O Conselho Indigenista Missionário (CIMI) aponta como uma das causas deste aumento a legitimação do atual presidente da República Jair Bolsonaro que, segundo o CIMI, atua diretamente contra os povos indígenas.
Uma das ações que impactou a situação dos conflitos no campo foi o desmonte da Fundação Nacional do Índio (Funai), gerando mais conflitos em territórios demarcados e não-demarcados. Entidades indígenas denunciam que hoje, o órgão que os deveria proteger, é um balcão de negócios que atende ao interesse de garimpeiros e empresariado ligado ao agronegócio.
O biólogo Daniel Cangassu explicou esse processo de desestruturação da Funai que ocorreu no governo de Jair Bolsonaro. Ele ficou no cargo de coordenador da Frente de Proteção Etnoambiental (FPE) Madeira Purus da Funai, entre os anos de 2010 e 2019. Sua função seria a de localizar, proteger os povos indígenas isolados e de recente contato no sul do Amazonas.
No entanto, de acordo com o biólogo, entre 2018 e 2019 ele começou a ser pressionado a desenvolver expedições de missionários evangélicos em territórios indígenas.
Cangussu afirmou que as missões evangélicas com a finalidade de converter povos originários ao cristianismo aumentaram com a nomeação de Damares Alves, que esteve à frente do Ministério de Estado da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos entre 2019-2022. Ele afirmou que teve conflitos com Damares, que hoje concorre ao Senado, durante anos por conta desse tipo de investida em áreas de indígenas isolados.
“Num ambiente político de desconstrução de direitos, a antipolítica mantém vínculos estreitos com as ações intransigentes e intolerantes de igrejas neopentecostais. Tornaram-se ferramentas para promover o descrédito à vacinação, a desestimular as comunidades que lutam por seus direitos fundamentais e a propagar o divisionismo interno, demonizando as religiões e crenças dos povos e comunidades originárias e tradicionais”, disse a vice-presidenta do CIMI, Irmã Lúcia Gianesin.
Um relatório divulgado pelo CIMI em 2020 demonstrou que o aumento preocupante de violência contra os povos originários ocorreu logo no primeiro ano da gestão de Bolsonaro.
O documento aponta que em 2020 o aumento nos casos de “invasões possessórias, exploração ilegal de recursos e danos ao patrimônio” dos povos originários. De acordo com o texto, a violência foi ainda maior do que o número alarmante registrado em 2019, primeiro ano de governo de Jair Bolsonaro.
Foram 263 casos registrados em 2020 e em 2019, 256, o que um acréscimo de 141% em relação a 2018, com 109 registros. Os números de 2020 atingiram pelo menos 201 terras indígenas, de 145 povos, em 19 estados.
“O segundo ano do governo de Jair Bolsonaro representou, para os povos originários, a continuidade e o aprofundamento de um cenário extremamente preocupante em relação aos seus direitos, territórios e vidas, particularmente afetadas pela pandemia da Covid-19 – e pela omissão do governo federal em estabelecer um plano coordenado de proteção às comunidades indígenas”, acrescenta o relatório.