Escola de Ativismo

Luh Ferreira

Educadora Popular, ativista, doutora em Educação

Encantada com o mundo, indignada com a situação dele

Ter saúde é cuidar de você, da sua comunidade e da natureza – Panfleto sobre a Covid e outras ameaças

Em tempos de pandemia, o debate sobre cuidar da saúde ganha contornos ainda mais relevantes. Apesar de não haver uma vacina contra a Covid-19, ter a saúde em dia, com o sistema imunológico fortalecido, é sempre recomendado. Além disso, é preciso pensar na saúde em termos globais, para além do próprio corpo. Cuidar de você, da sua família, da sua comunidade e de toda a natureza é um processo todo interligado. É o que mostra o material produzido pelo Comitê Popular do Rio Paraguai, a Escola de Ativismo, o Fé e Vida e o projeto Humedales sin Fronteras.

O material está sendo distribuído em mais de 12 comunidades rurais do Pantanal, com dicas importantes para a saúde, de prevenção à Covid-19 e também sobre cuidados para manter a saúde da natureza, tão ameaçada por “doenças” como as barragens de hidrelétricas, hidrovia, mineração e monocultura.

Conheça abaixo o panfleto:

Fake News e Coronavírus

A Escola de Ativismo realiza o Projeto MINA que, desde outubro de 2018, desenvolve apoio às ações coletivas para a promoção da dignidade e visibilidade das reivindicações das trabalhadoras sexuais cisgêneras, transexuais e travestis de Belo Horizonte e Região Metropolitana.

Em março de 2020 iniciamos a Jornada Izadora, um processo de aprendizagem em que os nove grupos formados por trabalhadoras sexuais executam projetos e ações de acordo com o tema escolhido pelas mesmas. Um destes é o  “Grupo Educação e Cultura”, formado pelas integrantes Adriana Perseguin, Amanda Rodrigues, Carolina Morais, Sthephanny Di Mônaco e Taís Leão, são mulheres cis e trans trabalhadoras sexuais. Com a chegada da pandemia, a Jornada teve que passar por adaptações do processo para os meios online. Devido a isso, essas participantes perceberam as suas próprias dificuldades, assim como das suas amigas e colegas de trabalha ao usar a internet e smartphones, principal instrumento para acessarem as redes sociais e sites. 

Consequentemente, compreenderam o desafio de identificar fake news e golpes, principalmente nesse contexto em que ficaram cada vez mais dependentes do acesso a internet para conseguir acessar o auxílio emergencial e para obter informações confiáveis sobre a COVID-19. Compreendendo essa realidade, o grupo Educação e Cultura realizou pesquisas e conversas sobre esses temas que resultou na elaboração e produção de uma cartilha intitulada “Fake e Verdades sobre o Coronavírus”. 

O objetivo da cartilha é explicar de forma didática o que é fake news, quais são as formas de identificar e de se prevenir para não divulgar ou acreditar em uma notícia falsa, além que explicar como ter cuidados com dados pessoais e o que fazer se compartilhou alguma fake. 

O material foi elaborado pelas integrantes do grupo com a colaboração no texto de Clara Luisa Oliveira, Iasminny Thábata Sousa Cruz, Isabelle Chagas, Karina Dias Gea e o design criado pela Paola Menezes. Outras ações do grupo sobre o assunto podem ser acessados no perfil do Instagram ou no site do Coletivo Clã das Lobas.

Para baixar a cartilha “Fake e Verdades sobre o Coronavírus” clique aqui.

As ruas 2, por Mikael Peric, Áurea Carolina e Salvador Schavelzon

Apresentamos as mesmas questões para um conjunto de pesquisadores e ativistas sobre um tema inescapável de toda luta social: as ruas. O resultado dessa consulta TUÍRA publica em blocos de três comentários.

Abaixo seguem as reflexões de Mikael Peric (biólogo e ativista), Áurea Carolina (deputada federal pelo PSOL-MG) e Salvador Schavelzon (antrópologo e professor da Universidade Federal de São Paulo).

MIKAEL PERIC

Qual o significado da rua para a mobilização e as lutas sociais no Brasil? Esse significado está mudando agora?

As lutas sociais são lutas comuns, coletivas, plurais. Elas não fazem sentido no espaço privado (em grande parte das vezes). A rua é nóis, como disse Emicida. Na rua a gente cresce e se cria. Na rua a gente disputa e demonstra a nossa força. São poucas as mobilizações que têm tanto impacto e poder quanto as paralisações, as greves e atos que concentram contingentes grandes demais pra contar. É a vontade do povo. É a voz das ruas.

Quantas vezes nós já lemos um chamado do tipo: “Está marcado para a próxima quarta-feira o ato pelo direito de ocupar”? Os atos de rua, as passeatas e as ocupações temporárias são talvez as táticas mais importantes para as lutas sociais que se dão em espaço urbano no Brasil. Isso porque é no espaço público que a gente exerce nossos direitos coletivos. Exerce e luta. Defende e avança.

Esses significados não mudam agora. Muitos de nós seguem nas ruas, sem opção de isolamento ou distanciamento social. Outros se retiraram pelo bem do coletivo. Acredito que as ruas seguem sendo o termômetro, ao menos um deles. A pandemia há de passar. Nós seguiremos nas ruas.

Quais, na sua opinião, são os prós e contras de se ir às ruas hoje?

Ocupar as ruas hoje é muito desafiador. Isso porque as aglomerações e os descuidos vão fatalmente levar a óbito algumas pessoas que, eventualmente, nem sequer saíram para protestar. Em ato recente pela democracia, em São Paulo, ficou bastante claro que não temos (ao menos até aqui) a organização necessária para dar conta de protestar com muita gente em segurança. O grande contra de se ir às ruas hoje é a pandemia e poucos ‘prós’ vão superar este gigantesco ‘contra’.

Entretanto, eu não deixo de pensar que se formos capazes de ocupar as ruas com disciplina, em grande número, poderemos alcançar uma força talvez muito superior ao que estamos acostumados a ver e fazer. Distanciamento real e concreto, uso de equipamentos de segurança adequado, equipes de apoio e suporte bem distribuídas, compromisso com um mesmo projeto. Isso é força. Força que pode ser muito bem-vinda para o país e, principalmente, para as populações e para os corpos historicamente violentados e excluídos.

O que pode ser feito fora das ruas neste momento?

O que não é rua? O ambiente privado? O espaço particular tem pouco efeito simbólico nas lutas sociais. Ainda assim, de fato muito pode ser feito remotamente. Articulações, pactos, alinhamentos e aproximações. O fortalecimento dos grupos e movimentos pode acontecer fora das ruas e está acontecendo. O chamado ‘advocacy’, a promoção de ideias, a inovação no comportamento. Muito se pode fazer em tempos de pandemia.

Em termos de protesto, ação direta, denúncia e cobrança, para além de panelaços, bandeiras nas janelas, projeções, intervenções sonoras, protestos digitais, carreatas etc, eu gosto de insistir que cinco ou seis pessoas podem fazer nas ruas tanto quanto uma multidão. Estratégia, lógica, planejamento e persistência. Margaret Mead já deu a letra: “Nunca duvide que um pequeno grupo de pessoas conscientes e engajadas possa mudar o mundo. De fato, foi sempre assim que o mundo mudou”.

Um pequeno grupo de pessoas pode tomar todas as medidas de cuidado neste momento de pandemia enquanto realiza um ato simbólico tão potente que pode rodar o mundo ou derrubar um decreto presidencial em questão de horas. Existe uma diversidade de táticas enorme pra isso. Ação e ativismo tático podem ser quase qualquer coisa e podem alcançar, virtualmente, tudo.

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ÁUREA CAROLINA

[Uma única resposta para as três perguntas acima]

A rua é o espaço público por excelência. É onde encontramos as diferenças e experimentamos a convivência na diversidade. É, historicamente, o lugar onde as lutas confluem para defender direitos, pressionar o sistema político e buscar transformações sociais.
 
 O surgimento das redes sociais modificou e segue reconfigurando as formas de atuação individual e coletiva no espaço público. Isso acontece graças à presença de novos sujeitos e linguagens no ambiente online, mas não necessariamente em detrimento das ruas. São espaços distintos em suas especificidades, mas complementares para as lutas.
 
 No Brasil, pelo menos desde as Jornadas de Junho de 2013, a conexão entre o ambiente digital e as ruas trouxe para nós novos contornos, desafios e possibilidades para a democratização do espaço público. Agora, com a pandemia do novo coronavírus, as ruas precisaram ser repensadas para evitar o contágio da doença e o ambiente digital ganhou uma projeção ainda maior. As alternativas de organização política estão se diversificando, não sem limites e contradições. Ainda assim, eu acredito que não é possível abrir mão da mobilização presencial.
 
 O que está colocado agora é como manter as medidas sanitárias e de afastamento social recomendadas para evitar o contágio pela Covid-19 e, ao mesmo tempo, continuar movendo as lutas por direitos e contra as ameaças antidemocráticas no país. Não uma equação de fácil solução, mas é inevitável que as ruas sejam um lugar de atualização da luta política mesmo durante a pandemia.
 
 Os recentes levantes antirracistas que aconteceram nos Estados Unidos, em protesto após o assassinato brutal de George Floyd, tiveram ressonância em vários países no mundo e, aqui no Brasil, se juntaram às manifestações antifascistas. Tivemos atos em várias cidades, unindo atividade política online e presença nas ruas.
 
 Uma das novidades foi a greve dos entregadores de aplicativos. São trabalhadores que passaram a receber uma demanda muito maior durante a pandemia, o que aprofundou uma situação de precarização extrema do seu trabalho. Tudo indica que continuarão a ocupar a rua por direitos, politizando esse lugar que é parte da sua própria condição de trabalho.  
 
 Nas redes sociais, muito pode ser feito e está sendo feito. Temos dinamizado e potencializado o uso das plataformas digitais, mas isso não é tudo. Precisamos repensar e recriar formas seguras de convivência presencial para seguir impulsionando as lutas, durante e após esse período crítico de enfrentamento à pandemia.

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SALVADOR SCHAVELZON

[Uma única resposta para as três perguntas acima]

As ruas podem ser um espaço de abertura contra a natureza fechada das instituições. Toda instituição determina um cercadinho, uma definição restrita de cidadania, uma forma específica de excluir e representar a luta social. Mas não vejo as ruas como sempre e necessariamente abertura. As instituições e o disciplinamento aprenderam faz tempo a lidar com as ruas. Muitas ruas aparecem como desfiles enquadrados, nostalgia, expressão impotente de quem se sente bem manifestando mas não altera o funcionamento de um poder que percorre tudo, até mesmo à lógica de mobilizar. Os atos na Paulista, as palavras de ordem da esquerda, as marchas em Brasília financiada com milhões de estruturas políticas sem vida totalmente adequadas à paisagem do já estabelecido: são ruas ritualizadas, esperadas, cheias de verdades que não foram. 

Muito da oposição a Bolsonaro segue um padrão impotente, dos certos e civilizados que querem voltar ao governo contra a barbárie.  É triste ver como a máquina de horror que é Bolsonaro às vezes mostra mais energia contra o sistema do que uma esquerda que prefere ficar no lugar da razão a se aproximar do jogo político real. Só no jogo político real podemos conseguir vitórias na disputa mais ampla onde Bolsonaro e todos os governos se situam. Temos então de pensar nas ruas que explodem de repente, param a cidade, movimentam as peças do tabuleiro, ou se impõem contra empresas, contra o racismo interiorizado, contra impérios ou Estados militarizados. 

Junho de 2013 foi a rua da ruptura, da redefinição dos possíveis. E é sintomático como certa esquerda que hoje habita as ruas sem força questiona o acontecimento com desconfiança. O que teria aberto o caminho para a queda de um mundo que não fazia sentido para muitos não seria a falta de compromisso com o que Junho disse, mas a própria explosão da política nas ruas. Para esse pensamento, toda rua que não seja ritualística enquadrada é perigosa. São falas do poder, do estabelecido, mesmo que seus enunciadores se encontrem fora do governo. 

Precisamos sair dessa ideia de que quem está na rua quer ser governo um dia, um governo melhor. As ruas são fortes quando dizem algo no momento em que se manifestam. Não são “demandas” que alguém vai poder organizar e levar para o governo ou representar um dia.  Vemos nas ruas a construção de governos e representantes: o som alto do carro de som; as disputas de aparecer com a maior bandeira ou mais à frente, de “levar” tantos milhares; o líder que a mídia corre para entrevistar, ou inventar, se for preciso.   

A rua é forte e reorganiza o real quando não é traduzível, não é representável, não se reduz a demandas concretas que uma autoridade possa atender para que todos voltem para casa. É o que determina seu perigo, única forma de ser uma força real no jogo político, porque ela não é um cálculo político para uma institucionalidade posterior, ela tem força porque irrompe como mundo novo que só pela sua existência já redefine todo o anterior e o que virá. 

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Mikael Peric  é membro da Escola de Ativismo. Entre suas atividades, compõe o Núcleo de Ação e Não-violência que se dedica a pensar e realizar processos de aprendizagem em ação direta. Biólogo, mestre em Ciências pela EACH (USP), se dedica a pensar a Evolução do Comportamento Humano através da perspectiva darwinista. Budista, vive a Não-Violência como paradigma de ação e luta.

Áurea Carolina de Freitas e Silva é deputada federal por Minas Gerais pelo PSOL (Partido Socialismo e Liberdade), educadora popular, especialista em gênero e igualdade pela Universidade Autônoma de Barcelona e mestra em ciência política pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Em 2016, foi a vereadora mais votada de Belo Horizonte.

Salvador Schavelzon é antropólogo e professor da Universidade Federal de São Paulo.

Fundo Casa lança editais de projetos para Norte e Nordeste

Estão abertas até 10 de agosto duas novas chamadas de projetos do Fundo Casa com foco no direito ao território, uma para a região Norte, outra para a região Nordeste.

A chamada da região Norte é do programa Casa Cidades Amazônicas 2020, que visa fortalecer as comunidades amazônicas frente ao debate sobre mudanças climáticas, direito ao território e justiça socioambiental. Formação de grupos locais, elaboração de políticas públicas, ação de mulheres e jovens e outras iniciativas de fortalecimento da participação social estão previstas no escopo do edital. Serão selecionados até 35 projetos de até R$ 30 mil.

Para a região Nordeste, a chamada tem como objetivo apoiar trabalhos de grupos e movimentos de base com os temas do Direito à Cidade, Territórios Colaborativos e Sustentáveis e Cultura de Paz, em articulação com Objetivos de Desenvolvimento Sustentável relacionados com saneamento, energia, mudanças climáticas, entre outros. Serão apoiados projetos de fortalecimento institucional, políticas públicas, trabalho em rede e promoção da conexão entre campo e cidade.Serão selecionados 38 projetos de até R$ 30 mil. 

O Fundo Socioambiental Casa tem o propósito de “promover a conservação e a sustentabilidade ambiental, a democracia e a justiça social” por meio do apoio a organizações e iniciativas da sociedade civil. Desde 2005 apoiou mais de 1.700 projetos em toda a América do Sul.

Mais informações sobre os dois editais em http://www.casa.org.br/pt/casa-cidades-norte-e-nordeste/

As ruas, por Anielle Franco, Rosimeri Dias e Zenite

Apresentamos as mesmas questões para um conjunto de pesquisadores e ativistas sobre um tema inescapável de toda luta social: as ruas. O resultado dessa consulta TUÍRA publica, a partir de hoje, em blocos de três comentários.

Abaixo segue a reflexão de Anielle Franco (diretora do Instituto Marielle Franco), Rosimeri Dias (professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro-UERJ) e Zenite (anarquista e morador de ocupação em Belo Horizonte).

Qual o significado da rua para a mobilização e as lutas sociais no Brasil? Esse significado está mudando agora?

ANIELLE FRANCO

As ruas sempre foram espaço de encontro da vida real e, portanto, são o palco do trabalho, da celebração e da reivindicação de direitos. Foi indo às ruas que muitos dos nossos direitos foram conquistados. Mesmo com a chegada da internet e das manifestações digitais, a ida para a rua muitas vezes ainda é o que caracteriza a materialização e a virada de chave de um movimento. No contexto da pandemia a rua continuou sendo o centro do debate, mas pela primeira vez, no lugar inverso: protestar era não ir às ruas. Mas como a realidade do povo preto e favelado consegue ser mais dura do que a própria pandemia, nós tivemos que continuar indo às ruas para organizar os mutirões de cestas básicas e garantir a sobrevivência do nosso povo. As pessoas doavam de casa assistindo às lives, mas era o povo nas favelas que tinha que se organizar para distribuir as ajudas. Pra piorar, com o Estado seguindo a política de invasão de casas e genocídio da população negra, no mês de junho foi necessário retornarmos às ruas (com todos os medos, cuidados e dúvidas que isso significava) para gritar: não queremos morrer nem de vírus, nem de fome e nem de tiro.

ROSIMERI DIAS

A rua tem um corpo social e um corpus de saberes forjados, de modo presencial, espacialmente. Digo isso porque a rua possui uma dimensão heterotópica de produção de corpos sociais e coletivos imensuráveis. No Brasil, ela ganha uma força ativa que liga corpos com gestos ético-estético-políticos de constituição de espaços outros, pela luta e presença intensiva. Penso que este sentido se transforma permanentemente. Hoje, com a pandemia e o pandemônio, vivemos ruas que produzem um sentido de coletivo e do cuidado ou não com a vida, uma vida, a de si e a de outros. Há uma exigência do presente em estar nas ruas… mas como? Com que dispositivos habitaremos as ruas novamente?

ZENITE

A rua é o principal palco da ação política popular. Vimos em 2013 as ruas tomarem novamente o centro da ação e da mudança social após uma década de cooptação e pacificação dos movimentos pelo governo do PT. Desde então, este ponto de encontro da (anti)política foi mais ou menos usado contra os megaeventos da era petista, contra os cortes em saúde, educação e cultura do governo Temer e depois para barrar a eleição de Bolsonaro. E vem sempre emergindo quase que rotineiramente contra despejos, contra a violência policial e outras formas de resistência e revolta. Nos últimos anos, vimos a direita tomar conta das ruas e chamar a atenção com atos comportados nos fins de semana, carreatas, panelaços e outras formas de fazer seus “protestos a favor”. Isso é o que acontece quando as pessoas deixam de ir para as ruas para lutar por mudanças sociais profundas e permitem que autoritários se apresentem como “rebeldes” que exigem reformas que apenas concentram a violência e a exclusão nos mesmos grupos historicamente marginalizados. Assim, o significado da ação na ruas está sempre em disputa. Se não agirmos, perderemos essa disputa e a imagem da revolta passará a ser a imagem das classes médias e altas demandando “mais ordem” e não o fim da ordem. O papel das ruas, quando ocupadas, é sempre o mesmo: ser o ponto de encontro das pessoas e de confronto com a política feita nos palácios e dos governos. Ela pode ser mais ou menos usada dependendo do período, mas é sempre onde as forças dos oprimidos se encontram e se ampliam.

Quais, na sua opinião, são os prós e contras de se ir às ruas hoje?

ANIELLE FRANCO

Ir às ruas é arriscado e necessário. Contraintuitivo e urgente. Vivemos uma realidade política tão surreal que estamos indo às ruas pelo nosso direito de ficar em casa em segurança.

ROSIMERI DIAS

Como disse, sou em prol da vida… uma vida! Penso que a questão não é simples para se expressar em binarismos, como uma listagem com duas colunas. O desafio é o de ampliar o grau de suportabilidade para viver o presente e ter a coragem para intensificar a força problemática que pode talvez, no debate, remoto, seguir forjando saídas para encontros que abrem espaço e tempos para uma heterotopia. Nessa linha, a favor de uma vida, penso que seja – sim – possível inventar modos outros de explicitar um levante coletivo para fazer emergir essa possibilidade de estar nas ruas remotamente, num primeiro momento e, em seguida, ganhar um corpo intensivo. Talvez a questão permaneça, mas como? Esse exercício de uma militância no presente exige de nós muitas conversas, tessituras, paciência, debate em uma dimensão ensaística, como uma experiência modificadora de si, para forjar caminhos, estratégias, análises de efeitos, práticas… Insisto, como? É possível dizer que não sabemos. Sim! O checklist, com prós e contras, não é ferramenta única para criar modos outros de estar na rua. Talvez ajude. Mas o que precisamos é afirmar um modo de vida que suporte a fricção permanente, como nos disse Aílton Krenak.  Ou também, como tenho dito regularmente, com uma formação inventiva de professores que lute por manter vivo um campo problemático. Com encontros e conversas teceremos, friccionando o presente, coletivamente, modos não conformados e não consensuais para a luta que é permanente por uma vida que se aproxime e nos aproxime de uma dimensão comum.  Com certeza, há muitos riscos. Mas é sempre bom lembrar que o risco é signo de liberdade!

ZENITE

Os contras são apenas um: nos expor ao risco de aglomeração nas ruas, no transporte ou, nos piores cenários, parar nos hospitais ou prisões devido à ação da polícia e seus capangas. No mais, ir pras ruas barrar os avanços do populismo e do fascismo é uma atividade essencial. Se as elites não veem problema em nos obrigar a nos aglomerar em ônibus lotados, em filas esperando o auxílio emergencial, nos subempregos e serviços de entrega que prosperam enquanto a maioria de nós não tem outra alternativa, então podemos nos reunir nas ruas para bloquear o fluxo de mão de obra e de mercadorias. Como qualquer atividade nesse momento, é preciso todo cuidado, respeitando as normas de distanciamento e usando máscaras, até porque isso é o que vai barrar os patrões de hylux querendo que o comércio reabra e que a tirania da “normalidade” volte a imperar.

O que pode ser feito fora das ruas neste momento?

ANIELLE FRANCO

É necessário experimentar. No Instituto Marielle Franco nós temos criado ações de ativismo para lutar por justiça, defender a memória, multiplicar o legado e regar as sementes de Marielle. No dia 14 de março, quando realizaríamos o Festival Justiça Por Marielle foi justo o fim de semana da chegada da pandemia. TIvemos que reorganizar toda a estratégia para ações online e propusemos que as pessoas amanhecessem nas suas janelas com flores e lenços amarelos. Ocupamos as redes. Foi lindo. Nos 25 meses sem respostas, organizamos a ação “Janelas por Marielle e Anderson”, pautando o panelaço de todas as noites, com projeções em todo o Brasil. Hoje temos um financiamento coletivo online onde as pessoas podem nos ajudar sem sair de casa para que consigamos organizar ações antirracistas nas eleições.

ROSIMERI DIAS

O que há para o presente é manter viva esta chama de problematização, de fricção contra o problema do presente que é o ódio ao raciocínio, ao pensamento, à vida livre para produzir saídas outras. No site da Escola de Ativismo, há uma frase de Noam Chomsky que diz: “Se você vai a um protesto e depois vai para casa, já fez algo. Mas aqueles que estão no poder podem sobreviver a isso. O que eles não suportam é pressão constante e crescente, organizações que não cessam, pessoas que seguem aprendendo com o que fizeram e fazendo melhor nas próximas vezes”. Desde 2012, a Escola de Ativismo segue com um trabalho ativo de luta e afirmação da vida, que fricciona e mantém a rua como princípio de força, de problematização e invenção de outros possíveis. Sigamos afirmando a vida e forjando vidas não conformadas.

ZENITE

Hoje, pela primeira vez, é saudável não tentar convencer todas as pessoas com velhos slogans de que é preciso ir para a rua e lutar ombro a ombro em multidões. É preciso considerar que, neste momento, cada pessoa, cada grupo ou família, deve debater entre si quais os riscos que podem assumir correr. Dessa forma, lembramos que há muito trabalho a ser feito fora das ruas. Nos educar, nos informar, produzir materiais (seja um panfleto ou uma máscara caseira), articular campanhas solidárias, cozinhar para muita gente, levantar recursos, descansar, cuidar de si e da saúde, são todas atividades essenciais. Da Grécia ao Chile, movimentos sociais que permanecem muito tempo nas ruas em confronto com a polícia ou ocupando espaços públicos só tem sucesso porque existem pessoas apoiando com recursos e formas de cuidado que permitem as pessoas se manterem com energia e saúde para o combate. Nas revoltas recentes no Chile, vizinhanças inteiras forneciam água e abrigo para as vítimas das armas químicas e da violência policial, ou mesmo materiais para incendiar nas barricadas. No Equador, cantinas populares organizadas pelos movimentos indígenas alimentavam milhares de pessoas nas praças ocupadas em 2019. Nos levantes da Grécia em 2008, os centros sociais em bairros de imigrantes e em dezenas de prédios das universidades eram fundamentais para que manifestantes comessem, descansassem e voltassem a ocupar as ruas. Há tantas formas de luta quanto há pessoas e capacidades de criar e experimentar formas de se organizar. A coordenação e a dinâmica entre elas é o que determina o sucesso dos movimentos sociais.

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Anielle Franco é cria da favela da Maré no Rio de Janeiro. É bacharel em Jornalismo e Inglês pela Universidade Central de Carolina do Norte e bacharel-licenciada em Inglês/Literaturas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. É mestra em Jornalismo e Inglês pela Universidade de Florida A&M, e atualmente é mestranda em uma universidade federal no Rio de Janeiro (Cefet) cursando relações étnico-raciais com o foco na identidade das mulheres negras através da mémoria e legado de Marielle Franco, sua irmã e inspiração diária. Recentemente publicou seu primeiro livro chamado Cartas para Marielle e tem participação importante em muitos outros livros, incluindo a autobiografia de Angela Davis. Hoje trabalha como professora, palestrante, escritora e é a atual diretora do Instituto Marielle Franco, curadora do Projeto Papo Franco e também do curso Marielles. Colunista convidada da revista Marie Claire e Midia Ninja.

Rosimeri de Oliveira Dias ama animais humanos e não humanos, tem dois cães, é professora associada do Departamento de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Educação Processos Formativos e Desigualdades Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Atua com a temática da formação inventiva de professores, produção de subjetividade e estudos foucaultianos.  Autora de livros e editora da revista interinstitucional Artes de Educar.

Zenite é anarquista, morador de ocupação, editor e tradutor em diversos portais e publicações anticapitalistas.

JAUQUARA VIVO – Um rio é muito mais que suas águas para as comunidades quilombolas do Mato Grosso

Ao receber menos atenção que suas irmãs maiores, as chamadas Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) representam um projeto que, por sua escala, pode ser ainda mais danoso à natureza. Somente no Mato Grosso, estão previstas 135 barragens desse tipo, que podem levar ao colapso do Pantanal, maior área alagada do planeta. Um projeto para cortar ao meio dezenas de rios. Entre eles, o Rio Jauquara, a veia principal que liga, dá vida, comida e cultura para um complexo de comunidades quilombolas que, agora, estão na luta pelo seu rio.

A luta pelo JAUQUARA VIVO é a pauta do Comitê Popular do Rio Jauquara, formado por quilombolas ligados ao Comitê Popular do Rio Paraguai. Essas barragens representam um choque incalculável em uma bacia hidrográfica pertencente a 4 países – Brasil, Bolívia, Paraguai e Argentina –, atingindo diretamente mais de 120 milhões de pessoas.

Os quilombos que dependem diretamente do Jauquara estão nos municípios de Barra dos Bugres e Porto Estrela. São gerações de uma cultura estruturada a partir da relação direta com a natureza, tendo no rio uma centralidade. Atualmente, o projeto para a hidrelétrica tem o nome de PCH Araras. O projeto básico já foi aprovado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e segue em andamento.

A empresa responsável pelo empreendimento, a Prospecto Participações e Negócios, realiza estudos para entrar com o pedido de licenciamento ambiental na Secretaria de Meio Ambiente (Sema) do Mato Grosso. O processo, todavia, já está sendo questionado na Justiça pelo Ministério Público Federal. O procurador Julio Cesar de Almeida entrou com a ação questionando o projeto uma vez que as comunidades quilombolas não foram sequer consultadas sobre sua existência. A decisão da Justiça até o momento não foi emitida.

Porque as barragens são danosas aos rios

Os rios do Pantanal são conhecidos por seu período de cheia e de baixa. Esse equilíbrio delicado pode ser completamente alterado com o controle humano sobre o volume de água. Como forma de garantir que haverá sempre reserva de água para a geração de energia, os controladores das barragens determinam essa vazão. Para a natureza e as plantações que dependem desses ciclos para manter sua vida, isso significa o fim de colheitas e de vegetações nativas. No caso dos peixes, a situação é ainda mais grave, pois sem conseguir subir ou descer o rio para se reproduzir, diversas espécies entrarão em extinção nesses rios, levando a uma sequências de mortes em cadeia. Se até mesmo grandes cidades são impactadas por essa interferência, a situação é ainda mais grave em comunidades tradicionais que dependem dos rios para seu sustento e modo de vida, como os quilombolas do Vão Grande.

Eleições antirracistas, uma ação para já

Educafro, Instituto Marielle Franco, Mulheres Negras Decidem e Coalizão Negra por Direitos, com apoio do Pacto pela Democracia e uma série de outras organizações, estão convocando uma mobilização popular para pressionar o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a aprovar a distribuição proporcional dos recursos eleitorais para candidaturas negras nas próximas eleições de 2020. É uma forma de ajudar a desmontar os mecanismos do racismo estrutural: neste caso, no processo eleitoral.

ENTENDA

Nas eleições de 2018, homens brancos eram 43% do total de candidatos e receberam 58,5% dos recursos dos partidos destinados às campanhas. Homens negros eram 26% e receberam 18%. Mulheres brancas alcançaram 18% dos recursos, compatível com o número de candidatas (também 18%). Mas as mulheres pretas (13% das candidaturas) tiveram direito apenas à metade: 6,7% dos recursos eleitorais.

No dia 30 de junho, o TSE colocou em votação o tema da distribuição proporcional dos fundos partidário e eleitoral e do tempo de propaganda eleitoral a candidatas e candidatos negros. Há 2 votos a favor da idéia, mas o ministro Alexandre de Moraes pediu vista do processo, o que pode atrasar a decisão e impedir que isso valha a partir das eleições deste ano.

A campanha pelas Eleições Antirracistas é para pressionar os ministros do TSE a concluir a votação o mais rápido possível de modo a garantir a distribuição proporcional já em 2020.

PARTICIPE AGORA

No site da campanha – clique aqui – você pode enviar um email diretamente aos ministros do TSE manifestando seu apoio à ideia.

Outra forma de apoiar é ajudar a ampliar a divulgação da campanha pelas mídias sociais, whatsapp, email etc, avisando as pessoas, chamando amigos e amigas.

Mais informações você encontra no site das Eleições Antirracistas.

LabCuidados – cuidado ativista é estruturante! Módulo 1: Insônia

Oi. Esperamos que esse post te encontre bem e com saúde no momento dessa leitura. Trazemos pra você saindo do forno uma iniciativa muito importante do #LabCuidados, da Escola de Ativismo, cujo objetivo é a experimentação e sistematização de saberes populares para abrir o código do cuidado para que seja acessível a todas/os. Mercantilização não tem vez aqui. 

No módulo 1 dessa invenção, o tema é a insônia, mal da contemporaneidade e do nosso aperreio cotidiano. O sono é alvo direto do capital, pois representa o tempo não-produtivo, hoje dormir com qualidade é um luxo que a mídia informa que pode ser comprado ali no remedinho mais próximo. E isso é tudo o que essa publicação tem a intenção de enfrentar.

A proposta é tratar do tema de forma integral, trazendo os temas da reclusão, do trabalho remoto e da insônia, desde aspectos da fisiologia do sono à alimentação e mudança de hábitos possíveis.

Nas palavras do lab, “esse é um primeiro zine experimental para falarmos sobre saúde e ativismo sob uma perspectiva feminista, antirracista e autonomista“. E seguem, nas suas palavras, sobre o projeto: Pretendemos fazer uma série de zines que irão abordar os desequilíbrios que temos visto mais comumente entre as pessoas que estão em isolamento social. Reconhecemos que existem muitas pessoas que não tem a opção de estar em isolamento e também precisam de materiais e cuidados específicos para os desafios e sofrimento que é estar exposta/o diariamente ao vírus.Este guia foi construído para promover autonomia nos processos de saúde entre ativistas que buscam justiça social e o fim da cultura patriarcal, racista, homofóbica e sexista.

A coletiva disponibilizou seu e-mail para críticas e sugestões, só chegar em labcuidados@riseup.net

Um contrafeitiço circula pelas ruas, de bicicleta

O retrato que Natália Lackeski e Cadu Ronca, do Instituto Aromeiazero, fazem das mazelas e lutas dos cicloentregadores não deixa dúvida: ali está um ponto nevrálgico do sistema de exploração e, ao mesmo tempo, uma oportunidade potente de transformar os rumos das cidades, resistir à precarização e fortalecer formas de colaboração e solidariedade

Urgência e retomada

Começamos o ano de 2020 cheias de planos, metas e objetivos. Íamos colocar na rua mais uma edição presencial do curso do Viver de Bike, nosso projeto que promove a geração de renda por meio da bicicleta. Até então, era um curso presencial que abordava mecânica de bicicleta, empreendedorismo, geração de renda e pedalar na cidade. Durante as aulas, os alunos reformam bicicletas antigas e sem uso que conseguimos por meio de campanhas de doações e, no final, a bicicleta fica com eles como uma ferramenta para realizar o negócio que eles idealizam ao longo do curso. Apesar de atuarmos com uma população periférica de São Paulo, da Cidade Tiradentes ao Grajaú, o curso acontecia no Clube da Comunidade (CDC) Arena Radical, na Vila Olímpia, um dos centros financeiros da cidade. Mas este ano, depois de uma série de experimentações, decidimos inverter a lógica, indo até os territórios com um olhar de empreendedorismo e geração de renda que vê a bicicleta como ferramenta de fortalecimento das economias locais.

A pandemia veio e fez com que o curso presencial deixasse de ser uma possibilidade por enquanto. Revisitamos nossas ações para entender o papel do Viver de Bike nessa nova situação. Nosso olhar foi para urgência – os problemas de agora, principalmente a partir da pandemia – e também para a retomada – o caminho a ser construído para o que virá após a pandemia.

No âmbito da urgência, o que identificamos foi o crescimento do trabalho de ciclologística e o aumento exponencial da precarização do trabalho. A logística já era um mercado expressivo na cadeia econômica da bicicleta, mas tomou uma proporção sem precedentes com a pandemia. Vemos muita gente que perdeu o emprego ou não pôde mais exercer sua atividade profissional encontrar nos aplicativos de entrega uma forma de conseguir renda imediata. E a bicicleta é a principal porta de entrada dessas pessoas: é barata, acessível e não exige documentação específica. Além disso, a logística se tornou fundamental para que os negócios locais, que estão em situação de fragilidade, se mantenham em operação e minimizem seus prejuízos. Foi com esses elementos que repensamos o projeto Viver de Bike em 2020.

Surgiu a oportunidade de fazermos uma ação emergencial de valorização e apoio aos cicloentregadores. Assim nasceu o Pedal Contra Corona, que realizou revisões gratuitas de bike e entrega de kits com máscaras e álcool gel. Como contrapartida pela revisão gratuita, pedíamos o preenchimento de um pequeno formulário para entendermos as maiores dificuldades e preocupações dos entregadores. Conseguimos mais de 60 respostas e fizemos sete entrevistas em profundidade. Isso, somado à pesquisa do Perfil dos Entregadores Ciclistas de Aplicativo feita pela Aliança Bike antes da pandemia foi, fundamental para construir e embasar nossa atuação nesse campo.

Contradições

Hoje, enxergamos que a maior parte das pessoas que trabalham com ciclologística são de baixa renda e moradoras de periferias. O principal motivo para elas ingressarem nesse trabalho é a necessidade de renda, e isso vem acompanhado de outros motivos, como gostar de pedalar. A indicação de amigos e redes em grupos de WhatsApp também é muito importante. Existe até uma cena de youtubers que postam vídeos sobre como acessar esse tipo de trabalho. As pessoas escolhem os aplicativos porque, além de desconhecerem outras formas de trabalhar com ciclologística que não esse modelo hegemônico, não há formalidades para iniciar a atividade: não é necessário fazer entrevista de emprego, enviar um currículo ou passar por uma formação. E, principalmente, busca-se flexibilidade de horário e maior autonomia dentro de uma hierarquia. O sentimento de ser o próprio patrão, apesar de estar repleto de contradições, perpassa a maior parte desses trabalhadores. Mas, na realidade, muitas pessoas trabalham dez horas por dia e fazem de cinco a dez entregas. A remuneração diminuiu muito no período de pandemia – especula-se que isso seja por conta do aumento do número de entregadores – enquanto o faturamento dos aplicativos cresceu 30%.

Quando perguntamos qual o lado ruim de se trabalhar com entrega, o medo, em geral, é muito marcante. No nosso questionário, as pessoas citavam medo de não voltar para casa, medo de pegar Covid-19, medo de serem roubados, medo de serem confundidos com assaltantes, medo da bicicleta quebrar, medo de ser mulher… Mas, mesmo em uma pandemia, o medo da violência no trânsito foi muito expressivo. Também existem preocupações com a falta de transparência dos aplicativos: os trabalhadores não sabem como nem por que são bloqueados, por exemplo.

Atualização da luta de classes

Estamos vivendo há alguns anos um boom de inovação e startups. E vemos grandes startups de entrega ganharem um cartaz de inovação usando a velha exploração de uma classe não privilegiada. Não há nada de inovador nisso: é a tecnologia sendo usada para explorar o trabalho humano. As pessoas são pegas em uma armadilha de trabalho que quase inviabiliza que elas saiam desse modelo ou busquem outros sonhos. Se você trabalha dez horas por dia e ainda tem que ir e vir de casa, como você vai se dedicar a qualquer outra coisa?

É diferente de um comerciante, que abre a banquinha dele e depende do cliente chegar ou não para ele faturar. No caso de um aplicativo, existe um intermediário que controla o fluxo de clientes. Não é um trabalho conforme a CLT, mas está longe de ser autônomo.Se o aplicativo se apropria muito da situação, ele corre risco trabalhista. Então, ele fica no limite da responsabilidade possível, oferecendo nada além do mínimo.

É uma atualização da luta de classes. Quem produz não possui os meios de produção. O intermediário introduz uma tecnologia. A legislação trabalhista já não dá conta dessa realidade e o regime da CLT já não é atraente em um cenário em que os trabalhadores desejam autonomia sobre o próprio tempo – ainda que essa autonomia não seja realizada nos aplicativos. Os sindicatos perdem força e os aplicativos emergem como um símbolo forte, oferecendo uma “solução” problemática para quem fica mais vulnerável nesse cenário econômico. Não é à toa que o Audino Vilão, quando fala de Karl Marx, usa o exemplo do entregador de aplicativo.

Falamos muito de empatia, de pensar no outro, mas na hora de termos a comodidade de pedir um lanche para ser entregue em casa em plena chuva, esquecemos que alguém vai pegar essa chuva por nós. É uma falta de senso de ação e reação parecida com a que acontece quando alguém joga algo no lixo e acha que aquele lixo vai desaparecer. Temos que ter esse olhar sistêmico sobre os serviços que acessamos para conter a desumanização do trabalho.

Alternativas

Em última instância, a entrega de bicicleta só pode ser justa e eficiente para todos sem intermediários, porque o valor pago aos intermediários absorve os benefícios, direitos e grande parte dos valores que deveriam pertencer a quem está fazendo a entrega ou aos próprios restaurantes. Mas, enquanto existirem, os aplicativos seguirão possibilitando a geração de renda de milhares de pessoas que precisam sobreviver. Eles precisam se responsabilizar por esse papel social, compreendendo quem são seus colaboradores, a fragilidade em que se encontram e, principalmente, a questão estratégica desse modelo de negócio: sem o entregador e o restaurante, o aplicativo não é nada.

A primeira solução, então, é uma revisão dos próprios procedimentos dos aplicativos e uma atuação mais transparente, incluindo a participação dos próprios entregadores na configuração da tecnologia.

Além disso, quando falamos de ciclologística, os aplicativos não serão os primeiros, nem os últimos modelos. O ecossistema é muito maior. Existem empresas desse ramo que contratam seus entregadores de acordo com a CLT e operam de forma organizada e eficiente. As cooperativas também estão crescendo e se fortalecendo, embora, em geral, elas precisem de um tempo maior para se formalizar. Em São Paulo, a cooperativa que tem maior visibilidade e que está finalizando seu processo de formalização é a Giro Sustentável. Também há os coletivos, como Sinkro Mess e Señoritas Courier, que se organizam de forma similar às cooperativas, mas atuam à margem das burocracias formais e têm gestões mais dinâmicas e flexíveis parecidas com as dos coletivos que vêm dominando a cena cultural nos últimos anos. Esses grupos investem um capital social enorme para se organizar e manter uma visão de justiça social, colaboração e horizontalidade.

Uma alternativa que consegue competir em escala e complexidade com os aplicativos é o trabalho direto com os estabelecimentos. É importante lembrar que as altas taxas dos aplicativos são um problema também para eles, como apontou a pesquisa Alimentação na Pandemia, da Galunion e Associação Nacional dos Restaurantes (ANR). Para incorporar a taxas, os restaurantes precisam aumentar o preço, mas nem sempre esse aumento recebe adesão dos consumidores, e os aplicativos também fazem promoções que são parcialmente pagas pelos estabelecimentos. Negócios pequenos acabam levados à falência. Por isso, vemos também um movimento dos restaurantes desenvolverem os próprios aplicativos, automatizarem seus serviços, empregarem os próprios entregadores ou fazerem parcerias com os coletivos e empresas alternativas que citamos. E a ciclologística não é só a entrega: existe um trabalho comercial, de prospecção de clientes, atendimento, desenho de rota, entrega, coleta e prestação de contas, mas nem todo mundo tem o perfil ou desejo de realizar todas essas atividades. Os estabelecimentos podem ancorar essas etapas, empregando seus próprios entregadores, como se fazia nas farmácias e pizzarias há alguns anos.

Por fim, não podemos minimizar a importância do poder público em garantir que as entregas cada vez mais essenciais sejam feitas de forma digna. Regulamentar o serviço, aplicar os impostos e taxas (ou parte deles) em educação, conscientização e infraestrutura para ciclistas e pedestres são medidas indispensáveis. E é preciso regulamentar e fiscalizar as legislações específicas, como é a Política Municipal de Ciclologística, uma lei pioneira no Brasil mas que ainda precisa de regulamentação para ser efetivada. 

Contrafeitiço

A filósofa francesa Isabelle Stengers definiu o capitalismo como um sistema capaz de gerar enfeitiçamentos, levando ao que ela chama de “alternativas infernais”, que são igualmente ruins e não têm saída. A entrada dos trabalhadores nos aplicativos é um exemplo disso: ou você trabalha, ou você não leva renda para sua família, e quando você se submete, ainda acha que tem liberdade dentro disso. Ela também diz que é importante criar os contrafeitiços, e é aí que entra o que entendemos como hackeamento. Lançar um contrafeitiço no sistema capitalista passa pela descentralização, pelo investimento no local e pelo desenvolvimento de novas centralidades.

A periferia – que não é periferia, como dizem os muitos pensadores de quebrada – faz parte dessas outras centralidades. E a bicicleta é integrada à solução local, à possibilidade das pessoas trabalharem e gerarem renda nos seus próprios territórios, à diminuição do movimento pendular das periferias ao centro. Ela é o veículo mais eficiente em distâncias de até cinco quilômetros e não tem as externalidades que as motos e os carros têm, como barulho, poluição e mortes no trânsito. Os novos aplicativos, os sistemas próprios de entrega, as outras formas de contratação e uma regulamentação moderna para o setor também fazem parte desse hackeamento.

No Viver de Bike, colaboramos para a criação desses negócios que são urgentes. Quando falamos de empreendedorismo, além de falarmos de trabalho digno, colaborativo e que tenha impacto positivo na sociedade, falamos em criar soluções que pensam o território, que fortalecem os seus. Já o Delivery Justo, a campanha que lançamos agora dentro do Viver de Bike, pretende conectar os negócios que precisam fazer entregas com os entregadores que pedalam naquela região e com as cooperativas e coletivos locais. É um dos nossos contrafeitiços: uma campanha com olhar territorial.

Simbolismo da luta

A paralisação dos entregadores em 1º de julho é uma grande vitória e um disparador importantíssimo de um contrafeitiço. Na França, os relatos são de que os entregadores conseguiram melhores remunerações e direitos depois das paralisações. Os aplicativos, em sua lógica neoliberal, dizem: “Somos a favor da greve e do direito à manifestação, mas quem sair para trabalhar no dia da greve vai receber bastante”. É importante sairmos desse encantamento, desse feitiço que busca mercantilizar tudo. A paralisação tomou proporções grandes, com cobertura da mídia, lives, posicionamento de empresas e de lideranças políticas. Estávamos um pouco carentes desse tipo de manifestação. Ela carrega o simbolismo de que, hoje, um grande movimento está sendo levantado pela classe mais precarizada, e fora de um sindicato.

Para nós, que temos esse olhar e atuamos com a bicicleta como forma de cidadania e transformação social, é muito perverso ver ela se transformar em uma ferramenta que possibilita a precarização do trabalho e a exploração das pessoas que já são historicamente subalternizadas. Na lógica dos aplicativos, as pessoas que estão na rua fazendo entregas são retratadas como indivíduos autônomos, concorrentes uns dos outros, e não como uma classe. Mesmo assim, elas conseguiram enxergar um laço de solidariedade entre si para pautar as mudanças no seu modelo de trabalho. Ainda que o número de motofretistas seja muito maior, as bicicletas e motos estão juntas nessa luta, que é uma só. Isso é muito bonito, além de urgentemente necessário para gerar serviços que tragam comodidade e efetividade, mas que também estejam pautados trabalho digno. Essa transformação é possível. E a bicicleta é uma grande aliada que deve reforçar seu papel histórico de promoção de autonomia, emancipação, independência e humanização da cidade.

Natália Lackeski é coordenadora de projetos no Instituto Aromeiazero, Bacharel em Produção Cultural pela UFF e especialista em Gestão de Inovação Social pelo Instituto Amani. Atua nas áreas de cidades sustentáveis, engajamento comunitário e cultura, com experiências no setor público e social.

Cadu Ronca é diretor e fundador do Instituto Aromeiazero. É advogado e especialista em Gestão de Sustentabilidade pela FGV-SP e em Gestão de Negócios Socioambientais pela FIA-USP / IPÊ – Instituto de Pesquisa Ecológicas. Atua na área socioambiental e de engajamento comunitário, especialmente a partir da bicicleta.

O Instituto Aromeiazero é uma organização sem fins lucrativos que promove uma visão integral da bicicleta, não só como transporte, mas também como expressão artística, oportunidade de renda, lazer, esporte e também como ferramenta de mudança no modo de vida e humanização das relações nos centros urbanos. Seus projetos, como o Viver de Bike, Bike Arte e Rodinha Zero, buscam reduzir a desigualdade social e tornar as cidades mais resilientes.

SAIBA MAIS

Site do Instituto Aromeiazero: https://www.aromeiazero.org.br/

Campanha Delivery Justo: https://www.aromeiazero.org.br/deliveryjusto

Audino Vilão explica Karl Marx: https://www.youtube.com/watch?v=y6eyQ8fgIf4se

Cooperativas e empresas de entrega justa…
 … em São Paulo:
 Giro Sustentável – https://www.instagram.com/girosustentavelentregas/
 Señoritas Courier – https://www.instagram.com/senoritas_courier/
 Sinkro Mess – https://www.instagram.com/sinkromess/

… em Porto Alegre:
 Pedal Express – https://www.instagram.com/pedalexpress/

Um olhar sobre o papel do poder público na questão da ciclologística (Cadu Ronca e Murilo Casagrande pela Agência Envolverde Jornalismo)

“Compras por aplicativos têm alta de 30% durante pandemia, diz pesquisa” (Letycia Bond pela Agência Brasil)

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Créditos das imagens: Carolina Santaella, Rogério Viduedo e Fluxos Imagens

Boletim #31

Versión en español aqui.

Especial: Covid19

Olá, companheires, esperamos que esse boletim lhes chegue em um bom momento, apesar de todos os pesares. Num cenário pandêmico, onde se unem crise política e econômia, tentamos trazer para este boletim notícias que são necessárias (mas nem tão boas assim) e que terão um aviso de [baixo astral] e outras notícias que são inspiradoras e fontes de esperança, nomeadas de [alto astral], como aviso para possíveis gatilhos.

Demos destaque as notícias sobre racialidades, visto que o mundo tem se levantado contra o racismo mais contundentemente neste momento. #VidasNegrasImportam

Esperamos que você esteja se cuidado e que use este boletim da melhor maneira possível.

Abraços da EA


Racialidades [alto astral]

Nossa inspiração do momento agora tem canal próprio de vídeos. Curtam e assistam o advogado, filósofo e professor Silvio Almeida tanto quanto nós <3. Acompanhe o canal no youtube.

Vídeo sobre racismo estrutural e a realidade brasileira com Professor Silvio Almeida e Djamila Ribeiro, também no youtube.

Conversas impertinentes – Feminicídio, genocídio e pandemia uma conversa com Angela Davis, Naomi Klein e outras jovens ativistas sobre as saídas para a crise, assista no youtube.

Allan da Rosa, escritor, educador popular, Angoleiro, historiador, mestre e doutorando em Educação pela USP publiciza ao poucos seus estudos sobre branquitude. Confere no perfil dele no Instagram.

Emicida em entrevista potente sobre racismo, violência, microbiologia e outras formas de existir. Assista no UOL.

#BlackoutTuesday: racismo e hipocrisia corporativa. No Nexo Jornal.

5 obras para a branquitude crítica compreender seu papel na luta antirracista – por @aquelaprofagab. Veja no twitter.

A Revista Afirmativa está com uma série de conversas sobre branquitude todas as segundas-feiras. Dá um check no Instagram.

Denise Carrera no seu artigo propõe a necessidade de engajamento das pessoas brancas na luta antirascista. Matéria completa na revista Sur Online.

Nas discussões sobre crise pandêmica e um mundo global, o Professor Milton Santos já apontava caminhos para o Brasil. O Uol fez uma linda timeline biográfica sobre o filósofo baiano.


Resistências ♥ [alto astral]

Tuíra de emergência:

Produzir memória. Amplificar vozes. Mover o pensamento. Inspirar ações. Estes são alguns dos motores da série “Tuíra de emergência: uma revista sobre ativismo na emergência”, que passa a ser publicada semanalmente pela Escola de Ativismo.
Na forma de textos produzidos a partir de conversas com ativistas em diferentes territórios e lutas, buscamos circular as ações e as (re)invenções resultantes da luta pela vida no enfrentamento das crises provocadas pela pandemia. A primeira da série registra as transformações pelas quais passou o Serviço Franciscano de Solidariedade – SEFRAS, ao identificar o avanço brutal da fome nas ruas e nas periferias da cidade de São Paulo. Navegue pela Tuíra de Emergência.

O Dia da/o Pedagoga/o: lembranças do que devemos ser em tempos furiosos

Em um mundo entregue à superficialidade nas relações humanas, às normas heteropatriarcais, aos enclaves da injustiça social que transformam a miséria humana e a dor do próximo em espetáculo, ser pedagoga/o é ousar desejar. Veja no Jornal GGN.

O homem que arruinou a extrema direita nos EUA

O perfil se chama Sleeping Giants, tem 250.000 seguidores e sua descrição diz: “Um movimento para tornar o fanatismo e o sexismo menos lucrativos”. Em seguida, uma citação de Steve Bannon sobre o Sleeping Giants: “Eles são o pior que há”. Matéria no El País.

Movimento Sleep Giants expõe empresas do Brasil que financiam, via anúncios, sites de extrema direita e notícias falsas. No El País também.

“Uma Nova Normalidade”

É uma campanha de comunicação impulsionada pelo Conselho Latinoamericano de Investigação para a Paz, cuja finalidade é gerar uma corrente de opinião crítica da normalidade prévia diante da pandemia. Veja a campanha Una Nueva Relidad.

A Global Encryption Coalition (Coalizão Global de Criptografia, em tradução livre)

Promove e defende a criptografia nos principais países onde a criptografia está ameaçada. A coalisão também apoia os esforços das empresas para oferecer serviços criptografados aos seus usuários, confira no site GlobalEncryption.

Sociedade civil pede que tecnologias usadas devido à pandemia respeitem os Direitos Humanos

Sociedade civil alerta que durante a Pandemia os Estados, governos e comunidades da América Latina devem protejer e fortaler os direitos humanos no contexto digital, veja no site da Coding Rights.

Povos indígenas frente à covid-19

O Centro de Estudos Ameríndios da Universidade de São Paulo reuniiu e publicou textos e artigos sobre a cosmovisão dos povos amerídios frente a pandemia de covid19. Saiba mais no site da CestA.

A Rede Emancipa lista campanhas de solidariedades ativas no Brasil

A Rede Emancipa, que luta contra a barreira do vestibular e pelo processo de emancipação individual e coletivo da juventude periférica, por meio da educação popular está divulgando uma lista com diferentes iniciativas para minimizar o impacto da pandemia nas periferias. Site da Rede Emancipa.

Apoio Mútuo – Kasa Invisível

O apoio mútuo é um dos pilares do anarquismo. E é em crises como a pandemia de COVID-19 que ele se faz mais presente e importante. Esse vídeo é um registro das ações de apoio mútuo realizadas pela Kasa Invisível, ocupação e centro social em Belo Horizonte. Veja o vídeo no Vimeo.


Notícias [alto astral]

Vitória! ICANN Rejeita Venda .ORG para a empresa de Private Equity Ethos Capital [en]

Esta é uma importante vitória que reconhece o longo legado do registro como uma entidade sem fins lucrativos, baseada em missão, protegendo os interesses de milhares de organizações e das pessoas que elas servem. Saiba tudo no site da EFF.


Notícias [baixo astral]

COVID-19 torna o acesso e a abertura à Internet uma prioridade absoluta

Enquanto nos mantém em casa à força, a pandemia do COVID-19 obriga-nos a enfrentar algumas questões difíceis. Como quase metade da população mundial pode ser regularmente excluída da Internet, que cada vez mais faz parte integrante de nossa vida social, política e econômica? Para abordar essa e outras questões o site Medianama organizou artigos do simpósio “Internet Openess”, veja tudo no site Medianama.

Coronavírus pode construir uma distopia tecnológica

O artigo da jornalista e pesquisadora Naomi Klein alerta para a distopia tecnológica a qual a crise do corona vírus pode nos proporcionar. Leiam e reflitam! No Intercept.

Informante da Apple vem a público por falta de ação [en]

Um ex-contratado da Apple, que ajudou a espalhar o programa da empresa para ouvir as gravações da Siri, decidiu vir a público. Leia no The Guardian.

Suas selfies de máscara facial podem estar treinando a próxima ferramenta de reconhecimento facial [en]

Pesquisadores estão buscando na internet fotos de pessoas usando máscaras faciais para melhorar os algoritmos de reconhecimento facial. Veja no CNET.

Fuzis ungidos e grafite gospel em muros da comunidade

Nação de Jesus: Traficantes do Terceiro Comando Puro (TCP) proíbem e expulsam praticantes de religiões de matriz africanas de seus domínios no Rio de Janeiro. No UOL.

Suprema corte da Índia falha em restaurar internet de alta velocidade nas cidades de Jammu e Caxemira durante a pandemia [en]

As pessoas da região ficaram restritas a apenas o acesso à Internet móvel 2G lento, desde que as autoridades suspenderam um fechamento geral da internet em janeiro de 2020, após uma decisão da Suprema Corte. Leia no site da Access Now.


POLÍTICA [baixo astral]

Polícia política?: Ministério da Justiça de Bolsonaro troca centenas de cargos na PF

Ministério da Justiça, sob comando de novo ministro, faz alterações na PF e muda 6 superintendentes regionais e centenas de outros cargos na sede e nos estados. As mudanças foram feitas através de 99 portarias. Matéria completa na Revista Forum.

Presidente recria Ministério das Comunicações e entrega pasta a genro de Silvio Santos

Deputado Fábio Faria (PSD-RN) comandará novo ministério, que era cobiçado por partidos do centrão. Matéria completa na Folha.

Presidente da Fundação Palmares chama movimento negro de escória maldita

Jornal divulgou áudios de reunião em que Sérgio Camargo xinga Zumbi; ele diz que gravações são ilegais. Leia na Gazeta Web.

A guerra global contra a população negra e nossa resistência histórica e global”.

Assista no Facebook.

Junho de 2013 e Junho de 2020 terão algo em comum?

O podcast Café da Manhã, debate e se debruça sobre as organizações dos dois momentos. Ouça no podcast da Folha.

Nossos corpos não serão descartáveis!

A pandemia e a urgência de uma democracia da abolição. Artigo da Revista Afirmativa.


Artigos e Análises [baixo astral]

Informe Anual da Artigo 19 – Dissonância [es]

Dissonância: vozes em disputa, busca refletir a tensão entre diferentes vozes e a impossibilidade de ouvir aquelas outras expressões que continuam a lutar para serem ouvidas. Neste relatório do México e América Latina, procuramos explicar os efeitos da polarização do pensamento e a necessidade de observar as diferentes arestas de uma crença. Leia no site Disonancia.

“As milícias bolsonaristas não vão aceitar a derrota e as esquerdas precisam se precaver”, diz historiador

Bolsonaro constituiu um dispositivo de milicianos e paramilicianos ligados às polícias militares que não vão aceitar a alternância de poder em caso de derrota no projeto de reeleição do atual presidente. Leia no Marco Zero.

Violência gera violência é a falácia colonial

Análise sobre as violências física e simbólica pelas Blogueiras Negras.

Dados e narrativas territorializadas em tempos de pandemia global

Um artigo sobre a importância do território e como a pandemia traz à tona ações locais com base na tecnologia. Leia no site da rede LAVITS.

Radar Legislativo: Especial COVID-19 e Tecnologia

Em menos de um mês, o Congresso Nacional propôs 18 novos projetos de lei relacionados à Internet e ao uso de tecnologia em tempos pós-coronavírus. Veja no site da Coding Rights.

Como o COVID-19 está alterando dados, IA e sociedade [en]

O Instituto Adalovelace fez um apanhado de textos e resumos sobre o tema. Site do Instituto Ada Love Lace.

O coronavírus transformará seu escritório em um estado de vigilância

De sensores de movimento a testes térmicos, a tecnologia de vigilância está crescendo à medida que as empresas procuram levar as pessoas de volta ao trabalho. Saiba mais na Wired.

A tecnologia é estúpida

O artigo aborda questões sobre qual tecnologia é boa, segura e apropriada para uso nesses tempos complexos. Como decidimos em qual tecnologia devemos confiar? No site da Tactical Tech.


Privacidade [alto astral]

Artigo do IP.Rec avalia como a criptografia homomorfica pode ajudar em meio a pandemia

Dado o delicado cenário causado pela pandemia, é aconselhável pensar em como todas as áreas do conhecimento podem arquitetar estratégias que evitem novas rupturas e crises sociais. Uma dessas áreas é a criptografia, no site do IP.Rec.

Privacidade e Pandemia: recomendações para o uso legítimo de dados no combate à COVID-19

O relatório lançado da dataprivacy auxilia agentes do setor público e privado de todo o território nacional a tomarem decisões que reduzam os riscos à privacidade no combate à pandemia. Relatório completo no Data Privacy Br.


Contact Tracing [baixo astral]

Não dá para escapar do tema, por isso fizemos uma seleção de links para saber tudo sobre rastreamento de contato (contact tracing), infelizmente a grande maioria são textos em inglês.

Definição de contact tracing na wikipedia [en]

Entrando no campo minado de rastreamento de contatos digitais [en]

Novo alerta sobre privacidade de dados dos aplicativos do vírus [en]

A API de notificação de exposição da COVID-19 da Apple e do Google: perguntas e respostas [es]

Fizemos um apanhado de links com a discusão em diferentes locais:

Guatemala [en] – Os aplicativos de rastreamento COVID-19 não devem interferir nos direitos humanos

India [en] – O aplicativo de rastreamento de contatos da Índia supera 100 milhões de usuários em 41 dias

Qatar [en] – A falha de segurança do aplicativo de rastreamento de contatos expôs detalhes pessoais sensíveis de mais de um milhão

Malasia [en] – Selangor apresenta SELangkah, o rastreador de contato que usa QR code

Europa [en] Contact tracing apps: um teste pela privacidade na Europa

EUA [en] – Aplicativos de rastreamento de contatos são a resposta?


Vigilância [baixo astral]

O serviço secreto pessoal no Palácio da Alvorada

O presidente montou um serviço secreto pessoal de informações para proteger seus filhos, parentes e amigos e que conta com relatos diários de integrantes da milícia do Rio de Janeiro. Leia na Isto é.

A pandemia e a pulsão estatal por vigilância

Incontáveis iniciativas estatais e privadas pretendem prover soluções a expansão da covid-19 na América Latina. SObreviveremos ao desejo da vigilância? Leia no site da Derechos Digitales.

O grupo NSO lançou uma tecnologia de hackeamento por telefone para polícia americana

Uma brochura e e-mails obtidos pela Motherboard mostram como Westbridge, o braço norte-americano da NSO, queria que os policiais americanos comprassem uma ferramenta chamada Phantom. Leia na Vice.

Universidade do Equador começa a fazer testes com ferramenta de vigilância de alunos

A pandemia está proporcionando e legitimando mecanismos de vigilância, construindo um sistema social onde a entrega de dados não é apenas normal, como é esperada.Saiba mais, e reflita, lendo: Post no twitter. Confira o site do aplicativo.

Para quem ainda insiste em usar o Zoom [en]

O CEO do Zoom disse há alguns dias que não vai criptografar as ligações gratuitas para que o Zoom possa trabalhar mais em conjunto com o FBI em caso de mau uso do Zoom. Saiba mais no twitter de Nico Grant. Veja reações as declarações no Bloomberg.


Reconhecimento Facial [alto astral]

A IBM não oferecerá, desenvolverá ou pesquisará mais tecnologia de reconhecimento facial

CEO da IBM diz que devemos reavaliar a venda da tecnologia para a aplicação da lei. Leia no The Verge.

O projeto Reconhecimentofacial.info busca informar sobre o que está acontecendo na América Latina

Mostrando os diferentes esforços em fazer um debate a partir de uma perspectiva crítica baseada nos direitos humanos. Saiba tudo em Reconocimiento Facial.

Proibir a vigilância biométrica em massa! [en]

A Comissão Européia de Direitos Digitais solicita à Comissão e aos Estados-Membros da União Européia que garantam que as tecnologias de reconhecimento facial sejam proibidas de forma abrangente, tanto na lei quanto na prática. Saiba tudo no European Digital Rights.


Feminismos

Como evitar que agressores tenham acesso ao seu celular

Em relações abusivas muitas vezes nossos celulares são usados pelos agressores para espionar e controlar nossas vidas. MariaLab preparou um super guia com dicas e orientaçãoes para ficarmos mais seguras!

Pesquisa Para Onde Vamos

O Instituto Marielle franco e o movimento Mulheres Negras Decidem, lançaram a pesquisa sobre o movimento de mulheres negras e seus caminhos. Veja o site!

Trolls pandêmicos

Os movimentos feministas, de mulheres e LGBTI+ devem ser vulcões em erupção nas ruas e nas redes. É o artigo da Revista Pikara sobre violência digital e suas facetas.

Women on web censurado na Espanha [en]

Este artigo compartilha detalhes técnicos e informações sobre a crescente censura na internet da Espanha em sites como o Women on Web. No blog Magma.

Projeto Chypher sex e gerenciamento de identidade

Para se proteger contra perseguição ou passeio, Eve criou uma identidade de trabalho completamente diferente que não pode ser conectada à sua oficial. Veja no CypherSex.

Guia de cuidados digitais para jornalistas feministas

Ferramenta construída pela Rede de Jornalistas Feministas da América Latina e Caribe. Na LATFEM.


Ação Direta e Não Violência [alto astral]

Táticas em tempos de distanciamento físico: exemplos de todo o mundo [en]

Este artigo coleta exemplos de táticas para épocas de distanciamento físico, alguns exemplos são de campanhas recentes outros nem tanto, mas fornecem um modelo para inspirar ações durante a pandemia. Veja no Commons Library

A pandemia global gerou novas formas de ativismo – e elas estão florescendo [en]

Veja dados sobre os vários métodos que as pessoas têm usado para expressar solidariedade ou para pressionar por mudanças no meio desta crise. Foi identificado quase 100 métodos distintos de ação não violenta. Leia e se inspire-se no The Guardian.


Novos Futuros [alto astral]

Felicidade

Felicidade está intimamente ligada com práticas de vida que somos possibilitados de ter. E se queremos ser feliz temos que passar pela reformulação desse sistema. Veja vídeo completo no canal Tempero Drag.

Monólogo do vírus “Eu vim parar a máquina cujo freio de emergência vocês não estavam encontrando”

Um texto do ponto de vista da Covid-19. Na Lundi.

100 dias que mudaram o mundo

Para a historiadora Lilia Schwarcz, pandemia marca fim do século 20 e indica os limites da tecnologia. No UOL.

O projeto “Rooted”

É uma vila virtual global que busca nos conscientizar sobre as nossas marcas de trauma e como podemos curar o corpo. É uma educação acessível e prática, por um lado, e radicalmente transformadora, por outro. Saiba mais no site oficial.


Cuidado Coletivo e autocuidado [alto astral]

Por que chamadas de vídeo nos esgotam. E como lidar com isso

Ferramentas como Zoom, Google Hangouts e Skype se tornaram fundamentais para o trabalho e a vida social durante a pandemia, mas acúmulo de atividades pode ser exaustivo. Matéria completa no Nexo Jornal.

Efeitos no cérebro: por que todo mundo está exausto de conversar por vídeo

Sentir-se exausto depois de uma longa conversa por vídeo é normal, e a exaustão é basicamente proporcional ao número de participantes da reunião. “Quanto mais gente para ouvir e observar, mais cansado nosso cérebro fica”… Saiba mais no UOL.


Arte e Jogos [alto astral]

Como os designers de moda estão superando a vigilância do reconhecimento facial [en]

A tecnologia de reconhecimento facial está se tornando cada vez mais difundida diariamente, e os governos estão encontrando novas aplicações em meio à pandemia de coronavírus. Assista no youtube.


Guias e Ferramentas [Alto Astral]

Doxxing: Mini guia para prevenção e redução de danos

Doxxing é a prática de pesquisar, coletar e divulgar publicamente na internet dados privados e informações públicas de uma pessoa ou organização como uma forma de intimidação e/ou exposição. Saiba mais como proteger seus dados, no blog do Gus.

F-Droid

Ainda usando play store? F-Droid é um catálogo instalável de softwares de código livre e aberto (FOSS) para a plataforma Android. O aplicativo facilita a busca e a instalação, além ficar de olho nas atualizações no seu dispositivo. Página do F-Droid.

Signal para além dos números de telefone [en]

Percebeu mudanças no seu signal recentemente? Armazenar acesso à seus contatos nos servidores da Signal abriria a possibilidade de não precisar associar a conta ao seu número de telefone, mas isso não era possível sem comprometer a privacidade adicional. E foi aí que surgiu a Secure Value Recovery. Saiba tudo no site Freedom of the Press Foundation.


Edital e Fellowship [alto astral]

Lista de fundos de financiamento

O consigno Dignity for All fez compilado de financiamento e financiadores que atuam com ações emergenciais a partir da crise do COVID-19. Veja no site da Akahata.

Coletivo independente constituído em 2011 com a missão de fortalecer grupos ativistas por meio de processos de aprendizagem em estratégias e técnicas de ações não-violentas e criativas, campanhas, comunicação, mobilização e segurança e proteção integral, voltadas para a defesa da democracia e dos direitos humanos.

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