#marina vive!

Imaginemos novos espaços de resistência neste mundo velho, caquético, que dá sinais de esgotamento e cansaço. Recorramos às infâncias para inventar mundos e, finalmente, abrir-se aos novos mundos.

Uma espiritualidade desdobrada em nova arte política. Uma arte herdada das bruxas e feiticeiras, dos faquires e xamãs, e que visa expor-nos à diferença e à multiplicidade, preparando-nos para uma luta política que principia por nos fazer atentos à precariedade ontológica e política dos corpos.

É do corpo e de suas alianças que surgem todas as ações transfiguradoras e transgressoras. O corpo não é apenas uma superfície de inscrição passiva dos poderes, mas é também o espaço vivo de contestações e dissidências, vetor de toda uma forma cultural e social de pertencimentos, de ligações, de afetos… às vezes tudo que importa é a temperatura!

O lugar que ocupa o corpo de Sarah Marques é o lugar da resistência.

O inimigo está lá, sempre esteve: o Estado, a casa, a toca, engendrando, esquadrinhando o pensamento.

Mas agora temos um inimigo invisível. Esse vírus ainda não tem cura e o cuidado se torna ainda mais estratégico e cada vez mais difícil.

Há uma produção de doenças em curso.

Uma peste que não dorme.

Entre mortes, genocídios e genocidas, o desespero torna-se um estado do próprio mundo.

Exigimos o fim do governo da peste.

E o fim deste governo da morte!

É preciso criar uma rachadura. Algo que emergindo, na forma de uma revolta, uma insurreição, interrompe o curso normal dos acontecimentos.

Valem e precisam valer todas as táticas e todos os métodos de ação:

as notas e os manifestos. os dossiês e as denúncias. as fotografias e os cartazes. as conversas e os cochichos. os beijos e os abraçaços. as lives e as leituras. as caravanas e as expedições. o slam e a ópera. os choques e os acordos. os protestos, as barqueadas, procissões e pedaladas. as pessoas nuas e as camisetas. os pixos e as projeções. as assembleias e os piquetes. os abaixo-assinados e os poemas. o que é convencional e o que se inventa. o rapel, o violino, o festival da canção. o berro e o silêncio. o banquetaço e a greve de fome. a demarcação das terras e da internet. as redes e a novela. o rádio, o led, a oração. a marcha e o piquenique. o big data e o carnaval. o lento acúmulo. a surpresa. o flash, o redemoinho. eles passarão, eu passarinho. a água, o fogo, a terra, o ar. a escuta atenta. a ação direta. o turbilhão. o que a gente passa de mão em mão.

É black bloc, ocupação de prédios convertidos em centros sociais e moradias coletivas, ações de autodefesa de grupos antifa e anarco-queer e toda forma de sexualidade dissidente que não reivindica reconhecimento, dos grupos do movimento negro que compreenderam e deram forma à máxima do Djonga: fogo nos racistas!

Nos formamos é na luta e formamos muita gente… juntos.

Basta picar uns alhos, que a gente se une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.

A liberdade é terapêutica! Toda a prática clínica é também política.

A antena vai fincada na lama enquanto o wi-fi anda de rabeta: essa é a imagem, para provocar o ingovernável!

Na eficácia tecnológica, multifacetária e polivalente do dispositivo monitoramento, desativá-lo totalmente é uma quimera, talvez uma utopia conservadora e democrática dos dias de hoje. Mas enfrentá-lo é sempre uma possibilidade. Enfrentar essa máquina de controle e morte é provocar o ingovernável, uma revolta antipolítica.

Não se trata mais de preservar o mundo e a vida, mas de expandir e transformar tudo, e…

Constituir para si e para seu coletivo espaços de escuta qualificados daqueles e daquelas que construíram o mundo com as suas próprias mãos.

Somos todos parentes por intoxicação, amantes, ainda que muitas vezes desalmados, dos exus, dos xapiris e das onças, dos rios e das montanhas.

Por uma vida em fricção com a terra.

Corporificaremos então a resistência!

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