Se você pensar em uma palavra que atravessou o dia a dia das pessoas ativistas do Brasil em 2025 é difícil de escapar de uma de três letras: COP.
Não só a conferência das partes, de portas restritas para a ampla maioria da base ativista, mas tudo que aconteceu ao redor dela. Conferências preparatórias, direcionamentos editoriais de páginas e sites, conversas, organizações de eventos paralelos e mobilização, entre as pessoas escolhidas, para tentar fazer a diferença dentro da Blue Zone e da Green Zone. “Clima” foi a palavra de ordem e dificilmente saímos iguais desse ano. Ainda bem: vivemos uma crise climática sem precedentes e as respostas são urgentes.
A COP, que por 29 edições mobilizou um nicho mais restrito dos ativistas e movimentos sociais brasileiros, diretamente ligados à pauta da crise climática, se tornou um ponto focal de uma mobilização muito mais imensa.
Foi difícil encontrar algum espectro político ativista, de povos tradicionais, progressista, antirracista, feminista, LGBTQIAPN+, militante, sociedade civil, ONGs, ambientalistas, de movimentos sociais, partidos de esquerda, anarquistas, enfim, alguma corrente da galera que sonha e inventa outro mundo que não estivesse lá. De nariz torcido para a Conferência das Partes ou se engajando ativamente nas negociações, muita gente esteve em Belém – ou nas atividades e articulações que antecederam.
Dessa COP expandida, saíram espaços potentes de articulação, confabulação, aprendizagem e solidariedade. Forjamos alianças e fortalecemos laços. Fizemos marchas, ações diretas, denunciamos a hipocrisia das megacorporações e governos. Movimentos indígenas fizeram ocupações que colocaram em cheque a conferência e pressionaram o governo, arrancando na unha o anúncio da demarcação de dez terras indígenas – uma extensão do tamanho da Paraíba – além de avanços em outros dez processos.
No horizonte, no entanto, um evento que é um velho conhecido da militância. Nem tão velho assim, na verdade: as eleições gerais completam 37 anos em 2026. E foi por pouco, depois do susto que tomamos em 2022 e 2023, quando a democracia, mais uma vez, mesmo que incompleta, quase nos deixou de golpe.
Enquanto escrevemos esse texto, o PL da Dosimetria, que diminui as penas para crimes de golpe de estado – não tem como dar errado, né? – vai sendo aprovada no Congresso mais inimigo do povo que esses 37 anos tiveram o desprazer de ver. O mesmo Congresso que tenta empurrar goela abaixo a destruição do meio ambiente, o PL da Devastação e o Marco Temporal. A extrema direita mostra seus dentes e avança para ganhar ainda mais poder onde for possível: Câmara dos Deputados, assembléias estaduais, Senado – que abrirá duas vagas para oito anos!, governos estaduais e presidência. A disputa vai ser dura.
Mesmo sem muita ilusão de que a mudança passa por aí, é difícil, à luz do que vimos na última década, negar o estrago feito pelo conservadorismo e pela extrema direita. E tendo um Congresso tão empenhado em transformar a natureza em dólares e ouro, fica difícil negar a máxima de que sem enfrentar a extrema direita que representa o que há de mais predatório e negacionista, não teremos justiça climática. E sem justiça climática, também fica nítido, não teremos democracia.
Então nosso desejo é de que possamos, sobre os trilhos da solidariedade que construímos em 2025, enfrentar os desafios de 2026. Enfrentar de frente, de cabeça erguida e apontando os responsáveis por esse buraco em que nos encontramos. Que defendamos, todes, todas e todos territórios, vidas, o clima e a democracia. E que partamos para cima, pensando qual projeto de mundo queremos construir e oferecer para sociedade – e que ele seja repleto de bem-viver!
Até a próxima trincheira, até 2026! Descansem, militantes! Que amanhã tem mais.
Com carinho,
Escola de Ativismo
Coletivo independente constituído em 2011 com a missão de fortalecer grupos ativistas por meio de processos de aprendizagem em estratégias e técnicas de ações não-violentas e criativas, campanhas, comunicação, mobilização e segurança e proteção integral, voltadas para a defesa da democracia e dos direitos humanos.
Material de aprendizagem, reflexões, iniciativas, resistências. Um conteúdo exclusivo e analítico sobre o cenário, os desafios e as ferramentas para seguir na luta.