Luh Ferreira
Educadora Popular, ativista, doutora em Educação
Encantada com o mundo, indignada com a situação dele
Troca de mensagens: entenda o que faz do Signal a opção de aplicativo mais segura para ativistas
Homens trans usam futebol como ferramenta de articulação política e transformação social
Um barco chamado cinema: projeto leva filmes paraenses para comunidades à beira do rio
Por Letícia Queiroz – 19/06/2024
Iniciativa defende a democratização do cinema e valorização de materiais audiovisuais que dialoguem com a luta em defesa dos territórios tradicionais
Barco leva equipamentos e estruturas para montar salas de cinema | Foto: Instituto Regatão Amazônia
Produções que inspiram, encantam e têm poder de conectar riquezas culturais e tradicionais da região amazônica: essas são algumas diretrizes usadas na escolha dos filmes e documentários que são exibidos em aldeias e comunidades ribeirinhas do Pará pelo Cineclube Regatão. O projeto itinerante leva, de barco, curtas e longa-metragens para as comunidades com objetivo de popularizar o cinema e torná-lo um instrumento democrático para manter viva as culturas amazônicas e fomentar a luta em defesa dos territórios da floresta.
O projeto é do Instituto Regatão Amazônia. O acesso aos indígenas e ribeirinhos da região se dá pelos rios. De barco, a equipe leva filmes, equipamentos e toda a estrutura necessária para montar uma sala de cinema em barracões comunitários, no meio da floresta, às margens dos rios Amazonas, Tapajós e Arapiuns, na região do Baixo Amazonas e para localidades da Resex Tapajós – Arapiuns e Flona Tapajós.
Sem precisar sair da comunidade, crianças e adultos assistem filmes com temática amazônica no Pará | Foto: Instituto Regatão Amazônia
Cinema para todos, em toda parte
As sessões sempre contam com grande público. Nesses encontros muitos dos participantes têm acesso à produção audiovisual do tipo pela primeira vez. Afinal, a realidade das salas de cinema no Brasil é quase exclusiva das grandes cidades, em bairros elitizados e com preços pouco acessíveis.
De acordo com dados do Filme B – portal sobre mercado do cinema no Brasil – em 2022 apenas 450 cidades brasileiras tinham salas de cinema, pouco mais de 8% do total de municípios na época. Segundo dados do Sistema de Informações e Indicadores Culturais do IBGE, a região Norte tem menor acesso a cinemas, teatros e museus. A distribuição inadequada impossibilita milhares de pessoas de acessarem os espaços criando desigualdades e uma lacuna social e cultural.
Em Santarém, por exemplo, cidade paraense com mais de 300 mil habitantes, há salas de cinema apenas em um shopping da cidade, com exibição de filmes comerciais exclusivamente. Segundo o Instituto Regatão Amazônia, não há espaço para filmes brasileiros, muito menos paraenses. E é por isso que eles oferecem à população filmes produzidos no estado, que ressaltam a identidade, linguagem e realidades próximas destas comunidades.
“A gente vem fazendo uma curadoria de filmes que dialogue diretamente com a identidade cultural de cada comunidade, com produção local, feito por pessoas próximas de cada comunidade, para reduzir o distanciamento que as pessoas têm do fazer audiovisual”, disse Zek Nascimento, um dos diretores do Instituto Regatão.
Filmes em cartaz
No primeiro semestre de 2024 duas edições foram realizadas. Em abril, a comunidade de Jamaraquá, na Floresta Nacional do Tapajós, assistiu a um curta de animação “O Doutor e o Caboco” e ao documentário “Festa de São Benedito – Gambá de Pinhel”, produções audiovisuais feitas no Pará.
Em maio, o cine itinerante chegou à comunidade indígena de Atodi, rio Arapiuns, com as produções: “Salve o Nosso Tapajós” e “Vídeo Cartas Tapajós-Arapiuns”, que traz questões sobre o imaginário, a arte e a cultura local, assim como, histórias mitológicas e verídicas, cobertura de eventos e festas locais, denúncias contra injustiças sociais e ambientais.
Marlena Soares, presidenta do Instituto, diz que o projeto cineclube Regatão faz parte de um planejamento do Instituto voltado para o fortalecimento das narrativas amazônicas. Ela defende que fortalecer a cultura ribeirinha da Amazônia é fundamental para proteger territórios ameaçados.
“Os filmes apresentam conexões com o fazer cultural das comunidades ribeirinhas, o que contribui para preservar nossa biodiversidade. São promovidos diálogos com as comunidades desses filmes que abordam o cotidiano e a cultura das comunidades locais”, diz Marlena
O Instituto
O Instituto Regatão Amazônia é um coletivo de fazedores culturais, com base em Alter do Chão, oeste do Pará, que desde março de 2023 promove transformações sociais através do fortalecimento da identidade cultural e da proteção territorial da Amazônia.
Regatão é um personagem amazônida que vive a bordo. Viaja pelos rios fazendo interconexões e trocando insumos, alimentos e objetos nos trapiches, vilas e barracões. Metaforicamente, o propósito do Instituto e seus projetos é o mesmo: trocar cultura e interconectar comunidades amazônicas.
Ativismo ancestral: identidade, autocuidado e educação são bases da resistência das mulheres quilombolas
Moda e ativismo: dilemas, potências e 4 exemplos de quando vestir foi um ato político
Muito mais do que escolher roupas e seus significados, pensar ativamente a moda, é questionar a indústria na qual ela se transformou
Por Fernanda Damasceno* – 17/06/2024
Se engana quem ainda associe a moda com algo supérfluo, vazio e com pouco significado. Ao longo da história, a moda tem sido uma ferramenta de representação social – coletiva ou individual – que transmite valores e símbolos que refletem visualmente o estado em que a pessoa ou a sociedade se encontra naquele momento.
Com isso, todo o processo de criar, confeccionar e vestir uma roupa acabam por ser atos sociopolíticos e, portanto, devem ser questionados e pensados de acordo com o contexto em que nos encontramos.
Isso porque a moda evoluiu junto com a sociedade, proporcionando episódios marcantes que mostram que vestir não está nem um pouco distante de militar – ao contrário.
Não à toa, após as eleições de 2018, quando Jair Bolsonaro foi eleito presidente do Brasil e escolheu como um de seus símbolos a camisa verde e amarela da seleção de futebol para exaltar o “nacionalismo” e o “orgulho” brasileiro, usar essa camisa, desde então quem usar essa camisa seja ou não com a intenção de se posicionar politicamente, inevitavelmente poderá ser confundido com um dos seguidores do ex-presidente, mesmo anos depois do ocorrido. Ainda bem que tanto a Madonna quanto à Parada do Orgulho LGBTQIAP+ de São Paulo estão se esforçando para disputar essa peça.
Mesmo assim, muito mais do que escolher roupas e seus significados, pensar ativamente a moda, é questionar a indústria na qual ela se transformou.
Isso porque, estima-se que a indústria da moda seja responsável por cerca de 10% das emissões globais de dióxido de carbono (CO2), de acordo com estatísticas de um relatório Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
A produção de tecidos, como o algodão, demanda grandes volumes de água e libera produtos químicos tóxicos durante o processo de tingimento, poluindo rios e oceanos. Além disso, a busca por matérias-primas, como a viscose, contribui para o desmatamento de florestas, diminuindo a biodiversidade e intensificando as mudanças climáticas.
Em entrevista para a Escola de Ativismo, a educadora social, ativista e coordenadora de mobilização da Fashion Revolution Marina de Luca, falou um pouco sobre o assunto.
A moda como uma indústria poluente
Resíduos textêis se acumulam em rio l Foto: Greenpeace/Reprodução
A Fashion Revolution se apresenta como “o maior movimento de ativismo da moda do mundo”, e atua através da comunicação, educação, colaboração, mobilização e participação para uma nova consciência a respeito da moda.
“O Fashion Revolution surgiu em 2013, a partir da revolta de um grupo de profissionais da moda”, contou Marina. Para ela, não há separação entre a importância política da moda na sociedade e os questionamentos em como a indústria se encontra atualmente.
“Gostamos de reforçar que a moda não é só a passarela, mas sim a roupa que todas as pessoas usam, dessa forma, todas as pessoas estão envolvidas em um elo da cadeia de produção, consumo e venda” respondeu a ativista.
Atualmente um dos maiores desafios na discussão é combater o fast fashion – modelo de negócio que incentiva o consumo em excesso, tendências que sempre se renovam e ofertas quase intermináveis de roupas a preços baixos são algumas das características da fast fashion, além da produção vestuário em grandes quantidades em pouco tempo, o que traz consequências sérias para o meio ambiente.
Além do problema
Algumas alternativas a isso são os brechós, que reutilizam peças descartadas por outras pessoas, alongando a vida daquele produto e evitando desperdício. Além disso, há também o incentivo ao consumo de pequenos produtores, já que esses geralmente emitem bem menos poluentes do que as grandes lojas.
“Desejamos que a partir da nossa atuação, somada a atuação de outros coletivos, grupos organizados e sociedade civil, possamos de fato fazer a diferença na forma que a moda é feita, usada, descartada e pensada hoje em dia” contou Marina sobre a atuação do movimento Fashion Revolution.
Para além desse exemplo, trouxemos seis momentos em que a moda se mostrou política e nos fez refletir sobre determinado assunto ou sobre o momento em que vivemos.
Panteras Negras: o poder do povo também no vestuário
Membros do Partido dos Panteras Negras protestam em frente a um tribunal de Nova York, em 11 de abril de 1969. l Foto: David Fenton
Durante o movimento pelos direitos civis norte-americanos nos anos 60, os Panteras Negras ganharam notoriedade por sua atitude direta e seu modo de vestir: óculos de sol, calças, botas e jaquetas de couro pretas e uma boina preta.
Além das roupas, o cabelo natural foi muito difundido pelo movimento, como forma também de resistir à imposição racista de esconder ou alisar cabelos crespos. Junto ao black power, sempre havia um pente garfo, instrumento fundamental para cuidar de cabelos crespos, da mesma forma que a escova é usada por quem tem fios lisos ou ondulados.
Dançarinas da cantora Beyoncé durante ensaio l Foto: Instagram/Reprodução
Até hoje o estilo dos Panteras Negras ainda é referência no movimento negro, mas não só: na apresentação da cantora Beyoncé no intervalo do Super Bowl em 2016 ela usou um figurino inspirado pelo cantor Michael Jackson, enquanto suas bailarinas usaram o uniforme do partido antirracista Panteras Negras.
Para a população negra, a moda nunca foi dissociada do ativismo, uma vez que o modo de se vestir pode muitas vezes salvar vidas, evitando ser perseguido ou agredido verbal ou fisicamente. Não à toa muitas pessoas negras, especialmente homens, têm a lembrança de ser ensinados desde criança a sempre estar bem vestidos e arrumados, na esperança de que a roupa certa possa evitar algum episódio de violência por conta da cor de pele.
Nunca mais uma moda sem indígenas!
Thelma Assis e Dandara Queiroz foram modelos do desfile de Maurício Duarte. l Foto: Reprodução/Instagram @mauricioduartebrand
Maurício Duarte é um renomado estilista indígena brasileiro que alcançou reconhecimento internacional por suas criações inovadoras que celebram a herança cultural dos povos indígenas do Brasil.
Duarte é conhecido por sua habilidade em combinar tecidos naturais, como algodão, linho e fibras vegetais, com técnicas de tingimento natural e bordados elaborados, resultando em peças que transmitem uma sensação de autenticidade e artesanato.
O trabalho do estilista é uma expressão de sua identidade indígena e um testemunho de sua dedicação à sustentabilidade e à inovação na moda. Suas roupas não adornam os corpos, elas contam histórias de luta, resistência, culturas e representatividade dos povos indígenas, que até hoje lutam contra o genocídio e por mais equidade.
Sua participação no São Paulo Fashion Week de 2023 representou um marco significativo, pois proporcionou uma plataforma que tradicionalmente era fechada somente a certos padrões, mas que vem cada vez mais se movimentando para incluir novas narrativas da moda.
A moda plus size: rompendo padrões e incluindo pessoas diversas
Sinara Assunção para Liana D_Áfrika moda. l Foto: Matheus Clima
Padrões de beleza e questões que antes não eram discutidas ganham holofotes quando a sociedade começa a questionar a falta de representatividade e de opções no mundo da moda para diferentes tamanhos e diferentes corpos. Se antes a magreza exagerada era vista como padrão a ser alcançado, atualmente o culto a dietas milagrosas é questionado e isso se reflete também na moda.
Sinara Assunção, comunicadora, produtora cultural, DJ e modelo de Belém, no Pará, falou conosco um pouco sobre o assunto: “falar sobre a falta de oportunidades para essas pessoas de diferentes corpos é também falar sobre falta de política, falta de letramento, enfim, é falar de um lugar que por muito tempo não nos pertenceu mas que existem pessoas hoje que tem mudado essa realidade”, opina.
Para a modelo, utilizar a própria moda como forma de expressão é demarcar seu lugar enquanto mulher negra, bissexual e gorda “ainda é uma barreira a ser rompida e vem sendo rompida a passos muito lentos, mas acredito que já houveram muitos avanços e é interessante que a gente olhe para eles”.
Moda e no Movimento LGBTQIA+: aliados históricos
Lírio Moraes: “Eu acho que só fui ter uma relação consciente com a moda depois da minha transição” l Foto: Instagram de Lírio Moraes/@hbrpedro
“A moda é mais do que só seguir tendências, só o consumo pelo consumo. Ela também é uma ferramenta de construção de identidade, de ativismo” nos contou Lírio Moraes, jornalista e empreendedor de moda que se identifica como uma pessoa não binária.
Lírio começou a trabalhar com moda em 2019, quando abriu um brechó junto com outros amigos “na época eu via apenas como um meio de desapegar de algumas peças que eu não usava mais e conseguir uma grana extra com isso. Mas depois da minha transição, que ocorreu de fato em 2020, eu passei a enxergar essa questão de forma mais política.”
E ele não está sozinho. A moda sempre foi uma grande aliada do movimento LGBTQIA+, servindo muitas vezes de vitrine para o rompimento que essa comunidade propõe trazer para a sociedade.
Isso também tem sido visto pelas empresas, já que algumas marcas têm lançado coleções específicas ou colaborações em apoio à comunidade LGBTQIA+, com parte dos lucros muitas vezes revertida para apoiar as causas da comunidade.
Lírio contou que durante boa parte da vida não teve uma boa relação com a moda, se sentido “desconfortável” com as roupas que vestia “eu acho que só fui ter uma relação consciente com a moda depois da minha transição.”
Em outras palavras, ele conta que “enquanto pessoa não binária a moda foi e ainda é a ferramenta principal na construção da minha identidade”. Durante a entrevista, o jornalista reforçou que a construção de sua autoestima vem se dando juntamente com a construção de seu estilo de se vestir, além da consciência de uma moda mais sustentável, pauta que lhe atravessa por conta de seu brechó: “a política é essencial nesses processos, para que a gente tenha uma moda pensada para corpos e estilos diversos, mais acessível e para estimular o consumo consciente”.
Vestir-se pode ser mais do que apenas uma decisão estética ou prática – pode ser um meio de expressar identidade, valores e posicionamento político. Pode ser a maneira com que pessoas consigam fazer as pazes com a própria identidade, ou também questionar a própria moda em si e desafiar padrões estéticos impostos por ela. Vestir-se sempre é político, e pode também ser um ato de dizermos ao mundo a mudança que queremos.
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*Fernanda Damasceno é jornalista, produtora de conteúdo e de audiovisual. Entusiasta de artes visuais e de moda, adora escrever sobre meio ambiente e Amazônia.
De olho na COP 30: uma conversa sobre cultura, imaginação, sonho e revolta
Por Vitória Rodrigues – 12/06/2024
Encontro no Rio de Janeiro debate intersecção entre cultura, indústrias criativas e a crise climática
Foto: The People’s Palace Projects
No ano passado, pela primeira vez, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP) contou com um pavilhão dedicado exclusivamente para as áreas de Entretenimento e Cultura. Com doze dias de programação, o pavilhão dedicou-se a olhar qual é o papel da cultura no combate à crise climáticas.
De olho na importância da cultura e do clima pensando na primeira COP que o Brasil receberá na história, em Belém (PA), em 2025, na última sexta-feira (07), houve um encontro no Rio de Janeiro para discutir as intersecções entre cultura, clima e incidência internacional.
O encontro, realizado pela People’s Palace Projects do Brasil, em parceria com o Perifalab, recebeu Andrew Potts, advogado especializado em políticas culturais, sobre os esforços internacionais para colocar a arte, a cultura, o patrimônio e as indústrias criativas no centro das políticas climáticas da COP.
Imaginação e sonho
A conversa foi mediada pela ativista climática, comunicadora e produtora cultural Marcele Oliveira, que já escreveu por aqui sobre seu interesse em fazer arte e cultura andarem lado-a-lado com a justiça climática. Marcele, diretora executiva do Perifalab, também é co-fundadora da Coalizão O Clima É De Mudança e Jovem Negociadora pelo Clima.
Para ela, é imprescindível manter três ideias-chave: mudança, revolta e sonho. “A imaginação é chave, porque raramente as pessoas se dispõem a sonhar com um presente justo”, complementou o advogado Andrew Potts, da Climate Heritage.
Se imaginar é arriscado, viver uma realidade que seja boa, justa e de qualidade parece distante. Para Andrew, “a nossa vida é tão enraizada nesta cultura do petróleo, que certas vezes soa assustador viver em um mundo que não é assim. Como você viveria numa cidade carbono zero? O que você comeria, como você se locomoveria?”
E como imaginar uma cultura sem isso? No Brasil, por exemplo, a exploração de recursos naturais não renováveis financia uma parte significativa da produção artística e cultural.
Neste ano, por exemplo, o edital Petrobras Cultural destinou R$250 milhões a projetos artísticos por meio de incentivos fiscais da Lei Rouanet e da Lei do Audiovisual. A última chamada do Instituto Cultural Vale 2024 destinou R$ 30 milhões para patrocínios a projetos de todo o Brasil.
“No contexto capitalista, a gente tem uma política cultural dependente de empresas petroleiras, mineradoras, a gente tem uma política climática dependente de países que são exploradores, que colonizaram. A caneta, o dinheiro ainda está na mão de quem causou o problema. E aí, quando eu penso em capitalismo, em enfrentamento, em ecossocialismo radical, eu penso que é fazer essa denúncia de forma escalonada, então não é só numa pequena conversa, sabe?”, provoca Marcele.
“Se não tiver o dinheiro da petroleira, então qual é o dinheiro que vai financiar a cultura? Se não tiver a caneta na mão desse país, que não está nem um pouco comprometido, como que a gente faz o Sul Global crescer? É sobre influência para tomar as próprias decisões. São perguntas que não estão prontas, mas que nos guiam para enfrentar o capital”, disse Marcele.
Andrew Potts, Marcele Oliveira e Mayra Mota l Foto: The People’s Palace Projects
E os grandes espaços de produção de entretenimento também têm a sua responsabilidade. Ela disse que gostaria de convidar os produtores de grandes eventos, donos e gestores de casas, museus e espaços de cultura para uma grande roda. Nela, convocaria essas pessoas a incluir pauta climática e conscientização no escopo de nossas curadorias, nas informações que estão propagadas nos espaços de grande circulação de público.
De olho na COP
E se o caminho para a vitória política da cultura na COP30 começa com mobilizações como essa, é preciso olhar com certa crítica o que foi feito até agora. Para Andrew, o que é construído hoje nas Conferências “não leva em consideração as construções históricas e o colonialismo, além de ignorarem os facilitadores para soluções sociais e locais.”
Dentro das políticas desenvolvidas pelos países, muitas vezes só há um foco especial para o combate da crise climática através de um olhar que pensa o mundo da tecnologia e das finanças, mas acaba-se deixando de lado a cultura e os atores sociais. O advogado do Climate Heritage ainda complementa dizendo que é uma crise antropogênica, causada por determinados setores da sociedade e que é agravada pela população a partir de uma cosmovisão imposta.
Para Marcele, é urgente conectar a discussão para pensar em soluções que as periferias e as comunidades originárias e tradicionais essencialmente estão fazendo. “É respeitar a história, memória e patrimônio e usar essa mesma história, memória e patrimônio para construir narrativas.”
As narrativas construídas por produtores de arte e cultura na COP sempre estiveram nas conferências, na opinião de Andrew. Elas só precisam ser amplificadas e levadas mais a sério. Apenas no ano passado foi criado o ‘Grupo de Amigos da Ação Climática Baseada na Cultura’, co-presidido pela Ministra da Cultura Margareth Menezes.
Mesmo com avanços da criação do Pavilhão de Clima e Entretenimento, além da criação do Grupo de Amigos, a cultura precisa estar oficialmente dentro de uma estratégia para ações climáticas. Mas ainda assim, a cultura nunca foi mencionada nos documentos oficiais da COP.
Andrew, que acompanha os debates e as negociações com afinco, lembra que é preciso de muito mais. “Líderes e políticos se apresentaram lá dentro [do pavilhão], como o Michael Regan, da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos. Mas quando ele atravessou a rua e entrou no Pavilhão Azul (de negociação) votou contra a inclusão de cultura dentro do debate de mudanças climáticas.”
As mudanças climáticas já estão acontecendo e exterminando territórios, memórias e construções de culturas ao redor do mundo inteiro. É necessário garantir que a sociedade civil não esteja apenas protestando dentro das suas delimitações em conferência, mas que tenha, também, o poder de decisão para decidir os rumos de um mundo que a cada dia é mais destruído em nome do lucro e da exploração.
Enquanto se financia a cultura, acaba-se com ela. Até quando essa atividade poderá ser realizada por grandes empresas? Até que ponto atividades que não se enxergam como conectadas ao clima poderão ser executadas?
Sem possibilidades de vida, não há chance de sobrevivência, de clima e de cultura.
Fake news sobre chegada de Starlink no Vale do Javari promovem racismo anti-indígena
Povo Marubo, do Vale do Javari, no Amazonas, se defende de comentários discriminatórios e desrespeitosos após viralização de manchetes falsas sobre uso indevido da internet.
Por Letícia Queiroz, da Escola de Ativismo – 12/06/2024
Instalação de uma antena Starlink na aldeia Ararimba, no Amapá l Foto: Conexão Povos da Floresta/Reprodução
Nos últimos 21 meses, a Starlink, a provedora de internet de baixa-orbitagem do bilionário Elon Musk, chegou na Amazônia trazendo internet de alta velocidade por um preço acessível onde antes era impossível. Já são mais de 66 mil assinaturas na região amazônica, muitas em povos de recente contato ou em regiões remotas. As transformações causadas pela chegada do serviço são profundas e ainda estão sendo entendidas por povos indígenas e tradicionais.
Mas a forma discriminatória e exótica de enxergar os povos indígenas associada à disseminação de fake news ganhou força nos últimos dias desde que viralizou a notícia falsa sobre o impacto negativo do uso da internet no Vale do Javari, no Amazonas.
A notícia original, veiculada no The New York Times tinha como título “The Internet’s Final Frontier: Remote Amazon Tribes”, na tradução para o português “A fronteira final da Internet: tribos remotas da Amazônia”. O uso do termo “tribos” já é questionado por povos originários tanto no Brasil, quanto mundo afora, preferindo “aldeias”, “territórios indígenas” ou “povos”. O termo usado pelo jornal estadunidense inclusive ecoou nos veículos brasileiros.
Após a publicação da matéria, o texto foi distorcido por sites brasileiros que afirmavam que os jovens Marubos estariam viciados em pornografia e em jogos online violentos, deixando de lado suas tradições. A comunidade e o jornalista Jack Nicas, que escreveu a matéria internacional, negam e desmentem as manchetes. O jornalista pediu: “Por favor, parem de compartilhar essa mentira”.
“Dezenas de sites agregaram nossa matéria sob uma manchete que diz falsamente que o povo Marubo rapidamente tornou-se viciado em pornografia. Muitos desses sites usaram fotos do povo Marubo. Fizeram vídeos, memes. A coisa está feia. Os Marubo não são viciados em pornografia e a matéria nunca disse que eles eram”, afirmou o jornalista Jack Nicas no X, antigo Twitter.
O povo indígena também nega. A Rede de Estudantes Indígenas do Vale do Javari divulgou uma nota de repúdio às declarações.
“Essas afirmações são não apenas infundadas, mas também desrespeitosas e discriminatórias. Elas perpetuam estereótipos negativos sobre os povos indígenas e ignoram a complexidade das questões que envolvem a introdução de novas tecnologias em suas comunidades. O acesso à internet, tem o potencial de proporcionar inúmeras vantagens, como o fortalecimento da educação, a melhoria dos serviços de saúde, a promoção da cultura indígena e a facilitação da comunicação entre aldeias distantes uma da outra, bem como se comunicar com reuniões importantes que acontecem fora da Terra Indígena Vale do Javari. Repudiamos a postura paternalista e preconceituosa implícita nessas declarações, que desconsidera a autonomia dos jovens indígenas do Vale do Javari, e sua capacidade de gerir o uso das tecnologias de acordo com suas necessidades e valores culturais”, afirma a nota.
Matéria do New York Times foi usado como combustível para racismo anti-indígena l Foto: Google/Reprodução
As lideranças reconhecem a importância da introdução da internet e da conectividade. A Rede de Estudantes Indígenas do Vale do Javari condena qualquer tentativa de desviar o foco das verdadeiras questões que afetam os povos do Vale do Javari, como a falta de políticas públicas eficazes, a invasão de territórios por atividades ilegais e a precariedade dos serviços básicos de saúde e educação. “Estas são as questões que devem ser tratadas com urgência e seriedade pelas autoridades competentes, bem como veículos de informações”.
Mesmo desmentindo, portais e páginas brasileiras de grande repercussão, incluindo os de alcance nacional mantiveram as publicações, mostrando a falta de interesse com a verdade e com o bem-estar e saúde mental dos povos indígenas. Os textos chamam atenção pela forma exótica e estereotipada como os indígenas ainda são vistos.
O jovem Denilson Pixi Kata Matis é indígena do povo Matis, na região do Vale do Javari. Ele informou que antes da chegada da internet, as comunidades se comunicavam através de rádio, que era ligado em hora em hora.
“Às vezes o rádio não tem uma boa comunicação. Não dá para ouvir direito. Então, era muito ruim essa questão da comunicação entre eles. Como a internet possibilita fácil acesso de informações e envio de mensagens rápidas, os líderes quiseram instalar. Então a chegada de Starlink nas aldeias foi boa, está sendo boa, na verdade. Porque melhorou a comunicação entre os familiares, da comunidade para a cidade, dos municípios de perto, até as cidades distantes. E também melhorou a questão da informação, da saúde, o contato com a SESAI [Secretaria de Saúde Indígena]. É mais fácil agora trocar conversa e falar: ‘está acontecendo isso’”.
O jovem falou que também é possível saber, sem interferências, sobre o que está acontecendo em outros países. “Não precisa outra pessoa do município comunicar sobre o que está ocorrendo ao redor do mundo. É possível saber de tudo morando na aldeia”.
A disseminação da notícia falsa nos últimos dias trouxe consequências ao povo, que tenta se defender das acusações. Após a onda de fake news, as famílias começaram a ser tratadas de forma desrespeitosa. “As informações falsas foram vazadas e colocadas fora de contexto. O New York Times, fala uma coisa e a mídia brasileira fala outra. Não existe vício ou dependência de internet. Têm a hora para ligar e a hora exata de desligar, tudo controlado pelos líderes. A comunidade vê tudo isso de uma forma maldosa. Estão com aquela sensação de querer falar para o mundo que isso não é verdade. Estão querendo sujar o nome do Vale, sujar o nome do povo”, disse Pixi Kata.
É possível pensar em uma transição energética popular? Uma experiência brasileira diz que sim
Por Bárbara Poerner – 29/05/2024
Conheça o Veredas Sol e Lares, uma usina fotovoltaica localizada no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, proposta pelo Movimento Atingidos por Barragens e parceiros, e desenvolvida com protagonismo das comunidades em todas as etapas
Metodologia participativa baseou o processo de construção e implementação da usina l Foto: MAB/Divulgação
No dia oito de março de 2018, Aline Ruas marchou ao lado de mais de 300 mulheres no Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte, reivindicando que “mulheres, água e energia não são mercadoria”. Naquele dia, uma conquista foi alcançada: o Governo do estado mineiro assinou um termo de cooperação técnica para a execução do Projeto Veredas Sol e Lares.
O Veredas Sol e Lares é uma usina solar fotovoltaica (USFV), construída sobre o lago da Pequena Central Hidrelétrica (PCH) Santa Marta, que estava operando com baixíssima capacidade. Localizada no Vale do Jequitinhonha, semiárido de Minas Gerais, a região concentra intenso conflito fundiário relacionado à exploração de eucalipto e lítio.
Aline, uma das coordenadoras do Movimento Atingidos por Barragens (MAB) em Minas Gerais, conta que o movimento “elaborou um projeto que propusesse ao Estado brasileiro uma metodologia popular e participativa, na qual a energia possa realmente ser pensada através do povo, com o povo e para atender às demandas do povo”.
Atingida pela barragem do Calhauzinho, no município de Açude, ela explica que a geração da energia da usina, que começou a operar oficialmente no final de 2023, será destinada a 1.250 famílias atingidas, de 21 municípios do Vale do Jequitinhonha e Rio Pardo. Serão aproximadamente quatro mil pessoas diretamente beneficiadas.
Hoje, a Usina integra o Plano de Recuperação e Desenvolvimento de áreas e territórios atingidos por barragens no Vale do Jequitinhonha. Além do MAB, a Associação Estadual de Defesa Ambiental e Social (AEDAS) foi uma das proponentes; Efficientia S.A. e CEMIG (companhia de energia elétrica de Minas Gerais) estão como financiadoras; e PUC Minas e Axxiom Tecnologia e Inovação como parceiras executoras.
Como continuidade da agenda, foi criada, em 2022, a Associação dos Consumidores de Geração Distribuída de Minas Gerais – Veredas Sol e Lares, focada na gestão popular e social da Usina. É um modelo participativo que visa garantir o caráter do projeto e garante o título de “maior associação da América Latina de geração de energia distribuída”, afirma Aline.
A usina em ação l Foto: Arquivo/Reprodução
Energia popular = participação popular
Um dos ineditismos do Veredas Sol e Lares é centralizar o povo no processo. Mais do que um projeto energético, a iniciativa é uma experiência de desenvolvimento comunitário, no qual foram envolvidas aproximadamente seis mil pessoas, em mais de 400 atividades de campo, nos 21 municípios que fazem parte da abrangência da usina.
Tudo isso foi feito com metodologias integrativas, pois, para Aline, “não adiantava pensar em uma geração de energia solar em que o povo não fosse protagonista. Não trata-se de chegar e dar para o povo, é chegar e construir com ele”.
Uma das estratégias foi incluir o Instituto Federal Campos Araçuaí (MG), Instituto Federal Campos Salinas (MG), algumas escolas, famílias agrícolas e jovens dessas instituições e de comunidades próximas para que eles se tornassem pesquisadores populares.
Tais pessoas eram responsáveis por ir a campo, fazer pesquisas, desenvolver a metodologia, dialogar com a população e articular com os outros pesquisadores das universidades parceiras.
“Essa é uma ideia de participação onde o povo, que já conhece os seus problemas, também pode apontar soluções científicas, juntar, sistematizar e elaborar propostas de como é que ele quer esse desenvolvimento não para atender os interesses somente de fora”, continua Aline.
Maria Aparecida, conhecida como Cida, foi uma das pesquisadoras populares em Virgem da Lapa (MG). Ela começou a participar do MAB em 2016, à convite de uma vizinha, e, desde então, integra o núcleo local do movimento. Durante a construção do Veredas, a militante compartilha que os pesquisadores “espalharam-se pelas comunidades, buscando aprender mais sobre os problemas, acesso e qualidade da energia”. Segundo ela, o aprendizado fortaleceu sua capacidade de interlocução com seu território.
“Elucidar”, inclusive, têm sido um dos principais verbos conjugados no Veredas Sol e Lares. Foram feitos estudos das contas de energia, apresentados para os cidadãos dos municípios, além de rodadas de formações e explicações sobre a tarifa social de energia elétrica. A coordenadora explica, com isso, que “o povo entendeu o que são aqueles números, o que é imposto, o que é ICMS (imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual, intermunicipal e de comunicação) e o que ele realmente está pagando”.
Um percalço enfrentado, contam Aline e Cida, foi o hiato que o projeto sofreu em 2020. À época, o Governo de Minas Gerais, gerido por Romeu Zema, congelou as obras e o desenvolvimento da Usina. Depois de lutas e articulações do MAB e outras entidades envolvidas, o empreendimento voltou a construção. “É muito inovador e, ao mesmo tempo, desafiador para todos os envolvidos. A CEMIG teve que buscar soluções também. A proposta que tínhamos era algo que não existia e não existe ainda”, continua Aline.
O Veredas Sol e Lares dá pistas de como conduzir uma agenda de enfrentamento à crise climática que contemple os direitos territoriais l Foto: Veredas Sol e Lares/Reprodução/Via Flickr
Pílula de mudança
A geração de energia fotovoltaica no Brasil está crescendo, O modelo centralizado, que é composto de grandes parques solares, já tem 18 mil usinas solares instaladas nacionalmente, capazes de produzir uma potência de 10,3 GW. Entre janeiro e setembro de 2023, houve o maior incremento da capacidade de geração solar centralizada da história no país, e ainda são previstos investimentos históricos no recurso.
Contudo, investir e construir mais parques solares não significa, necessariamente, uma transição energética. Tampouco implica justiça climática. Segundo Aline, é necessário perguntar, “para além da tecnologia, quem essa tecnologia vai atender?”.
A realidade dos dados, depoimentos e vivência de comunidades revelam que os empreendimentos energéticos de matriz renovável (hidrelétricas, eólicas ou fotovoltaicos) configuram violações territoriais e ambientais e agravam ainda mais a desigualdade social sob a escusa do desenvolvimento. Só em 2022, a Caatinga teve 4 mil hectares destruídos para a produção de energia gerada pelo sol e vento. O bioma, um dos mais eficientes em capturar carbono, sofre cada vez mais com processos de desertificação.
Embora o Brasil seja signatário da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que afirma que os povos tradicionais devem ser consultados previamente sobre esse tipo de projeto, que tem impacto direto em seus territórios, isso não é experienciado na maioria dos grandes projetos energéticos.
Por essa razão o impacto do Veredas Sol e Lares pode ser medido em números, mas também em práxis: os GW gerados que diminuem o valor das contas de luz dos moradores soma-se à experiência de lançar ao mundo uma pílula da transição energética justa e popular, dando pistas de como conduzir uma agenda de enfrentamento à crise climática que contemple os direitos territoriais, às demandas do povo e sua escuta ativa.
Um exemplo, citado por Aline, é a comunidade de Beril. A partir do Veredas, o território conseguiu ter acesso à energia elétrica no final de 2023. “Trata-se do acesso à energia solar, ao direito de se ter energia, e energia com preço justo”, defende a coordenadora do MAB MG.
Ainda, há poucas semanas, Cida recebeu uma ligação de uma colega falando que, finalmente, iria conseguir adquirir um ventilador. “Em janeiro, [essa atingida] pagou R$ 300 de conta de luz. Esse mês, ela já teve o desconto [devido a USFV]. Ela falou para mim que, por isso, vai conseguir comprar um ventilador”, relembra a militante, ao destacar como o Veredas Sol e Lares também reduz a pobreza energética.
“Faz-se necessário pensar em uma proposta de desenvolvimento que não retire mais terras do povo. O Veredas é um pedacinho de um exemplo de uma proposta do projeto energético popular para o Brasil. Uma experiência, que se ampliada, com o povo e o meio ambiente no centro do debate, vamos estabelecer outra lógica de energia”, finaliza Aline.
Aquilombar: mobilização reúne comunidades quilombolas para exigir direitos e fortalecer tradições ancestrais
Saiba como foi o encontro de luta, articulação e fortalecimento quilombola; estudo divulgado aponta que 98% das comunidades sofrem ameaças
Por Letícia Queiroz, da Escola de Ativismo – 17/05/2024
Deslize para o lado para conferir fotos do evento. l Fotos: Thaiane Miranda/CONAQ
A resistência, a diversidade e as culturas dos quilombos de todo o Brasil ocuparam Brasília (DF) durante o II Aquilombar. Com o tema “Ancestralizando o Futuro”, o evento foi realizado nesta quinta-feira (16) para juntar vozes, reivindicar direitos, exigir segurança e justiça e promover a valorização das tradições quilombolas.
O evento organizado pela Coordenação Nacional de Articulação de Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ) está na segunda edição e é a maior mobilização quilombola do Brasil. Comunidades de todas as regiões e biomas formaram caravanas e participaram das discussões e manifestações. Ministros, secretários de governo e presidentes de pastas estiveram no evento e ouviram as demandas das comunidades.
Entre as principais pautas dos quilombolas está a necessidade de titulação dos territórios e de segurança de lideranças que defendem seus lugares ancestrais.
De acordo com um estudo inédito divulgado nesta quinta-feira pelo Instituto Socioambiental (ISA) em parceria com a CONAQ, mais de 98% dos territórios quilombolas estão ameaçados no país. A pesquisa traz diagnóstico sobre o impacto de obras de infraestrutura, requerimentos minerários e sobreposições de imóveis rurais nos territórios quilombolas.
Durante o ato, lideranças quilombolas denunciaram e cobraram Justiça por quilombolas assassinados por conta de conflitos. “Muitos não estiveram aqui no Aquilombar porque tombaram por conta da luta pelo território ancestral”, disse emocionada Selma Dealdina Mbaye.
O encontro contou também com oficinas de trança e dança, atendimento jurídico, espaço quilombinho (para crianças), rodas de conversa e feira temática quilombola com barracas para comercialização de itens produzidos nas comunidades.