De uns tempos pra cá essa palavra não sai da nossa boca e das nossas vistas.

Os vídeos que não param de chegar com as notícias, as pessoas não param de trazer notícias, os jornais, agora digitais, vivem das notícias, as redes sociais exalam notícias, notícias, notícias o dia todo e a noite toda também!

O povo aprendeu a criar suas próprias, a fazer-se notar em meio à mídia tradicional, que dava notícias do que era de seu interesse.

Então desde que o mundo é mundo, nós vivemos à base das notícias!

Era alguém que nasceu, alguém que morreu, alguém que partiu, alguém que chegou… a música “Encontros e Despedidas” fala exatamente sobre isso:

“mande notícias do mundo de lá, diz quem fica…

me dê um abraço venha me apertar, tô chegando…

Coisa que gosto é poder partir sem ter planos…

melhor ainda é poder voltar quando quero!

Todos os dias é um vai e vem

a vida se repete na estação”

A música é de Milton Nascimento e foi lançada no álbum que carrega o mesmo nome, em 1985. Mesmo ano em que o Brasil finalmente se livrou das agruras da ditadura militar. Um tempo em que as notícias eram restritas, revisadas, censuradas.

Este trecho da música, a melodia melancólica, expressam um desejo de saber sobre o mundo, sobre as coisas, sobre a vida. Mas também de sair, de circular e viver.

Desejos de democracia eu diria.

Pois bem, acabamos de vivenciar o ápice da democracia neste último final de semana, quando fomos às urnas escolher os nossos governantes. Fizemos isso de muitas maneiras, alguns com muita facilidade, com tranquilidade, sem filas, sem muita preocupação. Outros enfrentaram blitz policiais, engarrafamentos gigantescos, assédios, confusões e até brigaram para exercerem seu direito.

Passamos o dia recebendo notícias, de norte a sul de como a coisa estava indo. Domingo foi um dia tenso.

A notícia da vitória do Lula chegou por volta das 20h00 deste domingo. Muita gente já se deslocava de suas casas para encontrar os amigos, para festejar. E como foi bonita a festa!

Mas as notícias assombrosas ainda estavam por vir… será? Depois de tanta fakenews, qual seria a bala de prata do então mentiroso derrotado messias presidente?

Segunda-feira pós eleições, nenhuma notícia veio do palácio do planalto, a escuridão e a ausência fizeram seus apoiadores se mexerem. Foram às estradas, foram às avenidas e aos centros militares pedirem que a democracia fosse suspensa, pois o candidato mentiroso presidente havia sido derrotado.

MENTIRA! INFÂMIA

URNAS FRAUDADAS.

ALEXANDRE DE MORAES PRECISA SER PRESO.

NOVA ELEIÇÕES NO BRASIL.

INTERVENÇÃO MILITAR, JÁ!

Bradavam os apoiadores ao som do hino nacional, camisa amarela e bandeiras.

Teria havido algum tipo de comunicação subliminar entre o mentiroso derrotado presidente e seus apoiadores?

Não podemos provar. Mas sabemos que os apoiadores produziram uma espécie de super bolha de notícias, elas movimentaram tudo o que aconteceu nos últimos dias, vamos precisar de muito estudo para sacar esse fenômeno, pois houve uma espécie de transe na galera que estava às margens das estradas.

Muitos vídeos circularam em que era possível assistir os apoiadores do mentiroso presidente messias, lendo notícias de seus celulares em que o conteúdo das exigências que estavam fazendo havia sido atendido, como se estivessem em uma realidade paralela – olha o metaverso aí genty! – e nós aqui olhando tudo isso atônitos, nos perguntando: como pode?

Coisas como:

STF RECONHECE QUE AS URNAS FORAM FRAUDADAS E CONVOCA NOVAS ELEIÇÕES.

ALEXANDRE DE MORAES ACABA DE SER PRESO.

EM 72 HORAS AS FORÇAS ARMADAS VÃO TOMAR O PODER.

Vimos um mar de notícias escabrosas tomarem conta do zap… agora com especulações sobre os rumos do país que vão desde a morte precoce de Lula até o conluio com os comunistas para levarem embora todo o dinheiro que o país acumulou! (mano do céu!)

Enquanto isso, nas redes sociais e noticiários víamos o apoio descarado de algumas polícias aos atos. Víamos as torcidas organizadas destruindo as barreiras e espantando os apoiadores. Víamos o Lula bem tranquilo em viagem para descansar. Víamos o processo de transição de governos iniciar os acordos. E não víamos o mentiroso presidente messias dizer absolutamente nada por dois dias!

E, quando finalmente apareceu, nada, praticamente não trouxe notícia nenhuma.

Com tudo isso que rolou nesses últimos dias, mas pra dizer a verdade, desde aquele dia da fakeada, das mamadeiras de piroca, da avalanche de mentiras que tomou conta do país, venho pensando que estamos no momento certo, no momento mais urgente de nos educarmos na produção das notícias e na responsabilização pela disseminação delas.

Estamos no momento certo de pesquisarmos aquilo que nos interessa, de não mais acreditar naquilo que o grupo do zap nos diz, de desconfiar quando alguém fala ao vento sem trazer nenhum tipo de comprovação de realidade. Temos hoje uma diversidade enorme de canais que possibilitam a comunicação com diferentes públicos e realidades, a comunicação é algo potente e popular, nós temos que ocupar imediatamente estes espaços, utilizá-los com invenção com inteligência e disseminar conteúdos que nos façam melhorar, evoluir como sociedade.

Produzir notícias que nos levem pra longe do fascismo, das ditaduras, da confusão anti-ciência que ceifou um montão de vidas na pandemia, desse mar de notícias sem pé nem cabeça que estão gerando problemas irreversíveis na nossa família, no nosso trabalho, na nossa vida.

E aí provocamos as galeras que renovaram os rádios, com os podcasts, com os programas com transmissão pelo youtube: bora fazer uns programas mais interessantes para o povo?

Esse negócio de ficar lá falando sobre investimento no mercado financeiro quando temos aí mais de 30 milhões em situação de fome interessa a quem? Sobre os lucros da Petrobras quando a gasolina tá cara pra cacete, é uma sacanagem sem fim!

Enfim, para situações de incerteza em que você está com o seu celular à mão, não custa fazer uma checagem rápida dos fatos – e ah, não vale fazer no google tá?

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