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Resistência climática: rememorando táticas de ação direta criativa

Veja o que ativistas brasileiros tem da ação direta criativa para combater a crise climática e a inação de políticos.

Veja o que ativistas brasileiros tem feito para protestar contra  a inação de governos diante da crise do clima

Por Grazielle Garcia

Ativistas protestam em São Paulo contra a crise climática l Foto: Pedro Ribeiro Nogueira/Escola de Ativismo

A crise climática provocada pelo homem é um conceito que está por aí desde o Séc. 19. No entanto, ela tardou a ganhar o destaque merecido no debate público. Afinal, estamos falando de coisas pequenas — como a destruição do planeta e a impossibilidade da vida em uma terra devastada pela busca incessante pelo lucro. Porém, as juventudes já se ligaram que tem que seguir lutando para reverter esse quadro, com criatividade e consistência. Pensando nisso, trouxemos esse apanhado de táticas e ações criativas para inspirar quem quer lutar pelo futuro do planeta.

Bora?

A história por trás da ação pelo clima

Foi no ano de 1992, aqui no Brasil, especificamente no Rio de Janeiro que um marco no debate internacional sobre meio ambiente aconteceu: A Eco-92. Apesar de ser possível fazer uma análise crítica ao caráter colonialista da ONU, esse evento deu o pontapé inicial para a mobilização popular e até o surgimento de diversas organizações sem fins lucrativos voltadas a causas socioambientais.

Em 2018, 26 anos depois,  tivemos um novo marco de movimentos e organizações voltadas à vertente climática como pauta fundamental para a preservação da vida na Terra. A começar pela juventude, que costumeiramente é vanguarda em novos e importantes debates. Personalidades que se destacaram nesse momento de ‘faiscar’ foram a Greta Thunberg e demais jovens estudantes suecos que, como ela, passaram a boicotar as aulas de sexta-feira em frente ao parlamento suéco. E foram esses boicotes semanais, que somados à inconformidade de outros estudantes pelo mundo todo que impulsionaram o movimento de jovens pelo clima (Fridays for Future). Apesar de movimentos sociais serem conhecidos por seu caráter coletivo, esse em particular permite ações isoladas e tão impactantes quanto outras ações em maior número de pessoas.

Os estudantes de diversos países e origens se conectam e alinham suas narrativas através das redes virtuais e com isso fazem até hoje mobilizações pelo clima para além das fronteiras.

Ativismo[s] entre gerações

Quando falamos de ativismo climático, é comum pensarmos nas juventudes. Mas é  importante trazer a história das diferentes gerações que, aqui no Brasil, lutaram para que esse movimento fosse possível. Para além da narrativa colonialista que ‘jovens brasileiros foram influenciados por outros jovens do norte global’, o debate ambiental já era uma constante aqui no Brasil — e também uma luta perigosa para ativistas que se metiam a defender a biodiversidade brasileira.

Sim, o óbvio precisa ser dito: a luta climática não tinha essa nomenclatura até pouco tempo, mas já era pauta de resistência no Brasil.
Ativistas como Chico Mendes, Marina Silva, Raoni Metuktire – indígena da etnia caiapó – e tantos outros grupos étnicos que por tanto tempo estiveram nos territórios lutando pela preservação da vida e consequentemente pelo combate às mudanças do clima mostram que é falso dizer que essa luta só começou na Suécia em 2018. No Brasil há diversas gerações de guardiões das florestas e do clima e essa história precisa ser relembrada para que novas gerações se apropriem desse território de luta e descolonize seus princípios e referências de ação climática. Vejamos aqui algumas pessoas e grupos brasileiros para se inspirar na mobilização pelo clima.

O que tem marcado as mobilizações pelo clima?

Pluralidade. Há quem diga que o movimento climático é feito apenas de greves: ledo engano. Como toda causa, são necessárias diferentes estratégias e frentes para o êxito na mobilização. Atuação direta no congresso, com pressão no legislativo e judiciário, são essenciais. Também temos muitos atos simbólicos e com foco em educação como: limpeza de praia, rodas de debate, festivais.

Para além das greves que são ainda feitas por alguns membros religiosamente todas as sextas-feiras, há um universo de possibilidades e meios de atuação. Vamos listar algumas abaixo. 

A criatividade como ferramenta de resistência

Utilizar a criatividade e as diferentes influências culturais é uma maneira de chamar mais atenção para o problema e muitas vezes pode ser o ponto chave para ter êxito na manifestação. A preocupação com as pautas locais e dados que cada território sofre é algo que diferencia as mobilizações de ativistas pelo mundo todo.

Protesto anti-fóssil no leilão da Agência Nacional de Petróleo e Gás

Protesto anti-fóssil no leilão da ANP | Foto: por Pedro Cunha / Arayara

Nesse primeiro exemplo, ativistas fazem instalação artística com materiais reutilizados para protestar contra o leilão fóssil realizado pela ANP na Barra da Tijuca, RJ em contramão as medidas necessárias para a diminuição de emissões de gás de efeito estufa.

O artivismo, manifestação de arte somada a uma manifestação política, é o que tem sido mais desenvolvido entre ativistas brasileiros nos últimos tempos. Por exemplo, entregar um troféu de ‘Exterminador do Futuro’ para Ricardo Salles durante um de seus pronunciamentos.

Ativista Iann Coelho entrega um troféu de ‘Exterminador do Futuro’ para Ricardo Salles durante um de seus pronunciamentos.

Ian Coêlho entregando o “Prêmio Exterminador do Futuro” a Ricardo Salles | Foto: Henrique Medeiros / Mídia Ninja

Ou mesmo utilizar de um evento internacional para criar uma manifestação silenciosa.

Ativistas climáticos da ONG Engajamundo fazem protesto silencioso no Climate Week, em 2019

Protesto no Climate Week, em 2019, denunciou a censaura aos órgãos ambientais de Estado pelo governo Bolsonaro | Foto: Engajamundo

Em 2021, jovens brasileiros foram denunciar as pedaladas climáticas cometidas pelo governo. A repórter Cristiane Prizibisczki do jornal ambiental ((o)) eco, fala mais sobre isso nessa matéria aqui ‘Quem são os jovens ativistas que processam governo por “pedalada climática” – ((o))eco’.

 

Já artistas como Mundano e Bruna Serifa e o Famílias pelo Clima já se juntaram em uma grande manifestação artística de visualização aérea dedicando o dia das mães à nossa Mãe Terra.

Pintura feita na Garagem Pimp My Carroça escrito nossa mãe pede socorro. Para a matéria ativismo climático

Garagem Pimp My Carroça | Foto: Marcos Amaral / Famílias pelo Clima

Meios alternativos de mobilização

E quando os recursos não são muitos ou o objetivo é gerar a menor quantidade de resíduos possíveis, tem jeito! e Kenai do Jovens pelo Futuro Xingu te mostra:

jovem ativista, segura um cartaz feito de folha de taioba com a mensagem "xingu livre". Jovens pelo Futuro Xingu

Cartaz ‘Xingu Livre’ feito com folha de Taioba | Kenai Santos / Jovens pelo Futuro Xingu

Por trás dos holofotes

E o que a mídia não te conta é que o movimento pelo clima faz uma comunicação interna essencialmente online pelo seu caráter global. Por vezes, como foi o caso do período de Isolamento Social da pandemia do Coronavírus, as mobilizações tiveram que seguir, essencialmente pela internet. Em formatos de vídeos ao vivo (lives), cartazes, câmeras, marcação de políticos nas redes sociais, tuitaços, projeções em prédios e ruas… 

E o pós-pandemia abriu um leque de possibilidades e aprendizados que temos que fazer para integrar as comunidades, físicas e virtuais. Veja o material que criamos para desenvolver atividades online de forma inclusiva e anti-hegemônica.

Rede de apoio como estratégia de mobilização

Um tema complexo e tão abrangente como as mudanças globais do clima necessitam de uma diversidade de áreas atuantes para que a justiça climática seja feita. Os aliados dos ativistas são um dos pontos chaves para as mobilizações. Apesar de ter começado com atos individuais, a rede e apoio mútuo é algo que se tornou bastante característico das mobilizações pelo clima e um ponto bastante interessante para se inspirar para futuras gerações. Mudar o espectro de aliados também é uma ótima forma de pensar articulações futuras. Como sugerido no Bela Baderna – Ferramentas para Revolução, identificando os aliados ativos, passivos, neutros e oponentes ativos e passivos, é possível reorganizar toda a estratégia de mobilização, campanha e narrativa.

Veja também: Como cuidar da sua rede de apoio como estratégia de resistência

Espectro de aliados retirado do livro Bela Baderna

Espectro de aliados | Bela Baderna

Os protestos podem ser complementados com o manual acima citado ‘Bela Baderna’ que temos disponível aqui no site, veja esta e outras ferramentas de revolução nos artigos relacionados.

Bom, esses são alguns pontos. Espero que vocês tenham se sentido inspirades a seguir nessas lutas. Vamos deixar aqui alguns links para quem quiser se engajar e saber mais:

Os bastidores da entrega do “Prêmio Exterminador do Futuro” a Ricardo Salles – Greenpeace Brasilhttps://www.greenpeace.org/brasil/blog/os-bastidores-da-entrega-do-premio-exterminador-do-futuro-a-ricardo-salles/

 Seis motivos para ter esperanças na luta contra a mudança climática na “COP fora da COP’ – Escola de Ativismo – escoladeativismo.org.br/seis-motivos-para-ter-esperancas-na-luta-contra-a-mudanca-climatica-vindas-da-cop-fora-da-cop

Celebramos e lembramos dos ativismos de 2021 que enfrentaram a morte e a destruição de frente – https://escoladeativismo.org.br/celebramos-e-lembramos-dos-ativismos-de-2021-que-enfrentaram-a-morte-e-a-destruicao-de-frente/

As águas são do povo: 5 episódios da luta pelos recursos hídricos na América Latina – Escola de Ativismo – https://escoladeativismo.org.br/as-aguas-sao-do-povo-5-episodios-da-luta-pelos-recursos-hidricos-na-america-latina/ 


Hidrelétricas e barragens impactam gerações de comunidades nas margens do “Velho Chico” – Escola de Ativismo – https://escoladeativismo.org.br/hidreletricas-e-barragens-impactam-geracoes-de-comunidades-as-margens-do-velho-chico/   

As mudanças climáticas impactam a população LGBTQIA+. De que maneira podemos nos proteger? – Escola de Ativismo – https://escoladeativismo.org.br/as-mudancas-climaticas-impactam-a-populacao-lgbtqia-de-que-maneira-podemos-nos-proteger/  

Salve o Ceará do Dragão Nuclear: A luta contra a mineração de urânio e fosfato em Santa Quitéria – Escola de Ativismo – https://escoladeativismo.org.br/salve-o-ceara-do-dragao-nuclear-a-luta-contra-a-mineracao-de-uranio-e-fosfato-em-santa-quiteria/ 

Quem tem o direito de sonhar? – Escola de Ativismo – https://escoladeativismo.org.br/quem-tem-o-direito-de-sonhar/  

A luta pela Amazônia também é urbana: ativistas se espalham nos bairros e periferias de Manaus para demandar justiça climática – https://escoladeativismo.org.br/a-luta-pela-amazonia-tambem-e-urbana-ativistas-se-espalham-nas-cidades-e-periferias-para-demandar-justica-climatica

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