso entrou num pacote mal embrulhado do “problema do gênero”, recheado de críticas aos direitos sexuais e reprodutivos e cheio de muita homo-lesbo-bi-trans-fobia e misoginia.
Vale lembrar que 2016, foi o ano de impeachment de Dilma, e vimos um horrível show que expunha a presidenta, mas ao mesmo tempo todas as mulheres, sua vida pessoal e sua governança não só no Congresso por seus opositores, mas também nojentamente nas ruas. A misoginia ficou escancarada e com ela todas as intolerâncias cresceram.
No mesmo ano em que foi gestada a reforma do ensino médio, quando as ocupações nas escolas ainda estavam acontecendo pelo país, os estudantes foram as ruas dizer que a escola estava sendo atacada e eles precisavam defendê-la. E, por isso, foram violentamente reprimidos.
A Igreja estava atuando no combate ao “gênero” e as famílias também, já estavam mobilizadas e em campanha. A escola enquanto instituição, como deve ser, resistia a entrar nessa courela, então educadoras e educadores e suas práticas pedagógicas viraram alvo da grande campanha persecutória e vigilantista dos conservadores.
Ressalto aqui que gênero é uma categoria política, analisa elementos da sociedade que cria comportamentos para as pessoas. Não é, e nunca será, um instrumento para modificar, alterar ou destruir mentes. Escola nenhuma ensina e nem nunca vai ensinar alguém a mudar de gênero. A escola realiza uma mediação dos entendimentos construídos em sociedade, ela oferece um tempo livre para que os estudantes possam pensar sobre o mundo, sempre a partir da diferença, daquele que é diferente de mim e da minha família. Educadoras e educadores, portanto, não tem função de padronizar pensamentos muito menos realizar doutrinações, a escola dissemina pensamento crítico, legalmente amparado pela Constituição Federal, pela a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, por Diretrizes Curriculares, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e também pela Lei Maria da Penha e, conjunto com tantos outros documentos que fazem parte do sistema educacional brasileiro.
Neste período, e diante de tantos ataques à escola, seu princípio laico e inclusivo, vimos explodir projetos de lei, decretos, regulamentações, que modificavam planos de educação retirando a palavra gênero dos currículos e outras tantas aberrações. Vimos ainda exclusões de livros e materiais didáticos, que tratavam do assunto, por parte de secretarias municipais de educação. Vimos ainda, e de maneira aparvalhada, pessoas queimando livros em praça pública em uma ode a caça as bruxas, como se estivéssemos na idade média.
Vimos o prefeito de uma grande cidade brasileira, mandar retirar um livro de uma Bienal, por julgar uma literatura imprópria para adolescentes.
Infâncias vulnerabilizadas
Pois bem, e diante da confusão de quem esta certo ou errado, de quem defende e quem ataca as infâncias, a escola ficou sitiada.
E tornou-se um espaço extremamente vulnerável.
Em 2018 um sujeito foi eleito com base na violência, uma facada determinante fez o Brasil acreditar que atos violentos poderiam resolver tudo. E aí vieram decretos de liberação de armas, vieram destruição de direitos, ódio as mulheres, igreja contra igreja, igreja na política, escândalos, escândalos, escândalos, céu desabando… e o pior de tudo: pandemia!
E a escola que já estava sofrendo, esvaziou.
“E pra que serve a escola, pra ficar botando menina e menino no mesmo banheiro?” me perguntou certa vez uma conhecida.
É, parece que muitas famílias estavam decididas a excluir este equipamento de suas vidas.
Homeschooling que fala?
Perfeito para o governo da vigilância. Excelente para o governo da contenção de gastos. Um primor para os que defendem a ausência de pensamento.
Antes da pandemia, e de todo esse debate de escola em casa: falávamos de violência, certo?
Da tal da facada, que transformou um pária, um pulha, em herói.
E aí vimos o ataque a escola de Suzano. Sim esta mesma cidade entre tantas que em 2016 se manifestou contra a ideologia de gênero e atacou o coração da escola.
Dois jovens mataram oito pessoas, feriram onze, e em seguida se suicidaram, na Escola Estadual Raul Brasil. Guardo na memória o quanto essa escola costumava ganhar os campeonatos inter escolares na cidade, times fortes!
Uma arma foi utilizada para atacar as pessoas, e também um machado, que feriu muitas outras.
Um machado.
O mesmo instrumento utilizado para atacar e matar 4 crianças de uma creche em Blumenau, Santa Catarina.
Faca foi o instrumento utilizado para matar uma professora, e deixar quatro feridas em uma escola na Vila Sônia, na cidade de São Paulo.
E após estes ataques, todos com muitas semelhanças: jovens, meninos, usuários de internet, participantes de chats misóginos, neonazistas, pouco falantes, vitimas de bullying talvez… veio a descoberta por meio do monitoramento das redes, outros ataques à escolas e universidades.
Escolas sendo preparadas para o abate.
E abatendo a escola, esses sujeitos de masculinidade frágil, saem vitoriosos diante de seus comparsas.
Morrem e deixam uma legião de fãs, que inspirados pelo feito do outro, decidem fazer pior.
Mas o problema todo está na “ideologia de gênero”.
Está na “falta de vigilância, de câmeras de reconhecimento facial nas escolas.”
“O problema está nas educadoras, que ensinam coisas erradas.”
“A escola não serve pra nada!”
Ora, vamos parar com isso Brasil! Não é por aí.
Quando uma criança morre, morrem mundos possíveis.
Quando uma criança morre assassinada em uma escola, falhamos enquanto sociedade.
Não é mais possível seguir, não é possível continuar assim.
É preciso parar tudo para pensarmos: o que estamos fazendo de nós mesmos?
Escavar profundamente a origem dos problemas e fazer lembrar, e sofrer por isso, e cuidar disso.
Para de festejar galera!
O bagulho não tá resolvido!
O ódio está no subsolo, está enraizado, vem sendo alimentado há anos.
Realizemos uma arqueologia, uma escavação profunda, vamos lembrar dos fatos para pensarmos o que faremos já, agora, se quisermos ter um futuro digno.
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Por Luh Ferreira, da Escola de Ativismo
Rede Jandyras: um enxame em luta pela natureza e pela democracia
Por Luiza Ferreira
Coletivo de mulheres coloca questão de gênero na dianteira no debate sobre o clima e organiza a resistência climática no Pará

A Rede nasceu em 2021 e hoje tem o seu trabalho focado na ampliação da discussão da elaboração de políticas socioambientais de maneira condizente com a realidade da população paraense l Foto: Arquivo Rede Jandyras
“São as mulheres que mais sofrem com os problemas ambientais e climáticos, como desastres naturais, desmatamento, poluição e com a falta de políticas socioambientais. É nítido que as mulheres estão na linha de frente de pautas importantes na sociedade, desempenhando um papel crucial na gestão e conservação dos recursos naturais, principalmente nas comunidades rurais e tradicionais”.
É assim que a ativista e educadora popular, Waleska Queiroz apresenta a magnitude do desafio encarado por ela e pela Rede Jandyras, do qual ela faz parte. A rede é composta por um grupo de mulheres dedicado a discutir os efeitos da crise climática na cidade de Belém, no estado do Pará.
Antes mesmo de integrar a Rede Jandyras, Waleska já atuava com a Educação Ambiental. A importância da relação humana com a natureza e o meio ambiente sempre esteve presente no seu trabalho, ela explica. Waleska, que é natural de Terra Firme, periferia de Belém (PA), antes mesmo de ingressar na Universidade, já movimentava articulações em projetos aplicados em escolas e comunidades vulnerabilizadas do Pará.
‘Não consigo falar de mim sem referenciar que sou filha de mãe solo e a primeira da família a ingressar no ensino superior e obter o título de bacharel em Engenharia Sanitária e Ambiental pela Universidade Federal do Pará”, explica, lembrando de sua longa trajetória de doze anos como voluntária de projetos socioambientais em diversas organizações.
Surge um enxame
Atualmente as Jandyras são quase 30 mulheres que participam do projeto cada uma à sua maneira, com a missão de fortalecer a inserção das mulheres no debate político sobre questões socio-ambientais. A Rede nasceu em 2021 e hoje tem o seu trabalho focado na ampliação da discussão da elaboração de políticas socioambientais de maneira condizente com a realidade da população paraense, apontando os problemas locais e os reflexos da crise do clima.
Em 2021, a ONG Mandi (antiga Ame o Tucunduba) promoveu uma formação online e gratuita com o nome de Jandyras – do tupi “abelha de mel” – que contou com a participação de 40 mulheres. Após a formação, as participantes foram convidadas a construir coletivamente a Rede Jandyras: esse enxame de 20 mulheres plurais da cidade Belém, de diversas idades, vivências e identificações, que toparam o desafio e hoje compõem uma rede dedicada a pensar maneiras de enfrentar a crise climática, de maneira interseccional.
“Hoje incidimos diretamente nos espaços de tomada de decisão de Belém e almejamos que esses ambientes sejam cada vez mais ocupados por mulheres, ainda assim, acreditamos que há uma longa jornada de desafios pela frente”, comenta.
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A Agenda Climática para Belém foi o primeiro projeto articulado pela Rede Jandyras, e consiste na sistematização de dados sobre problemas territoriais locais e no que tange à crise climática e seus impactos na cidade e na população local. O acesso à água e saneamento básico, direito à cidade e à habitação social, justiça racial e ambiental, infância e clima e mobilidade urbana são os principais eixos da Agenda.
“Para esse primeiro projeto, contamos com o apoio de uma coalizão da HIVOS VAC (Vozes Pela Ação Climática) composta por três organizações: ONG Mandí, Clima de Eleição e Movimento Moara. A agenda climática foi entregue a todos os vereadores da câmara municipal de Belém e oito deles se comprometeram em implementar as propostas contidas na agenda”, acrescenta Waleska.
Entre as propostas, está o Fórum Climático Municipal, que foi aprovado em dezembro de 2021, no orçamento do plano plurianual de Belém. Belém do Pará, que detém hoje os piores índices de acesso à água e saneamento básico, se configura como um território potencialmente vulnerável aos impactos das mudanças climáticas, como reforça a ativista. Por isso a urgência da promoção de debates que possam fortalecer a agenda climática.
Em 2022, a Rede lançou a campanha “Fórum Climático Já”, para reivindicar transparência e participação de ONGs, coletivos, universidades e cidadãos interessados na pauta, no processo operacional de execução do Fórum, que está sendo trabalhado pela Rede em parceria com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMMA).

“Hoje incidimos diretamente nos espaços de tomada de decisão de Belém e almejamos que esses ambientes sejam cada vez mais ocupados por mulheres”, diz a ativista Waleska Queiroz l Foto: Arquivo Pessoal
Recorte de gênero
São muitas as consequências da crise climática global, e as mulheres estão entre os grupos mais vulneráveis às mudanças climáticas. Um relatório do Women in Finance Climate Action Group apresenta uma constatação dolorosa: 80% das pessoas deslocadas pelas mudanças climáticas são mulheres. Mesmo sendo a segunda maior metrópole da região Norte do Brasil, a cidade de Belém não possui nenhum plano para mitigar ou discutir soluções para a emergência climática. É nesse sentido que a Rede Jandyras surge como uma potencializadora da construção coletiva de políticas públicas que possam contemplar e direcionar o olhar para a realidade das mulheres paraenses.
Para Waleska, é importante que as mulheres participem ativamente dos processos tomada de decisão, mas para além de ocuparem esses espaços, é preciso construir “novas perspectivas sob o olhar feminino no cenário político”, reforçando novas abordagens para a elaboração de políticas públicas de fato inclusivas e eficazes.
No entanto, ela reconhece que esse é um processo longo, especialmente no Brasil, o que se deve a limitação da presença de mulheres na política ambiental brasileira. Esse se configura como um dos grandes desafios para a atuação da Rede Jandyras, visto que esses espaços políticos são usualmente dominados por homens.
Entre outros desafios, está a falta de recursos financeiros e segurança, que acabam impactando na realização das atividades e na implementação de projetos importantes.
“Continuamos lidando com as mesmas problemáticas que destaquei acima, mas acreditamos que a gestão atual do governo propicia um cenário mais oportuno para continuarmos atuando e pressionando os governantes a se comprometerem de forma efetiva com as pautas socioambientais e climáticas”, diz.
A falta de acolhimento do ambiente político para as mulheres é um problema potencial, que desencoraja o engajamento feminino com as questões ambientais, muito embora sejam elas as mais afetadas. Para Waleska, os desafios são diários. Superar essa situação só é possível “através da adoção de medidas que promovam a igualdade de gênero, ampliem a inserção de mulheres nos espaços de poder e assegurem o acesso à elas à tecnologias que promovam o seu engajamento em questões ambientais”, finaliza.
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Luiza Ferreira é jornalista.
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O que é o ativismo asiático e por que ele importa?
Por Vinicius Tamamoto
![kareem-hayes-2by5HMIOw1Y-unsplash Grupo de pessoas asiáticas protestam na rua segurando placas com dizeres como "stop asian hate [parem de odiar asiáticos]](https://escoladeativismo.org.br/wp-content/uploads/2023/03/kareem-hayes-2by5HMIOw1Y-unsplash-scaled.jpg)
Incomodados com a representação estereotipada de pessoas asiáticas, descendentes se juntaram para formar coletivos | Foto: Kareem Hayes na Unsplash
Eu devia ter uns cinco anos. Uma vizinha se aproximou e perguntou o que eu queria ser quando crescesse. Não lembro minha resposta, mas ela sentenciou: “Vai abrir um restaurante de sushi”. Deve ter sido um dos primeiros momentos em que percebi que havia algo diferente em mim. Na escola, desde a primeira série, o momento da chamada era angustiante. Torcia para que a professora só chamasse os alunos pelo primeiro nome, já que seria zuado pelo sobrenome. Tamagoshi, xing ling, jaspion e japa eram alguns dos apelidos que me faziam ter vergonha de minhas origens, ainda que meu pai, de ascendência okinawana, tivesse se afastado (talvez pelos mesmos motivos) de toda a cultura asiática que experimentou na infância.
Em casa, meus hábitos eram de uma criança 100% brasileira de uma cidade da periferia de São Paulo. Não havia ao meu redor qualquer outra pessoa de “olhos puxados”. Por isso, era impossível andar pelas ruas com a minha mãe sem que as pessoas destacassem minhas características físicas. Alguns puxavam os olhos, outros falavam qualquer coisa ininteligível na tentativa de imitar a língua japonesa. Sem saber o que fazer, eu só sorria. A reiterada lembrança do outro de que eu era uma espécie de estrangeiro afetou para sempre a maneira de me relacionar com o mundo. A timidez cresceu e virou um monstro. Fui tentando apagar qualquer resquício em minha personalidade que pudesse me associar à Ásia em uma tentativa inconsciente de embranquecimento. Os problemas foram aumentando conforme a adolescência evoluía. Cada vez mais introspectivo, não conseguia me relacionar com colegas da escola e passei o ensino médio como o garoto esquisito, calado e sempre sozinho nos cantos, onde ninguém pudesse me ver. Acrescente a esse contexto a nuance de me perceber gay. Se já não via asiáticos por aí, imagine asiáticos gays. Logo passei a deparar, em sites de relacionamento, com o racismo escancarado do “não curto negros nem orientais” (sim, isso era muito comum em meados dos anos 2000).
Foi só lá por 2015, com a disseminação de grupos na internet que falam sobre a questão asiática no Brasil, que comecei a ter certa consciência de que não estava sozinho em meu “não lugar”. Incomodados com a representação estereotipada de pessoas asiáticas, descendentes se juntaram para formar coletivos. Alguns dos primeiros foram Perigo Amarelo, Asiáticos pela Diversidade, Outra Coluna e Yo Ban Boo. Foi revelador entender que minhas subjetividades individuais encontravam eco em um grupo bem maior de pessoas. Para tentar sintetizar as questões de descendentes do leste asiático por aqui, o pesquisador Porowiak propôs recentemente o uso do termo “amarelitude”. Em seu texto inaugural, explica que a intenção é pensar sobre uma vivência paradoxal: a de sermos racialmente discriminados e, ao mesmo tempo, racialmente privilegiados.
O perigo amarelo e a minoria modelo
Existem duas ideias que ajudam a entender essa ambivalência. Uma delas é a de ‘perigo amarelo’, uma ideologia surgida no século XIX e utilizada desde então por líderes ocidentais em momentos de temor da ascensão econômica de algum país da Ásia. “Há um marco fundante dessa ideia que acontece a partir da encomenda pelo Kaiser Guilherme II, da Alemanha, de uma tela intitulada ‘Perigo Amarelo’, que fazia uma alegoria do leste asiático como uma ameaça à civilização e aos valores ocidentais”, explica Lais Miwa Higa, doutoranda em Antropologia Social. A outra é a de ‘minoria modelo’, um conjunto de estereótipos positivados de asiáticos e seus descendentes que nos enxerga como uma população trabalhadora, estudiosa, capaz de alcançar o sucesso financeiro e se integrar bem à sociedade. A noção de minoria modelo é contraditória.
Ao passar na faculdade de jornalismo, uma colega de sala me perguntou em que posição da lista eu havia ficado. Quando soube que estava longe dos primeiros lugares, disparou sem rodeio: “Nossa, um japonês burro.” Fiquei perplexo.
Nos Estados Unidos, estudos indicam que crianças com ascendência asiática sofrem com problemas de autoestima justamente por carregar estereótipos positivados. Ao mesmo tempo, constroem-se certos privilégios em torno de pessoas amarelas: não ser parado pela polícia e não ter a vida colocada em risco como as populações negras e indígenas são alguns deles. Nesse contexto, o ativismo asiático luta também para que pessoas amarelas no Brasil não sirvam como escada ao racismo anti-negro, já que a positivação fez com que muitos de nós comprássemos o discurso meritocrático do individualismo neoliberal. A oposição do sucesso asiático no Brasil seria, nessa ideia, a população negra escravizada, que não teria conseguido alcançar tal façanha.
Para Lais, os mitos do perigo amarelo e da minoria modelo são criações usadas como instrumento de manutenção de sistemas hierárquicos, de desigualdade, colonialidade e opressão. “Há uma dialética entre as duas coisas que faz com que o perigo amarelo possa ficar apagado, silenciado durante muito tempo, apesar de não desaparecer”, analisa. Ou seja, o olhar positivado dos brancos sobre os asiáticos amarelos se sobrepõe ao risco que eles possam causar, pelo menos até que um fator de crise volte a desencadear o medo.
Durante a pandemia da Covid-19, por exemplo, ataques racistas e xenófobos não foram raros ao redor do mundo e o termo “vírus chinês” foi amplamente disseminado. Essa teia de construções produz atravessamentos subjetivos importantes em cada indivíduo que se reconhece asiático no Brasil. “A partir do entendimento de contextos históricos, da produção científica, artística e ativista, a gente vai conseguindo enxergar nossas histórias”, reflete a pesquisadora. Só assim é possível rever memórias e construir novas narrativas que quebrem o pacto colonial. Por nós e por todos os racializados – ou não-brancos.
Guardiãs de sementes crioulas preservam legado de biodiversidade e resistência
Por Bárbara Poerner
Em Anchieta (SC) e região, mulheres campesinas fortalecem a agroecologia e o feminismo camponês popular desde a redemocratização do Brasil ao preservarem culturas tradicionais

Movimento de mulheres camponesas lutam contra a monocultura guardando linhagens genéticas ancestrais l Foto: MMC/Reprodução
Há sessenta anos, Zenaide Millan da Silva preserva as sementes de sua família. Ela nasceu e mora na capital das sementes crioulas do Brasil: Anchieta, no extremo oeste catarinense. A guardiã, que faz parte do Movimento de Mulheres Campesinas (MMC) ao lado de outras dezenas de mulheres da região, ajuda a garantir a autonomia campesina e a fortalecer a agroecologia, ao preservar culturas ancestrais que também significam o futuro da biodiversidade.
A definição das sementes crioulas pode partir do ponto de vista científico, mas também político, explica Juliana Bernardi Ogliari, engenheira agrônoma, mestre e doutora em genética e melhoramento de plantas. Em síntese, a pesquisadora diz que elas são “aquelas sementes multiplicadas, selecionadas e preservadas por muitas gerações de cultivo”. O que acontece é que muitas delas são atemporais e torna-se impreciso definir exatamente qual sua idade.
“Quando os colonizadores chegaram aqui, já existiam populações indígenas, como os guaranis, que utilizavam variedades de milho”, continua ela, que cita como exemplo alguns milho pipoca, que concentram características particulares que apontam esse tempo distante e “não tem uma ancestralidade comercial”.
Foi essa potência milenar que encantou, também, Luana Rockenbach. Filha de agricultores, ela deixou sua cidade natal, Itapiranga, para estudar Letras em Florianópolis. Em pouco tempo, a saudade do campo apertou e resultou em um mochilão pelo Brasil e parte da América Latina. De bicicleta e carona, a guardiã levava, trazia, trocava e conhecia a diversidade de sementes crioulas.
“Comecei a plantar mais variedade de amendoim, melancia, e outras culturas, e abriu um universo de quanta variedade crioula existe”, conta.
A motivação de Luana para se aprofundar no cultivo e manejo das sementes crioulas veio a partir da consciência que tem essa biodiversidade que está se perdendo e como todas as regiões estão tomadas pelo agronegócio. “São os monocultivos que desterritorializam as territorialidades”, define.
A Revolução Verde e os impactos nas sementes crioulas
Na década de 1980, a forma de ser agricultor mudou drasticamente. À época, o Brasil recebia as promessas da Revolução Verde, movimento encabeçado pelos Estados Unidos que introduziu um pacote tecnológico no campo por meio da mecanização, monoculturas e uso de fertilizantes químicos, agrotóxicos e sementes geneticamente alteradas. A palavra de ordem tornou-se produtividade e a justificativa era otimizar a produção de alimentos para acabar com a fome no mundo.
Anos depois, o montante de grãos realmente cresceu. Entre 1975 e 2017, a produção, que era de 38 milhões de toneladas, cresceu mais de seis vezes, atingindo 236 milhões, enquanto a área plantada só dobrou. Contudo, a fome, insegurança alimentar e desnutrição continuam crescendo em todo o planeta, inclusive no Brasil, que concentra 33 milhões de pessoas esfomeadas.
Juliana explica que, com a Revolução Verde, muitos agricultores criaram vínculos de dependência com as companhias do agronegócio e a preservação das sementes crioulas foi diretamente afetada. “Você está na mão das empresas que produziram o material genético para isso. O agricultor teve que reaprender uma cultura diferente, e as tradicionais acabaram sendo abandonadas”.
Hoje, é difícil encontrar grandes áreas sem a transgenia. Os dados da Embrapa mostram que a cada 100 hectares plantados com soja hoje no planeta, 80 são de sementes com genes alterados. No caso do milho, são 30 para cada 100. Em território nacional, 92% da soja é transgênica, 90% do milho e 47% do algodão. Somamos a isso o advento da monocultura e vemos um país que tem 36 milhões de hectares ocupados por soja, o que equivale a 4,3% do território nacional – área da República do Congo e superior a países como Itália, Vietnã e Malásia. Metade desse total está no Cerrado.
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Na visão de Luana, é difícil competir com “essa facilidade que o agronegócio oferece, onde você passa o veneno e não tem muito trabalho”. Ela argumenta que houve um discurso que as sementes crioulas são menos produtivas e que as outras sementes ‘tecnológicas’ produzem melhor. Juliana tem avaliação semelhante. “O novo e o tecnológico são sempre colocados como a melhor opção em todos os sistemas, mas isso nem sempre é verdade”.
Com o avanço dos transgênicos e agrotóxicos, os guardiões de sementes enfrentam muitas dificuldades. “Nas terras dos meus pais, três vizinhos plantaram transgênicos e tinha que cuidar muito quando eles plantavam, para não misturar”, conta Luana. A agricultora se refere a um processo que pode acontecer com todo guardião: a contaminação das suas sementes tradicionais.
“O que temos de contrapartida com a Revolução Verde e a Revolução dos transgênicos é a perda de diversidade. Quando uma variedade crioula é contaminada por transgenia, além perder as próprias características, muitas vezes ele [o agricultor] é sujeito a questões jurídicas, pois ele é ‘culpado’ por ter tido sua variedade contaminada, já que gene sequenciado é patenteado [pelas grandes companhias] e isso tem uma proteção intelectual”, diz ela, ao citar um caso que aconteceu no Canadá, onde um agricultor teve sua lavoura contaminada e foi processado pela Monsanto.
A pesquisadora destaca que com o abandono das variedades crioulas, a própria ciência é impactada negativamente. Muitas das sementes tradicionais conservam características genéticas únicas, que podem ajudar em avanços na medicina, saúde e na própria agricultura.
“Existe a perda da biodiversidade e da tradição e cultura deles, mas não é só isso. A erosão genética tem um impacto não só no modo de vida das pessoas, das tradições [e identidade] que elas cultivavam, mas também questões biológicas. A ciência perde com isso”.

Movimento das mulheres camponesas olha as particularidades da vida no campo partindo da lente de gênero l Foto: Marcello Casal Jr. /Agência Brasil
O Movimento de Mulheres Camponesas
Em contrapartida à pressão no campo e aos impactos negativos da transgenia, monocultura e destruição da biodiversidade, surgem movimentos importantes de resistência. O livro Mulheres Camponesas, iniciativa do ICMBio, contextualiza o surgimento do MMC no oeste catarinense. Alguns fatores culminaram para o surgimento da entidade desde as décadas de 1960, como o intenso êxodo rural e a fragmentação fundiária, a subsequente ao pacote de modernização do setor agropecuário. Dados do IBGE de 1995 mostram que, em 1975, existiam 26.936 estabelecimentos agropecuários com área inferior a 10 hectares; em 1980 passaram para 32.613; em 1985 esse número subiu para 40.100.
Essa divisão das áreas do campo, aliada às consequências da Revolução Verde, mudaram a forma da família agricultora e a manutenção da vida campesina. As mulheres, que já estavam presentes em diferentes movimentos sociais na esteira da redemocratização, como as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), sindicatos e Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), muitas vezes não tinham plena voz ou eram subalternizadas nos debates e decisões. Isso foi mais uma motivação para se articularem em torno de suas demandas e interesses, que envolviam particularidades da vivência como mulheres do campo e discussões a partir da lente de gênero.
Tudo isso ocorreu durante a década de 1980 em diante, com diferentes eventos que forjaram o MMC de hoje. Oficializado em 2004, a entidade aglutinou lutas nacionais de todos os territórios rurais e firmou um projeto campesino, popular e feminista. Desde o início, também houve a defesa da proteção das sementes crioulas. Por exemplo, em 2003, na cidade de Curitibanos, o MMA (Movimento de Mulheres Agricultoras, antigo nome do MMC) realizou um seminário sobre a agricultura agroecológica no qual as participantes socializaram as sementes crioulas produzidas e recuperadas em suas terras.
Por isso que, não ao acaso, muitas culturas tradicionais podem ser encontradas nos quintais dessas guardiãs. São os chamados quintais produtivos. Zenaide conta que o MMC busca fortalecer a biodiversidade desses espaços, justamente porque entende que grande parte das campesinas estão ali. Ela também aponta como “o Movimento ajudou as mulheres a entender a forma de guardar, para que continue mantendo a qualidade dessas sementes”.
“Você ter a semente é uma coisa, mas ter ela com qualidade é outra, e o movimento trabalhou pras mulheres pudessem ter uma produção boa, de boa germinação. Às vezes, você colhe a semente de qualidade mas você não armazena ela num local adequado e isso é prejudicial”, explica.
Contudo, Luana destaca que as mulheres ainda sofrem os impactos da concentração de terras e da própria estrutura machista. “Aí é onde o feminismo tem que chegar. Que [elas façam parte de] decisões participativas, de como será plantado, se não a mente masculina e machista do agronegócio é da monocultura”. A guardiã escreveu mais sobre isso em um artigo, intitulado Desafios e ideias para o resgate, produção, multiplicação e uso das sementes crioulas.
No trabalho, Luana escreve que “as sementes, as mulheres e a juventude são chaves para projetar um modelo de produção mais sustentável, igualitário e responsável com a biodiversidade. […] Soa repetitivo, mas é necessário lembrar que sem sementes crioulas e sem feminismo não há agroecologia”. Zenaide acrescenta que preservar as sementes crioulas é garantir que haja futuro.
“O objetivo é que as próximas gerações consigam ter uma alimentação diversificada, não só três ou quatro tipos de grãos, e isso ser a base de toda a alimentação das pessoas. Quanto mais pessoas tiver [acesso à] essa diversidade, mais qualidade de vida”, finaliza.
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Bárbara Poerner é jornalista.
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Fernão, não!
O protesto em poesia de Luh Ferreira contra o rebatismo pelo governador Tarcísio de Freitas da estação Paulo Freire, que agora passará a chamar Fernão Dias

Estátua do bandeirante Fernão Dias, em escola homônima no bairro de Pinheiros, São Paulo. Na ocasião, a escola estava sob ocupação estudantil l Crédito: Rovena Rosa/Agência Brasil
Fernão, não!
mil vezes, Fernão Não.
Ah mas por que não?
Se a população disse que Fernão era um cara bão?
54% de gente que gosta de bandeirola?
quem são?
Fernão não, porque Fernão
foi um cão
Empunhou uma bandeira de sei lá o que na mão
e saiu atirando, escravizando, mutilando grandão
Não bastasse no Brasil,
a história diz que até o Uruguai ele invadiu.
Fico aqui a pensar
Por que esse sujeito merece tanta adoração?
Se até nome de escola, de estrada, de gente
colocam o bandido Fernão!
Matou!
Invadiu!
Derramou sangue, merece o esquecimento
a vala da alheação
jamais um brasão.
Então governador vacilão
deixe de pressão…
Temos que fazer como fizeram os secundas:
atos de desocupação
atos de desinvasão
É Fora Fernão!
Fernão aqui, Não!
esse palco de horror que você quer montar
a cidade de São Paulo não merece virar
Sai fora com seus bandeirolas
com sua permanente ode ao ódio
A democracia venceu, o amor prevalecerá
E um educador, o melhor que tivemos
você terá de homenagear
custe o que custar!
Viraremos a página deste pesadelo
Fernão você vai ver lá no Posto de Gasolina
Fernão você vai ver com o saco na cabeça!
Quando a indignação nos assola
a poesia é a fórmula
Paulo Freire aqui segue e sempre será
o educador, o cara, que nos ajuda a sair de lá
De lá de onde?
Desse buraco chamado hipocrisia
da pequenez que não reconhece a grandeza do povo
Se cuide sujeito de martelinho na mão
suas pancadinhas não nos oferece medo
somos muitos nesse Brasilzão!
Somos maiores do que essa sede de escravidão!
Respeite a nossa luta, respeite a nossa história!
Chega de InFernão.
—
Por Luh Ferreira, da Escola de Ativismo
Por que é urgente a revogação do novo ensino médio?
Mudança no currículo escolar tem precarizado a formação e focado em um modelo tecnicista de ensino
Por Izabella Bontempo

A reforma tem o objetivo de entregar uma formação técnico profissionalizante ao final da formação | Foto: Pxhere
Fruto do golpe de 2016, a reforma do ensino médio foi convertida na Lei Federal 13.415 em 2017, durante o governo de Michel Temer e seu então ministro da Educação, Mendonça Filho. Conforme a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que define os currículos adotados pelas escolas, os únicos conteúdos obrigatórios passam a ser língua portuguesa e matemática, enquanto os demais conteúdos, como história, geografia, sociologia, física e química, por exemplo, aparecem diluídos em áreas de conhecimento e passam a não serem obrigatórios.
A reforma tem o objetivo de entregar uma formação técnico profissionalizante ao final da formação, e de acordo com o então governo, a medida foi proposta alegando que o ensino médio não é atrativo e não dialoga com a realidade dos jovens.
De acordo com Camila Moraes, vice-presidenta da União Estadual dos Estudantes de Minas Gerais (UEE-MG), a reforma é um atentado ao direito dos estudantes e da classe trabalhadora: “Quando você tira o direito de aprender sociologia e filosofia, por exemplo, na verdade você está dizendo que aquele estudante não tem direito de desenvolver uma leitura própria do mundo e nem de participar do processo onde a educação é emancipadora. Como conseguimos conceber a ideia que disciplinas tão fundamentais para a leitura da realidade não são necessárias? Isso tem a ver com uma retirada de direitos da classe trabalhadora de se desenvolver a partir da escola e da educação pública” conclui.
Com a retirada de conteúdos como história, o novo currículo oferece uma formação técnica com a oferta de cursos de marketing e empreendedorismo, por exemplo. Além disso, permite que um professor de qualquer área de humanas, ministre aulas dos outros conteúdos da mesma área, isso significa que um professor de geografia pode dar aulas de sociologia e filosofia, por exemplo.
Para Camila, essas mudanças representam uma ideia mercantilista e privatista da educação. “Entendendo a educação como mercadoria, você precisa gerar lucro, e para isso você precisa sucatear a escola pública e os educadores e profissionais que trabalham nela para lucrar mais com as redes privadas” compara.
Para Camila essas mudanças representam uma ideia mercantilista e privatista da educação. “Entendendo a educação como mercadoria, você precisa gerar lucro, e para isso você precisa sucatear a escola pública, os educadores e profissionais que trabalham nela pra lucrar mais com as redes privadas” compara.
Junior Miranda, professor de Ciências Sociais e mestre em Educação na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) denuncia que esta foi uma “reforma verticalizada, que não dialogou com os profissionais da educação, com os educadores e nem com as escolas”.
“Penso na lei 10.639 que determina o ensino da contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil. Onde vai entrar a proposição dessa lei que é fruto do movimento negro organizado? Me preocupa perder todos esses direitos que nós conquistamos com muita luta” relembra o professor.
O novo ensino também expõe o debate da generalização da educação sem considerar o estudo territorial e socioeconômico do país. Para Miranda, a padronização dentro de uma perspectiva curricular, visa unificar o ensino como se cada jovem, e cada região fossem iguais. “Nas próprias propagandas do BNCC vendia uma imagem da juventude que não condiz com a nossa realidade” finaliza.
Outro ponto debatido para a revogação do NEM, é a dificuldade do acesso dos jovens ao ensino, já que os alunos terão que mudar de escola ou até mesmo de cidade se quiserem cursar todas as disciplinas.
Paulinha Silva, da Diretoria de Combate ao Racismo da União Nacional dos Estudantes (UNE), defende que a reforma do ensino médio é urgente. “A maioria das escolas não têm estrutura o suficiente para implementar diferentes itinerários formativos, além das emendas inconsistentes”.
Por fim, Paulinha Silva afirma que “o ensino médio anterior não era bom, é necessário pensar uma reforma do ensino médio, mas de forma democrática, com participação da sociedade, dos professores e educadores. Precisamos revogar o novo ensino médio e depois construir uma educação pública que esteja conectada com a realidade brasileira e com os sonhos da juventude” finaliza.
Mobilização nacional
Nesta quarta-feira (15), a União Nacional dos Estudantes – UNE, União Brasileira das/dos Estudantes Secundaristas (UBES) e Associação Nacional de pós-graduandos (ANPG) convocam atos por todo o país contra o novo ensino médio. O local e horário podem ser conferidos nas redes sociais das organizações.
Maternidade e ativismo: reflexões sobre as potências e desafios da mulher-mãe-militante
Bruna Valença escreve sobre maternidade e ativismo e oferece caminhos para se pensar as intersecções e encruzilhadas da mãe-militante
Por Bruna Valença*

Rede Mães de Luta de MG, que luta contra a violência de estado, realiza protesto em frente a um tribunal de Justiça l Foto: Divulgação via Brasil de Fato
“A mãe é aquele bloco informe e sem face, para o qual ninguém olha; ele não assinala nada, não significa nada e apenas tem a função de manter, sustentar, realçar e glorificar a estátua definitiva – o filho. (Heloneida Studart, 1990)”
Ser mãe em uma sociedade patriarcal onde a maternidade é compulsória, não é uma tarefa fácil, mesmo aquelas mulheres que escolhem o maternar tem suas histórias constantemente apagadas ao se tornarem mães.
Venho de uma família majoritariamente cristã, na qual a maior parte das pessoas que a compõe não foram gravidezes planejadas. A maternidade compulsória na minha família tem o nome disfarçado de “Deus sabe o tempo de todas as coisas”.
Minha mãe engravidou de mim aos 21 anos, e teve que abandonar o ensino médio para se dedicar aos cuidados que uma criança com fissura palatina requeriam, mesmo vivendo em um casamento foi mãe solo, devido a ausência paterna ainda que este residisse no mesmo lar.
Por muito tempo esta era minha maior meta da vida, a fuga da maternidade.
Entrei em uma universidade e abri caminhos para pessoas do meu redor.
Porém, faltando um período para a finalização da graduação, um teste positivo de gravidez veio.
Eu vivi o luto da expectativa de uma vida focada na carreira e escolhi a maternidade depois de gestar.
O ativismo já me atravessava antes de ser mãe, por ter nascido com fissura palatina e defender essa causa e posteriormente com o ativismo climático, questionar o “Status quo” sempre fez parte da minha personalidade e com a maternidade não seria diferente.
A maioria das questões que envolvem a maternidade são invisibilizadas, somos forçadas a acreditar que as violências institucionalizadas são naturais e temos nosso direito de escolha manipulado pela mídia e pelo capitalismo.
Quando falamos em ativismo materno, nos deixamos levar pela imagem de uma mulher-mãe com sua cria em algum protesto, mas o ativismo começa a partir do momento em que eu como uma mulher preta decido colocar outra criança no mundo e educá-la com respeito e amor, no momento em que decidi parir, a me informar sobre as violências do sistema obstétrico, quando nas vacinas mensais insisto pelo meu direito de amamentar e de ser chamada pelo meu nome e não de “mãezinha”.
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tem mais de 11 milhões de mulheres que são as únicas responsáveis pelos cuidados com filhos e filhas. 63% das casas chefiadas por mulheres estão abaixo da linha da pobreza. Diante disto, o peso do rótulo materno reverbera em muitas esferas do cotidiano e passa a se tornar peça chave nas lutas sociais.
No Brasil, as pesquisas sobre maternidade e militância enfocam campos bastante variados, levantando uma diversidade de discussões (1). Uma questão presente nas pesquisas da década de 1980 dizia respeito à militância de mulheres de camada popular, no período da ditadura militar, demandando saúde, educação e melhor infraestrutura em seus bairros. Nos termos de Sonia Alvarez, “maternidade”, e não cidadania, fornecia o principal referencial de mobilização para participação das mulheres na organização dos movimentos sociais urbanos”.()
A construção do conceito de maternidade
O conceito de maternidade foi construído ao longo da história humana, colocando de lado a figura de poder pela qual a mãe da espécie humana era temida e reverenciada pela misteriosa capacidade de engendrar crianças mas também pelo seu saber, o da experiente coletora de alimentos que sabiamente definia os padrões de partilha dos mesmos (3).
Na Grécia Antiga, a representação da mãe estava praticamente afastada da arte e da religião, e até na mitologia são abundantes as maternidades masculinas, cuja prole nasce de algumas partes da autonomia do macho. Vai longe a poderosa deusa-mãe. As suas descendentes, as deusas gregas, são deusas sem mãe e dominadas pelo pai, Zeus (FIDALGO, 2003).
Na Roma Antiga, de forma similar, a função da mãe também é restrita à maternidade. No entanto, face às elevadas taxas de mortalidade de então, as mulheres conquistam um pouco mais de espaço do que as gregas possuiam.
Na Idade Média, entre o começo do século V e meados do século XV, o exercício da maternidade servil é impulsionado pela religião, por meio da representação de Eva e Maria. A primeira, responsabilizada por toda a origem do mal da humanidade em forma de serpente, e, por isso, predestinada a sofrer as dores do parto e a constante submissão ao marido, como forma de punição e de controle. Maria, ao contrário, representa a proposta de uma nova mulher-mãe, feminina e sem pecado, de inteira sujeição voluntária ao marido, devido ao amor incondicional e não mais escravizante (CANANÉA, 2018).
Assim, a imagem da mulher-mãe transforma-se em mito do amor incondicional aos filhos, como instinto materno, justificando-se pelo ato biológico de parir. Sob esta ótica, a mulher abandona seu eu anterior e passa a desempenhar plenamente o papel de boa mãe, com sacrifícios voluntários em nome dos filhos, total abnegação e autoanulação, em prol da harmonia familiar, leiam-se, filhos e marido (CANANÉA, 2018).
Em resumo, todo poder existente na mãe e na capacidade de gestar e parir, foi apagado ao se instituir o patriarcado (FILDALGO,2003).
O movimento feminista e a subversão do ideal materno
Com o movimento feminista em ascenção a maternidade era considerada mais uma forma de opressão da mulher, uma forma de fracasso. Simone de Beauvoir defendia que “enquanto a família e o mito da família e o mito da maternidade e o instinto materno não tiverem sido destruídos, as mulheres ainda serão oprimidas”.
Passado o impacto da recusa da maternidade vieram perguntas dentro do movimento feminista: “nós (as mulheres) queríamos ser definidas sem a maternidade? Aceitávamos ser mutiladas de uma parte de nossa história, de nossa identidade?” A maternidade passa a ser considerada como um poder insubstituível, o qual só as mulheres possuem e os homens invejam. (4)
A autora Andrea O’Reilly (2010) sugere então que se a maternidade patriarcal caracteriza a criação de filhos com um ato privado e apolítico, a agência materna coloca em primeiro plano, a dimensão político-social do trabalho materno (5).
De qualquer forma, devem-se às pioneiras uma série de conquistas atuais que possibilitem condição de vida mais digna para as mulheres, mães ou não, em meio à sociedade patriarcal, detentora do discurso hegemônico machista. Dentre estas vitórias, estão: oportunidades de escolarização mais elevada e, consequentemente, melhores empregos e maior espaço no mercado de trabalho; direito ao voto; acesso ao divórcio; chance de optar pelo aborto; permissão para viver sua liberdade sexual e profissional, mediante a desconstrução de uma cultura masculina (6).
Maternidade e ativismo: uma oportunidade de empoderamento da mulher-mãe
Nas primeiras décadas do século XXI uma dimensão importante na abordagem acadêmica sobre ativismos maternos têm sido os movimentos de mães de vítimas de violências institucionais (LEITE, 2004; BRITES e FONSECA, 2013) e, em particular, da violência policial perpetrada em nome da guerra ao tráfico (VIANNA e FARIAS, 2011).
Mães de LGBTIQ+ brasileiras têm formado malhas de apoio mútuo e mobilizações políticas desde a década de 1990, a exemplo do Grupo de Pais de Homossexuais (GPH), criado em São Paulo pela psicanalista Edith Modesto em 1997 (Oliveira, 2013).
Ou, ainda, movimentos pela reivindicação de políticas públicas para filhos com diagnósticos de autismo, que têm uma atuação historicamente importante na garantia de direitos sociais desse grupo (LOPES, 2019).
No movimento ambiental também há exemplos, como é o caso do Parents for Future, que tem sua atuação no Brasil denominada de Famílias pelo Clima, onde a principal missão é inspirar e capacitar os pais a usar sua voz na defesa do clima para que as crianças possam crescer em um mundo com valores de justiça social e ecológica.
A autora Lilian Cananéia traz uma importante reflexão sobre como o ativismo digital contribui para a construção da nova identidade dessa mulher-mãe, trazendo a questão da maternidade para o debate político sem precisar passar por instituições.
“Com as redes sociais a mulher-mãe lança mão de uma nova frente para sua atuação múltipla como ser humano, com vida individual e profissional, transformando os novos instrumentos em recursos relevantes para reforçar suas pelejas diárias e trazer novas temáticas para o debate social.
Tais questões resgatam velhas reivindicações e apontam para uma reconfiguração da postura da mulher-mãe, ou seja, para a ressignificação de sua identidade via ativismo digital.
Nesse momento, a problematização da maternidade ganha fôlego e conquista espaço. A mulher-mãe apropria-se do mundo virtual e institui, com força total, um novo espaço de luta para potencializar suas reivindicações não somente na esfera privada. Vai além e coloca no âmbito público, questões antes exclusivas do espaço privado: família, sexualidade, trabalho, divisão de tarefas em casa, cuidado com as crianças, oferta de creches para filhos pequenos, etc. (CANANÉIA. L, 2018).”
A luta por direito à terra, à saúde materna, contra o racismo e a favor das orientações sexuais das mulheres tornam-se efervescentes até atingir o que podemos chamar quarta “onda” do feminismo, desta vez, marcada pelo ativismo digital (CANANÉIA. L, 2018).
A autora Leticia Abella (2016), sugere em seu livro “Redes sociais e empoderamento cidadão” – que surgimento das novas tecnologias de comunicação contribuiu bastante para que os cidadãos que não encontravam espaço nas mídias tradicionais passassem a utilizar tais tecnologias como instrumentos de mobilização social, “sem a necessidade de aprovação dos setores poderosos” (Abella, 2016, p. 93). Dessa forma, abrem-se portas para formas de expressão de caráter mais horizontais, nas quais a informação possa ser circulada “através de um fluxo mais livre entre as diferentes esferas da sociedade” (Abella, 2016, p. 94). Pode-se então concluir que “a evolução das mídias tem colaborado na formação de um novo cenário de mobilizações sociais: aquelas que são geradas a partir de intercâmbios na rede” (Abella, 2016).
Este intercâmbio de rede trouxe Sabrina Cardoso para o ativismo, uma mulher negra, carioca de Irajá, meio paulista, mãe da Maya, formada em Desenho Industrial, com MBA em Design Estratégico pela ESPM. Trabalha como Designer de serviços públicos no Instituto Tellus e atua como mobilizadora voluntária na Embaixada Rio-Niterói na Politize!.
Ela se iniciou no movimento através da Politize e da Casa Fluminense o que acabou reverberando no seu trabalho onde ela passou a fazer parte do Comitê de Diversidade. Para ela estes movimentos foram fundamentais para que a mesma se empoderasse como mulher e entre outros pontos escolhesse a maternidade. A mesma afirma também que:
“A criança com uma mãe ativista, que tem essa concepção clara de como é fazer uma educação antirracista, com todos os pilares, de gênero, classe e o que for para falar de ativismo, tem mais chance de crescer e se desenvolver rompendo o ciclo de violências reproduzido pela sociedade. Falando do meu recorte que possui família e rede de apoio, a gente também trava uma luta familiar, para conseguir convidar a família/rede de apoio a se adaptar e repensar atitudes estruturais que estão impregnadas na nossa cultura …”
O ativismo digital materno vem sendo uma importante estratégia de mudança da imagem da mulher-mãe e sendo um potente recurso de cobranças por políticas públicas, como por exemplo o Projeto de Lei (PL) 2647/2021 que busca incluir o cuidado doméstico como trabalho capaz de contribuir para a aposentadoria.
Porém, o discurso que permeia o ativismo materno das redes sociais ainda é majoritariamente branco, que poderia ampliar seu potencial inclusivo pela incorporação de perspectivas provenientes do feminismo interseccional, por exemplo, reconhecendo a multiplicidade das diferentes realidades de classe, raça, orientação sexual, entre outros elementos envolvidos no ser “mãe”.
“Muitas mulheres, especialmente mulheres brancas privilegiadas, deixaram de considerar as visões feministas revolucionárias à medida em que começaram a adquirir poder econômico dentro da estrutura social existente. Nos círculos acadêmicos, o pensamento feminista foi abraçado e progrediu. Porém, frequentemente, esse pensamento não se tornou disponível para o grande público. Ele se tornou e continua a ser um discurso privilegiado e direcionado a aqueles que são altamente letrados, bem educados, e, de forma geral, privilegiados também em termos materiais” (BELL HOOKS. 2000, p. 5)3.
Enquanto ativistas mães brancas tratam de assuntos como violência obstétrica, licença maternidade e cultura do desmame. Mães pretas, pobres, indígenas têm seus filhos como alvo do Estado, e se tornam ativistas não por escolha mas por fatalidade.
Ela que é mãe do Otto de 7 anos, já viveu uma maternidade solo e hoje vive uma maternidade dupla com sua companheira. Sobre como a maternidade atravessou o ativismo, Bia afirma que intensificou:
“Quando a gente é mãe seja de qual forma, parindo, gestando ou adotando, a gente deseja o melhor para os nossos filhos. Então intensificou aquilo que eu já acreditava e me deu coragem e para botar a mão na massa e ser mais ativa e proativa nas ações e na vida. Na época que meu filho nasceu na maternidade solo e agora em maternidade dupla com a minha companheira Viviane, com duplo ativismo enquanto uma mulher indígena casada com uma mulher negra. A criatura criança filho no meio do ativismo eu acho que dá esse sentido dá sentido, dá significado e caminho e ao mesmo tempo.”
Concluo com a fala de Bia Pankararu que traz uma reflexão importante sobre a rede de apoio da mulher-mãe-ativista ser majoritariamente feminina.
“Para uma mulher mãe ocupar esses espaços, alguém ficou com essa criança e muitas vezes a gente não tem uma rede de apoio que possa que a gente possa contar. Quando se tem essa sorte, geralmente têm uma rede de apoio de mulheres. Então essa criança fica com a avó, com a tia… Enfim, são ciclos de gerações de mulheres que são negados a ocupar espaço de poder, liderança, espaços de protagonismo nos movimentos e nas pautas mais diversas em decorrência da maternidade”.
*Bruna Valença é uma mulher negra de pele clara, nascida e criada em Santa Cruz, na Zona Oeste e periferia do Rio de Janeiro (RJ), tem 23, é mãe do Teodoro e ativista socioambiental. Se formou em Engenharia Florestal pela UFRRJ e em Técnico em Meio Ambiente pelo SENAI.
(1) FINAMORI. S. “ATIVISMO MATERNO E “MATERNIDADE SOLO” Florianópolis, 2021, ISSN 2179-510X
(2) ALVAREZ, Sonia E. Engendering democracy in Brazil. Women’s movements in transition politics. Princeton: Princeton University Press, 1990. 320 p
(3) FIDALGO, L. (Re)construir a maternidade numa perspectiva discursiva. Lisboa: Instituto Piaget, 2003.
(4) SCAVONE. L. A maternidade e o feminismo: diálogo com as ciências sociais. Dossiê: Feminismo em Questão, Questões do Feminismo • Cad. Pagu (16) • 2001
(5) Encyclopedia of Motherhood Sage Publications, Inc., First Edition, April 6 2010.
(6) CANANÉA. LMATERNIDADE EM PAUTA: REFLEXÕES SOBRE ATIVISMO DIGITAL E SUA RELAÇÃO COM A COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO. Perspectivas em Gestão & Conhecimento, João Pessoa, v. 8, n. 3, p. 20-39, set./dez. 2018
Referências
BRITES, Jurema; FONSECA, Cláudia. As metamorfoses de um movimento social: Mães de vítimas de violência no Brasil. Análise Social, Lisboa, n. 209, p. 858-877. Dezembro/2013.
BEAUVOIR, Simone de; FRIEDAN, Betty. Sex, Society andtheFemaleDilemma: a Dialogue Between Simone de Beauvoir and Betty Friedan. Saturday Review,(p. 12-21), 14 de junho de 1975. p. 20. Disponível em: <https://bit.ly/2NnOrSI>. Acesso em 13 jan. 2020.
OLIVEIRA, Leandro. 2013. Os sentidos da aceitação: familia e orientação sexual no Brasil contemporâneo. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Programa de cialid Pós-Graduação em Antropologia Social, Universidade Federal do Rio de Janeiro.
BONETTI, Alinne. Para Além da “Maternidade Militante”: Mulheres de Base e os Ativismos
Cadernos do LEPAARQ, Pelotas-RS, v. 4, n°7/8, p. 81-102. Jan/Dez 2007.
MEDRADO, Andrea; MULLER, Ana P. Ativismo digital materno e feminismo interseccional: Uma análise da plataforma de mídia. Braz. journal. res., Brasília- DF, v.14, n.1, p.184-211, abril/ 2018.
MEYER, Dagmar E. Estermann. A politização contemporânea da maternidade: construindo um argumento. Revista Gênero, Niterói, v. 6, n. 1, p. 81-104, 2005.
LEITE, Márcia Pereira. As mães em movimento. In BIRMAN, Patrícia & LEITE, Márcia (org). Um Mural para a Dor: movimentos cívico-religiosos por justiça e paz. Porto Alegre: Editora UFRGS, 2004
LOPES, Bruna Alves. Não Existe Mãe-Geladeira. Uma análise feminista da construção do ativismo de mães de autistas no Brasil (1940-2019). Ponta Grossa, 2019. 289 p. Dissertação (Mestrado). Universidade Estadual de Ponta Grossa (Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais Aplicadas).
VIANNA, Adriana; FARIAS, Juliana. A guerra das mães: dor e política em situações de violência institucional. Cadernos Pagu, Campinas, n. 37, p.79-116, 2011.
Leia o “Dez por Cento”: box com 6 livros debate Paulo Freire, aprendizagens e militâncias
Escola de Ativismo lança box com conversas de seminário celebrando os dez anos da escola e o centenário de Paulo Freire

Os dez anos de Escola de Ativismo, por uma feliz coincidência, foi comemorado no mesmo ano do centenário do nascimento de Paulo Freire, em 2021.
Para celebrar tal coincidência, a Escola de Ativismo promoveu a série de encontros, agora transformadas em livros, batizados de “Dez por Cento – 10 anos de Escola de Ativismo, 100 anos de Paulo Freire”. Neles, convidamos, educadores, pesquisadores e ativistas para pensar as relações entre ativismo e educação. Foram seis conversas, que foram transcritas, revisadas por suas autoras e seus autores e publicadas em um box especial.
Ainda que Paulo Freire tenha sido o motor que dinamizou o processo, as companheiras e os companheiros trouxeram contribuições e perspectivas muito próprias. Com isso, pudemos ouvir um número elevado de referências, de práticas, de pensamentos que multiplicaram, e muito, as nossas formas de pensar e agir.
De forma que é um prazer compartilhar isso com vocês agora. Quem quiser acessar, pode clicar aqui abaixo e fazer o download de cada um dos livros:
- Romualdo Dias, com Influências de Paulo Freire em nossas trajetórias
- Jorge Larrosa, com Educação, Estudo e Ativismo
- Alessandra Munduruku, com Onde tem a sombra de uma árvore, está a Escola de Ativismo
- Madalena Freire, com Entre Escolas e Ativismos, uma aula com Madalena Freire
- Silvio Gallo, com O professor militante
- Dyarley Vianna, com Paulo Freire: por uma pedagogia preta
Ah, e todas estas falas e conversas estão disponíveis no canal do YouTube da Escola de Ativismo (que você pode acessar clicando aqui). Os livros também estão disponíveis para venda online e em livrarias!
Bons aprendizados, boas ensinanças, boas lutas e boas leituras!
