A vereadora também argumenta sobre a importância de garantir a participação popular para que as políticas sociais não sejam esvaziadas e para que o país não seja entregue à extrema-direita.
“Lula fez um decreto em março do ano passado garantindo a distribuição de absorventes em farmácias populares, foi um grande avanço pra gente. Agora eu preciso pensar também quais condições eu tô dando para essa mulher poder debater politicamente para se inserir nas discussões e conhecer as lutas que acontecem sobre seus direitos.”
“Eu acho que algo que o Lula deveria apostar é na participação popular. Eu percebo que das eleições de 2022 até as eleições de 2024, nós temos as pessoas mais conservadoras, ainda achando que o que as atrapalha são as feministas, as pessoas LGBT, as cotas raciais… Então se a gente não tiver uma discussão mais profunda com as pessoas sobre racismo, direitos trabalhistas, direitos das mulheres, respeito à diversidade, a gente corre o risco de ter em 2026 um novo governo fascista no Brasil.”
Quando questionada sobre as possibilidades de aliança que o campo progressista pode traçar na política institucional, de forma estratégica para ocupar espaços e avançar, Iza diz que deve haver um limite.
“Corremos um risco mesmo de uma parte da esquerda ir para o centro com certas alianças e adaptações de discurso, e eu acho que, para a disputa de consciência que a gente precisa fazer hoje no Brasil, isso é um erro. Existem limites para a aliança, que eu acho que é com quem defende direitos trabalhistas e direitos democráticos. Não tem condições de compor com partidos que não defendem direitos democráticos e com partidos que acham que os trabalhadores têm direitos demais, que a gente precisa retirar direitos.”
Guilherme Cortez (PSOL) – Franca/SP
Guilherme Cortez é deputado estadual pelo PSOL em São Paulo, e foi candidato a prefeito de Franca nas eleições de 2024, ficando em terceiro lugar, com 14,65% dos votos. Guilherme é natural de São Paulo, capital, mas formou-se em Direito pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) no campus de Franca. Foi eleito em 2022, aos 24 anos, mesmo não sendo, segundo ele, uma prioridade do partido naquele momento.
Cortez também é fruto do movimento estudantil, e contou que, quando chegou na cidade para iniciar os estudos da graduação, vivenciou um “cenário de terra arrasada” do campo da esquerda. Vindo da efervescência das ruas durante as jornadas de junho de 2013, da organização dos movimentos sociais da capital paulista e avanço dos debates sobre direitos e diversidade, foi um choque inicial estar em uma cidade em que a esquerda estava fora do tabuleiro da política institucional.
“Acho que isso me ajudou a ter destaque, porque num lugar em que você tinha poucas lideranças sociais, eu já muito jovem comecei a organizar muita coisa, organizei a greve na Unesp, a greve geral em 2017, a campanha do PSOL da Prefeitura em 2016, sem ter nenhuma experiência com isso, organizei o diretório do PSOL, e com isso fui me tornando uma referência numa cidade em que a esquerda, principalmente em 2016, já tava enterrada. Nesse processo de reafirmação da esquerda de 2016, 2017 para cá, culminou que em 2020 eu tenha sido o 4º candidato a vereador mais votado da cidade e não fui eleito apenas porque o partido não fez quociente eleitoral, mas tive a maior votação da esquerda desde 2000.”
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 30% da população do país vive em municípios com mais de 500 mil habitantes, e somando as estimativas de população das capitais a partir do Censo de 2024, tem-se que mais de 77% da população brasileira não vive nas capitais. Esses números são importantes para demonstrar a importância de promover os ideais e as lutas progressistas no interior do país, e que os partidos e organizações políticas também se empenhem nessa construção. Cortez continua sua avaliação:
“Existe um desinteresse das cúpulas dos partidos de esquerda pela disputa do interior. Eu até entendo o motivo num jogo de custo-benefício. É uma conta matemática: os partidos querem investir a maior parte do seu fundo partidário ou da agenda dos seus deputados em São Paulo, onde se pode eleger 10 vereadores ou que se pode até eleger um prefeito, ou investir em fortalecer uma candidatura em Restinga, que é uma cidade de 8.000 habitantes? A questão é que a gente não pode fazer política só olhando pro curto prazo, se não a esquerda nunca vai governar o estado de São Paulo, ou Minas Gerais. Para vencer nos maiores colégios eleitorais do país você precisa passar pelo interior. Existem poucas figuras na esquerda que hoje buscam fazer esse trabalho no interior.”
“No interior a lógica é outra. A dimensão é menor, as pessoas se conhecem mais, portanto as coisas são vistas como se estivessem na lupa. Então a conveniência política é diferente, a politização é diferente. Se você pegar o mapa de eleição de vereadores e de prefeitos de 2024, você fala ‘nossa, São Paulo é um estado ultraconservador’ e pode até ser, mas ter essa conclusão apenas pela legenda que as pessoas se candidatam nas câmaras não é um bom termômetro. Existem muitas pessoas em cidades pequenas que se candidatam não para enriquecer, são pessoas bem intencionadas, lideranças comunitárias que têm uma perspectiva de estado social, e que por falta de alternativa se filiam a partidos da direita, porque eles são mais garantidos de se eleger.”