Navegadores com medidas extras de segurança dificultam acesso de terceiros às suas informações.
Por Bibiana Maia – 01/12/2022
Provavelmente, você usa navegadores como Chrome e Safari para acessar a internet, mas talvez não esteja tão protegido quanto imagina. Existem outros modelos de navegadores com medidas extras de segurança que tornam mais difícil o acesso de terceiros às suas informações. Destacamos, nesse sentido, o Tor, The Onion Router (O Roteador de Cebola, em português), que nós da Escola de Ativismo e outros ativistas digitais recomendam
O navegador é baseado no Mozilla Firefox e é freeware e open source.
Os softwares freeware são aqueles protegidos por direitos autorais, porém gratuitos. Eles não necessitam de uma licença de uso nem cobram royalties, podendo ser instalado em qualquer máquina compatível.
Open source quer dizer que ele tem o código-fonte aberto, o que permite que qualquer pessoa com conhecimentos de programação use, modifique e aprimore o navegador. Desta forma, a comunidade ajuda a tornar o software seguro constantemente.
O que difere de outros navegadores são características para assegurar a privacidade e o anonimato. Primeiro, o provedor de Internet, ou qualquer pessoa que tentar monitorar a sua conexão local, não conseguirá rastrear os seus movimentos, nem os nomes e endereços de sites que você visitar. Segundo, os operadores dos sites e serviços que você usa e qualquer um que os assiste verão uma conexão da rede Tor em vez do seu endereço na internet, o seu IP (Internet Protocol, em português, Protocolo de Internet). Dessa forma, não saberão quem você é, a menos que você se identifique explicitamente.
Ele foi criado para impedir que sites coletem as suas “impressões digitais”, que identificam o usuário através de coletas de informações como navegador, fuso horário e idioma padrão, que podem ser usadas para definir um usuário online em meio a uma multidão de na internet. Isso é feito por scripts, que são uma série de instruções executadas por um software, no caso o navegador.
De forma resumida, o Tor tem várias funcionalidades para não identificar o usuário que está acessando a internet através dele, o que pode ser interessante caso você esteja usando a internet em um país com regras rígidas de censura ou acesse informações que precisam de uma dose extra de segurança.
Como funciona o Tor
O próprio site do Tor explica que o navegador funciona como uma espécie de túneis virtuais ou camadas que redirecionam o tráfego para esconder sua identidade online. O Tor envia o seu tráfego através de três servidores aleatórios na rede Tor. O último deles envia o tráfego para fora, na Internet pública. Cada um deles tem uma camada de criptografia para proteger o usuário.
É que, quando o usuário conecta à Internet, as informações são enviadas para vários nós de retransmissão, camada por camada, como uma cebola, o que explica o nome que batiza o navegador: “Roteador de Cebola”. Aliás, também é por esse funcionamento que na rede Tor os site têm final .onion, que se chama cebola, em inglês. Ao final, o tráfego chega a um nó de saída e sai da rede Tor para a web comum.
Fica quase impossível rastrear o caminho do seu tráfego. Na última camada, que tem acesso à internet, não há mais certeza de qual parte do mundo está sendo feita a conexão. O Tor oculta sua identidade, não armazena histórico de navegação, exclui todos os cookies depois de cada sessão e evita o reconhecimento do próprio navegador.
Através dele é possível acessar aos sites .onion, que são conhecidos por compor a chamada dark web. Apesar do nome e da fama de perigosa, é basicamente uma parte da internet acessada somente através de ferramentas, configurações ou autorizações específicas que permitem um elevado nível de anonimato tanto a quem publica os conteúdos como a quem os consulta.
Um exemplo é o site da agência de jornalismo investigativo ProPublica, que produz reportagens em inglês e espanhol. Apesar de ter um endereço na web comum, também tem uma versão disponível como site onion. Desta forma, pessoas que vivem sob regimes opressores podem acessá-lo driblando bloqueios e permanecendo de forma anônima. O endereço da ProPublica é bem mais complicado de memorizar do que aquele da superfície: http://p53lf57qovyuvwsc6xnrppyply3vtqm7l6pcobkmyqsiofyeznfu5uqd.onion/
Todas essas funcionalidades fazem com que o Tor seja um dos navegadores mais seguros, mas a navegação é mais lenta e a usabilidade é um pouco prejudicada.
Navegando com o Tor
O Tor tem uma versão tanto para desktop como para celular, com interface em português. Ao abrir o navegador, ele vai pedir para configurar a conexão ou conectar automaticamente com a configuração padrão. A configuração manual é necessária para países onde a conexão é censurada. Ao clicar, um assistente vai localizar seu país para criar uma ponte. Caso não funcione, é possível fazer o passo manualmente. Em “Pontes”, é possível usar uma ponte já existente, requerer uma e adicionar.
Em países sem censura, como o Brasil, basta abrir o navegador e clicar em conectar. Na barra de endereços, é possível fazer uma busca usando o DuckDuckGo ou digitar o endereço de um site da superfície da web ou um site onion. Como dito antes, para sites onion é preciso saber exatamente o endereço, que geralmente não tem um nome simples como os sites tradicionais. É importante ter cuidado, pois um endereço errado pode te levar a fazer o download de algum malware (software malicioso), que pode infectar seu dispositivo e provocar problemas como roubos e sequestros de dados.
O Navegador Tor tem as opções “Nova Identidade” e “Novo circuito Tor para esse site” que estão localizadas no menu principal. A primeira opção pode ser útil caso você queira que as atividades futuras não estejam relacionadas a alguma navegação anterior. Quando selecionada, ela fecha todas as abas abertas, interrompe downloads e exclui todas as informações, como cookies e histórico de navegação, acionando um novo circuito para você navegar.
A opção de “Novo circuito para esse site” é uma opção caso o retransmissor de saída que você está usando não conseguir se conectar ao site desejado ou não o estiver carregando corretamente. Ao selecioná-lo, a guia ou janela atualmente ativa será recarregada em um novo circuito Tor. Outras abas e janelas abertas do mesmo site também usarão o novo circuito assim que forem recarregadas. Esta opção não limpa nenhuma informação privada ou desvincula sua atividade, nem afeta suas conexões atuais com outros sites.
Driblando a censura
Como dito, o Tor é uma ótima opção para navegar em países com censura. Para isso, ao conectar, talvez seja necessário usar o que eles chamam de “transportes plugáveis”, com o auxílio de uma ponte. O Tor oferece três opções: a obfs4, que faz com que o tráfego pareça aleatório; a Snowflake, que roteia sua conexão por proxies (um aplicativo de servidor que atua como intermediário) de voluntários; e a meek-azure, que faz parecer que você está usando um site da Microsoft.
Para usar uma ponte, clique em “Configurar conexão” ao iniciar o navegador pela primeira vez. Na seção “Pontes”, localize a opção “Escolha uma das pontes integradas do navegador Tor” e clique na opção “Selecionar uma ponte integrada”. No menu, selecione qual você gostaria de usar. Após selecionar, role para cima e clique em “Conectar” para salvar suas
O Tor explica que cada um dos transportes listados funciona de uma forma diferente e sua eficácia depende de suas circunstâncias individuais. Se você está tentando contornar uma conexão bloqueada pela primeira vez, tente cada uma delas. Caso tenha usado todas as opções e nenhuma delas te conectar, você vai precisar pedir uma ponte ou entrar manualmente com um endereço de ponte.
Através do menu “Settings/Configurações” é possível personalizar sua experiência e torná-la ainda mais privada e segura.
Navegando pelo celular
No celular, o uso é semelhante. Ao iniciar o navegador, é só clicar no ícone conectar. No ícone de configuração, no canto direito, você pode ver o status se está pronto, conectado e com pontes ativadas. Caso existam problemas com a conexão, é possível habilitar uma ponte para conectar à rede Tor. Assim como a versão desktop, é uma alternativa para países com regimes que praticam a censura.
Assim que conectar, ele vai exibir os níveis de segurança padrão, mais seguro e mais seguro ainda. Depois de escolher entre as três opções, que podem desativar alguns recursos dos sites, é só clicar em navegar agora.
A barra de endereço aparece abaixo e permite fazer buscas ou digitar o site. Caso você tenha copiado um endereço, ele vai oferecer a opção usar link da área de transferência. Também é possível acessar a um site usando QR Code. Essas funções são especialmente úteis para quando você acessar sites da dark web, pois você não precisa digitar os longos endereços dos sites.