Quando é preciso lidar com extremistas nas redes sociais, também é preciso ter cuidado. Se considerarmos que o WhatsApp é uma das principais ferramentas de debate político, chegamos ao ponto de que, no lugar de discutir com alguém a milhares de quilômetros, pode ser alguém que está no grupo da sua rua, bairro ou outro lugar bem próximo fisicamente. Verdadeiras campanhas de desinformação foram usadas durante as eleições de 2018 e a cena se repetiu de forma mais intensa em 2022. E agora volta à tona em 2024.
Pablo Marçal, candidato a prefeito de São Paulo, não esconde que precisa de cortes estratégicos de vídeos para chegar da forma que preferir em seus seguidores. Isso mostra que, para alguns candidatos, gerar situações e manipular eleitores durante a campanha faz parte do jogo. Marçal conta com um exército de pessoas contratadas para fazer esses cortes, já denunciadas pela Justiça Eleitoral.
De todo modo, ele e outros candidatos extremistas seguem inundando as redes como essas mentiras, na certeza de que ganharão visibilidade, mesmo que seja falando mal. A própria imprensa, que por um lado critica as ações do coach, vê o número de cliques e acessos das matérias aumentar quando embarcam nas polêmicas. Assim, por mais que haja um discurso de reprovação, fazem o serviço de catapultar o nome dos candidatos a um público que talvez ainda não os conheça.
O dilema para os ativistas é se vale ou não debater quando esses conteúdos chegam. Uma estratégia é denunciar os usuários ou perfis disseminadores de discurso de ódio, e em caso de perfis profissionais, ocultar os comentários. Sabendo, porém, que as redes sociais – assim como parte da imprensa – estão mais preocupadas com o fluxo, acesso e permanência do que com a veracidade das informações. Então a exclusão de perfis nunca segue a velocidade de propagação das mentiras.
“É importante lembrar que a dinâmica de engajamento em conteúdos assim pode inclusive resultar em seu maior impulsionamento e visibilidade na rede, portanto, evitar interagir é de fato uma estratégia não só para saúde mental mas para diminuir o alcance dos conteúdos”, disse Maíra.
Combater a desinformação e mensagens de ódio também cria o problema de que, com isso, perdemos o foco que deveria ser levar nossas mensagens para mais e mais pessoas. “Muitas vezes olhamos apenas para os nossos ‘inimigos’ e nos esquecemos que eles crescem, justamente, na nossa incapacidade de propagar as nossas mensagens”, afirmou Calheiros.