Escola de Ativismo

Luh Ferreira

Educadora Popular, ativista, doutora em Educação

Encantada com o mundo, indignada com a situação dele

Rumo à COP30: Confira 12 ferramentas para sua bagagem ativista

Rumo à COP30: Confira 12 ferramentas para sua bagagem ativista

Engaje-se com materiais importantes construídos por ativistas para ativistas sobre mudanças climáticas que poderão auxiliar nas mobilizações no Pará.

Montagem de publicações sobre resistência climática e sobre COP 30 / Escola de Ativismo

A COP 30 em Belém não será apenas um espaço de negociação entre governos. Será também um território de disputa. Um momento no qual será possível chamar a atenção do mundo para os desafios que envolvem as realidades locais, comunidades originárias e tradicionais, emergência climática, risco para ativistas, entre outras pautas urgentes. Afinal, para falar de adaptação e mitigação climática é necessário pautar os lugares que pisamos todos os dias. É preciso colocar no centro da conversa as realidades do nosso bairro, da nossa cidade, da nossa comunidade, onde o impacto da crise climática já é vivido, sentido e resistido.

É um momento crucial para destacar a urgência das transformações necessárias que representam um espaço de encontro entre diferentes povos e comunidades. Será possível compartilhar não apenas os desafios, mas também experiências, inspirações e possíveis soluções. Embora as negociações sejam, em grande parte, conduzidas por autoridades governamentais e influenciadas por interesses corporativos, os movimentos em defesa da justiça climática buscam pressionar os tomadores de decisão para assegurar a autonomia dos territórios e promover  reparação.

Para quem comunica a partir dos biomas, das periferias e das vozes de povos e comunidades tradicionais, um dos desafios durante a Conferência das Partes é tornar visíveis histórias que enfrentam a lógica da destruição ambiental e da desinformação climática. Desde o anúncio da COP 30 no Brasil, ONGs, ambientalistas, ativistas, militantes, defensores/as e povos de comunidades originárias e tradicionais têm produzido e consumido materiais sobre comunicação e clima que podem ser insumos importantes para quem deve percorrer os pátios da Conferência em novembro e quer estar preparado para possíveis discussões. 

Não é simples a tarefa de narrar o que os grandes projetos tentam silenciar. Mas se isso for feito de forma coletiva e organizada, a chance de alcançar os objetivos é muito maior. E foi com a ideia de colaborar nesse processo que a Escola de Ativismo resolveu reunir materiais de leitura. 

São cartilhas, manifestos, NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas, que são os planos de ação climática de cada país para cumprir os objetivos do Acordo de Paris), plataformas que são voltados para ativistas que se somarão às mobilizações em Belém e querem ampliar conhecimentos sobre mudanças climáticas e sobre a COP 30. 

Boa leitura. Aproveite as ferramentas!

NDC Indígena

Lançado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), o documento reivindica o reconhecimento específico da demarcação, regularização e proteção dos territórios indígenas como política de mitigação climática. A Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC) Indígena reafirma o papel dos povos indígenas como guardiões de conhecimentos ancestrais e parceiros-chave na construção de um futuro sustentável e justo para todos. 

Apesar de representarem apenas 0,8% da população brasileira, a diversidade cultural e os modos de vida ancestrais dos mais de 300 povos indígenas do país são elementos centrais para conter o ponto de não retorno da mudança do clima global. 

Clique aqui para acessar o documento completo da NDC Indígena 

NDC dos Quilombos do Brasil

O documento apresenta demandas dos povos quilombolas do Brasil para as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC) brasileiras, no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC). O documento publicado pela Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ) apresenta compromissos e eixos sobre ordenamento territorial e fundiário, transição energética justa e consulta prévia e desenvolvimento sustentável com justiça social, ambiental e climática, além de incentivos e meios de implementação. 

O texto afirma que “a inclusão formal da NDC Quilombola como um anexo detalhado da contribuição brasileira é uma oportunidade para o Brasil demonstrar ao mundo um compromisso com uma ação climática que é, ao mesmo tempo, ambiciosa, justa e baseada em evidências” e que as medidas propostas são “concretas, mensuráveis e diretamente alinhadas com os objetivos nacionais de redução do desmatamento e das emissões”. 

Clique aqui para acessar a NDC dos povos quilombolas

Nossa chance: uma NDC ambiciosa para adiar o fim do mundo

O Comitê COP30 – uma coalizão da sociedade civil brasileira composta por organizações não governamentais, coletivos e grupos de pesquisa – divulgou materiais muito ricos.O “caderno de atividades para adiar o fim do mundo”  oferece conteúdos acessíveis e atividades que incentivam o pensamento crítico, apoiam o trabalho das organizações da nossa rede e fortaleçam a capacidade de atuação das pessoas como agentes de transformação social. O material, que pode ser utilizado na sala de aula, com o seu coletivo e até, quem sabe, com a roda de amigos, reforça a necessidade de tornar mais simples e acessível a conexão entre os temas da agenda climática internacional e a nossa vida cotidiana, nossos sonhos, lutas e esperanças. Acesse aqui: “Caderno de atividades para adiar o fim do mundo” 

Durante a COP30, acontecerá a terceira rodada de NDCs. Os compromissos atuais têm se mostrado tímidos diante da urgência da crise climática. Nesse sentido, outro documento do Comitê propõe recomendações a serem incorporadas na NDC do governo brasileiro. 

Leia aqui: “Nossa chance: uma NDC ambiciosa para adiar o fim do mundo”.

A resposta somos nós!

A campanha “A Resposta Somos Nós” nasce do chamado dos povos indígenas da Amazônia e do Brasil como um grito global por justiça climática e defesa da vida rumo à COP30. A campanha foi criada pela COIAB (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira) em junho de 2024 e nasce com o propósito de ser abrangente e inclusiva entre povos indígenas, povos e comunidades tradicionais, movimentos sociais, ativistas e organizações parceiras de todas as regiões do planeta, com o objetivo de unificar e visibilizar nossas pautas comuns contra a crise climática. 

Saiba mais e junte-se à campanha na luta contra a crise climática!

Eunice - plataforma do Observatório do Clima

O Espaço Unificado de Informação Climática e Engajamento (Eunice) é uma iniciativa do Observatório do Clima criada para ajudar o público a entender as mudanças climáticas. Na página você vai descobrir como e por que o planeta está esquentando, a origem dos eventos extremos, as soluções possíveis e as ações da sociedade para enfrentar a crise. 

Clica aqui para acessar a Eunice 

Aliança dos Povos pelo Clima

A Aliança dos Povos pelo Clima é uma rede de luta ancestral articulada a partir de uma proposta de envolvimento pela defesa da floresta, da Amazônia e da vida, em tempos de colapso climático. O manifesto lançado pela rede apresenta propostas de envolvimento pela defesa da floresta, da Amazônia e da vida. 

Acesse aqui o manifesto da Aliança dos Povos Pelo Clima.

LabNarra

O Movimento Amazônia de Pé, composto por mais de 20 mil ativistas e mais de 300 organizações e coletivos de norte a sul do país, lançou o LabNarra – um material sobre como trabalhar diálogos sobre a Amazônia e o clima em diferentes regiões do país. O guia narrativo traz destaques da escuta de cada região e sugestões de argumentos, frases de mobilização e elementos visuais para mobilizar os territórios regionalmente. 

Acesse o material LabNarra clicando aqui

Rumo à COP 30

A publicação “Rumo à COP 30 – Como a sociedade civil do Sul Global pode participar das negociações climáticas e fazer história no Brasil?” é uma publicação do Fundo Casa Socioambiental que reúne informações essenciais sobre o funcionamento das COPs, o Acordo de Paris, as agendas prioritárias em disputa e dicas práticas para quem vai participar da conferência – especialmente organizações comunitárias, quilombolas, indígenas, ribeirinhas, mulheres, juventudes e outros movimentos sociais que historicamente têm pouca presença nesses espaços. Mais que um guia técnico, a publicação é um instrumento de fortalecimento da  democratização da informação. 

Acesse aqui o material “Como a sociedade civil do Sul Global pode participar das negociações climáticas e fazer história no Brasil?”

“Mudanças Climáticas e Conferência do Clima: qual o nosso papel?”

A cartilha “Mudanças Climáticas e Conferência do Clima: qual o nosso papel” é um material informativo e formativo voltado à mobilização da sociedade brasileira diante das emergências climáticas. O material inclui artigos, roteiros de oficinas e propostas de rodas de conversa, fomentando a construção coletiva do conhecimento e a educação popular. Além de informações didáticas sobre mudanças climáticas e sobre o processo histórico das COPs, a publicação oferece sugestões práticas de uso nos territórios. 

Acesse aqui a cartilha “Mudanças Climáticas e Conferência do Clima: qual o nosso papel”

Carta da Pré-COP dos Povos e Comunidades Tradicionais ao Presidente Lula

Uma carta da Pré-COP dos Povos e Comunidades Tradicionais ao Presidente Lula assinada pela Rede de Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil – Rede PCTs do Brasil e pelo Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB) tornou público um um conjunto de propostas e reivindicações para a Conferência das Partes sobre o Clima (COP30).  Além de exigir que o governo garanta participação direta de povos e comunidades tradicionais nas negociações da COP30, a carta é um importante documento para deixar evidente a todas as pessoas o que querem e como pensam os povos tradicionais sobre os seguintes temas:

  • Direitos territoriais 
  • Financiamento climático direto 
  • Sociobiodiversidade como política de estado 
  • Transição energética 

 

Leia aqui: Carta da Pré-COP dos Povos e Comunidades Tradicionais ao Presidente Lula

“O que povos e comunidades tradicionais precisam saber sobre a política climática e a COP30?”

Ainda na biblioteca virtual da Terra de Direitos – organização de Direitos Humanos que atua na defesa, na promoção e na efetivação de direitos, especialmente os econômicos, sociais, culturais e ambientais – há disponível a cartilha “O que povos e comunidades tradicionais precisam saber sobre a política climática e a COP30?”. O material propõe reflexões importantes e busca auxiliar na formação e na participação desses povos e comunidades nos espaços de discussão climática. O objetivo é fortalecer a voz e a luta coletiva de povos e comunidades tradicionais. 

Acesse a aqui  “O que povos e comunidades tradicionais precisam saber sobre a política climática e a COP30?

Dicionário de Direito Climático - Laclima

Este é o primeiro Dicionário de Direito Climático do Brasil, elaborado por Direito Internacional sem Fronteiras, com apoio da LACLIMA e de Latinas por el Clima. O material apresenta 36 conceitos atinentes ao Direito das Mudanças Climáticas, escritos por juristas, advogados e professores, e também por pesquisadores de outras áreas do conhecimento. Assim, reconhecemos que o estudo das mudanças climáticas é inerentemente transdisciplinar. O documento tem como objetivo oferecer um guia acessível e didático para estudantes, pesquisadores e todos os interessados, contribuindo para a disseminação de informação de qualidade sobre a mudança do clima. 

Acesse aqui o Dicionário de Direito Climático do Brasil

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Como enfrentar o calor? Lutas e táticas das periferias urbanas contra o colapso ambiental

Como enfrentar o calor? Lutas e táticas das periferias urbanas contra o colapso ambiental

Ativista comenta sobre as desigualdades e o racismo ambiental e lista algumas táticas para enfrentar a crise climática de maneira coletiva e no dia-a-dia

Passagens de ar são uma sabedoria prática da arquitetura das periferias urbanas para aliviar o calor. (Foto l Ana Carolina Mello)

O Brasil, por ser um país tropical, já enfrenta naturalmente temperaturas elevadas.  No entanto, nem todo mundo sofre com os efeitos de forma igual. Fatores como desmatamento, queimadas, urbanização desordenada, ausência de infraestrutura verde e a concentração de indústrias em áreas específicas intensificam as mudanças climáticas e os seus efeitos sobre determinadas populações.

O impacto da crise é mais severo em áreas periféricas urbanas, frequentemente utilizadas para a instalação de indústrias, depósitos de lixo, estações de tratamento de resíduos e outros empreendimentos que contribuem para a poluição e o aumento da temperatura local. Em geral, são regiões marginalizadas, com pouca arborização, escassez de espaços verdes e infraestrutura precária. Quando essas decisões políticas e econômicas recaem, quase exclusivamente, sobre territórios racializados — ou seja, áreas onde vive majoritariamente uma população negra, indígena ou não-branca historicamente marginalizada — e pobres, estamos diante de um caso de racismo ambiental.

A médica e ativista Jurema Werneck analisou essa realidade em seu estudo “As injustiças climáticas atingem as mulheres negras e periféricas”Os dados revelam a desigualdade: em Belém, 75% da população residente em áreas de risco é negra, com renda domiciliar média de R$ 1.700. Em São Paulo e Recife, esse percentual é de 55% e 68%, respectivamente, com renda média de R$ 1.100 por domicílio. As mulheres negras, chefes de família e com rendimento de até um salário mínimo, são o grupo mais exposto às consequências da crise climática.

Essa exposição se traduz em  insegurança alimentar, dificuldade de acesso à saúde, insalubridade e sobrecarga emocional. Em dias mais quentes, essas mulheres sofrem com o agravamento de doenças pré-existentes, dificuldades para dormir, aumento do estresse e da exaustão. A precariedade das moradias, muitas vezes construídas com materiais que absorvem e retêm calor, torna a vida doméstica ainda mais difícil, especialmente para quem precisa cuidar de crianças, idosos ou pessoas doentes.

Enquanto isso, um levantamento do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa, organizado pelo Observatório do Clima, revelou que entre 2019 e 2022, o Congresso Nacional aprovou 93 propostas que ampliam as emissões de gases de efeito estufa, de um total de 165 votações consideradas relevantes para a agenda climática. O estudo mostra ainda que parlamentares ligados aos setores da agropecuária e da mineração, majoritariamente alinhados à direita, têm adotado uma postura sistemática de apoio a medidas que aumentam a degradação ambiental.

Diante desse quadro, o que podemos fazer enquanto populações afetadas e ativistas? Que saídas existem nas lutas autônomas e em nossos cotidianos? Como navegar a luta sabendo que espaços institucionais estão dominados por interesses contrários às nossas existências?

Para pensar essa questão, a Escola de Ativismo conversou com Mikael Ferreira Santos, estudante de Engenharia Mecânica na UERJ e idealizador do projeto Climatização Acessível: Estratégias para Redução do Impacto do Calor em Comunidades Periféricas, criado para o programa Jovens Cientistas da Secretaria Municipal de Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro. O objetivo do projeto é analisar os impactos do calor extremo em comunidades periféricas e desenvolver soluções simples e acessíveis para mitigar seus efeitos. 

O projeto tem dois eixos principais. O primeiro é documental. Mikael visitou comunidades periféricas e ouviu moradores sobre como enfrentam as altas temperaturas. As respostas revelaram o uso de estratégias como baldes com água em frente ao ventilador, toalhas molhadas sobre o corpo e improvisações com papelão para criar sombra. No entanto, esses mesmos relatos apontam problemas sérios como falta de água, cortes frequentes de luz e ausência de atendimento médico quando os efeitos do calor, como desmaios, dores de cabeça, queda de pressão e exaustão, se agravam.

Em depoimento para o documentário realizado por Mikael e pela produtora Osmlksfilmam , a moradora Nem, da comunidade da Mangueira, contou que já trabalhou de sutiã com quatro ventiladores ligados para tentar suportar o calor. Nesse relato, tivemos acesso a mais uma camada do problema: a conta de luz.

Nem, moradora da Mangueira, mostra sua cozinha. Por causa do calor, ela relata que a conta de luz fica cada vez mais alta. (Foto l Ana Carolina Mello)

Resistência nos territórios

Em regiões mais quentes e com menos infraestrutura, a necessidade de usar ventiladores ou aparelhos de ar condicionado aumenta, mas os moradores não têm renda suficiente para arcar com esse custo. Quem mais precisa consumir energia para manter a própria saúde é quem menos pode pagar. Ao mesmo tempo, empresas de energia e fabricantes de equipamentos continuam lucrando com a exclusão.

A proposta de emenda à Constituição que previa a redução das tarifas de energia para famílias de baixa renda  segue sendo adiada no mesmo congresso apontado acima como um dos principais responsáveis pelo aumento do calor. A pauta, ainda que urgente, é negligenciada e demonstra mais um sinal de relação direta entre lucro e exclusão no cerne do racismo ambiental. 

O projeto Climatização Acessível propõe um curso formativo em dois módulos. O primeiro oferece orientações sobre ventilação natural, instalação de telhados verdes, técnicas de sombreamento e uso de materiais que reduzem a absorção de calor. O segundo, é técnico e voltado à capacitação profissional. A ideia é ensinar a instalação e manutenção de equipamentos de refrigeração e climatização, o que pode gerar trabalho e renda dentro da própria comunidade. O curso estará disponível no Nave de Conhecimento, a partir de novembro de 2025. 

Segundo Mikael, a atuação comunitária precisa ocupar os espaços onde o Estado não chega. “As comunidades periféricas já buscam soluções há décadas, muitas vezes por conta própria, mas essas alternativas são improvisadas e nem sempre saudáveis. O objetivo é compartilhar conhecimento técnico e acessível, capaz de gerar transformação local”, diz.

Os efeitos, da ação, longe de serem soluções individuais, fazem parte um esforço comunitário de resistência. “Quando uma moradora aprende a instalar um sistema de resfriamento com baixo custo e passa esse saber adiante, ela não está só combatendo o calor. Para o ativista, além das  Ela está criando uma rede de autonomia e resistência coletiva”, finaliza.

  • Climatização acessível e reduação de danos: 4 estratégias práticas

    Mikael reuniu compartilhou conosco quatro das dicas práticas para combater o calor que serão disponibilizadas no curso Climatização Acessível para Comunidades Periféricas. Essas soluções foram construídas com base em saberes populares, experiências comunitárias e princípios de engenharia acessível, combinando conhecimento técnico com práticas sustentáveis e de fácil aplicação no dia a dia das periferias.

    1. Balde com água e gelo na frente do ventilador

    Saber tradicional transmitido pelas mais velhas da comunidade. Funciona como um “ar-condicionado caseiro”, refrescando o ar que circula. O ideal é usar blocos grandes de gelo, que derretem mais devagar.

    2. Tinta reflexiva no telhado ou nas paredes externas

    Tintas reflexivas ou “tintas térmicas” ajudam a refletir a radiação solar, diminuindo a temperatura interna da casa. Elas reduzem em até 10 °C o calor interno, especialmente em casas com telhado de zinco ou laje exposta. Apesar do custo inicial, a durabilidade e o impacto são altos, e há mutirões e programas sociais que ajudam a aplicar.

    3. Sistema de colmeia para ventilação

    Inspirado em técnicas naturais, esse sistema usa garrafas PET ou estruturas de barro para canalizar o vento. As “bocas” estreitas das garrafas aumentam a velocidade do ar que entra nos cômodos. É barato, sustentável e pode ser montado com reaproveitamento de materiais.

    Uma solução criativa e sustentável: ao cortar garrafas PET ao meio e fixá-las com o gargalo voltado para dentro da casa, o ar entra mais rápido e fresco. Isso acontece graças ao estreitamento da garrafa, que acelera o vento, uma ideia baseada no efeito Venturi. Fácil de montar, esse sistema reaproveita materiais e melhora a ventilação em cômodos quentes, sem custo.

    4. Sombras inteligentes com plantas ou coberturas

    Criar sombras com plantas trepadeiras, lonas ou até mesmo telhados verdes reduz a incidência direta do sol nas paredes e janelas. Árvores e plantas próximas às casas também ajudam a refrescar o ambiente ao redor.

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Por uma comunicação que construa novos mundos: a identidade como estrutura e o papel do jornalismo de causas

Por Mario Campagnani – 23/09/2025

Ana Flor Fernades, Raquel Kariri, Cristian Góes e Rosane Borges durante a roda de conversa / Foto: Nayara Almeida

Escrever sobre o que acontece no mundo, definir que informações são importantes de serem divulgadas não é apenas reportar, mas também alterar, construir a realidade. A opção adotada pela imprensa comercial na construção da imagem do que é o Brasil, o brasileiro, chegou a um momento de colapso, tanto na questão da credibilidade como também na dificuldade de se adaptar às novas formas de se comunicar. Se a partir daí vemos uma possibilidade de construir algo novo por meio do jornalismo de causas, da comunicação ativista, há também a imensa responsabilidade de não acabar perpetuando esses antigos valores.

Porque ao falar dos problemas estruturais, o jornalismo de causas também precisa se identificar como parte dessa estrutura, e pode acabar reformulando, mas mantendo as opressões se não houver um incômodo, uma vontade de construir novas formas de pensar, ressaltaram os participantes do debate “Questões identitárias ou estruturais? O que pode o jornalismo de causas”, realizado durante o Fala! Festival de comunicação, cultura e jornalismo de causas.

Para Raquel Kariri, da Escola Livre de Ancestralidades Kariri, é necessária uma reconfiguração do jornalismo a partir do debate da ancestralidade, o debate que os povos indígenas vêm trazendo. A primeira questão, segundo ela, é a necessidade de reconhecer que o mundo, a biosfera, está em colapso.

“Ou eu falo para comunicar outro mundo, ou eu falo para reativar minha rede de magia e encantaria para fazer frente ao esvaziamento neoliberal ou não estamos fazendo nada. Ou reativamos a magia a partir do nosso território, ou então a gente vai passar pelas ruínas desse planeta de forma indigna. Que tenhamos a capacidade de nos unir, mas também para a anunciação de outros mundos, outras vidas de encantaria”, afirmou a ativista.

Dentro desse esvaziamento nada é por acaso, lembra o jornalista Cristian Góes, coordenador na Mangue Jornalismo. O projeto político de construção do Brasil precisou de uma forma de ver o mundo onde o diferente, o inimigo, foi um papel imposto a todos aqueles que não eram homens brancos.

“Tudo que não era o ‘nós’ eram os outros, os de fora, dentro dessa ideia europeia de estado nação. Os outros eram invasores nessa concepção europeia. Aqui no Brasil, onde a configuração é diferente, esse papel do outro foi colocado nas populações negra, nos povos tradicionais”, afirmou Góes, acrescentando que discutir o jornalismo de causas é discutir a questão de estrutura do Brasil.

“Pensar o jornalismo de causas sem meter o dedo na estrutura, mobiliza mas não transforma. Não é apenas trazer a cultura só pela cultura, não é só trazer as questões da identidade para cima da estrutura, mas é pensar essas questões mexendo nela. Inclusive, é preciso libertar o jornalismo aprisionado nas instituições. Esse modelo está falido, em parte pelo trabalho das mídias independentes, mas precisa ser radicalizado, para que não fiquemos numa espécie de superfície do campo jornalístico. Eu quero que façamos jornalismo identitário, com ancestralidade, mas indo a fundo, sem ficar só na superfície”.

 

Os caminhos da invisibilização

A comunicação hegemônica, que é parte desse projeto estrutural que vem levando o mundo ao colapso, atua de formas perversas com esses corpos que lutam por reconhecimento. No debate foram apresentados os conceitos de invisibilidade pela ausência e pela presença. A primeira é aquela que apenas ignora, que não abre espaço para essas histórias, como se elas não existissem. A outra é quando a própria representação é feita de uma forma que não está interessada na descrição, no aprofundamento dessas vidas e histórias, mas sim na construção dessas figuras como inimigos, sujeitos matáveis, como ocorre com a população negra, os sem-terra e as travestis, por exemplo.

A educadora Ana Flor Fernandes, pesquisadora de gênero, sexualidade e política, lembra quando era criança e voltava da praia com sua família em Recife e, ao passar por uma avenida que era ponto de trabalho sexual de travestis, as pessoas fechavam as janelas dos carros, havia um medo daquelas pessoas que ela também sentia. Ao escrever sobre isso, sobre ter se tornado algo que ela mesma inicialmente tinha medo, ela também começou a pesquisar sobre o papel da imprensa na construção desse sentimento.

“Meu trabalho costura de alguma forma o que o jornalismo foi capaz de fazer com essa identidade. Não foi apenas a polícia durante a ditadura militar que fez com que as travestis fossem presas. Foi também pelo o que o jornalismo é capaz de subjetivar, quando você assiste ou lê sobre aquela determinada identidade, sobre quais vidas são passíveis de luto”, citando o trabalho de jornais como a Folha de São Paulo e o Estado de São Paulo, que na década de 1970 publicava manchetes como “Perigo! As travestis estão à solta”.

Ana Flor, contudo, afirma que o caminho para que o jornalismo de causas não perpetue essas mesmas práticas da mídia hegemônica é dar mais atenção e abrir espaço, lembrando que essas histórias e vidas não são apenas sobre violência e dor.

“Eu escolhi algo que é muito difícil para uma travesti negra, eu escolhi ser feliz. Hoje temos visto as travestis disputando a política, nós queremos estar nesses espaços. Nós queremos e precisamos estar em espaços como este festival falando de construir outras propostas de mundo, sobre o que é importante para o Brasil. Porque, se o país é bom para as travestis, não tenho dúvidas que será bom para quase todas as pessoas” disse Ana.

A professora Rosane Borges, que mediou a mesa, trouxe como conclusão que a luta política no jornalismo está na bandeira de defesa do que é humano. “Precisamos defender a humanidade do outro, não se trata de ser um bom ou mau jornalismo, mas que tipo de humanidade queremos construir”.

Quer ler mais? Confira a nossa cobertura do Festival Fala! no Instagram da Escola da Ativismo ou leia nossas matérias especiais sobre o encontro: 

> “A história oficial do brasil é desinformação” — indo além do trauma bolsonarista para pensar sua superação
> Festival Fala! alia cultura, ancestralidade e comunicação como ação política

 

 

Línguas, grafismos, pinturas e cantos: a importância do simbolismo na resistência indígena

Línguas, grafismos, pinturas e cantos: a importância do simbolismo na resistência indígena

Além de serem expressões marcantes da cultura indígena, os simbolismos também são fortalezas para os povos que resistem enquanto cuidam dos biomas.

Pinturas corporais, grafismos, os cantos, as tradições, a língua originária… O modo de viver dos povos indígenas, com seus símbolos e simbologias, são formas potentes de resistência. Nas aldeias do Maranhão é possível perceber que, em meio à destruição dos biomas e das ameaças aos territórios, essas expressões cotidianas se transformam em atos políticos que reafirmam a luta pela vida.

“A pintura para nós traz energia, força, espiritualidade da natureza. Eu gostaria que a população não indígena entendesse que nossa pintura é nossa cultura”, disse Frederico Pereira Guajajara, que é pintor corporal, artesão, coordenador de caciques e liderança da região de Araribóia.

O cacique da etnia Tetehar Guajajara é também atual presidente da associação comunitária Zyhatyw, na Aldeia Juçaral, e articulador político da região sul do estado na Coordenação das Organizações e Articulações dos Povos Indígenas do Maranhão (COAPIMA). A liderança explica que os grafismos pintados nos corpos com jenipapo têm ligação com espiritualidade e proteção e possuem significados diferentes. 

“Eu gosto de fazer pintura de jiboia, símbolos do rios, pintura de tamanduá, pintura de guerreiros”, conta Tetehar. E explica que “os povos Guajajara usam jenipapo para pintar desde criança. Quando se completa um ano de idade, já realiza o primeiro processo de ritual. Isso diz muito sobre a transmissão de saberes dos povos indígenas”. 

O Guajajara explica que as pinturas não são só estética. Elas são importantes para a proteção física e espiritual. “A pintura, para nós, traz energia, força, espiritualidade da natureza. E através dela também a gente confunde os inimigos”, disse.

Frederico Guajajara, liderança indígena do Maranhão, é pintor corporal

A cultura indígena se sustenta em práticas que atravessam gerações. Cada gesto, cada canto e cada traço no corpo carregam memórias da ancestralidade. Por isso, a liderança indígena destaca a importância da preservação cultural. “Nós valorizamos os saberes tradicionais, a língua materna, as pinturas corporais, os rituais, as tradições, como valorização da nossa cultura, festas tradicionais como festa da menina moça festa dos rapazes, ritual do mel”, disse. 

Resistência nos territórios

Os povos indígenas são guardiões da natureza e, por causa da profunda conexão e conhecimento tradicional sobre a fauna e a flora, têm papel fundamental na preservação ambiental do Brasil. No entanto, a lógica do lucro e a força dos inimigos dos biomas em diferentes partes do Maranhão tem modificado as paisagens: onde antes havia coco babaçu, fonte de vida e sustento para comunidades inteiras, hoje predominam extensas plantações de eucalipto, que sufocam a biodiversidade e ameaçam práticas de subsistência ancestrais.

A aldeia de Frederico fica em Amarante, no sul do Maranhão – região muito desmatada para cultivo de eucalipto. Perto de Açailândia, os “desertos verdes” ameaçam a sobrevivência dos povos originários e tradicionais e a segurança alimentar no campo. 

Entre os impactos mais graves dessa prática estão o desaparecimento de fontes de água nas áreas de plantio e a desestruturação das formas de subsistência. Instalada na região, a Suzano – fabricante de celulose e uma das maiores produtoras de papéis da América Latina – recorre ao greenwashing para sustentar um discurso de sustentabilidade que não corresponde à realidade vivida pelas comunidades locais. Para quem permanece nesses territórios, as práticas tradicionais se tornam cada vez mais inviáveis diante da perda de recursos naturais, da erosão cultural e da pressão econômica. Quando empresas como essa se instalam, tudo muda e em muitos casos, a situação é tão crítica que famílias rurais acabam sendo forçadas a migrar em busca de condições mínimas de sobrevivência.

  • O termo greenwashing, em tradução livre significa “lavagem verde” ou “maquiagem verde” e  é uma prática que tem como objetivo passar uma mensagem falsa sobre sustentabilidade para parecer ambientalmente responsável, mas na verdade a estratégia esconde ações graves e prejudiciais para o meio ambiente. A ação pode acontecer com ocultação de dados, informações inverídicas, construção de imagem diferente da realidade, ou dando ênfase em alguma característica que pode ser considerada sustentável no lugar de produtos ou ações que são prejudiciais. Afinal, gastar milhões nas campanhas para criar uma imagem positiva não é um peso no orçamento bilionário dos atores que praticam essa farsa.

Mas a população do Maranhão tem resistido. E dentro das aldeias. Dados do censo do IBGE apontaram que o Maranhão é o segundo estado brasileiro com maior população indígena vivendo em seus territórios.  Mas, para enfrentar os inimigos, é preciso adotar estratégias que expressam resistência e poder coletivo. Para os povos indígenas, a verdadeira força está na ancestralidade. E é dessa força que brotam os cantos.  

Cantos ancestrais

Daiana Bento Sansão Gavião, da etnia Gavião Pyhcop Catiji, em aldeia Nova Marajá, no Maranhão, é cantora. Para ela, os cantos são muito mais do que melodia.  

“A música pra mim é força, é coragem, é resistência, além de ser alegria, união e coletividade nas nossas festas”, disse Daiana.

Daiana Gavião, da etnia Gavião Pyhcop Catiji, aprendeu cantar com a mãe

A cantora, que é técnica em enfermagem, conta que muitas dessas canções estão profundamente ligadas à natureza. Os cantos são entoados por indígenas em línguas originárias. Daiana canta na língua Jê.  “Nós cantamos vários tipos de canto. Tem cantoria de beija-flor, arara, papagaio. Tem da anta, capivara, veado e também dos peixes como  piranhas e arraias”.

Essas canções são muito mais que som e ritmo: carregam saberes, histórias e valores transmitidos de geração em geração. Cada melodia é um aprendizado que é compartilhado a cada geração. 

“Eu aprendi com a minha mãe que é uma cantora anciã que vem me incentivando a cantar. Ela canta para mim desde os meus 15 anos. Eu pretendo aprender muito mais para poder ensinar para os jovens que vão passando de geração em geração para que nunca acabe essas cantorias que trazem a paz, alegria e a união pro nosso povo”, disse Daiana. 

Língua originária como força

A manutenção da língua é mais uma das fortalezas dos povos indígenas no Maranhão. Em todo o Brasil, mesmo após séculos de duros processos de apagamento linguístico, os povos indígenas mantêm vivas e fortes diferentes línguas. 

Para fortalecer a manutenção das línguas indígenas, há projetos liderados por indígenas. Mairu Hakuwi Kuady Karajá, indígena do povo Iny Karajá, é idealizador e coordenador do Projeto Inyrybé – projeto que tem a missão de garantir a manutenção permanente da língua Inyrybé para o povo Iny. Nos territórios, ele dá aulas de Inyrybé para crianças, jovens, adultos e idosos. 

“É através da língua que entendemos que somos diversos. Possuindo formas de expressões próprias e sons únicos. É uma riqueza e raridade linguística que precisa ser vista como um importante patrimônio imaterial”, disse Mairu. 

Procurado pela Escola de Ativismo para falar sobre a importância da manutenção da língua para os povos indígenas, ele explicou que as centenas de línguas presentes no Brasil possuem diferentes troncos e famílias linguísticas e mostram a riqueza linguística e cultural do país e também revelam a profundidade e a diversidade dos povos originários e de suas expressões.

“As línguas indígenas são a afirmação da nossa identidade e das nossas histórias. A história é essencial, pois é por meio dela que descobrimos nossas origens. E ela é contada através da nossa língua. E a língua tem papel fundamental na manutenção e no fortalecimento de nossas raízes, além de preservar a memória coletiva”, disse Mairu.

Mairu Kuady dá aulas da língua Inyrybé – foto: Marcus A. S. Wittmann 

Para Mairu, a língua é muito além do que apenas uma ferramenta de comunicação. “É a transmissão do saber. Por isso, hoje reconhecemos o quão importante é mantermos nossas línguas fortalecidas e vivas. Ela faz com que tenhamos o conhecimento sobre quem somos, nossas histórias, tradições, contos, cantos e origens. É o pilar da identidade de um povo”, explicou.

O professor informou que a língua é uma fortaleza para os povos indígenas. Ela também é uma aliada quando o assunto é comunicação estratégica e segura, podendo ser usada como código estratégico quando é necessário tratar de assuntos sensíveis ou sigilosos.  

A língua é um componente da identidade dos povos indígenas crucial para que a atual e a futura geração saibam da sua existência enquanto pertencentes a um povo. “Ela é a raiz da transmissão dos conhecimentos e orgulho de pertencimento étnico. Mais do que isso, é a memória daqueles que resistiram e mantiveram”, finalizou Mairu. 

Newsletter

Comboio: programa em transição energética para comunicadores e jornalistas abre inscrições

Comboio: Programa formativo em transição energética para pessoas comunicadoras abre inscrições

Bem-vinda, Bem-vinde, Bem-vindo!

Justiça Climática não é opção: é a flecha que guia a resistência e o futuro. Por isso, acreditamos que só é possível uma transição energética justa acontecer se ela for inclusiva, conduzida e protagonizada pelas mãos de todo mundo. 

Não adianta trocar energia gerada por petróleo pela gerada pela energia eólica, se ela devasta comunidades tradicionais e a biodiversidade. Não basta eletrificar sem pensar nos impactos da mineração nos povos. E daqui parte o Comboio. 

O Comboio é um programa formativo online para pessoas comunicadoras que buscam unir suas vozes e aprimorar seus conhecimentos sobre transição energética justa e popular enquanto transformam saber em prática e prática em novas narrativas potentes. Será uma jornada de aprendizado e produção de conhecimento e divulgação sobre os desafios, dilemas e oportunidades que envolvem a agenda da transição energética justa através de lentes como a eletrificação, a mobilidade e o transporte de cargas.

Ao longo de outubro de 2025 até janeiro de 2026, durante 4 meses, os participantes farão um percurso de criação de narrativas e elaboração de práticas, nos moldes de uma redação de produção de conteúdo, associado à aulas teóricas que visam fornecer um panorama crítico, analítico e baseado em evidências sobre transição energética justa, crise climática, transportes, mobilidade, mineração e temas ainda pouco explorados como eletrificação da frota de caminhões pesados.

O processo formativo irá envolver os participantes em um percurso de criação de narrativas e elaboração de práticas, nos moldes de uma redação de produção de conteúdo, associado à aulas teóricas que visam fornecer um panorama crítico, analítico e baseado em evidências sobre transição energética, crise climática, transportes, mobilidade, mineração, eletrificação da frota de caminhões pesados e boas práticas comunicacionais. 

A carga horária prevista do curso é de 6 horas semanais, incluíndo teoria, prática e muito aprendizado. 

O programa conta com uma bolsa para os aprovados no valor de R$1.200 reais mensais para garantia da dedicação das pessoas participantes e aulas de inglês focada na temática do curso. 

Nesta edição, serão selecionadas 10 pessoas comunicadoras que atuam com produção de conteúdo para redes sociais e produção de textos e tenham vontade de aprender mais sobre transição energética e contar histórias e construir novas narrativas a partir de uma perspectiva ativista, territorializada e crítica sobre transição energética. 

Sobre a Escola de Ativismo

O Comboio é uma Iniciativa da Escola de Ativismo. 

A Escola de Ativismo é um coletivo independente constituído em 2011 com a missão de fortalecer grupos ativistas por meio de processos de aprendizagem em estratégias e técnicas de ações não-violentas e criativas, campanhas, comunicação, mobilização e segurança e proteção integral, voltadas para a defesa da democracia e dos direitos humanos.

O coletivo é formado por um grupo multidisciplinar de ativistas, que se organiza de maneira distribuída e não hierárquica, por meio de princípios orientadores em diversas regiões do Brasil.

Esse programa é para mim?

Você atua como comunicador em um veículo ou canal? Cria e divulga saberes, tecnologias sociais, conteúdos informativos ou atua em redes ou coletivos? Você tem interesse em saber mais sobre transição energética e crise climática? Em se conectar com outras pessoas comunicadoras e profissionais da áreas para socializar histórias, trajetórias, vivências e aprendizagens?

A formação tem o objetivo de contribuir para a formação de comunicadores em todo o país, além da articulação de redes e produção de materiais. Se você enxerga sua vida nesse percurso, esse programa é para você.

Você pode estar num começo de jornada na comunicação ou com uma carreira mais estabelecida, o importante é que esteja vinculado à organizações e/ou coletivos de comunicação ou produza conteúdo para redes sociais. 

É essencial que os participantes tenham 6 horas disponíveis por semana para às atividades do programa, como aulas e momentos coletivos, além de tempo para se dedicar à criação e estudo. Possivelmente as atividades irão ocorrer das 19h às 21h (Horário de Brasília) em ao menos dois dias por semana.

Se você é uma pessoa que:

– Compreende o que é a mudança Climática e deseja aprofundar os conhecimentos em temas relacionados à crise climática, transição energética, boas práticas comunicacionais, eletrificação, transporte e mobilidade;

– Faz parte de comunidades e territórios atingidos por problemáticas provenientes da poluição, mineração, empreendimentos energéticos, indústria petroleira, agronegócio e que queiram fazer parte da elaboração de soluções para essas questões;

– É comprometida com o antirracismo, anti-LGBTQIAPN+fobia, anticapacitismo, o combate ao machismo e às demais formas de opressão;

Tenha criatividade e vontade de produzir materiais que tragam novos olhares e narrativas para novos problemas e velhas questões;

– Tenha senso crítico e  esteja aberta a pautar a temática de transição energética justa e popular em seus coletivos, veículos, meios de comunicação e perfis em redes sociais

– Esteja disposta à entrar numa jornada de aprendizagem que envolva participação e curiosidade, buscando sempre colaborar com participantes diversos de todo o país;

O Comboio tem um compromisso com a diversidade e por isso incentivamos que pessoas negras, de comunidades tradicionais, mulheres, jovens e povos LGBTQIAP+ se inscrevam no processo seletivo.

Como eu faço para me inscrever?

Para se inscrever acesse o formulário, clicando aqui.

As inscrições vão até meia-noite do dia 21/09/2025. 

Se tiver qualquer dúvida pode escrever para contato@ativismo.org.br

Resumindo

O que é? É o Comboio – Programa em transição energética para comunicadores e jornalistas

Quanto custa?
Nada!

Quanto você vai receber de apoio? Bolsa: R$ 1200 por mês por quatro meses

A formação é focada em que?
Transição energética justa e popular, transportes pesados, mobilidade, eletrificação de frota, mineração, salvaguardas
ambientais.

Qual a carga horária?
6 horas semanais

Quais os resultados esperados? Aprendizagens sobre transição energética, criação de redes, produção de materiais para redes sociais e site.

Tá, mas quando?
Entre outubro de 2025 e janeiro de 2026!

E o link do formulário? Tá aqui!

Cronograma

Período de Inscrições: 09 até 21 de setembro

Contato com pessoas selecionadas: 26 de setembro

Período do programa: 29 de setembro até  31 de janeiro (com recesso).

Divulgação dos conteúdos online: à combinar em conjunto com a Escola de Ativismo

Bem-vinda, Bem-vinde, Bem-vindo!

Pistas para identificar, enfrentar e denunciar injustiças climáticas

Pistas para identificar, enfrentar e denunciar injustiças climáticas

As injustiças resultantes das questões climáticas amplificam desigualdades sociais, mas a luta coletiva é capaz de defender os territórios e a vida.

Pistas para identificar, enfrentar e denunciar injustiças climáticas

O agravamento das  mudanças climáticas vêm causando impactos profundos em todo o mundo, mas não afeta todas as pessoas da mesma forma. A intensidade dessas consequências é marcada por fatores como região, território, cor da pele e classe social. 

As injustiças resultantes das questões climáticas amplificam as desigualdades sociais que atravessam a sociedade. Mas como identificar essas desigualdades e saber quando há injustiças no território? Como entender se alguma situação que ocorre na minha comunidade pode ser decorrente das mudanças climáticas? E como enfrentar esse problema para garantir o direito à vida digna e para assegurar que comunidades historicamente vulnerabilizadas permaneçam em seus territórios?

A Escola de Ativismo ouviu duas especialistas nesta área para que nos ajudem a procurar pistas para identificar, enfrentar e denunciar injustiças climáticas. Ambas concordam que nessa discussão é necessário ouvir e envolver as comunidades tradicionais e seus saberes ancestrais antes de considerar tomadas de decisão que impactam o meio ambiente.  

Mudanças de humor do tempo

Se nas cidades os efeitos mais trágicos são sentidos em desastres, enchentes e deslizamentos, os problemas enfrentados pelas comunidades originárias e tradicionais são ainda mais constantes devido à forte conexão das pessoas com o meio ambiente. Essas comunidades, historicamente excluídas das decisões políticas e ambientais, seguem resistindo diante de ameaças constantes à sua existência e aos seus modos de vida. Um dos caminhos para a promoção da justiça climática, segundo especialistas e ativistas, é justamente garantir que esses grupos estejam no centro do debate e da construção de soluções.

Mas muitos fatores tornam injustiças climáticas invisíveis. Um deles é a naturalização da desigualdade. Nos territórios que sempre viveram com ausência de políticas públicas, esses problemas acabam sendo vistos como “normais” e não como uma violação de direitos.

A liderança quilombola e agricultora agroecológica Nilce Pontes, do Quilombo Ribeirão Grande /Terra Seca, no município de Barra do Turvo (SP) é  integrante da Rede Agroecológica de Mulheres Agricultoras (RAMA),  militante da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ) e acompanha os movimentos agroecológicos a nível nacional e internacional, defendendo a importância da conservação dos territórios quilombolas e colaborando na elaboração de técnicas agrícolas.

Vivendo no meio da Mata Atlântica, ela afirma que os territórios quilombolas estão sendo impactados e é possível perceber as alterações nos ambientes e nos modos de vida das comunidades. As mudanças climáticas têm deixado o solo mais ressecado, as águas mais escassas e mudado até os hábitos de cultivo para a produção de alimentos – uma injustiça com quem cuida do meio ambiente. 

“Antes a gente percebia que tinha época certa de plantar as coisas. Hoje a gente planta, mas não é aquele mesmo formato de produção. A gente plantava, por exemplo, feijão, arroz, milho, mandioca, banana, hortaliças, entre outras variedades aqui no território. Hoje a gente não consegue mais respeitar os ciclos lunares, uma vez que tem chuva quando deveria ter sol e tem sol quando era pra ser época de chuva. Essa alteração, essas mudanças de humor do tempo, a gente percebe que têm impactado também no processo de conservação das nossas sementes, das nossas mudas e raízes. O formato com que o solo tem respondido a essas mudanças, com secas excessivas, com enchentes, ou mesmo  na forma como o vento afeta o território. Para nós é perceptível essa alteração. Eu sinto uma confusão enorme com relação ao clima e se para a gente é complexo, para as plantas é ainda mais”, explicou. 

Essa alteração e adaptação forçada, imposta a quem sempre preservou e manteve os biomas em pé, é uma das diversas formas de injustiça e de violação de direitos.  

“Eu identifico as injustiças no meu território quando eu deixo de viver o meu modo de vida e passo a viver as práticas impostas por pessoas que não vivem o dia a dia da comunidade. Seja no modo de me alimentar, no de comunicar, no modo de vestir. Ensinar tecnologia para nós é nos ensinar a fazer adaptação dos nossos modos de vida. Então quando não tem essa interação para mim é uma violação de direito”, afirmou Nilce .

Para ela, outra injustiça climática presente nos territórios quilombolas está ligada aos processos de licenciamentos e a forma com que a legislação ambiental trabalha o seu conceito de preservação.  O Projeto de Lei 2.159/2021, conhecido como “PL da Devastação” tem preocupado indígenas e quilombolas de todo o Brasil.  A decisão pode marcar o maior retrocesso ambiental em décadas. 

Entre as propostas do PL, já aprovado no Senado, está a restrição da necessidade do licenciamento ambiental para áreas que ainda não tiveram o processo de regularização territorial finalizado. Com isso, essas comunidades deixam de ser ouvidas, sendo deixadas de fora de decisões que impactam diretamente os territórios que ocupam e preservam. Nas redes sociais, povos tradicionais, ativistas, ambientalistas, organizações da sociedade civil, movimentos sociais, defensores do meio ambiente e dos direitos humanos se mobilizam com a campanha #VetaLula. A articulação pede o veto integral do presidente ao PL. 

Para Nilce, os saberes técnicos não são suficientes e, sozinhos, podem permitir que injustiças aconteçam.  “É preciso respeitar os  modos e práticas de vida das comunidades. Não associam o conhecimento técnico com o saber tradicional, o saber ancestral. O campo tecnológico tem desenvolvido tecnologias e não tem levado em consideração o território e as práticas dos territoriais”, disse. 

Quilombolas, indígenas e populações extrativistas são, e devem ser reconhecidos por sua contribuição para o equilíbrio climático. São essas comunidades que, com sabedoria ancestral e resistência diária, indicam os reais caminhos para a sustentabilidade e para um equilíbrio entre sociedade e natureza, através de suas vivências com a terra, com as águas e com o fogo

Nilce Pontes é liderança quilombola e atua na defesa do meio ambiente e dos territórios quilombolas / Foto: arquivo pessoal

Desigualdades sociais e práticas possíveis

A bióloga, educadora ambiental e mestra em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Sarah Lima, participa da construção do movimento socioambiental cearense e coordena o programa Clima de Urgência do Instituto Verdeluz. Ela explica que as injustiças climáticas referem-se à distribuição desigual das consequências das mudanças climáticas, especialmente sobre povos indígenas, comunidades tradicionais e periféricas, que são as que menos contribuem para o problema e as que menos estão preparadas para enfrentá-lo.

Eventos extremos estão cada vez mais intensos e frequentes. Alguns exemplos são: alagamentos após chuvas torrenciais, que inundam as casas; deslizamentos de terra, que destroem a vida de quem mora em zonas de risco; ondas de calor que afetam a saúde; escassez hídrica, que atinge principalmente grupos e territórios vulnerabilizados; dentre outros. 

“Se pararmos para pensar nos territórios que sofrem injustiças climáticas, perceberemos que as pessoas têm uma cor de pele específica. No geral, são grupos sociais que já enfrentam diversas outras violações socioambientais, como ausência de saneamento básico, de áreas verdes, de corpos hídricos limpos e de acesso à saúde, à educação de qualidade, à mobilidade e ao lazer. As desigualdades sociais aprofundam a injustiça climática”, informou Sarah. 

Mas há ações possíveis para mitigar os efeitos das mudanças climáticas nesses territórios. A educadora ambiental afirma os desafios são imensos e que é necessário haver políticas públicas comprometidas, desenvolvimento de tecnologias, incentivos fiscais, educação ambiental e governança participativa. 

“Precisamos zerar as emissões de gases de efeito estufa, não só a nível local, mas também a nível global, afinal vivemos no mesmo planeta. Essas emissões só serão zeradas com uma transição energética justa, popular e inclusiva, que abandone todo e qualquer tipo de combustível fóssil, com a proteção dos biomas brasileiros, zerando desmatamentos e queimadas e com a gestão adequada de resíduos sólidos e líquidos”, explicação 

Para adaptar territórios, também há práticas possíveis, especialmente soluções baseadas na natureza. “Algumas medidas são: melhoria da infraestrutura de drenagem das chuvas, como pavimentação permeável, telhados e jardins verdes; criação e conservação de áreas verdes; reflorestamento; recuperação de corpos hídricos poluídos; recuperação de encostas; painéis solares em casas e espaços comunitários; mapeamento de áreas de risco e remanejamento adequado de famílias em zonas de risco; agroecologia e hortas urbanas. São muitas as possibilidades, que devem ser feitas respeitando os territórios e as pessoas”, pontuou Sarah.

Como denunciar

No campo ativistas vemos, com frequência, denúncias após violações de direitos humanos e dos direitos da natureza. Manifestações contra a devastação dos territórios mostram ao governo, empresas e ao mundo que existem caminhos melhores, mais justos e sustentáveis, pensando no presente e no futuro. Esse movimento vai na contramão do lucro e considera o bem viver dentro das comunidades ameaçadas. 

Sarah Lima diz que ao notar violações ambientais é importante acionar os órgãos públicos de cada localidade, seja em nível municipal, estadual e federal. “Órgãos de fiscalização ambiental, polícia ambiental, Ministério Público, Defensoria Pública da União, Comissão de Direitos Humanos e parlamentares comprometidos com a justiça socioambiental. Além disso, é essencial a formação de uma rede com coletivos e organizações do movimento socioambiental, que possam pressionar as denúncias”, explicou. 

Mas enfrentar as injustiças socioambientais e denunciá-las pode potencializar a insegurança de quem já enfrenta outras vulnerabilidades. Denunciar requer cuidados principalmente no Brasil, que é o segundo país mais perigoso do mundo para ativistas ambientais. Diariamente, ativistas ambientais e lideranças territoriais enfrentam a insegurança e a violência ao corajosamente decidirem expor situações e realizar denúncias.  

Por isso, busque uma rede de apoio e se proteja se realizar ações. Conte com canais de confiança, organizações ambientais e redes de ativismo que atuam na defesa dos direitos territoriais e da justiça climática. O descaso e a invisibilização também são desafios dentro da agenda climática. Muitas vezes as denúncias não recebem a devida atenção por parte do poder público, o que reforça a sensação de impunidade e desamparo.

Também é possível contar com as redes sociais como instrumentos importantes para fazer com que as denúncias alcancem mais pessoas. Muitas vezes, os impactos ambientais não são expostos e documentados de forma fidedigna, com recortes por território, etnia, classe ou gênero. Isso invisibiliza as desigualdades e dificulta o reconhecimento de que há injustiça. 

Luta contra o sistema e respeito aos modos de vida

Em um cenário marcado por profundas desigualdades sociais, raciais e ambientais, as vozes das comunidades são resistência e construção de futuros possíveis. A luta por justiça climática exige o reconhecimento e o respeito aos modos de vida tradicionais, à autonomia dos territórios e à força coletiva de quem cuida da terra. 

Nilce destaca que a verdadeira preservação passa pela valorização das práticas e saberes das comunidades. Sarah aponta a urgência da organização coletiva e da ocupação de espaços de decisão como estratégia. Ambas mostram que a transformação só é possível quando feita a muitas mãos, coragem e esperança.

“Cada comunidade tem a sua expertise de conservação do território, conservação da vida, as suas relações políticas, sociais, culturais e étnicas, desde que não haja interferência, não já respeitam o modo de vida das pessoas no quilombo. Isso já contribui com a justiça climática e com a preservação do meio ambiente”, afirma Nilce.

“Lutar contra um sistema que não nos quer vivos é um grande desafio, mas é o único caminho possível. Lutar coletivamente é o meio mais potente de conseguirmos mudanças na sociedade, de defender os territórios e a vida. Então, encorajo as juventudes a se mobilizarem e se organizarem, porque só assim podemos transformar a realidade! Temos uma enorme capacidade, força e criatividade para adiar o fim do mundo. Não dá para deixar que discutam sobre as nossas existências e o nosso futuro sem nós, precisamos ocupar esses espaços e ecoar as nossas vozes! Como diz Paulo Freire, é preciso ter esperança, do verbo esperançar; e esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo”, finaliza Sarah Lima. 

Sarah Lima é bióloga, educadora ambiental e participa da construção do movimento socioambiental cearense 

Organização promove formação em comunicação estratégica em redes sociais para quilombolas​

Organização promove formação em comunicação estratégica em redes sociais para quilombolas

Estão abertas as inscrições para o processo seletivo do ECOAR Quilombola. O projeto oferece uma formação voltada para o fortalecimento da presença e a potência de comunicadores e influenciadores quilombolas nas redes sociais.

Voltado para quem já atua na criação de conteúdo digital e deseja aperfeiçoar sua estratégia de comunicação, o ECOAR Quilombola é um espaço de troca, aprendizado e construção coletiva. Entre os objetivos da iniciativa está alavancar os perfis de micro-influenciadores / comunicadores quilombolas para que haja uma representação maior e mais diversificada de vozes quilombolas no ambiente digital. 

Entre os critérios necessários para participar estão: ter uma conta no Instagram e/ou TikTok e/ou YouTube, criar conteúdos que tratem de algum aspecto da luta e/ou da cultura quilombola e fazer publicações há pelo menos dois meses, com periodicidade mínima quinzenal, em pelo menos uma destas plataformas. Também é preciso estar disponível para seis encontros online em setembro, nos dias 08, 11, 12, 22, 24 e 26/09, na parte da manhã, entre 8h e 12h, horário de Brasília e ter disponibilidade para viajar de 10 a 21 de Novembro, para uma possível atividade presencial (ainda não confirmada). 

As pessoas selecionadas receberão uma bolsa no valor de R$ 5.000,00 para a participação no programa e um kit suporte com itens que possam ajudar na criação de conteúdo, como um celular, luzes e acessórios, ou pacote de internet, de acordo com avaliação prévia da equipe. 

O projeto é organizado pela Pulso Conteúdo e pela Pajubá, duas empresas de comunicação focadas em causas progressistas e de impacto social,  em conjunto com iniciativas nacionais e internacionais que atuam pela conservação das florestas tropicais e pelos direitos de comunidades tradicionais do Brasil.

Para saber sobre o programa, sobre os critérios de participação, atividades, resultados esperados e cronograma de atividades, acesse ecoar.me. No site também está disponível o formulário de inscrição.

Escola de Ativismo contrata pessoa educadora e mobilizadora para Programa Educativo na temática de Transição Energética Justa

Escola de Ativismo contrata pessoa educadora e mobilizadora para Programa Educativo na temática de Transição Energética Justa

Seleção pública recebe currículos e cartas de apresentação até o dia 27 de julho. Veja os critérios para concorrer

A Escola de Ativismo busca uma pessoa que possa atuar em sistema ‘home office’, com disponibilidade para viagens, para realizar atividades de mobilização e educação ligadas a um programa educativo que terá como público-alvo comunicadores populares e como tema central a transição energética justa. A contratação compreende o período de 5 meses, de agosto de 2025 até dezembro de 2025, com inicio imediato em 04 de agosto de 2025.

 

1. A prestação de serviço prevê as seguintes atividades:

– Preparação, elaboração e realização de atividades, sejam reuniões, encontros, formações e oficinas em modo online ou presencial;

– Elaboração de metodologias ativas e dinâmicas de educação popular em justiça climática, sistematizando as mesmas;

– Trabalhar junto a equipe da Escola de Ativismo na articulação e desenvolvimento processos de aprendizagem junto com organizações, movimentos parceiros e participantes de um programa educativo;

– Participar de reuniões de alinhamento com equipe em modo online para articulação e execução das atividades, bem como apoiar na elaboração de relatórios de entregas;

– Produção de textos e/ou outras peças de comunicação com o objetivo de engajar os participantes do programa educativo;


2. Perfil profissional

Procuramos por pessoas com experiência de atuação em articulação, mobilização e aprendizagem junto a movimentos sociais, coletivos ou organizações que atuam em causas socioambientais, na pauta climática e na defesa dos Direitos Humanos. Vivências enraizadas nos territórios, raça, gênero e sexualidade também poderão ser usados como critérios de escolha.

É imprescindível estar alinhada/o com os valores e princípios da Escola de Ativismo. Devido às características do trabalho, o profissional deve ter discrição e habilidade de lidar com assuntos sensíveis e confidenciais, capacidade de trabalhar individualmente e também em grupo.

Habilidades desejadas para a vaga:

– Ser ativista ou possuir histórico de atuação junto a movimentos sociais e organizações socioambientais;

– Boa habilidade para articular diferentes frentes, mantendo diálogos e trabalhos com diversos atores;

– Organização, criatividade, dinamismo, iniciativa e comprometimento com prazos e entregas;

– Experiência em educação popular, com construção de roteiros e facilitação de atividades;

– Ter experiência na área e na temática de mudanças climáticas e justiça climática;

– Acesso pleno à internet, com hábito de trabalhar em sistema home office com equipes multidisciplinares, com agenda flexível;

– Ser um bom usuário da internet, especialmente no envio e gerenciamento de e-mails, reuniões/conferências online e mensageria (Signal/Whatsapp);

– É desejável, mas não obrigatório, que a pessoa tenha experiência na área de transição energética com temas como: Eletrificação, combustíveis fósseis, transportes.

– É desejável, mas não obrigatório, que a pessoa tenha experiência com processos educativos voltado pra comunicadores;

 

3. Processo seletivo

O processo seletivo será realizado em etapas, sendo (i) a primeira por pelo envio de currículo e carta de apresentação; (i) a segunda via entrevista; e (iii) por fim, a divulgação do resultado.

3.1 O currículo e a carta de apresentação devem ser enviados para ESTE FORMULÁRIO (CLIQUE NESTE LINK)  até o dia 27/07/25 às 23h59 (horário de Brasília). A carta deve descrever a trajetória pessoal e profissional da pessoa candidata, assim como as razões pelas quais está interessada na vaga. Materiais multimídia (fotos, vídeos, links) que narrem sua trajetória serão aceitos e incentivados;

3.2 A etapa de seleção e entrevistas acontecerá em 28/07/25 a 31/07/25 . A EA entrará em contato com as pessoas selecionadas para o agendamento da entrevista. Cada entrevista contará com cerca de 40 minutos de duração e será realizada de modo online. O link será enviado pela EA no dia de seu agendamento. A Escola de Ativismo se reserva o direito de incluir outras fases de seleção, caso o nome da pessoa escolhida não seja definido somente por meio da entrevista.



4. Regime de contratação, valores e prazos

Regime de contratação de pessoa jurídica para atuar em média 30h/semanais, pelo período de 5 meses em sistema de home office, com disponibilidade para viagens, a ser pago via nota fiscal de serviços até o 5º dia útil subsequente ao mês em que prestou serviço. Será disponibilizado o valor de R$ 20.000 (vinte mil reais), pagos em cinco parcelas de R$ 4.000,00 (quatro mil reais), pagos mensalmente. Sobre esse valor não incidirão férias ou outros abonos. Início em 04 de agosto de 2025. Finalização em 04 de janeiro de 2026.



5. Despesas adicionais

Todas as despesas com transporte, estadia e alimentação em atividades presenciais serão de responsabilidade da EA, mediante apresentação de notas fiscais e recibos, conforme disponibilidade de recursos.

Chamada de Artigos: Edição especial da Revista Tuíra “Educação e Ativismos”

Chamada de Artigos: Edição especial da Revista Tuíra “Educação e Ativismos”

Montagem com quatro capas das edições da revista tuíra

Prezados(as) pesquisadores(as), educadores(as) e ativistas,

A Revista Tuíra anuncia uma chamada de artigos e ensaios para sua próxima edição especial, dedicada à crucial interseção entre Educação e Ativismo. 

Em um cenário global cada vez mais marcado por crises complexas – da emergência climática às profundas desigualdades sociais – o papel da educação e do ativismo como catalisador de mudança se mostra mais vital do que nunca.

Buscamos contribuições que explorem as múltiplas formas pelas quais a educação, em seus diversos formatos e espaços (formais, não-formais e informais), pode nutrir o engajamento, fomentar a consciência crítica e capacitar indivíduos e comunidades para a ação. Igualmente, queremos artigos que analisem como o ativismo, em suas diversas manifestações, pode informar e ser informado por práticas educativas, gerando aprendizado, mobilização e impacto real.

Estamos particularmente interessados em trabalhos que abordem, mas não se limitem a, os seguintes eixos temáticos:

  • Pedagogias do Ativismo: Como a educação pode ser um espaço para o desenvolvimento de habilidades e conhecimentos para o ativismo, incluindo educação para a justiça climática, direitos humanos, equidade racial e de gênero.
  •  
  • Ativismo como Ferramenta Educativa: Estudos de caso e análises de movimentos sociais e ativismos que utilizam estratégias educativas para engajar o público e disseminar conteúdos contra hegemônicos.
  •  
  • Educação para a Resistência: O papel da educação na construção de capacidades de resistência frente a desafios socioambientais e ordem neoliberal.
  •  
  • Diálogos Intergeracionais: A transmissão de conhecimento e experiências entre gerações no contexto do ativismo e da educação para a ação.
  •  
  • Desafios e Oportunidades: Análises críticas sobre os obstáculos e as potencialidades da articulação entre educação e ativismo em diferentes contextos geográficos e políticos.
  •  

Convidamos acadêmicos(as), pesquisadores(as) independentes, educadores(as) e ativistas a submeterem artigos originais, ensaios teóricos e revisões de literatura que contribuam para aprofundar o debate e fortalecer as pontes entre esses campos essenciais para a construção de um futuro mais justo e sustentável.

Acesse aqui todas as edições da Revista Tuíra – ISSN 2675-9047

 

Prazos e Normas:

  • Prazo final para submissão: 05 de setembro de 2025
  • Notificação de aceite: 30 de outubro de 2025
  • Publicação da edição: entre novembro de 2025 e primeiro trimestre de 2026

Para diretrizes detalhadas sobre formatação e processo de submissão, por favor, entre em contato no e-mail: velot_wamba@riseup.net

Contamos com suas valiosas contribuições para enriquecer este debate fundamental e inspirar novas práticas na intersecção entre educação e ativismo.

Atenciosamente,

A Equipe Editorial da Revista Tuíra

Tuíra foi uma ativista e liderança indígena que ficou conhecida como a mulher que parou a construção do Belo Monte com um facão

“Eu sou feliz é na comunidade” – um olhar sobre a luta pelo bem viver coletivo nos territórios

“Eu sou feliz é na comunidade” – um olhar sobre a luta pelo bem viver coletivo nos territórios

A felicidade nas comunidades se manifesta como uma forma de resistência coletiva mesmo diante dos desafios diários. O cuidado, a união, a fé e a força são os pilares que sustentam essa alegria compartilhada como ato político.

Montagem com quatro fotografias feitas em comunidades tradicionais mostram cocos babaçu, tambores, casa feita de barro perto das árvores e bandeira com a mensagem “Cuidar da terra, alimentar o povo”. – Fotos: Letícia Queiroz

“Eu sou feliz é na comunidade, na comunidade eu sou feliz”, diz uma canção muito conhecida e cantada nos encontros em comunidades tradicionais… Assim foi também ao fim do mês de junho, quando ela foi entoada com muita emoção na Comunidade Alegria, em Timbiras, no interior do Maranhão, na região dos Cocais. O território que carrega o sentimento de felicidade no nome tem a alegria da união, de estar em contato com a natureza, de dormir com o céu estrelado e acordar com o canto dos passarinhos.

No Maranhão a região dos cocais abrange 17 municípios. Caracterizada por uma formação vegetal dominada por palmeiras como o babaçu, a paisagem é encantadora. As palmeiras, em diferentes tamanhos, formam o que de longe parece com elevações que se movimentam com a força dos ventos. 

Na região é possível perceber a alegria das comunidades, mesmo diante dos desafios diários. É que a felicidade se manifesta como uma forma de resistência. É sobre sorrir sem esquecer de lutar e lutar de forma coletiva para a construção do bem viver.  O que pode explicar isso é justamente a coletividade. A alegria é coletiva porque a luta também é. Nas comunidades, ninguém luta por si só. As aspirações em um território tradicional não são individuais e o que se busca são vitórias coletivas.  Sendo assim, as alegrias também são de um grupo.

Um trecho da música “Eu sou feliz é na comunidade” diz:

A nossa comunidade luta por libertação,
para formar uma corrente e quebrar a opressão.
Com o trabalhador unido as coisas vão melhorar.
Luta por Reforma Agrária para na terra plantar.
Tantos pobres sem a terra, sem ter casa pra morar.
Lutam pelos seus direitos para a vida melhorar.
A nossa comunidade se reúne todo dia.
A nossa comunidade se transforma em alegria”.

Comunidades tradicionais no Maranhão preservam o meio ambiente e resistem ao avanço do MATOPIBA –

Foto: Letícia Queiroz

Nas comunidades, a felicidade é construída nos saberes compartilhados, na terra cultivada, nos cantos, nas rezas, nos festejos, no reencontro com a ancestralidade. O fato de pertencer a um território tradicional, com autonomia e identidade, é uma fonte de felicidade. É saber quem se é, de onde se vem e por que se luta. A felicidade também está na partilha de alimentos, nos trabalhos em mutirões, nas celebrações, nos cuidados entre gerações. 

É lindo perceber que o cuidado com as outras pessoas é muito presente nas comunidades originárias e tradicionais. É sobre compreender que para cuidar de si é preciso cuidar das pessoas da comunidade porque elas também fazem parte de quem você é. Nos quilombos, entre os e as indígenas, nas comunidades camponesas, ribeirinhas, ciganas e tantas outras, cuidar do outro é cuidar de si mesmo e do território, da memória e da cultura de onde se vive.

O cuidado coletivo é parte do modo de viver. Esse cuidado, que fortalece o todo, também é um ato político e contribui para a alegria em forma de autoestima e autoconfiança. Com afeto e ativismo ancestral, mulheres negras dentro dos seus territórios e dos movimentos sociais consolidaram redes para fortalecer a identidade e reafirmar orgulho pela negritude.  

Alegria que brota da terra

Coco babaçu e suas palmeiras são usados de váriadas formas, seguindo os saberes e tecnologias ancestrais – Foto: Letícia Queiroz

Olhar para a chuva caindo sobre as árvores verdinhas dá uma paaaaaz! Ter a certeza de que vai saborear frutos das estações, contar com a pesca, com as roças, as criações soltas que garantem comida na mesa é alegria! A infinidade de sabores que refletem a diversidade e a riqueza da vegetação nativa são riquezas, assim como a variedade de ervas medicinais no quintal de casa.

Cuidar da natureza como tratamos nosso próprio corpo é um ato de amor e cuidado.  

Acompanhar o tamanho das pindobas – palmeiras de Babaçu em fase de crescimento – também é felicidade. Principalmente na região dos Cocais. E só de pensar em uma palmeira de babaçu e na sua serventia integral dá uma felicidade. Isso porque as árvores são tão ricas e o seu aproveitamento é uma prática sustentável que contribui para a economia local e preservação do meio ambiente. 

Nos cocais, os cocos que caem são coletados por quebradeiras de coco para extração do azeite e leite de coco – muito usados na culinária tradicional. A farinha produzida a partir do mesocarpo do coco de babaçu é remédio para imunidade. A casca do coco, quando não é transformada em artesanato, vira carvão dentro das caeiras para serem usados nos fogareiros. A palha é manuseada com cuidado e transformada em formatos mais variados possíveis de cofos, cestos, abanos, esteiras, telhados de casas… Um tronco que cai, vira adubo orgânico, o paú. É incrível como nada se perde. 

As tecnologias ancestrais e os saberes populares são riquezas e pontos fortes das comunidades. Essa felicidade pode não contagiar quem não compartilha as mesmas vivências. Mas quem vive sabe. E se alegra!

Felicidade como espiritualidade

Manifestações de fé fazem parte do cotidiano das pessoas em comunidades tradicionais – Foto: Letícia Queiroz

É muito comum o apego à fé nas comunidades tradicionais e a alegria que pulsa nesses espaços também pode ter relação com a espiritualidade. Os rituais e as festas tradicionais fortalecem a esperança em dias melhores. E isso alimenta a alegria, mesmo diante da dor. 

A espiritualidade pode ser mais do que crença. Tem relação com o sagrado, com a terra, com os ancestrais, com os encantados e com o tempo da natureza. A espiritualidade está no toque dos tambores, nos sons das rezas, nas orações silenciosas ou só no pensamento. No banho de rio que limpa o corpo e a alma. 

Para muitas pessoas, a espiritualidade oferece força, sentido e esperança. E é por isso que nos encontros que reúnem as comunidades tradicionais para tratar de determinados assuntos, sempre é esperado um momento espiritual. E geralmente acontece antes da abertura de qualquer evento, durante as místicas. Um momento de expressão de fé, de poesia, de expressão corporal, de palavras de ordem, de canto, dos símbolos, das ferramentas de trabalho.  

A mística com espiritualidade nas comunidades é também sobre o pedido de licença antes de iniciar qualquer atividade. Essa prática é comum em diversas culturas e religiões e demonstra reconhecimento da presença de forças ou entidades espirituais que habitam o espaço. 

Certa vez, na comunidade Alegria, uma liderança chamou atenção de visitantes no início de uma atividade com a presença de ativistas e movimentos sociais quando discussões importantes começaram sem um momento de espiritualidade. Isso diz muito sobre a importância da religiosidade para as comunidades. Para quem tem fé e acredita, pedir proteção é essencial. 

A canção sobre felicidade na comunidade também fala sobre fé. “Nós cantemos um bendito, depois um “pelo sinal”, uma lê o Evangelho e todos vamos comentar”. E uma das estrofes fala sobre conquistas de direitos. “Os pobres fizeram um plano, isto eles querem ganhar, lutar pelos seus direitos para a vida melhorar”. 

E dá pra melhorar e ser ainda mais feliz! Com os territórios livres de invasões e com lideranças livres de ameaças por defenderem seus territórios. Nas comunidades, queremos viver longe das cercas, da mineração, de plantações de eucalipto e do agronegócio. Distante das violações de direitos e sem nenhuma proximidade com agrotóxicos e pulverizações aéreas. Queremos viver com território titulado, ter segurança, água de qualidade, moradia digna e educação e saúde para o povo. 

Dizer que é feliz na comunidade não é sobre aceitar as coisas como elas estão. É sobre reafirmar que a alegria está dentro do território, e não fora dele. É sobre saber que não está sozinho e ter certeza que vale a pena a luta e o esperançar.

É não conhecer individualismo e rejeitar muros altos que afastam a vizinhança. É  uma alegria que resiste, que encontra beleza nos vínculos e na certeza de que há chão firme onde pisar, terra boa pra plantar e água limpa pra beber e pra banhar. 

“Cuidar da terra, alimentar o povo” estão entre as prioridades das comunidades tradicionais – Foto: Letícia Queiroz

Navegar pelas águas do rio às margens de uma comunidade tradicional também é felicidade – Foto: Letícia Queiroz

Eu sou feliz é na comunidade. Na comunidade eu sou feliz. (bis) - A nossa comunidade luta por libertação, pra formar uma corrente e quebrar a opressão. O trabalhador unido as coisas vão melhorar. Luta por Reforma Agrária para na terra plantar. Tantos pobres sem a terra, sem ter casa pra morar. Lutam pelos seus direitos para a vida melhorar. A nossa comunidade se reúne todo dia, a nossa comunidade se transforma em alegria. Nós cantemos um bendito, depois um "pelo sinal", uma lê o Evangelho e todos vamos comentar. Os pobres fizeram um plano, isto eles querem ganhar, lutar pelos seus direitos para a vida melhorar.

(Esse texto foi escrito por Letícia Queiroz, comunicadora quilombola, após o Encontro de Segurança Integral para comunidades tradicionais na região dos Cocais. O encontro aconteceu em junho de 2025 e contou com a participação de integrantes da Escola de Ativismo

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