Durante os governos Lula, a democracia esteve mais viva e isso favorecia as lutas. Foi um tempo de ascensão dos movimentos: o povo organizado ia para Brasília participar das conferências e das grandes assembleias, ia de avião, tinha condições de acesso e permanência nos espaços de construção das políticas públicas. Percebemos também que durante os governos Lula muita gente se dedicou aos espaços institucionais e descuidou da formação de novas lideranças. Os que lutaram pela conquista da presidência ajudaram a tocar o governo e ficou um espaço vago, faltou continuidade no trabalho de formação de base. Os militantes se formam na labuta, no dia-a-dia do trabalho, nessa formação que é espaço de pensamento e reflexão diante dos problemas da realidade, que é nacional, estadual, mas também local e territorial.
Já durante o governo repressor de Jair Bolsonaro, havia músicas antigas que cantamos novamente, músicas que falam do povo excluído, da luta por direitos. Os nossos trabalhos não pararam, a luta continuou, mas sob forte repressão. Era aquele momento de dar cada passo com cuidado redobrado porque era necessário saber onde estávamos pisando.
A vitória de Lula nas eleições de 2022 foi a gota de esperança para o povo brasileiro que deseja mudança, esse povo mais lascado. Com o novo governo Lula, com todas as limitações e alianças eleitorais, com todas as amarras, o povo vai respirar um pouco, vai ter um pão para comer, cesta básica mais acessível, poder viver. Não está fácil para o nosso povo viver hoje, não!
Na questão ambiental também. O governo anterior aproveitou a pandemia para passar a boiada; trocou o ministro, manteve porteiras escancaradas e a boiada foi passando… Foram os grupos organizados, resistentes, grupos acreditando que o ambiente deve ser o lugar do bem viver e da casa comum, esses grupos de resistência lutando, a catástrofe ambiental seria ainda pior. Talvez a boiada tivesse pisoteado tudo. Aqui no Pantanal, por exemplo, é hidrovia, é PCH (6), é ocupação das APPs (7), o poder econômico tomando tudo, acabando com tudo; o vale-tudo do agronegócio, da mineração; a destruição ambiental…
Nos dias de hoje, resistir já é muita coisa. Aqui no rio Paraguai, o Lourival (8) fala assim: “quando lerem os relatórios no futuro, verão que os votos da Sociedade do Fé e Vida foram a favor da natureza, portanto foram contra a ocupação das áreas úmidas com soja e gado, foram votos contra a hidrovia e etc. Fomos voto vencido, mas fomos resistência”.