Por Rae Abileah and Nadine Bloch* – 30/11/2023

*Publicado originalmente em 18 de outubro no Waging Nonviolence e adaptado para o português por Bruno Berilli, para a Escola de Ativismo.

Algumas estratégias e táticas comprovadas para orientar ações eficazes pelo fim da ocupação ilegal e o imediato cessar-fogo na Palestina

Crédito: Reprodução

 

Se você está lendo isso, é provável que os seus olhos estejam exaustos de scrollar interminavelmente pelas notícias ruins ou de derramar lágrimas pelas incontáveis vítimas no pesadelo atual. A gente entende. Te convidamos humildemente a respirar fundo e pausar um pouco. Para qualquer leitor que precise desse lembrete: quando as emoções estão à flor da pele, é especialmente importante cuidar muito bem do seu corpo, espírito e uns dos outros. Nossa equipe no Beautiful Trouble tem um compromisso com a reflexão e oferece um conjunto de ferramentas para a resiliência comunitária.

Como uma rede internacional de artistas, ativistas e formadores que criaram uma caixa de ferramentas documentando as principais estratégias e táticas que inspiraram séculos de vitórias conduzidas pelo povo, oferecemos essas três percepções que podem proporcionar estabilidade neste momento de desequilíbrio, e podem guiar ações eficazes e significativas.

1. A importância do enquadramento

Da mesma forma que o enquadramento ao redor de uma foto, um enquadre conceitual destaca eventos e fatos específicos, tornando outros elementos invisíveis. Inserir um enquadramento efetivo na sua mensagem pode fazer a diferença entre ganhar ou perder.

Atualmente, grande parte dos veículos de mídia ocidentais conta uma história curta e terrivelmente incompleta: que o Hamas coordenou ataques surpresa contra Israel, resultando na morte de mais de 1.300 pessoas e no sequestro de reféns, e que Israel está se defendendo ao bombardear a Faixa de Gaza e coordenar uma invasão terrestre brutal. Mais de 16.000 palestinos [eram 3 mil quando esse texto foi escrito] já foram mortos, incluindo milhares  de crianças. A mídia convencional nos diz que é uma situação horrível, absurda, sem aviso prévio. Para uma compreensão mais aprofundada, é preciso afastar a câmera para ver a imagem completa eo contexto histórico mais amplo.

Por mais de 75 anos, o povo palestino tem resistido à ocupação, desumanização, limpeza étnica, deslocamento forçado, aprisionamento, negação de direitos humanos básicos e outras injustiças cometidas pelo estado de Israel. Esses danos foram classificados, por observadores confiáveis, como crimes de apartheid, relembrando o brutal domínio da minoria branca sobre os sul-africanos negros (veja o relatório da Anistia Internacional).

Três anos atrás, a ONU considerou “inabitável” a área de 40km chamada de Gaza, um dos lugares mais densamente povoados da Terra, devido ao bloqueio ilegal por terra e mar imposto por Israel. Mais de dois milhões de pessoas, metade das quais são crianças, vivem em Gaza. Desde 10 de outubro, os residentes de Gaza foram privados de água, eletricidade e alimentos pelo exército israelense. Isso configura um crime de guerra, endossado pelo estado de Israel e tolerado pelos Estados Unidos e seus aliados.

A terrível realidade de hoje não começou em 1948 com a criação do estado de Israel, evento também conhecido como a Nakba (grande catástrofe), que deslocou milhares de palestinos. Ela se baseia em uma herança do colonialismo que dividiu o Oriente Médio, assim como em uma história de opressão antissemita violenta na Europa, desde Pogroms até o Holocausto. Israel foi fundado, em parte, com base na necessidade de um refúgio para o povo judeu. Muitos judeus agora se veem em um dilema duplo, desejando tanto a segurança de seu povo quanto se opondo à contínua segregação e opressão dos palestinos.

No entanto, esse enquadramento da questão  leva a um impasse. A única maneira de alcançar uma paz genuína, duradoura e justa — como os palestinos insistem com todo o direito, e muitas vozes judias têm afirmado — é abordar as causas fundamentais da luta palestina, encerrando a opressão de Israel sobre o povo palestino. Os palestinos merecem estar seguros; os judeus merecem estar seguros; no entanto, a segurança não pode, e não virá, à custa dos direitos humanos dos palestinos.

Conforme ampliamos nosso campo de visão, notamos que a luta palestina está conectada às lutas históricas dos povos indígenas e oprimidos em todo o mundo, resistindo ao colonialismo. A suposta “terra sem povo para um povo sem terra” foi estabelecida em terras roubadas, habitadas por gerações de povos árabes. A luta pela libertação coletiva tornou-se interseccional, ligada aos movimentos impulsionados pelo povo ao redor do mundo que clamam por descolonização e justiça.

Podemos também perceber como, em uma área menor que o estado de Sergipe, a segurança dos palestinos e israelenses está interligada. Como escreve o autor judeu-americano Peter Beinart: “Este é um argumento que Martin Luther King tentou comunicar à América branca seguidamente quando houve tumultos em cidades americanas  ao longo dos anos 60. (…) Em última análise, não há outra maneira senão reconhecer a interconexão moral, o que significa que você tem que reconhecer que a segurança, dignidade e liberdade de uma família [israelense] dependem de você se importar com a segurança, dignidade e liberdade dos palestinos e vice-versa.”

Outra abordagem pode nos mostrar os legados intergeracionais de trauma que estão em jogo. A neurociência explica que quando estamos em uma resposta traumática hiperativada, tornamo-nos incapazes de pensar a partir do córtex pré-frontal, nosso cérebro lógico. Entramos em modo de luta/fuga/congelamento/apego, independentemente do que nossas mentes racionais nos dizem sobre as circunstâncias. Até que ponto a intimidação com ataques a Gaza está impregnada de trauma, sendo instrumentalizada como uma vontade de mais violência, que causa mais trauma? Para os judeus, que foram perseguidos ao longo dos séculos, essa ferida traumática pode ser profunda, assim como o desejo de “vingança”, frequentemente impregnado de racismo anti-árabe. O slogan das mobilizações em massa lideradas por judeus em Washington, D.C. pedindo um cessar-fogo aborda bem isso: “Minha dor não é sua arma.”

Além disso, o trauma ancestral, somado ao aumento real do antissemitismo, pode fazer com que notícias falsas pareçam terrivelmente reais, como a alegação em 13 de outubro de que o Hamas havia convocado o assassinato de judeus em todo o mundo. (Essa informação falsa levou ao reforço da segurança em sinagogas e ao fechamento de um campus universitário que havia agendado uma manifestação por um cessar-fogo.) A alegação foi comprovadamente falsa e até desacreditada pelo Departamento de Estado dos EUA. 

Reservar um espaço para reconhecer o trauma pode nos ajudar a evitar os campos de batalha dos debates com pessoas que não conseguem ouvir os fatos, oferecer um abraço em vez de bombardear com dados, e criar ambientes para lidar com o luto de maneira adequada, para que talvez possamos lamentar  juntos e nos reorganizar.

Lembrar de frases como  “Luto é verbo” ou “Do luto à luta”” é necessário aqui! Devemos expressar nosso profundo sentimento de luto pelas vidas que foram perdidas, para que possamos trabalhar a partir de uma posição de resolução fundamentada em interromper novos casos de violência.

Ignorar esta etapa — e recusar-se a reconhecer o luto que tantos estão sentindo agora — limita nossa capacidade de curar e alcançar uma paz política justa. Isso também fornece munição adicional para a liderança sionista de direita, assim como para seus apoiadores americanos de direita. A contribuição de Naomi Klein é simples e direta. Ela twittou: “Escolha sempre a criança em vez da arma, não importa de quem é a arma e não importa de quem é a criança.”

Uma das táticas de um regime opressor é obscurecer ou confundir uma questão, fazendo com que pessoas que teriam uma crítica clara e coerente, sintam-se enfraquecidas, não suficientemente informadas para participar ou sintam que, sem um “envolvimento direto”, não podem protestar contra a injustiça. A maioria das pessoas nos Estados Unidos (e ao redor do mundo) que se opuseram à invasão dos EUA no Iraque há 20 anos não conhecia ninguém do Iraque. Ainda assim, sabiam o suficiente para entender que guerras por petróleo e arrogância imperial prejudicariam crianças, matariam soldados de todos os lados, agravariam a crise climática e encheriam os bolsos dos fabricantes de armas às custas da população.

A construção de um enquadre narrativo pode nos ajudar a garantir que “criemos muitos pontos de entrada“, para que novas pessoas possam se juntar ao movimento e se sintam capacitadas a se manifestar. Utilizar a ferramenta do espectro de aliados pode nos ajudar a tornar os nossos públicos mais nítidos e discernir mensagens e ferramentas para envolver melhor aliados passivos e pessoas que eram anteriormente neutras, mas foram ativadas por esta crise.

Para os recém-chegados a esta crise, podemos ajudar a explicar essa história complexa compartilhando ferramentas úteis, como este desenho animado de seis minutos. Enquadramentos curtos e concisos, como esta lista de “5 coisas que você precisa saber sobre o que está acontecendo em Israel e Gaza”, ajudam a simplificar a questão em informações práticas. À medida que são organizadas mobilizações de emergência para se opor ao genocídio em Gaza, podemos lembrar também de criar eventos educativos (como este, destacando vozes palestinas, que ocorreu em 19 de outubro) para aqueles que se perguntam “Como chegamos aqui?”

Um enfoque que extrapole o binário também pode ser útil quando feito intencionalmente. Ou até reformular o binário: Sim, existem dois lados. O lado da vida e o lado da morte. Como escreveu a poetisa palestina Suheir Hammad: “Ou você está a favor da vida, ou está contra ela. Defenda a vida.” No final das contas, como compartilhou recentemente a ativista e autora judaico-americana Anna Baltzer em seu artigo de opinião: “Todas as pessoas merecem viver em segurança e paz. A única maneira de alcançar isso é liberdade e justiça para todos. Na Palestina, isso significa o fim da ocupação colonial e do regime de apartheid de Israel – algo que nenhuma pessoa aceitaria para o seu próprio povo.”

Centenas de pessoas se reuniram para uma vigília à luz de velas em São Francisco com grupos palestinos e árabes em 17 de outubro. Crédito: Twitter/JVP

2. Estudar a bela história da resistência não violenta e criativa palestina pode inspirar as nossas ações de solidariedade.

Outra maneira de reformular os contornos deste momento é explorar e celebrar o longo legado do ativismo criativo palestino. Conhecer mais sobre esta resistência — que tantas vezes é deixada de fora das narrativas dominantes — humaniza a luta palestina e aumenta o senso de alteridade. Lembrar da desobediência civil generalizada e dos boicotes em massa durante a Primeira Intifada (1987-1993),  pode nos ajudar a entender como chegamos aqui hoje.le

Em resposta à ocupação israelense na Cisjordânia em 1988, os residentes de Beit Sahour decidiram comprar 18 vacas e produzir o seu próprio leite como uma cooperativa, para não precisarem comprar leite israelense. Essas vacas tornaram-se celebridades locais, um símbolo de auto-suficiência e resistência. Elas foram então cruelmente colocadas na lista de mais procurados pelo exército israelense, declaradas “uma ameaça à segurança nacional do Estado de Israel”. Histórias como esta, conhecida como “The Wanted 18” — “As 18 Procuradas”  —, ilustram o absurdo da ocupação.

Mais recentemente, a resistência criativa palestina abrangeu as artes, desde o palco até as ruas, de marchas a murais (em frente ao muro da Cisjordânia). A Grande Marcha do Retorno, em 2018, utilizou uma consagrada  tática não violenta ao fazer uma ”romaria”. Longas caminhadas e travessias são táticas ativistas que foram praticadas desde a Marcha do Sal de Gandhi até caminhadas transcontinentais pelo desarmamento nuclear. As imagens que circularam pelo mundo de avós abraçando suas oliveiras enquanto eram derrubadas contaram a história sem precisar de palavras, ilustrando a lógica das ações. Prisioneiros detidos sem acusação ou julgamento organizaram greves de fome, incluindo mais de 1.800 prisioneiros em jejum em 2012. Táticas criativas têm contribuído para despertar a atenção global e tornar a ilegalidade da invasão algo compreensível num nível próximo e pessoal..

Crianças em Gaza estabeleceram um recorde mundial do maior número de pipas voando simultaneamente. Elas empinaram 12.350 pipas ao mesmo tempo nas margens do Mar Mediterrâneo em Gaza. “Trouxemos felicidade ao nosso país quebrando o recorde mundial”, disse Nadia el Haddad, de 13 anos, que quebrou o recorde. “[E hoje] sinto que tenho direitos e que sou como qualquer outra pessoa no mundo.”

O uso de tantas pipas ilustra brilhantemente o princípio de que princípios simples podem ter efeitos grandiosos. Organizações como o Jenin Freedom Theater e Alrowwad, um centro de cultura e artes sediado no Campo de Refugiados de Aida, Belém, cujo lema é “Beautiful Resistance” — Bela Resistência —, têm educado as próximas gerações de jovens palestinos na expressão criativa.

Esse ativismo artístico e estratégico tem inspirado inúmeras ações de solidariedade ao redor do mundo, motivando ativistas solidários a viajar para a Palestina para se envolver em acompanhamento, co-resistência e flotilhas, ou “barqueatas”, na tentativa de romper o cerco de Gaza e fornecer ajuda urgentemente necessária. Israelenses — que compreendem que seu destino está vinculado ao bem-estar de seus vizinhos — também se uniram à luta. Desde 1988, Mulheres de Preto realizam vigílias pacíficas para se opor à opressão israelense. Jovens israelenses que se recusam a obedecer ordens de convocação para as Forças Armadas têm cumprido pena na prisão, e veteranos das Forças de Defesa de Israel (IDF) têm denunciado os crimes cometidos enquanto serviam nos Territórios Ocupados. Ativistas israelenses contra a ocupação também se juntaram à desobediência civil para ajudar a proteger bairros palestinos ameaçados de demolição. No último mês, israelenses assinaram uma petição pedindo um cessar-fogo imediato nos ataques a Gaza.

Recorrendo à tática não violenta de acionar mecanismos internacionais, a liderança palestina trabalhou incansavelmente para aprovar medidas da ONU que visam parar a construção de assentamentos israelenses, algo que Israel não acatou. A Resolução 194 da ONU tem como objetivo garantir o direito de retorno dos palestinos, o que também não foi efetivado. Desde 1997, os Estados Unidos vetaram mais de uma dúzia de resoluções do Conselho de Segurança da ONU que criticavam as ações de Israel na Cisjordânia e Gaza.

E finalmente, há 18 anos, na sequência dos tumultos violentos da Segunda Intifada, a sociedade civil palestina emitiu o chamado internacional não violento para Boicote, Desinvestimento e Sanções, ou BDS, remetendo ao movimento anti-apartheid na África do Sul e à longa tradição de ativismo econômico não violento que ajudou a conquistar vitórias, desde o boicote às uvas de Delano pelos direitos dos trabalhadores rurais até o boicote aos ônibus de Montgomery durante a era dos direitos civis. Campanhas de BDS surgiram em todo o mundo e alcançaram muitas vitórias, desde o Boicote à Veolia até a Campanha “Stolen Beauty” — “Beleza Roubada”. Enquanto isso, campanhas de desinvestimento em universidades, igrejas e grandes fundos de pensão pressionaram instituições respeitáveis a se desvincularem de crimes de guerra.

As principais organizações de direitos humanos, como a Anistia Internacional, constataram que “Israel impõe um sistema de opressão e dominação contra os palestinos em todas as áreas sob seu controle: em Israel e nos Territórios Ocupados, e contra os refugiados palestinos, visando beneficiar os israelenses judeus. Isso configura apartheid, proibido pelo direito internacional.”

Pode-se dizer que a resistência palestina à ocupação esgotou a famosa lista de métodos não violentos de Gene Sharp. No entanto, embora essa história tremenda de resistência não violenta tenha sido bem documentada, ela não recebeu ampla cobertura na mídia mainstream e certamente não está em destaque agora. Precisamos enfrentar a magnitude da ocupação contínua e da limpeza étnica que persiste, apesar dessas ações criativas e ousadas. Também devemos compreender a repressão severa à resistência não violenta palestina e as discrepâncias do Ocidente em relação a essa violência.

Como Peter Beinart destacou em sua coluna no New York Times, “Israel, com a ajuda dos Estados Unidos, tem (…) repetidamente minado os palestinos que buscaram encerrar a ocupação de Israel por meio de negociações ou pressão não violenta.” O movimento BDS tem sido particularmente obstaculizado, observou ele, “inclusive por muitos dos mesmos políticos americanos que celebraram o movimento de boicote, desinvestimento e sanções contra a África do Sul do apartheid. (…) Cerca de 35 estados — alguns dos quais retiraram anteriormente fundos estaduais de empresas que faziam negócios na África do Sul do apartheid — aprovaram leis ou emitiram ordens executivas punindo empresas que boicotam Israel.”
Atualmente, observamos a aparente inevitabilidade da resistência armada diante do agravamento severo do cerco a Gaza. À medida que lamentamos a perda de vidas em todos os lados e nos opomos à violência, também devemos reconhecer os fios do racismo que privilegiam a condenação de uma forma de violência sobre outra. A professora e advogada de direitos humanos palestino-americana Noura Erakat escreve sobre como os esforços pacíficos para se opor à ocupação foram silenciados, demonizados e difamados. “A mensagem para os palestinos”, conclui ela, “não é que eles devem resistir de maneira mais pacífica, mas que não podem resistir à ocupação e à agressão israelenses de forma alguma”.

3. Compreender a Doutrina do Choque é o primeiro passo para resistir ao capitalismo de desastre.

O caos que acompanha as guerras, desastres naturais e crises econômicas é seguido por neoliberais corporativos e militares que tentam agressivamente promover a privatização, desregulamentação e cortes nos serviços sociais como parte da “Doutrina do Choque”. Este é um momento crítico para resistir a esses capitalistas de desastres e defender nossos direitos humanos, ambientais e econômicos, bem como nossos recursos. Você se lembra como depois do 11 de setembro o Presidente Bush aproveitou a oportunidade do luto e medo nacional para pedir um ataque total ao Afeganistão? Em breve ainda iria ocorrer a invasão e ocupação do Iraque.

O que é menos lembrado é que antes do 11 de setembro havia um movimento anti-globalização crescente e eficaz nos Estados Unidos. Esse movimento efetivamente paralisou a Rodada de Doha de negociações da Organização Mundial do Comércio na Batalha em Seattle. Ativistas estavam se preparando para fechar o Fundo Monetário Internacional em Washington, D.C., em 12 de setembro, para exigir mudanças sistêmicas anti-pobreza, mas os protestos foram cancelados quando o país mergulhou em luto generalizado e pânico após os ataques de 11 de setembro. Os manifestantes foram atacados como sendo anti patrióticos, já que os Estados Unidos estavam “sob ataque”.

Muitos ativistas da sociedade civil estavam temerosos e seguiram as chamadas do governo e de ONGs para combater terroristas externos. Grande parte dos ativistas que permaneceram nas ruas mudaram seu foco para trabalhos de paz ou contra a guerra em uma tentativa vã de evitar retaliações violentas pelo 11 de setembro. O trabalho anti-globalização nos EUA praticamente parou.

Antes do ataque liderado pelo Hamas a civis em Israel, havia um movimento forte e crescente de oposição ao regime cada vez mais autoritário do primeiro-ministro Netanyahu, resultando em movimentos pró-democracia historicamente grandes dentro de Israel e em indignação pública e governamental ao redor do mundo. Embora Israel nunca tenha sido uma plena democracia participativa dada a ampla privação de direitos e deslocamento massivo de palestinos, esses protestos criaram uma ruptura marcante em um tópico geralmente impenetrável: questionar Israel.

Apenas quatro dias após o Hamas violar a fronteira, Netanyahu conseguiu reunir o apoio necessário no país para formar um governo de união no Knesset (pela primeira vez em meses de tumulto). Israel obteve amplo apoio das principais potências militares do Ocidente. E em apenas uma semana, as cores da bandeira do regime de apartheid estavam iluminando as principais capitais ao redor do mundo. O aumento do apoio ao governo linha-dura de Israel deu sinal verde e legitimou uma verdadeira e horrível escalada na punição coletiva da população civil em Gaza, enquanto os bilionários do complexo militar-industrial mundial enriquecem ainda mais.

Sabemos que se não fizermos nada, a situação piora. Se reconhecermos que temos poder , poderemos ter a força para construir um futuro melhor. Pessoas ao redor do mundo estão protestando  com mobilizações em larga escala, resultando em uma ação de choque popular. Esperamos te ver superando a agitação das batalhas no Facebook. Encontraremos você nas ruas, nos corredores do Congresso, em vigílias artísticas lamentando a perda de vidas e em diálogos significativos com sua família, colegas, amigos e líderes locais. Em meio às manchetes horríveis, à cobertura tendenciosa da mídia mainstream e à hipocrisia institucional do ocidente, estamos testemunhando exemplos tocantes de belas badernas brotando ao redor do globo.

Centenas de pessoas se reuniram para uma vigília à luz de velas em São Francisco com grupos palestinos e árabes em 17 de outubro. (Twitter/JVP)

Provavelmente, quando isso for publicado, estará desatualizado. Mas as táticas e princípios mencionados aqui não estarão. Enquanto observamos o presente se desdobrar com pesar, estamos segurando uma gota de esperança por esse mundo melhor que é possível. Nossa esperança vem do poder do Sumud, da persistência firme — fazendo o que podemos hoje para que, como Paulo Freire coloca, amanhã possamos fazer o que não podemos fazer hoje.

Para mais ideias/informações, visite também o conjunto de estratégias de solidariedade à Palestina do Beautiful Trouble.

Escrito por:

Rae Abileah é uma líder religiosa judaica, estrategista de mudança social, autora e editora em prol da libertação coletiva. Ela é treinadora no Beautiful Trouble e co-criadora do ritual artístico global Climate Ribbon. Foi co-diretora da CODEPINK, consultora de estratégia digital para justiça social na ThoughtWorks e atualmente dirige sua própria consultoria, CreateWell, além de facilitar oficinas de design para The Nature Conservancy. Rae é autora contribuinte de livros, incluindo “Beyond Tribal Loyalties: Personal Stories of Jewish Peace Activists.” Rae formou-se no Barnard College da Columbia University e foi ordenada pelo Kohenet Hebrew Priestess Institute.

Nadine Bloch é uma artista ativista, organizadora estratégica não violenta e Diretora de Treinamento do Beautiful Trouble, Nadine Bloch  que explora a potente interseção entre arte e poder popular. Encontre mais de seus escritos em “Beautiful Trouble“, “SNAP: An Action Guide to Synergizing Nonviolent Action and Peacebuilding” e “From Airtable to Zoom: An A-to-Z Guide to Digital Tech and Activism 2021.

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