Luh Ferreira

Educadora Popular, ativista, doutora em Educação

Encantada com o mundo, indignada com a situação dele

De onde vem tanto ódio à escola?

A colunista Luh Ferreira faz uma arqueologia do ódio à escola que se manifesta nos massacres nessas instituições buscando raízes e formas de combater essa cultura

Professores de São Paulo protestam contra a violência nas escolas em frente à Secretaria de Educação, na Praça da República, após o ataque na escola Thomazia Montoro. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Professores protestam em São Paulo contra a violência nas escolas l Crédito: Fernando Frazão/Agência Brasil

Começa com algo despretensioso. Algo como: “Queremos proteger nossas crianças!”. Pelo menos era isso que bradavam mais de cem pais na porta da câmara municipal de Suzano (SP) em meados de junho de 2016. A maioria deles católicos.

Vimos este ato se espalhar por muitas cidades do Brasil. Pude acompanhar este movimento pelos interiores de São Paulo, onde o conservadorismo cego segue vivo e se espalha pelas casas, pelas ruas, sobre as famílias e atravessa as escolas.

Na ocasião nos perguntávamos: mas que raio é isso? Ideologia de gênero de quem?

E ao escavar a origem deste pseudo manifesto, descobrimos que tratava-se de uma atitude da própria Igreja Romana que, na década de 1990, tratou de tentar coibir tudo aquilo que ela mesma julgava imoral na sociedade. Travou uma verdadeira batalha contra os gêneros para supostamente impedir o avanço de abusos contra crianças e adolescentes. Na época as comunidades de base realizaram um importante trabalho de conscientização junto às famílias, no entanto, abafou – como sempre! – os casos de abusos sexuais cometidos contra crianças e adolescentes por parte do clero. E neste sentido os adultos responsáveis pelas violências cometidas não foram expostos e tão pouco julgados.

Pouco depois, estas denuncias chegaram a ONU e, como o conservadorismo adora criar pseudofatos cabeludos para inflamar o povo, tudo isso entrou num pacote mal embrulhado do “problema do gênero”, recheado de críticas aos direitos sexuais e reprodutivos e cheio de muita homo-lesbo-bi-trans-fobia e misoginia.

Vale lembrar que 2016, foi o ano de impeachment de Dilma, e vimos um horrível show que expunha a presidenta, mas ao mesmo tempo todas as mulheres, sua vida pessoal e sua governança não só no Congresso por seus opositores, mas também nojentamente nas ruas. A misoginia ficou escancarada e com ela todas as intolerâncias cresceram.

No mesmo ano em que foi gestada a reforma do ensino médio, quando as ocupações nas escolas ainda estavam acontecendo pelo país, os estudantes foram as ruas dizer que a escola estava sendo atacada e eles precisavam defendê-la. E, por isso, foram violentamente reprimidos.

A Igreja estava atuando no combate ao “gênero” e as famílias também, já estavam mobilizadas e em campanha. A escola enquanto instituição, como deve ser, resistia a entrar nessa courela, então educadoras e educadores e suas práticas pedagógicas viraram alvo da grande campanha persecutória e vigilantista dos conservadores.

Ressalto aqui que gênero é uma categoria política, analisa elementos da sociedade que cria comportamentos para as pessoas. Não é, e nunca será, um instrumento para modificar, alterar ou destruir mentes. Escola nenhuma ensina e nem nunca vai ensinar alguém a mudar de gênero. A escola realiza uma mediação dos entendimentos construídos em sociedade, ela oferece um tempo livre para que os estudantes possam pensar sobre o mundo, sempre a partir da diferença, daquele que é diferente de mim e da minha família. Educadoras e educadores, portanto, não tem função de padronizar pensamentos muito menos realizar doutrinações, a escola dissemina pensamento crítico, legalmente amparado pela Constituição Federal, pela a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, por Diretrizes Curriculares, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e também pela Lei Maria da Penha e, conjunto com tantos outros documentos que fazem parte do sistema educacional brasileiro.

Neste período, e diante de tantos ataques à escola, seu princípio laico e inclusivo, vimos explodir projetos de lei, decretos, regulamentações, que modificavam planos de educação retirando a palavra gênero dos currículos e outras tantas aberrações. Vimos ainda exclusões de livros e materiais didáticos, que tratavam do assunto, por parte de secretarias municipais de educação. Vimos ainda, e de maneira aparvalhada, pessoas queimando livros em praça pública em uma ode a caça as bruxas, como se estivéssemos na idade média.

Vimos o prefeito de uma grande cidade brasileira, mandar retirar um livro de uma Bienal, por julgar uma literatura imprópria para adolescentes.

 

Infâncias vulnerabilizadas

 

Pois bem, e diante da confusão de quem esta certo ou errado, de quem defende e quem ataca as infâncias, a escola ficou sitiada.

E tornou-se um espaço extremamente vulnerável.

Em 2018 um sujeito foi eleito com base na violência, uma facada determinante fez o Brasil acreditar que atos violentos poderiam resolver tudo. E aí vieram decretos de liberação de armas, vieram destruição de direitos, ódio as mulheres, igreja contra igreja, igreja na política, escândalos, escândalos, escândalos, céu desabando… e o pior de tudo: pandemia!

E a escola que já estava sofrendo, esvaziou.

“E pra que serve a escola, pra ficar botando menina e menino no mesmo banheiro?” me perguntou certa vez uma conhecida.

É, parece que muitas famílias estavam decididas a excluir este equipamento de suas vidas.

Homeschooling que fala?

Perfeito para o governo da vigilância. Excelente para o governo da contenção de gastos. Um primor para os que defendem a ausência de pensamento.

Antes da pandemia, e de todo esse debate de escola em casa: falávamos de violência, certo?

Da tal da facada, que transformou um pária, um pulha, em herói.

E aí vimos o ataque a escola de Suzano. Sim esta mesma cidade entre tantas que em 2016 se manifestou contra a ideologia de gênero e atacou o coração da escola.

Dois jovens mataram oito pessoas, feriram onze, e em seguida se suicidaram, na Escola Estadual Raul Brasil. Guardo na memória o quanto essa escola costumava ganhar os campeonatos inter escolares na cidade, times fortes!

Uma arma foi utilizada para atacar as pessoas, e também um machado, que feriu muitas outras.

Um machado.

O mesmo instrumento utilizado para atacar e matar 4 crianças de uma creche em Blumenau, Santa Catarina.

Faca foi o instrumento utilizado para matar uma professora, e deixar quatro feridas em uma escola na Vila Sônia, na cidade de São Paulo.

E após estes ataques, todos com muitas semelhanças: jovens, meninos, usuários de internet, participantes de chats misóginos, neonazistas, pouco falantes, vitimas de bullying talvez… veio a descoberta por meio do monitoramento das redes, outros ataques à escolas e universidades.

Escolas sendo preparadas para o abate.

E abatendo a escola, esses sujeitos de masculinidade frágil, saem vitoriosos diante de seus comparsas.

Morrem e deixam uma legião de fãs, que inspirados pelo feito do outro, decidem fazer pior.

Mas o problema todo está na “ideologia de gênero”.

Está na “falta de vigilância, de câmeras de reconhecimento facial nas escolas.”

“O problema está nas educadoras, que ensinam coisas erradas.”

“A escola não serve pra nada!”

Ora, vamos parar com isso Brasil! Não é por aí.

Quando uma criança morre, morrem mundos possíveis.

Quando uma criança morre assassinada em uma escola, falhamos enquanto sociedade.

Não é mais possível seguir, não é possível continuar assim.

É preciso parar tudo para pensarmos: o que estamos fazendo de nós mesmos?

Escavar profundamente a origem dos problemas e fazer lembrar, e sofrer por isso, e cuidar disso.

Para de festejar galera!

O bagulho não tá resolvido!

O ódio está no subsolo, está enraizado, vem sendo alimentado há anos.

Realizemos uma arqueologia, uma escavação profunda, vamos lembrar dos fatos para pensarmos o que faremos já, agora, se quisermos ter um futuro digno.

Por Luh Ferreira, da Escola de Ativismo

Fernão, não!

O protesto em poesia de Luh Ferreira contra o rebatismo pelo governador Tarcísio de Freitas da estação Paulo Freire, que agora passará a chamar Fernão Dias

Estátua de Fernão Dias em escola ocupada

Estátua do bandeirante Fernão Dias, em escola homônima no bairro de Pinheiros, São Paulo. Na ocasião, a escola estava sob ocupação estudantil l Crédito: Rovena Rosa/Agência Brasil

Fernão, não!

mil vezes, Fernão Não.

Ah mas por que não?

Se a população disse que Fernão era um cara bão?

54% de gente que gosta de bandeirola?

quem são?

Fernão não, porque Fernão

foi um cão

Empunhou uma bandeira de sei lá o que na mão

e saiu atirando, escravizando, mutilando grandão

Não bastasse no Brasil,

a história diz que até o Uruguai ele invadiu.

Fico aqui a pensar

Por que esse sujeito merece tanta adoração?

Se até nome de escola, de estrada, de gente

colocam o bandido Fernão!

Matou!

Invadiu!

Derramou sangue, merece o esquecimento

a vala da alheação

jamais um brasão.

Então governador vacilão

deixe de pressão…

Temos que fazer como fizeram os secundas:

atos de desocupação

atos de desinvasão

É Fora Fernão!

Fernão aqui, Não!

esse palco de horror que você quer montar

a cidade de São Paulo não merece virar

Sai fora com seus bandeirolas

com sua permanente ode ao ódio

A democracia venceu, o amor prevalecerá

E um educador, o melhor que tivemos

você terá de homenagear

custe o que custar!

Viraremos a página deste pesadelo

Fernão você vai ver lá no Posto de Gasolina

Fernão você vai ver com o saco na cabeça!

Quando a indignação nos assola

a poesia é a fórmula

Paulo Freire aqui segue e sempre será

o educador, o cara, que nos ajuda a sair de lá

De lá de onde?

Desse buraco chamado hipocrisia

da pequenez que não reconhece a grandeza do povo

Se cuide sujeito de martelinho na mão

suas pancadinhas não nos oferece medo

somos muitos nesse Brasilzão!

Somos maiores do que essa sede de escravidão!

Respeite a nossa luta, respeite a nossa história!

Chega de InFernão.

Por Luh Ferreira, da Escola de Ativismo

Quando morre uma criança — e quando morrem 570

“Se algo der errado com uma criança, a responsabilidade é de todo mundo”, lembra Luh Ferreira, da Escola de Ativismo, ao falar sobre o genocídio Yanomami.

foto aérea de terra indígena yanomami

Foto: Leonardo Prado/PG/FotosPúblicas/2015

z tempo que venho querendo escrever sobre esse assunto. Mas, as palavras costumam faltar quando o embolamento no peito, a ausência de compreensão e a indignação são grandes.

Passei este final de semana na companhia de algumas crianças. O mais novo tinha cerca de 9 meses. A do meio seis anos e a mais velha nove.

Brincamos um monte, demos risada, pulamos, cuidamos de um, corremos de outro.

Comemos bala, chupamos sorvete.

Foi uma tarde de tempo suspenso. Digo isso em oposição ao tempo cronológico, parado e dedicado às tarefas  que ocupam nossa vida. Um tempo suspenso que faz tudo ser  vivência, voltado  para a experiência e a  amizade entre uma pessoa adulta e três crianças.

Após esse tempo que deve ter durado umas quatro horas de tempo cronológico, retornei a casa e para as minhas atividades, para me dedicar aos velhos problemas que por este tempo ficaram esquecidos, em sobrevoo por entre as bolhas de sabão que a do meio soltava, para encanto do irmão, o bebê.

Retornei aos meus afazeres, mas não consegui voltar a velha Luh de antes…

Uma onda de alegria, de fé na vida, de confiança, de ideias mil invadiram meu corpo e me vi cantando e dançando na sala de casa uma música da banda Gilsons: 

Vou levando eu vou, no swing vou levar, espalhando amor, vou já

Anda leve eu vou… caminhando pela cidade, andar leve eu vou sem me preocupar..

E aí me deixei levar por essas sensação por uns instantes.

E percebi que a intensidade da infância que havia me tomado, um devir-infância abriu uma fresta radiante no meu corpo opaco. 

A sensação me lembrou das crianças indígenas, que para mim são um sinônimo de alegria sem fim… 

Pra quem já foi a alguma aldeia vai saber que é um ambiente dominado por risos e gritarias de crianças. Elas com seus olhos grandes e curiosos, observam tudo, acompanham todos, sabem de quase tudo que se passa, estão ali sempre à espreita em busca do novo!  

Em busca da novidade que as alimenta, assim como sobem nos pés de fruta em busca da que está mais distante das mãos, e provavelmente mais saborosa. 

Foi observando as crianças de uma aldeia no Mato Grosso que descobri o melhor lugar para se banhar em um rio. Foi andando com as crianças de uma aldeia no Pará que aprendi a observar o rastros dos animais na mata e saber sua localização, a não ter medo deles, mas tê-los como aliados.

Foram as crianças de uma aldeia no Amazonas que me mostraram que a vida é uma brincadeira, e se você não acredita, é um tolo.

Então estar com as crianças significa renovar o sentido, significa deslocar a rota para observar aquilo que realmente importa. 

 Cuidar de uma criança nos devolve o sentido de humanidade.  

A gente se lembra o que veio fazer aqui nesse  mundo, se lembra que viemos aqui para apoiar, pra torná-lo melhor, mais vivo…  

É por isso que ao me deparar com a situação de extrema calamidade vivenciada pelos Yanomami da região de Roraima, fiquei sem ar. Sem fôlego. Imaginei que as cenas que vimos e vivenciamos ao longo destes quatro anos já teriam sido o bastante. Mas não… 

A tragédia estava anunciada, e estamos verificando a concretização deste desespero absurdo que é a perda de 570 crianças, a morte de 570 mundos! 

Em outubro de 2021 me recordo da notícia de duas crianças Yanomamis que foram dragadas quando brincavam no rio, nesta mesma região em Roraima. Elas estavam com uma prancha, certamente brincando e aprendendo a nadar, a lidar com as correntezas fortes desde muito cedo, para pescar e se deslocar pelo rio com destreza quando forem adultos.  

Tiveram sua brincadeira interrompida, por máquinas que nunca deveriam estar ali, por pessoas que ocupam o território ilegalmente levando doenças, produtos nocivos à saúde e destruição. 

É de arrancar o coração do peito ver as crianças Yanomami no estado que estão — e não duvido que outras crianças indígenas estejam também em proporcional vulnerabilidade no Brasil. Infelizmente estávamos sob o comando de um genocida, agora mais que comprovado. O projeto de extermínio foi colocado em prática pelo Estado Brasileiro, não há dúvidas. 

Costumo dizer na minha família que se alguma acontece com alguém mais novo que a gente, a culpa é de todo mundo, de todos os mais velhos que estavam ali para cuidar de um mais novo.  

Se algo der errado com uma criança, a responsabilidade é de todo mundo. 

Espero que o aparato disponibilizado para socorrer os Yanomami funcione e  torço para que haja a possibilidade de corrigir o mal feito e que os indígenas possam criar as suas crianças e viver com dignidade e autonomia. 

De todo modo, chamo a atenção para as infâncias.  

Elas são sim capazes de reencantar o nosso dia, e muito mais do que isso, elas são as responsáveis pela renovação do mundo.

Se não tivermos as crianças por perto e junto conosco, não há mundo porvir — para dialogar com Debora Danowiski e Eduardo Viveiros de Castro no livro que lança esta minha afirmação como pergunta: “Há mundo porvir? Ensaios sobre os medos e os fins” (2014).

Finalizo este texto com Hannah Arendt em “A Condição Humana” (1977), que nos chama a atenção para a responsabilidade com o mundo e com a renovação dele, ao cuidarmos e apresentarmos o mundo às crianças, estando com elas nessa empreitada.

A educação é a posição em que decidimos se amamos o mundo o bastante para assumir a responsabilidade por ele, e pela mesma razão, salvá-lo da ruína que a não ser pela renovação, a não ser pela vinda do novo e dos jovens, seria inviável. E a educação é também quando decidimos se amamos nossos filhos o bastante para não expulsá-los de nosso mundo e deixar que façam o que quiserem e que se virem sozinhos, nem para arrancar de suas mãos as mudanças de empreender algo novo, algo imprevisto por nós.”, HANNAH ARENDT (1977, p. 196)

Por Luh Ferreira, da Escola de Ativismo

Aquário

Por Luh Fereira

 

Tenho neste início de ano e em férias, me dedicado a estudar os astros… não a toa, Chico Buarque e a canção Dueto, têm inspirado esta minha empreitada “Consta nos astros, nos signos, nos búzios…”

Com Sol em Sagitário, e a Lua em Peixes tenho gostado de analisar as imagens a simbologia dos signos e dos planetas regentes. A metade cavalo, metade humano do sagitário, nos inspira a galopar por aí à passos largos, firmes nos propósitos, nada é capaz de detê-lo, exceto ele mesmo… rs!

Pois a metade humana, que confere o centauro, é racional, tende a domar o corpo animalesco, frear sua gana por desbravar o mundo… dilema que nós Sagitarianes vivemos em nosso dia a dia!

 

Seguindo o mapa descobri o meu ascendente, que é como se fosse a nossa máscara, como a gente se apresenta ao mundo: Aquário.

É também o signo do próximo período de 21 de Janeiro à 18 de Fevereiro, signo de muitos ativistas, os revolucionários, criativos… de uma porção de gente que eu conheço e amo <3!

 

Mas antes de falar sobre o signo, quero pensar na sua representação gráfica, que sempre achei um tanto curiosa.

O aquário que conhecemos é um recipiente, na maioria das vezes transparente, em vidro, redondo, quadrado ou retangular… cheio de água, as vezes plantas, animais aquáticos quase sempre peixes que vivem ali debaixo d’água, em ritmo de respiração branquial. Isso pra mim, é um aquário.

É possível passar todos os dias por um aquário e acreditar que nada esteja acontecendo. Que tudo esteja muito bem, água, plantas, peixes nadando pra lá e pra cá… bolinhas… movimento.

Tá tudo se mexendo, mas dá a sensação de que está tudo parado.

 

Até que um dia, aparece um sujeito boiando lá dentro.

 

Ele o aquário está ali recebendo a vida, tentando organizar tudo para que as coisas fiquem bem. Acolhe, dá aconchego e mantém o meio liquido minimamente equilibrado para seus habitantes.

 

Eita, mas e aí ninguém cuidou do aquário…

Aí a gente se dá conta de que o aquário exige cuidado.

 

Então diante da morte de um peixe, a gente passar a cuidar do aquário de maneira diferente, começa a perceber que ele sozinho não vai dar conta de tudo, que ele não é auto limpante, que a água precisa ser trocada de tanto em tanto tempo, realizar a limpeza dos fluídos e dos fluxos é super importante!

Que a temperatura da água influencia na saúde física e mental dos peixes e das plantas. E principalmente que o aquário dá sinais de quando está entrando em colapso… Então é preciso estar atento e agir quando necessário.

A sua transparência serve exatamente para dar a ver, aquilo que não vai bem.

 

Olhando para esta imagem do aquário, sinto que podemos fazer uma porção de paralelos com diferentes ecossistemas que estão a nossa volta. Uma casa, uma roça, uma horta, um viveiro, o próprio planeta Terra poderia ser visto como exemplos de aquário, não é?

 

Agora voltemos ao Aquário, signo. E quais paralelos descobri nestes estudos astrológicos…

O signo de aquário é simbolizado por duas ondas paralelas em movimento é diferente do objeto aquário, um recipiente.

Trata-se de um aguadeiro em ondas, o sobe e desce da vida. Uma onda acompanha a outra, como se uma dependesse da outra, como se fosse o sujeito e o coletivo em sincronia com o movimento da vida, no mundo. Um signo que tem o todo, a humanidade como força impulsionadora de suas ações.

São progressistas, contemporâneos, pensam à frente de seu tempo, visionários e principalmente são livres! Presam a sua liberdade de viver e pensar, e a liberdade do outro… as ondas síncronas aliadas da diferença.

Pensam em tantas coisas que até esquecem de si mesmos… né?

Então pessoas de aquário, são atentas ao coletivo, ao cuidado com o mundo, talvez por isso tantos ativistas sejam de Aquário – ô sorte!

 

Acho que gente nunca esteve tão necessitado de pessoas de Aquário como agora. É tempo de revolução, de visão de futuro, energia, de invenção, de reconstrução!

Tudo o que a gente mais precisa nesse inicio de ano.

Esse é o toque, o chamado pra que a gente cuide desse nosso aquário em colapso chamado planeta.

O aquário precisa de Aquários! Aquarianes, uni-vos!

 

Não pode haver anistia aos crimes contra o povo

“Ao atingir o coração da república, suas obras de arte, seus símbolos, que a sociedade branca hipócrita perceba o quão injusta e racista é”, diz Luh Ferreira, da Escola de Ativismo.

gal costa posa de olhos fechados

Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Estava na rua com amigos quando soube que estavam quebrando os prédios da Esplanada.

Primeiro pensei: uai?

Mas será que o Lula fez alguma coisa e tá rolando jornadas de junho replay?

Será que ocorreu alguma morte na favela?

Qual criança, jovem, mulher, cadeirante morreu para causar essa revolta?

Será alguma liderança indígena ou quilombola?

Algum Sem Terra?

Terá algum pobre, preto portando um vidro de pinho sol, confundido com algum liquido inflamável, sido violentado e morto?

Será que foi um motoboy asfixiado no porta malas de uma viatura policial?

Não, em nenhuma dessas situações ocorreu um quebra quebra nos prédios da Esplanada.

Mas, penso “Com certeza deve estar rolando uma guerra lá, pois é muito difícil chegar perto desses prédios”.

Frequento Brasília há muitos anos. E a única vez que vi uma galera chegar até a cúpula do Congresso Nacional foi em 2013. Eram muito mais de quatro mil, eram cerca de duzentas mil pessoas e a polícia seguia ali protegendo os prédios que são também obras de arte, símbolos da democracia e da ordem institucional.

O Congresso foi tomado aquele dia, ocupado. Mas nem de longe os que lá estiveram queriam destruí-lo.

Também acompanho o Acampamento Terra Livre (ATL), atividade que ocorre todos os anos em abril no Distrito Federal, organizado pelos povos indígenas, articulações e organizações indigenistas. E independentemente do governo, sendo ele progressista ou não, à direita ou a esquerda, é sempre muito complicado se aproximar destes prédios. Entrar, então… é quase impossível.

Então, as dúvidas que pairavam sobre a minha cabeça quando vi as cenas de invasão nos prédios da Esplanada, me faziam crer, sem ter muitas informações, que aquilo ali era um grande armazelo.

Aquilo ali era o famoso “com o Supremo, com tudo” mas agora “com governo do DF, com polícia, com tudo” acontecendo.

E aí eu só pensava: quero ver como é que o Lula e a Janja (que já estava indignada com a situação pavorosa do Alvorada…) ia fazer. Eu só queria ver o que o Supremo ia aprontar com tamanha desfaçatez, explicitamente conivente dos poderes de governo e de policia do DF.

Bem, me parece que as providencias foram tomadas: intervenção de 30 dias no DF com um pronunciamento firme do Lula; STF pediu afastamento do governador (com cara de mentecapto); pedido de prisão de secretario de segurança pública do DF (em férias juntinho do dementador ex-presidente e futuro presidiário), pedido de prisão de policiais que foram coniventes com o ataque. E… até agora, mais de 400 cabeças de gado devidamente detidas nos currais, também conhecidos como delegacia ali de Brasília.

É o mínimo que se espera.

É o mínimo, pois quero obviamente que esse ataque seja visto como atrocidade, como ato de brutalidade, violência, como ato de barbárie, desumanidade, monstruosidade. A democracia não pode ser atacada com tamanha orquestração por uma minoria, baixa e vil, como esta.

Mas espero que para além disso, reflitamos sobre outros elementos. Ao atingir o coração da república, suas obras de arte, seus símbolos, a sociedade branca hipócrita perceba o quão injusta e racista é. Todas as vezes que reprime violentamente os trabalhadores que reivindicam direitos, ou quando indígenas exigem a defesa de seus territórios, ou quando a favela desce e diz: “Chega! Nós queremos viver” e é alvejado por bombas e tiros.

Chega de hipocrisia e de tratamento diferenciado ao povo deste país.

Não pode haver anistia aos crimes cometidos contra a soberania popular.

Por Luh Ferreira, da Escola de Ativismo

Gal não morreu

gal costa posa de olhos fechados

Seus gestos, sua música, sua energia em tons vermelhos como os de Iansã seguem sendo chama para todos aqueles que a amam l Crédito: Divulgação

Recebi a notícia de que Gal passarinhou enquanto estava no aeroporto, às 11h35 desta manhã de quarta-feira.

Um amigo que sabe do amor que sinto por Gal me ligou e disse: cara, a Gal morreu.

Perguntei algumas vezes se era mesmo verdade, porque estamos envoltos nesse mar de fake news, de notícias descabidas, e ele confirmou que a informação havia sido transmitida pela assessoria de imprensa dela.

Antes de chegar ao aeroporto, para uma conexão, estava em um voo que durou cerca de 1h30. Passei esse tempo assistindo um filme: Elvis, estrelado pelo perfeito Austin Butler.

Estranha manhã pois chorei muito assistindo ao filme, me emocionei diversas vezes.

Emocionada com a linha de vida de Elvis, a música que carregou consigo, sendo ele um homem branco que cresceu em um bairro negro do Mississipi, Elvis só se sentia Elvis quando cantava as músicas que ouvia quando criança, entoadas por rainhas e reis afroamericanos que viviam apartados da sociedade branca estadunidense. Cantavam a música mais fina, tocavam pianos, guitarras, baixos como ninguém. Reis e Rainhas do Blues, do Jazz, do Rhythm and Blues, os verdadeiros pais do Rock.

Elvis, era um sujeito-corpo. Ao toque do piano, seu rosto parecia se transformar, uma chama consumia seus ouvidos, seus olhos se reviravam, seus quadris requebravam com o bumbo da bateria, descia até o chão, e subia em movimentos cadenciados… seus braços buscavam dar materialidade aos acordes da guitarra, voando pelo palco!

Seu corpo vibrava e as multidões se arrepiavam. Quem viu, disse que não parecia uma pessoa, era como um deus. E deuses não morrem.

Então, Elvis não morreu!

Bradaram seus fãs.

Agora aqui com esta sensação de ter perdido um pedaço, escrevo.

Escrevo pra dizer que:

Gal não morreu.

Pois assim como Elvis, Gal é uma deusa.

Gal de voz sagaz de agudos inatingíveis!

Na batalha com a guitarra de Victor Biglione, a guitarra ficou sem fôlego, saiu de fininho…  

As músicas cantadas por Gal eram incorporadas. Ganhavam contornos brasucas, batons vermelhos, flores, ganhavam requebros, sofriam abalos a ponto de tornarem-se outras. Cantou Gil, cantou Caetano como nunca, e um montão de outros compositores, mais recentemente compositores bem jovens como Rubel, Criolo, Céu, Marina Sena e Marília Mendonça. Todas essas pessoas sentiram o poder da deusa. Ela sempre à frente, a inventar em suas músicas, dando o seu jeito em tudo, seu jeito de Gal.

Quando comecei a ouvir as suas canções ainda criança, na sala de casa, me impressionava o sotaque, quando via Gal na TV, me encantava o seu batom vermelho, o modo como ela dizia as palavras e as transformava em canção. A Gal era livre, isso me fazia querer ser também. Uma mulher de corpo solto, livre.

Gal tinha uma singularidade e ao mesmo tempo uma multiplicidade que sempre mexeu comigo. Passei a ouvi-la, a querer estar perto dela. Me inspirava seu modo de se expressar.

Até que um dia me vesti de Gal, passei batom vermelho, flores no cabelo, sandália de tiras, vestido florido, de balanço. Cheguei a festa e aconteceu! As pessoas me dizendo que eu tinha virado Gal!

E foi assim que entrei em devir Gal.

E sua imagem passou a ser também a minha.

 –

Gal é Costa, minha protetora, força e guia.

Seus gestos, sua música, sua energia em tons vermelhos como os de Iansã seguem sendo chama para todos aqueles que a amam!

Viva, como sempre!

 –

Meu nome também é Gal.

Por Luh Ferreira, da Escola de Ativismo

 

Notícia – a palavra que não sai da nossa boca

De uns tempos pra cá essa palavra não sai da nossa boca e das nossas vistas.

Os vídeos que não param de chegar com as notícias, as pessoas não param de trazer notícias, os jornais, agora digitais, vivem das notícias, as redes sociais exalam notícias, notícias, notícias o dia todo e a noite toda também!

O povo aprendeu a criar suas próprias, a fazer-se notar em meio à mídia tradicional, que dava notícias do que era de seu interesse.

Então desde que o mundo é mundo, nós vivemos à base das notícias!

Era alguém que nasceu, alguém que morreu, alguém que partiu, alguém que chegou… a música “Encontros e Despedidas” fala exatamente sobre isso:

“mande notícias do mundo de lá, diz quem fica…

me dê um abraço venha me apertar, tô chegando…

Coisa que gosto é poder partir sem ter planos…

melhor ainda é poder voltar quando quero!

Todos os dias é um vai e vem

a vida se repete na estação”

A música é de Milton Nascimento e foi lançada no álbum que carrega o mesmo nome, em 1985. Mesmo ano em que o Brasil finalmente se livrou das agruras da ditadura militar. Um tempo em que as notícias eram restritas, revisadas, censuradas.

Este trecho da música, a melodia melancólica, expressam um desejo de saber sobre o mundo, sobre as coisas, sobre a vida. Mas também de sair, de circular e viver.

Desejos de democracia eu diria.

Pois bem, acabamos de vivenciar o ápice da democracia neste último final de semana, quando fomos às urnas escolher os nossos governantes. Fizemos isso de muitas maneiras, alguns com muita facilidade, com tranquilidade, sem filas, sem muita preocupação. Outros enfrentaram blitz policiais, engarrafamentos gigantescos, assédios, confusões e até brigaram para exercerem seu direito.

Passamos o dia recebendo notícias, de norte a sul de como a coisa estava indo. Domingo foi um dia tenso.

A notícia da vitória do Lula chegou por volta das 20h00 deste domingo. Muita gente já se deslocava de suas casas para encontrar os amigos, para festejar. E como foi bonita a festa!

Mas as notícias assombrosas ainda estavam por vir… será? Depois de tanta fakenews, qual seria a bala de prata do então mentiroso derrotado messias presidente?

Segunda-feira pós eleições, nenhuma notícia veio do palácio do planalto, a escuridão e a ausência fizeram seus apoiadores se mexerem. Foram às estradas, foram às avenidas e aos centros militares pedirem que a democracia fosse suspensa, pois o candidato mentiroso presidente havia sido derrotado.

MENTIRA! INFÂMIA

URNAS FRAUDADAS.

ALEXANDRE DE MORAES PRECISA SER PRESO.

NOVA ELEIÇÕES NO BRASIL.

INTERVENÇÃO MILITAR, JÁ!

Bradavam os apoiadores ao som do hino nacional, camisa amarela e bandeiras.

Teria havido algum tipo de comunicação subliminar entre o mentiroso derrotado presidente e seus apoiadores?

Não podemos provar. Mas sabemos que os apoiadores produziram uma espécie de super bolha de notícias, elas movimentaram tudo o que aconteceu nos últimos dias, vamos precisar de muito estudo para sacar esse fenômeno, pois houve uma espécie de transe na galera que estava às margens das estradas.

Muitos vídeos circularam em que era possível assistir os apoiadores do mentiroso presidente messias, lendo notícias de seus celulares em que o conteúdo das exigências que estavam fazendo havia sido atendido, como se estivessem em uma realidade paralela – olha o metaverso aí genty! – e nós aqui olhando tudo isso atônitos, nos perguntando: como pode?

Coisas como:

STF RECONHECE QUE AS URNAS FORAM FRAUDADAS E CONVOCA NOVAS ELEIÇÕES.

ALEXANDRE DE MORAES ACABA DE SER PRESO.

EM 72 HORAS AS FORÇAS ARMADAS VÃO TOMAR O PODER.

Vimos um mar de notícias escabrosas tomarem conta do zap… agora com especulações sobre os rumos do país que vão desde a morte precoce de Lula até o conluio com os comunistas para levarem embora todo o dinheiro que o país acumulou! (mano do céu!)

Enquanto isso, nas redes sociais e noticiários víamos o apoio descarado de algumas polícias aos atos. Víamos as torcidas organizadas destruindo as barreiras e espantando os apoiadores. Víamos o Lula bem tranquilo em viagem para descansar. Víamos o processo de transição de governos iniciar os acordos. E não víamos o mentiroso presidente messias dizer absolutamente nada por dois dias!

E, quando finalmente apareceu, nada, praticamente não trouxe notícia nenhuma.

Com tudo isso que rolou nesses últimos dias, mas pra dizer a verdade, desde aquele dia da fakeada, das mamadeiras de piroca, da avalanche de mentiras que tomou conta do país, venho pensando que estamos no momento certo, no momento mais urgente de nos educarmos na produção das notícias e na responsabilização pela disseminação delas.

Estamos no momento certo de pesquisarmos aquilo que nos interessa, de não mais acreditar naquilo que o grupo do zap nos diz, de desconfiar quando alguém fala ao vento sem trazer nenhum tipo de comprovação de realidade. Temos hoje uma diversidade enorme de canais que possibilitam a comunicação com diferentes públicos e realidades, a comunicação é algo potente e popular, nós temos que ocupar imediatamente estes espaços, utilizá-los com invenção com inteligência e disseminar conteúdos que nos façam melhorar, evoluir como sociedade.

Produzir notícias que nos levem pra longe do fascismo, das ditaduras, da confusão anti-ciência que ceifou um montão de vidas na pandemia, desse mar de notícias sem pé nem cabeça que estão gerando problemas irreversíveis na nossa família, no nosso trabalho, na nossa vida.

E aí provocamos as galeras que renovaram os rádios, com os podcasts, com os programas com transmissão pelo youtube: bora fazer uns programas mais interessantes para o povo?

Esse negócio de ficar lá falando sobre investimento no mercado financeiro quando temos aí mais de 30 milhões em situação de fome interessa a quem? Sobre os lucros da Petrobras quando a gasolina tá cara pra cacete, é uma sacanagem sem fim!

Enfim, para situações de incerteza em que você está com o seu celular à mão, não custa fazer uma checagem rápida dos fatos – e ah, não vale fazer no google tá?

Segundo turno?

A colunista Luh Ferreira reflete sobre o cenário político a importância da escolha do candidato no primeiro turno das eleições

Uma urna eletrônica exibe a palavra "fim" na tela. Um dedo indicador toca a tecla verde "confirma"

Domingo dia de tomar café da manhã mais tarde, em família… conversa vai, conversa vem e eleições. Claro…

Falamos, sobre candidatos, sobre zap, sobre apelações, sobre horário político, debate… uso da máquina estatal para fazer campanha e até a família Adams que compareceu no velório da rainha. O pretinho caiu mal na primeira dama que nunca teve nenhum gesto de solidariedade com o povo brasileiro, agonizamos nesses anos de pandemia e pandemônio, foi ter com a queen-colonizadora.

Feio demais Micheque.

Muito papo aleatório depois, minha mãe, aniversariante da semana, perguntou:

– Mas por que têm segundo turno?

Eu que nunca nem tinha pensado nisso, pois, desde que me entendo por gente, sei que o segundo turno faz parte de um processo democrático na escolha dos nossos representantes, uma espécie de confirmação do povo sobre o melhor candidato, me coloquei a pensar sobre o assunto.

Rapidamente lembrei da primeira vez que ouvi falar em campanhas eleitorais. Um ano após a constituinte vieram as eleições diretas! Lula e Collor disputaram fervorosamente o pleito.

Eu, com 6 anos, escutava “a eleição vai ser disputada por um playboy e um trabalhador!”

A maioria lá em casa era trabalhadora, mas nem todo mundo votou no trabalhador…

Isso deve ter se repetido em muitas famílias, porque, o Collor venceu no primeiro e confirmou a vitória no segundo turno, apertadinho, mas foi…

A constituição federal de 1988 organiza as eleições em dois turnos, justamente para que o povo possa confirmar a sua escolha, e o candidato de preferencia seja eleito com a maioria absoluta dos votos. Segundo turno vale para eleições dos cargos executivo: presidente, governador e prefeito – para municípios com mais de 200mil eleitores.

Por duas vezes, desde a redemocratização, não rolou segundo turno no Brasil – O sociólogo Fernando Henrique Cardoso se elegeu com maioria absoluta em 1994 e 1998.

A história em 2002, 2004, 2008, 2012, 2014, 2018, todo mundo já sabe…

E para que a gente não se esqueça: sim, 2016 foi golpe!

Mas voltemos ao papo lá de casa.

Depois de falarmos sobre o porque do segundo turno, a gente se deu conta de como está difícil defender o estado democrático, os direitos básicos, neste últimos anos. Não se trata de eleições apenas, estamos em uma guerra.

Estamos lutando contra o autoritarismo, contra o fascismo, contra o genocídio do nosso povo, das florestas, da cultura brasileira.

A opção da minha família é que as eleições sejam finalizadas já no primeiro turno, pois ninguém aguenta mais todo esse ódio, toda essa degradação.

Em casa sempre rolou polarização. Sempre teve espaço pra treta.

Aqui é palmeiras, lá é corinthians.

Um vasco, outro é mengão!

E a gente vê muito disso na política…

Teve Lula contra Collor, Serra contra Lula, Dilma contra Marina, ops Aécio… teve até Haddad contra Coiso!

Mas esse ano de 2022, aqui em casa a gente escolheu levantar a mesma bandeira. Não por um candidato. Não é apenas pela sua trajetória. Não é uma questão de justiça. Não é nem porque ele tem o melhor projeto para o país… É apenas para que o fascismo não vença e o ódio não se faça presente por mais 04 anos nos corroendo, nos destruindo por dentro enquanto pessoa e por fora enquanto povo.

Muita gente lá de casa votou em Collor em 1989.

Nesta eleição geral, novo, velho, esquerda, direita, frente e costas, até quem tem mais de 80 vai fazer o L.

E pronto, vai dar primeiro turno e nós vamos assistir a copa juntos, de camisa amarela com estampa de onça, rua pintada, cervejada e tudo, e acabou.

Em 2023 o coro volta a comer!

Muita tecnologia para pouco futebol

A colunista Luh Ferreira mostra como a camisa azul da seleção, o VAR e novas ferramentas de vigilância tem mais em comum do que poderíamos supor à primeira vista

na imagem, o jogador de futebol felipe coutinho aparece com a camisa azul da seleção dentro de um quadrado pontilhado

A camisa reserva da seleção brasileira de futebol se esgotou em apenas dois dias após o seu lançamento no site oficial. Sim, me refiro à camisa azul.

Que tempo esquisitos hein, camaradas? Essa camisa azul nunca teve nenhum charme, quase ninguém tinha. Toda vez que alguém aparecia com essa camisa azul no jogo era uma tiração de sarro só:

— E aí vai ficar na reserva? Cadê? Não tinha a camisa verdadeira na loja, não?

Já a amarelinha guardava ainda a simbologia da sorte. Com ela nos sentíamos mais seguros para entrar em campo com a seleção.

O livro “Maracanã: quando a cidade era terreiro” (2021) de Luiz Antonio Simas nos diz:

‘A camisa da seleção brasileira de futebol – que já foi branca, é amarela e vez por outra azul – pareceu ser em outros tempos, não tão distantes um exemplo daquilo que o romeno Mircea Eliade, filósofo e mitólogo, chama de hierofonia: a percepção da existência do sagrado manifestada em um objeto material. A camisa uma vez trajada pelos deuses do gramado, parecia virar manto de santo, vestimenta de orixá, cocar de caboclo, capa de Exu, terno de malandro, roupa de marujo; estandarte de aldeia que buscou definir-se a partir das artes de drible e gol’ (p. 9)

Simas nos confirma a força de uma vestimenta, de uma indumentária histórica, que carrega consigo um povo e uma cultura. Ok, isso foi antes do 7×1, quando parece que a gente entrou em campo sem camisa, sem cabeça, sem corpo, sem Brasil… Bom, pulemos essa parte.

Fato é que a camisa de um time, a camisa da seleção brasileira, apesar de capturada pelos fanáticos bozónaristas, segue sendo um manto sagrado e profano aqui no Brasil, e a nossa expressão não combina com censura da patrocinadora. Esta semana recebemos a noticia da proibição de nomes nas camisas em homenagens à orixás como Ogum e Exu, sendo liberado a opção Jesus Cristo. Essa patrocinadora pensa que é quem, minha Genty?

Para ler mais: A democracia securitária em meio à pandemia e uma nota sobre a revolta e o militantismo 

O próprio Simas, o autor que nos inspira a escrever este texto, realiza toda uma investigação da história, da cultura, da geografia dos encantados que convivem e dão vida, graça à mistica futebolistica brasileira, Exu e seus compadres e comadres se fazem presente e dentro e fora de campo, algo que o mercado, o capital que se engendra em tudo quanto é espaço, busca acabar. Mas a verdade é que “sorte não se compra”, então sai pra lá marca estrangeira rica, que aqui tu não se cria!
Censura, perseguição religiosa, não combina com futebol. 

Censura e perseguição religiosa não combinam com futebol.

Voltemos então para a tal da camisa azul, a mais nova queridinha dos brasileiros. Aquela azulzinha besta já era! A nova camisa reserva tem status de oficial, minha genty!! Carrega um azul vivo, mais que anil, e uma estampa de onça pintada fluorescente nas mangas, bem mais animada que a amarela que ficou com a marca d’água estampada em toda a camisa. Os patrocinadores investiram na onça como simbolo de sua luta e da garra, coisa bemmmmm necessária nos tempos atuais.

A seleção brasileira vai à campo vestida de Juma Marruá, trabalhada na réiva?!

A patrocinadora que sempre lucrou muito com as vendas de camisa, ainda mais nessa fase bozónarista, busca atingir agora o público mais progressista? O animal print fresh pode dar alguma vida, tanto à desenxabida seleção brasileira, quanto à camisa reserva.

Pois bem, falando em futebol… confesso, sempre gostei muito! De jogar e de acompanhar os campeonatos, de ir ao estádio, de assistir pela TV. Torço ou já torci muito para o time do Palmeiras (que nos últimos anos vêm fazendo bonito até…) mas a presença do VAR me afastou do futebol e da torcida. Não consigo acompanhar e nem entender porque uma coisa destas apareceu no esporte. O VAR tornou-se o verdadeiro juiz do jogo. O juiz, que sempre foi aquela pessoa com a qual todos eram obrigados a lidar, porque estava em suas mãos a definição das jogadas, e portanto para lidar com ele e suas intervenções tinha que ter a ginga, sabedoria brasileira, arte de fazer sem ter feito… Juiz passou a ser um moribundo, desconsiderado, chutado mais que a bola, que corre de lá pra cá em campo só esperando o momento polêmico acontecer, para gesticular o perverso quadrado com as mãos que aponta “é lance para o VAR” e aí tudo pára. As câmeras entram em cena e ali se vão os segundo mais enfadonhos de todo o jogo… enquanto se espera o momento em que a maldita da câmera vai dizer se foi ou não pênalti, se o gol valeu ou não, se foi mão na bola ou bola na mão.

Se o VAR estivesse presente na copa do mundo de 1986, Dieguito Maradona teria seu famoso gol “mano de Dios” invalidado e o que seria do futebol sem esse lance? E quantos lances incríveis vêm sendo impedidos, corrigidos, massacrados por conta dessa tela vigilante que vêm orientando e até mesmo paralisando o futebol brasileiro nos últimos anos?

É tanta paralisia, é tanta pressão, é tanta desconfiança e preocupação com o que acontece fora de campo, uma vez que a vigilância está ali presente, que a coisa só poderia descambar para onde? Em violência. É impressionante a quantidade de xingamentos, de pontapés, de descontentamento expressos em um jogo. Até técnico agora quer entrar em campo pra tretar com juiz, que situação… A brincadeira, a alegria acabou.

O livro de Simas (2021) nos apresenta a história da construção do estádio do Maracanã e as reformas que mudaram completamente a experiência de quem o frequenta, transformações que vêm acontecendo em todo o mundo futebolístico, que podem mudar completamente a maneira como enxergamos o esporte e cultura que ele carrega.

Tais mudanças, que vão desde a destruição da geral, que trazia todo um misticismo, toda uma cultura das periferias para o centro, onde torcer não significava apenas comprar um ingresso e incentivar o seu time, mas marcar presença em um lugar, num espaço-tempo do encantado, onde tudo no mundo poderia esperar, pois ali no gramado, quando o juiz apitasse o início do jogo, coisas inacreditáveis, sagradas e profanas poderiam acontecer. Dependia mais da fé e da sorte do que da competência da turma.

Hoje, como alerta Simas, não há mais estádio, mas arena. Não existe mais manto sagrado, mas uma camisa que mais parece um outdoor. Não existe mais torcedor, e sim clientes.

O VAR, a vigilância e o mercado da bola não combinam com o futebol.

Nos anos 2000, quando acompanhava os campeonatos e jogava futebol na escola, aparecia vez ou outra uma expressão que circulava entre os boleiros famosos e, obviamente chegava na nossa vila:

“É muita tecnologia para pouco futebol”

Lembro bem que nessa época chegavam nas quadras, nos campinhos, aquelas chuteiras coloridas, com travas incríveis, tinha também as camisas de tecido dry fit, os jogadores patrocinados pelas marcas… enfim… tudo isso aí a turma dizia que era tecnologia. Mas o que importava mesmo era se a pessoa jogava bola, se tinha aquele cacoete no modo de andar que nem o Pagão, se trançava as pernas do adversário no elástico, se tinha estilo na cobrança de falta – que era gol na certa do Zico, se driblava com a alegria do Garrincha. Eram essas tecnologias que realmente importavam, que todo mundo que curte futebol se esforça para fazer e ver.

Essas tecnologias combinam demais com o futebol.

Outra coisa que me fez lembrar esta expressão entre tecnologias e capacidades nessa semana, foi a notícia de que os milicos adquiriram um software que tem a capacidade de capturar e analisar dispositivos celulares smartphone, extraindo dados de e-mails, nuvens, redes sociais e aplicativos de mensagem, mesmo de conversas apagadas. A empresa que vendeu a tecnologia, sem licitação, já lucrou mais de R$ 70 milhões de reais em equipamentos de vigilância, todos com dispensa de licitação com a justificativa de que não existem empresas habilitadas a oferecer este serviço. Tudo à serviço da segurança cibernética. Será?
Segundo matéria publicada na Folha de S. Paulo, os responsáveis pela compra deste e de outras tecnologias são os mesmos milicos aliados de Bozó que questionam a lisura do processo eleitoral e das urnas eletrônicas! Vejam só…Quando a gente acha que já viu de tudo da prática vigilantista…. chega um VAR para pegar geral.

Afinal, são os mesmos milicos, que compõe o governo federal e recentemente gastaram outros milhões em próteses penianas e caixas e caixas de comprimidos viagra.

É muita tecnologia pra pouco futebol mesmo, né?

Alguém se levantou — e expulsou o presidente da Funai

O ex-funcionário da Funai, Ricardo Rao, se levantou e expulsou Marcelo Xavier de um evento; a ação direta do ex-colega de Bruno Pereira é, segundo Luh Ferreira, um exemplo para ativistas no Brasil de 2022

Amanheceu chovendo esta manhã.

Fiquei com preguiça de levantar, de ir pro treino, de fazer café…

Achei que poderia esperar um tempo na cama até o tempo abrir.

Abri o celular, no instagram, fui passando o feed, me entristeci profundamente por saber que o governador do Mato Grosso havia assinado o PL 561/2022, a lei anti-Pantanal, que pode mudar para sempre como as águas do bioma são protegidas. Já não bastasse o 22 x 02 na assembleia – isso mesmo 7×1 é pouca vergonha, foram 22 deputados estaduais votando contra a proteção do Pantanal —  tive hoje nesta manhã a certeza de que tudo vai mal. E que não conseguimos fazer nada para mudar.

 Segui em desânimo, segui passando o feed.

Quando vi uma cena:

 Um homem se levanta em um auditório. E começa a dizer em alto e bom som, de maneira dirigida, algo que a gente vêm gritando na internet, nos metrôs, nas feiras, nos almoços de família, na academia, no bar, no mercado, entre nós, claro… temendo a violência, sem querer arrumar confusão com gente que anda doida para atirar. 

 Desta vez alguém disse o que precisava ser dito para quem está há tempos, precisando ouvir:

 Este homem não pertence aqui, não é digno de estar entre os senhores. O Itamaraty é uma vergonha. O Itamaraty está sendo babá de miliciano. Marcelo Xavier é um miliciano. É responsável pela morte de Bruno Pereira e Dom Phillips! 

Miliciano! Vai embora! Vai pra fora!”

Ricardo Rao está exilado desde 2019 na Noruega e saiu da Funai durante o governo Bolsonaro por conta de perseguição política l Foto: Arquivo Pessoal

Ahhh, como eu ando querendo mandar gente embora dos lugares! Sobretudo do Brasélllllll!!!!

O homem que me refiro é o indigenista e ex-funcionário da Funai, Renato Rao. O levante aconteceu durante o evento da Assembleia Geral do Fundo para o Desenvolvimento dos Povos Indígenas da América Latina e do Caribe (Filac) em Madri, na Espanha. Rao corajosamente, dirigiu-se ao atual presidente da Funai (cujo nome não vamos mencionar pois dá azar), e fez com que ele se retirasse da reunião.

Oras, mas depois dessa eu me levantei na hora da cama!

Depois dessa ação direta, me animei a seguir o dia, mas também em escrever, em falar com as pessoas e saber mais sobre o caso Brasil, vai que um levante estava rolando e eu estava ainda na cama cansada?

Sim, me refiro ao caso Brasil, pois todos os dias acontece algo que muda, mas na real não muda nada. né?

É fucking meeting with diplomatas para anunciar que vai dar golpe — até porque não tem prova de nada. É convocação de irmão de petista assassinado para expôr ao mundo a sua estratégia de divisão familiar. É cada uma pior do que a outra.

Tudo isso rolando e a gente aqui com esse maldito clima de ESTÁ TUDO NORMAL como diria nosso querido André Dahmer: 

Chega de normalizar as imbecilidades!

Basta de normalizar a violência – Toda solidariedade às famílias do Complexo do Alemão!

Isso tudo não é normal, levantemos como fez Rao e expulsemos de nossa casa, de nosso convívio e principalmente desta presidência aquele que vocês sabem muito bem quem.

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