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Um barco chamado cinema: projeto leva filmes paraenses para comunidades à beira do rio

Iniciativa defende a democratização do cinema e valorização de materiais audiovisuais que dialoguem com a luta em defesa dos territórios tradicionais

Por Letícia Queiroz – 19/06/2024

 

 

Iniciativa defende a democratização do cinema e valorização de materiais audiovisuais que dialoguem com a luta em defesa dos territórios tradicionais

Barco leva equipamentos e estruturas para montar salas de cinema | Foto: Instituto Regatão Amazônia

Produções que inspiram, encantam e têm poder de conectar riquezas culturais e tradicionais da região amazônica: essas são algumas diretrizes usadas na escolha dos filmes e documentários que são exibidos em aldeias e comunidades ribeirinhas do Pará pelo Cineclube Regatão. O projeto itinerante leva, de barco, curtas e longa-metragens para as comunidades com objetivo de popularizar o cinema e torná-lo um instrumento democrático para manter viva as culturas amazônicas e fomentar a luta em defesa dos territórios da floresta.

O projeto é do Instituto Regatão Amazônia. O acesso aos indígenas e ribeirinhos da região se dá pelos rios. De barco, a equipe leva filmes, equipamentos e toda a estrutura necessária para montar uma sala de cinema em barracões comunitários, no meio da floresta, às margens dos rios Amazonas, Tapajós e Arapiuns, na região do Baixo Amazonas e para localidades da Resex Tapajós – Arapiuns e Flona Tapajós.

Sem precisar sair da comunidade, crianças e adultos assistem filmes com temática amazônica no Pará | Foto: Instituto Regatão Amazônia

Cinema para todos, em toda parte

As sessões sempre contam com grande público. Nesses encontros muitos dos participantes têm acesso à produção audiovisual do tipo pela primeira vez. Afinal, a realidade das salas de cinema no Brasil é quase exclusiva das grandes cidades, em bairros elitizados e com preços pouco acessíveis.

De acordo com dados do Filme B – portal sobre mercado do cinema no Brasil – em 2022 apenas 450 cidades brasileiras tinham salas de cinema, pouco mais de 8% do total de municípios na época. Segundo dados do Sistema de Informações e Indicadores Culturais do IBGE, a região Norte tem menor acesso a cinemas, teatros e museus. A distribuição inadequada impossibilita milhares de pessoas de acessarem os espaços criando desigualdades e uma lacuna social e cultural.

Em Santarém, por exemplo, cidade paraense com mais de 300 mil habitantes, há salas de cinema apenas em um shopping da cidade, com exibição de filmes comerciais exclusivamente. Segundo o Instituto Regatão Amazônia, não há espaço para filmes brasileiros, muito menos paraenses. E é por isso que eles oferecem à população filmes produzidos no estado, que ressaltam a identidade, linguagem e realidades próximas destas comunidades.

“A gente vem fazendo uma curadoria de filmes que dialogue diretamente com a identidade cultural de cada comunidade, com produção local, feito por pessoas próximas de cada comunidade, para reduzir o distanciamento que as pessoas têm do fazer audiovisual”, disse Zek Nascimento, um dos diretores do Instituto Regatão.

Filmes em cartaz

No primeiro semestre de 2024 duas edições foram realizadas. Em abril, a comunidade de Jamaraquá, na Floresta Nacional do Tapajós, assistiu a um curta de animação “O Doutor e o Caboco” e ao documentário “Festa de São Benedito – Gambá de Pinhel”, produções audiovisuais feitas no Pará.

Em maio, o cine itinerante chegou à comunidade indígena de Atodi, rio Arapiuns, com as produções: “Salve o Nosso Tapajós” e “Vídeo Cartas Tapajós-Arapiuns”, que traz questões sobre o imaginário, a arte e a cultura local, assim como, histórias mitológicas e verídicas, cobertura de eventos e festas locais, denúncias contra injustiças sociais e ambientais.

Marlena Soares, presidenta do Instituto, diz que o projeto cineclube Regatão faz parte de um planejamento do Instituto voltado para o fortalecimento das narrativas amazônicas. Ela defende que fortalecer a cultura ribeirinha da Amazônia é fundamental para proteger territórios ameaçados.

“Os filmes apresentam conexões com o fazer cultural das comunidades ribeirinhas, o que contribui para preservar nossa biodiversidade. São promovidos diálogos com as comunidades desses filmes que abordam o cotidiano e a cultura das comunidades locais”, diz Marlena

O Instituto

O Instituto Regatão Amazônia é um coletivo de fazedores culturais, com base em Alter do Chão, oeste do Pará, que desde março de 2023 promove transformações sociais através do fortalecimento da identidade cultural e da proteção territorial da Amazônia.

Regatão é um personagem amazônida que vive a bordo. Viaja pelos rios fazendo interconexões e trocando insumos, alimentos e objetos nos trapiches, vilas e barracões. Metaforicamente, o propósito do Instituto e seus projetos é o mesmo: trocar cultura e interconectar comunidades amazônicas.

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