gal costa posa de olhos fechados

Seus gestos, sua música, sua energia em tons vermelhos como os de Iansã seguem sendo chama para todos aqueles que a amam l Crédito: Divulgação

Recebi a notícia de que Gal passarinhou enquanto estava no aeroporto, às 11h35 desta manhã de quarta-feira.

Um amigo que sabe do amor que sinto por Gal me ligou e disse: cara, a Gal morreu.

Perguntei algumas vezes se era mesmo verdade, porque estamos envoltos nesse mar de fake news, de notícias descabidas, e ele confirmou que a informação havia sido transmitida pela assessoria de imprensa dela.

Antes de chegar ao aeroporto, para uma conexão, estava em um voo que durou cerca de 1h30. Passei esse tempo assistindo um filme: Elvis, estrelado pelo perfeito Austin Butler.

Estranha manhã pois chorei muito assistindo ao filme, me emocionei diversas vezes.

Emocionada com a linha de vida de Elvis, a música que carregou consigo, sendo ele um homem branco que cresceu em um bairro negro do Mississipi, Elvis só se sentia Elvis quando cantava as músicas que ouvia quando criança, entoadas por rainhas e reis afroamericanos que viviam apartados da sociedade branca estadunidense. Cantavam a música mais fina, tocavam pianos, guitarras, baixos como ninguém. Reis e Rainhas do Blues, do Jazz, do Rhythm and Blues, os verdadeiros pais do Rock.

Elvis, era um sujeito-corpo. Ao toque do piano, seu rosto parecia se transformar, uma chama consumia seus ouvidos, seus olhos se reviravam, seus quadris requebravam com o bumbo da bateria, descia até o chão, e subia em movimentos cadenciados… seus braços buscavam dar materialidade aos acordes da guitarra, voando pelo palco!

Seu corpo vibrava e as multidões se arrepiavam. Quem viu, disse que não parecia uma pessoa, era como um deus. E deuses não morrem.

Então, Elvis não morreu!

Bradaram seus fãs.

Agora aqui com esta sensação de ter perdido um pedaço, escrevo.

Escrevo pra dizer que:

Gal não morreu.

Pois assim como Elvis, Gal é uma deusa.

Gal de voz sagaz de agudos inatingíveis!

Na batalha com a guitarra de Victor Biglione, a guitarra ficou sem fôlego, saiu de fininho…  

As músicas cantadas por Gal eram incorporadas. Ganhavam contornos brasucas, batons vermelhos, flores, ganhavam requebros, sofriam abalos a ponto de tornarem-se outras. Cantou Gil, cantou Caetano como nunca, e um montão de outros compositores, mais recentemente compositores bem jovens como Rubel, Criolo, Céu, Marina Sena e Marília Mendonça. Todas essas pessoas sentiram o poder da deusa. Ela sempre à frente, a inventar em suas músicas, dando o seu jeito em tudo, seu jeito de Gal.

Quando comecei a ouvir as suas canções ainda criança, na sala de casa, me impressionava o sotaque, quando via Gal na TV, me encantava o seu batom vermelho, o modo como ela dizia as palavras e as transformava em canção. A Gal era livre, isso me fazia querer ser também. Uma mulher de corpo solto, livre.

Gal tinha uma singularidade e ao mesmo tempo uma multiplicidade que sempre mexeu comigo. Passei a ouvi-la, a querer estar perto dela. Me inspirava seu modo de se expressar.

Até que um dia me vesti de Gal, passei batom vermelho, flores no cabelo, sandália de tiras, vestido florido, de balanço. Cheguei a festa e aconteceu! As pessoas me dizendo que eu tinha virado Gal!

E foi assim que entrei em devir Gal.

E sua imagem passou a ser também a minha.

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Gal é Costa, minha protetora, força e guia.

Seus gestos, sua música, sua energia em tons vermelhos como os de Iansã seguem sendo chama para todos aqueles que a amam!

Viva, como sempre!

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Meu nome também é Gal.

Por Luh Ferreira, da Escola de Ativismo

 

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