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Para frear o fascismo: precisamos saber combater e rebater as fake news

Por Kauan Willian

duas mãos dançam encostadas e com as palmas à mostra

Nossa tarefa é quebrar o senso comum | Foto: portal.lygiaclark.org.br

     Nas eleições de 2018 fomos surpreendidos com novas táticas de compartilhamento de informações. Diferentemente da televisão, que tem regulação para o tempo de propaganda política, na internet há um enxurrada de conteúdos. E a extrema-direita sabe muito bem lidar com grupos no facebook, whatsapp e fabricação de conteúdos virulentos, baseados em rumores e sem fonte para a checagem.  

Essa escalada, no entanto, não começou agora. O laboratório de acusações, rumores e memes acompanharam o processo de impeachment que depôs Dilma Rousseff, e foi um dos pilares para o antipetismo, usando argumentos parecidos que a extrema-direita usa para construir fantoches da esquerda ou mesmo de posições progressistas. 

Caso parecido foi nas eleições nos EUA que elegeram Donald Trump. É evidente que nesses dois casos sabemos hoje que existia uma máquina de propaganda com investimento nos algoritmos. Ou seja, não foi construído tão somente pela vontade ou “ignorância” da população, como eles querem que pareça. 

 Mesmo assim, temos que lidar com familiares, amigos, colegas no ambiente de trabalho e nos espaços públicos em que precisamos ocupar, que se utilizam das chamadas fake news (notícias falsas) ou que apresentam argumentos antiprogressistas, anticomunistas e antipetistas. Aqui daremos algumas dicas para podermos barrar essa disseminação no dia-a-dia, tanto agora mas também fora das eleições, sabendo que essa disputa de ideias é construída durante anos e meses antes desse período.

Construa um diálogo que incentive a dúvida, o senso crítico e a busca por informação

Não podemos ignorar mais que as redes sociais e os grupos de WhatsApp foram formando opiniões que são usadas politicamente. Ao contrário de ignorarmos isso ou simplesmente ficarmos nervosos com familiares e amigos que compartilham essas informações e formas de divulgação, devemos atraí-los construindo uma cultura da dúvida e de busca por informação.

A extrema-direita trata seus interlocutores como pessoas sem senso crítico que acreditarão em todas as informações passadas e, portanto, contam com o fato que não haverá pesquisas e checagem de dados, fatos ou referências. Não podemos contribuir com esse tipo de prática, já que fortalecemos essa forma de pensar. 

Podemos começar perguntando e indagando quais sites e fontes apresentam aquela opinião que está sendo compartilhada ou falada e se há alguma opinião divergente, se há dados ou livros do assunto. O objetivo é exercitar a busca daquelas pessoas por informação, da construção de um senso crítico e de um debate público. Após isso podemos apresentar indicações de links, textos e imagens que contrapõem aquela informação.

Para os religiosos, contraponha com exemplos e argumentos de religiosos 

A extrema-direita está jogando estrategicamente a ideia de que ela representa todos os valores religiosos e enquanto valores progressistas estão ligados ao ateísmo. Isso faz com que possivelmente pessoas religiosas comprem tais ideias mesmo sem concordar exatamente com elas. Nossa ideia, assim como no sentido de construção do senso crítico, é mostrar que  há líderes e movimentos religiosos que também defendem pautas progressistas, de esquerda e até radicais.

Mesmo não concordando com a religião daquela pessoa, podemos dar exemplos de falas de líderes religiosos, livros, movimentos e da história que mostram pessoas envolvidas com a fé pautando valores de igualdade, democráticas, contra o ódio e até protestando por direitos dos mais pobres. As pessoas tendem a ficar bastante interessadas quando falamos da luta do cristianismo progressista contra a Ditadura Militar na América Latina, por exemplo, ou das campanhas de evangélicas em prol de pessoas em situação de rua. Isso são dois exemplos de como podemos defender nossas pautas sem negar o debate religioso e da fé.

Defender a democracia sem precisar esconder a esquerda

Se é verdade que podemos conversar com as pessoas levando em consideração suas próprias crenças, em um primeiro momento, e da democracia como valores humanos universais, não precisamos esconder, em um outro momento, nossas posições políticas e ideológicas. Parte de nossa ala progressista foi contribuindo com ideias anticomunistas e anti-socialistas ao fazerem coro com frases como “a esquerda defende Ditaduras” ou mesmo “não somos contra o capitalismo”.

Devemos ter como missão também complexificar esse debate, construindo um senso crítico e confeccionando materiais didáticos sobre o assunto. Nos últimos anos avançamos muito nesse sentido e devemos continuar apoiando projetos coletivos que fazem esse trabalho de educação sobre os mitos e falseamentos históricos que rodeavam as propostas de esquerda e revolucionárias. E é preciso falar de nossos ganhos em nossa tradição que afetam a vida material dessas pessoas, como as lutas das 8 horas de trabalho pelos primeiros socialistas e anarquistas no Brasil, a luta pelo salário mínimo e pelas férias por comunistas no século XX, assim como a construção de universidades e da ascensão de classes sociais pelas lutas populares no século XXI, por exemplo.

Conteúdos fáceis de ler e memes também são legais

Uma parte intelectual de nossas fileiras já caiu no erro de acreditar que materiais didáticos como memes e imagens não politizam. É verdade que não temos a mesma estratégia de lidar com a suposta ignorância de nossos interlocutores como faz a extrema-direita. Eles também têm a vantagem de apenas alimentarem preconceitos existentes da sociedade (ideologia da classe dominante). Nossa tarefa é realmente quebrar tais sensos comuns, o que já torna o trabalho mais difícil e não podemos fazer isso apenas com memes, mas incentivando o senso crítico e o estudo, o debate, a pesquisa. Mas para chamar essas pessoas, mobilizar e contrapor uma cultura imagética e de fácil disseminação, não podemos ignorar a construção e compartilhamento desses materiais também.  

Devemos lembrar que ironias, humor e diversas formas de arte já são utilizadas há tempos pela esquerda e por educadores populares nos processos de politização e lutas da sociedade. Compartilharemos memes, vídeos, imagens e cards, desde que a conversa, o debate, as referências e leituras estejam na ordem do dia, acompanhando esse processo. Temos muito trabalho a fazer agora e depois. É um processo de luta, vamos lá!

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