O grande marco na minha vida para eu ser ativista foi, com certeza, a encíclica Laudato Si do Papa Francisco, que é o primeiro documento de um papa especificamente sobre o cuidado com a Casa Comum, o cuidado com a natureza e o planeta Terra. Essa encíclica foi lançada em 2015, durante a minha graduação em Teologia. À época, todos os eventos, congressos, palestras foram sobre a Laudato Si, um documento histórico para a Igreja Católica e para o mundo.
Quando eu li a encíclica, percebi que ela juntava todas as áreas da minha vida. Desde pequena eu tive a oportunidade de estar mergulhada na Criação. Minha família todo ano fazia viagens no meio da floresta amazônica, não na Amazônia legal, mas na região da floresta no Estado de Tocantins, e eu sempre senti uma conexão muito profunda com a natureza. A espiritualidade franciscana sempre esteve presente na minha vida, pois meu pai foi seminarista franciscano. Ao mesmo tempo, eu sempre tive vontade de pensar criticamente sobre a fé – essa foi uma das razões que me motivaram a estudar Teologia depois do Ensino Médio.
O Papa Francisco fala que a gente está vivendo um momento de crise, crise complexa em várias dimensões, ambiental, na política, no social, na economia, também na cultura. Eu sempre tive também uma conexão muito forte com as artes. Com a Laudato Si, eu senti que convocava inclusive meu lado artístico. Com a Laudato Si, eu encontrei um caminho para colocar todos os meus dons a serviço do cuidado da nossa Casa Comum e da justiça para as pessoas mais vulneráveis, que sofrem mais as consequências da crise ambiental que estamos vivendo.
Em 2015, poucos meses depois da publicação da Laudato Si, conheci o Movimento Laudato Si (que na época se chamava Movimento Católico Global pelo Clima). Comecei a acompanhar o ativismo católico na área de justiça climática e justiça socioambiental desde então, mas foi em 2017 que comecei a me engajar de maneira mais concreta através do curso de Animadores Laudato Si, oferecido gratuitamente pelo Movimento. Conforme fui crescendo e me engajando nessa área, ao mesmo tempo eu estava aprofundando meus estudos na área de teologia decolonial, latino-americana, feminista, e também passando por processos bastante intensos de desconstrução pessoal no que diz respeito à branquitude, à heteronormatividade e ao catolicismo. Por isso, minhas principais lutas acabam sendo um emaranhando de pautas, que eu resumiria como justiça socioambiental, justiça racial, liberdade religiosa e liberdade sexual-afetiva.