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O combate à extrema-direita também se faz com imagens

Como usar do design na luta ativista em defesa da democracia? Essa é uma questão que Denis Diosanto traz para pensarmos coletivamente

Toda luta precisa de arte. De imagens. De uma cara própria. A criação de materiais gráficos é fundamental para a sensação de unidade, uma linguagem compartilhável e capaz de agrupar gente. As pessoas que lutam carregam esses símbolos por onde passam, como estandartes. Muitos desenhos, cartazes e bandeiras levam a síntese de um conjunto de ideias ou de um sentimento coletivo que está sendo expressado. O mundo precisa de designers ativistas.

Afinal, o design é uma grande ferramenta que tem que ser usada sempre e, se possível, ser acessível aos movimentos sociais de esquerda e as pautas antirracistas, ambientais, de gênero e qualquer outra luta por direitos. Na disputa pelo imaginário e na batalha de ideias, a materialização em peças gráficas sempre foi combustível para a potência transformadora das diferentes lutas. 

A importância do design gráfico é histórica. Por exemplo, desde o início do século passado, temos posters e cartazes como meios de comunicação de massa. Movimentos de design gráfico já foram perseguidos no início do seu desenvolvimento, como no Construtivismo Soviético ou na escola Bauhaus, ambos esmagados pelos conflitos políticos de seus períodos históricos. O primeiro sendo solapado pela burocracia para virar instrumento de propaganda. O segundo destruído pelo ódio, intolerância e estupidez dos nazistas. Porém o desenvolvimento do design gráfico era imparável e sobreviveu a isso, sendo exportado, espalhado e estudado ao redor do planeta. 

O último século foi palco de criações icônicas e que marcaram época. Desde bandeiras, até símbolos, cartazes e panfletos que impulsionaram a luta por dignidade, contra a violência, pelo fim de guerras e várias outras lutas sociais. Na década de 60 temos alguns exemplos de criações icônicas do design que foram importantes para suas causas. Cito três exemplos: o símbolo Paz e Amor, o jornal dos Panteras Negras e a bandeira “Seja Marginal, Seja Herói”.

O símbolo “Paz e Amor” foi criado por um designer britânico chamado Gerald Holton, com o intuito de protestar contra o desenvolvimento de armas nucleares na década de 60. Posteriormente o símbolo foi apropriado pela cultura hippie e até hoje é usado em manifestações pela paz. 

Emory Douglas, um designer negro, se juntou ao movimento dos Panteras Negras e lá dentro se propôs a ser o responsável pela publicação do jornal do partido. É reconhecido por ter criado capas icônicas para o movimento, sempre buscando representar coragem, luta e revolta contra as opressões que a população negra sofria (e ainda sofre) nos EUA. Segundo dados históricos, o jornal chegou a ter 400 mil exemplares distribuídos no país e sem dúvida gerou impactos, solidificando a comunidade em torno da luta por avanços nos direitos civis. 

 

Aqui no Brasil qualquer ativista reconhece a bandeira “Seja Marginal, Seja Herói” do artista Hélio Oiticica. Durante o regime militar no país, essa foi uma das provocações feitas ao regime que deixava os militares melindrados. Afinal, todo autoritário odeia ter sua autoridade rejeitada, debochada e deslegitimada. Obviamente o autoritarismo exilou e perseguiu qualquer um que criasse imagens contra a ditadura. 

Em 2018 ficou famoso um design do Militão com a palavra “Ele Não” que circulou o Brasil todo, foi copiado por muita gente e até pirateado pela oposição. Fora esse trabalho ele tem muitos outros, principalmente dedicados à pauta climática. 

Um artista  muito ativo e que produz diversos trabalhos fantásticos é o Cris Vector, que criou um cartaz espetacular em protesto ao assassinato do Bruno e Dom, arte viajou pelo mundo todo levando essa mensagem de indignação.

Ixe Tai é uma artista e ilustradora de Manaus, que tem publicado mensagens e ilustrações de protesto que são lindos e muito potentes. 

Já  Denilson Baniwa é outro ilustrador da região amazônica que tem participado de muitos momentos dos protestos pelo Brasil, colaborou com a criação da identidade do Acampamento Terra Livre 2024, com uma ilustração cheia de significado para os povos originários, com a qual eles marcharam por Brasília exigindo seus direitos e o fim do massacre de seus parentes. 

Outro exemplo é o Mundano, que há muitos anos atua como artista e ativista no país. Espalha pelo Brasil murais pintados com tinta feita a partir do barro e das cinzas de desastres ambientais, seus trabalhos viram notícias e ajudam a espalhar mensagens essenciais para o reconhecimento da luta social. 

E por último gostaria de mencionar a cartunista e desenhista Paula Villar, que tem contribuído muito na criação de charges e desenhos de protesto contra a extrema-direita e em favor de causas justas da luta popular. 

Quem já é designer e trabalha com isso, quando possível, seria útil demais e uma baita força dedicar tempo voluntário a alguma causa ou movimento. Ou pelo menos preparar uma base para que os gestores de comunicação dos projetos possam trabalhar usando plataformas online que facilitem muito o trabalho de produzir peças. 

Por mais que existam iniciativas fantásticas e muita gente capacitada trabalhando, ainda faltam profissionais para se juntar à causa. Precisamos de mais designers ativistas porque não está fácil. A extrema-direita está bem organizada e tem muitos símbolos, elementos e cartazes próprios. Cores da bandeira, armas, manipulação da fé, individualismo e violência.

O progressismo e as esquerdas são poderosas também. Lutamos por direitos, por liberdade real, pelo fim da violência e por causas que vão fazer a diferença pra melhor na vida das pessoas. Isso é potente e o design gráfico pode criar a ponte entre essas ideias e quem pretende lutar por elas. Seja um designer ativista!

Outro exemplo é o Mundano, que há muitos anos atua como artista e ativista no país. Espalha pelo Brasil murais pintados com tinta feita a partir do barro e das cinzas de desastres ambientais, seus trabalhos viram notícias e ajudam a espalhar mensagens essenciais para o reconhecimento da luta social. 

TEXTO

Letícia Queiroz

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Coletivo independente constituído em 2011 com a missão de fortalecer grupos ativistas por meio de processos de aprendizagem em estratégias e técnicas de ações não-violentas e criativas, campanhas, comunicação, mobilização e segurança e proteção integral, voltadas para a defesa da democracia e dos direitos humanos.

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