Desinformação, espionagem e negacionismo estão entre as estratégias para enfraquecer instituições e políticas climáticas.
Protesto ironiza ceticismo da extrema direita l Foto: Barbara Veiga/Greenpeace via InfoAmazônia
A extrema direita – grupo político conhecido por articular tendências ultraconservadoras, autoritárias e preconceituosas contra grupos minorizados – tem se espalhado por diferentes partes do mundo e moldado não apenas os rumos da política, mas também a forma como a crise climática é vista e enfrentada. À medida que avançam os debates sobre as mudanças no clima, a extrema direita se articula para reagir às mobilizações em defesa do Planeta. Além de enfraquecer conquistas históricas, esse contra-ataque trava avanços na proteção da Natureza e das populações mais vulneráveis.
No Brasil, há casos de retrocessos encabeçados por políticos conservadores que agridem os biomas e os povos originários e tradicionais. Um dos exemplos recentes é a legislação aprovada após votação do Congresso Nacional, o Projeto de Lei (PL) 2.159/2021. O texto, que ficou conhecido como PL da Devastação, tinha como objetivo fragilizar regras para o licenciamento ambiental e beneficiar projetos que ignoram a crise climática e vão contra a realidade dos desafios ambientais deste século. Segundo ambientalistas brasileiros, essa foi uma das maiores ameaças ao meio ambiente dos últimos anos. O Projeto de Lei foi sancionado pelo presidente Lula, em agosto deste ano, com 63 vetos.
As ações contra a justiça climática lideradas pela extrema direita atuam em escala global. Em julho deste ano, enquanto ativistas climáticos faziam campanhas para que o PL da Devastação fosse vetado no Brasil, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciava a revogação da política climática do país. Desde que Trump voltou à presidência dos EUA, o governo federal mudou de direção nas políticas para o clima. Conhecido por defender o uso de combustíveis fósseis, atacar ativistas climáticos e negar o aquecimento global, Trump tem dado sinais claros de retrocesso na área. Entre outras mudanças na política energética, o governo restringiu pesquisas sobre a crise climática.
Já na América Latina, o presidente argentino, Javier Milei, também tem mostrado sua postura negacionista diante da agenda climática. Em discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), em setembro de 2024, o líder do país, que enfrenta ondas extremas de calor, acusou a ONU de impor “agenda ideológica”. Em 2024, sem explicações, Milei ordenou a saída da delegação argentina da COP 29, em Baku, no Azerbaijão. A postura do presidente ignora os problemas enfrentados pelos cidadãos argentinos. A temperatura no país, no início deste ano, ultrapassou os 40°C e um enorme apagão em Buenos Aires, capital argentina, deixou mais de 600 mil pessoas sem luz em meio a essa onda de calor.
O ativista estadunidense Sean Buchan, coordenador da Unidade de Inteligência da Climate Action Against Disinformation (CAAD) – uma coalizão de cerca de 100 pessoas que lutam contra a desinformação climática sistêmica em todo o mundo –, acredita que a extrema direita se organiza de várias maneiras e que tende a operar de formas diferentes dependendo do contexto local, mas existem padrões.
“A maioria usa um bode expiatório duplo: o multiculturalismo e o multilateralismo, sendo que este último é frequentemente apresentado em teorias da conspiração racistas. Assim, a ação climática é um contraponto conveniente para os movimentos de extrema direita que se sobrepõem ao populismo, pois a resolução da crise requer cooperação internacional e mudanças rápidas que tais movimentos podem explorar. Tal como o conservadorismo tradicional, o movimento recorre ao manual da desinformação. Enquanto os movimentos conservadores tradicionais utilizam redes de dinheiro sujo, geralmente proveniente de indústrias poluentes, para espalhar informações falsas, os partidos, políticos e figuras da extrema direita tendem a espalhar diretamente a desinformação, utilizando-a como ferramenta para aumentar a popularidade”, explica.
“O governo Trump se comporta de muitas maneiras como uma autocracia [forma de governo na qual há um único detentor do poder político-estatal], incluindo sua aversão à realidade quando ela é inconveniente. Ao contrário de qualquer governo anterior, o de Trump está negando diretamente a ciência climática estabelecida e usando isso como justificativa para desmantelar as políticas climáticas em um ritmo preocupante. Ele também está tentando forçar outras nações e blocos a quebrar compromissos multilaterais por meio do comércio coercitivo de seus produtos que destroem o Planeta”, diz Buchan.
“Além disso, a indústria de combustíveis fósseis parece estar feliz em se aliar a tal autocracia, talvez como um último esforço para enriquecer antes que a indústria se esgote para sempre. Centenas de milhões de dólares estão fluindo da indústria fóssil para organizações que apoiam o governo. Por exemplo, dos 45 grupos que lutam contra os direitos trans nos EUA, 80% receberam financiamento da indústria de combustíveis fósseis”, completa.
Apesar dos desafios, o ativista diz estar esperançoso e animado com a quantidade de energia dos movimentos contra a desinformação e em prol do clima que têm se unido por justiça, equidade, diversidade e inclusão. “Há muita organização acontecendo e muitas pessoas que se importam.”
"Dos 45 grupos que lutam contra os direitos trans nos EUA, 80% receberam financiamento da indústria de combustíveis fósseis”
Em diferentes partes do mundo, a extrema direita tem recorrido a um conjunto de estratégias que incluem o negacionismo científico, a disseminação de desinformação e a perseguição a ativistas socioambientais, criando um ambiente hostil para quem defende a Natureza e os direitos humanos. Mas isso também parte de órgãos do Estado e, em alguns lugares, comandados por políticos de todos os espectros.
No Brasil, segundo país que mais mata ativistas ambientais no mundo, conforme a pesquisa da organização internacional Global Witness, publicada em setembro de 2024, a situação não é diferente. Lideranças indígenas do Pará afirmam que informações pessoais e sigilosas de pessoas ameaçadas, fornecidas ao Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas (PPDDH) — política criada para garantir a segurança de quem atua na linha de frente — podem estar sendo utilizadas de forma indevida, transformando um mecanismo de proteção em um risco adicional para os próprios defensores.
Auricélia Arapiun, liderança do povo indígena Arapiun, no Pará, e integrante do conselho da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), conta que a ocupação histórica, liderada por indígenas a favor da educação no estado, mostrou que lideranças, ativistas e defensores são espionados. Os protestos entre janeiro e fevereiro deste ano exigiam a revogação da Lei 10.820/2024, que abriria caminho para a conversão de aulas presenciais em Educação a Distância (EAD) nas comunidades quilombolas, ribeirinhas e terras indígenas.
“A gente sabe que está sendo monitorado. Eu nunca entrei no programa de proteção,
apesar de já ter recebido várias ameaças, porque eu sempre desconfiei dele [do PPDDH]. E, durante a ocupação da Secretaria Estadual de Educação [Seduc], recebemos inúmeras ameaças. A gente já desconfiava muito que estava sendo monitorado. O que a gente não sabia, e surpreendeu, foi a forma como o governo do estado se infiltrou e como usou o programa e os defensores que participam dele para repassar informações para eles [pessoas do governo]”, conta a liderança.
Auricélia conta que, além de monitorar, o Estado usa a tática de divisão para enfraquecer a luta dos povos indígenas. “A tática que ele usou foi de colocar indígena contra indígena, movimento contra movimento. O que aconteceu na ocupação da Secretaria Estadual de Educação mostra muito o que nós vivemos na era Bolsonaro, num governo de extrema direita. E o governo do Pará é um governo de direita e age com autoritarismo e extremismo. Nós nos sentimos como se estivéssemos ainda na época do golpe militar, sendo monitorados, e ali o tempo todo havia tentativas de espalhar fake news”, relembra.
As fake news e outras formas de desinformação são estratégias bem conhecidas para enfraquecer mobilizações por justiça climática. No contexto das mudanças no clima, o termo usado por especialistas é “desinformação climática”.
Thais Lazzeri, do FALA – Estúdio de Impacto, criadora do Mentira Tem Preço e do Observatório da Integridade da Informação, explica que essas desinformações aparecem em formatos variados e que, no Brasil, parte expressiva do conteúdo negacionista e dos ataques a povos indígenas e a políticas ambientais circula em redes associadas à extrema direita.
Thais Lazzeri descreve a desinformação climática como qualquer conteúdo enganoso que questiona a existência ou a gravidade da crise do clima, distorce a ciência e mina a confiança em soluções, inclusive quando usa “meias-verdades” ou omite contexto. O objetivo é criar dúvida suficiente para atrasar a ação em âmbitos mundial, nacional e local.
Thais explica que existe um ecossistema, que muitas vezes trabalha coordenadamente com múltiplos atores: políticos, influenciadores, veículos e plataformas, empresas com interesse econômico, agências de relações públicas e grupos de fachada. “O objetivo é enfraquecer instituições e políticas climáticas, proteger interesses econômicos e mobilizar base eleitoral por meio da polarização. Não é um post isolado, por isso chamo de cadeia produtiva de mentiras que beneficia todo um ecossistema com poder, influência e dinheiro”, analisa.
Assim como o negacionismo climático, a desinformação sobre o clima também é uma franquia global com filiais locais. Todas as pessoas são impactadas por esse efeito, o que torna ainda mais necessário olhar para a integridade da informação – o direito à informação de confiança — na escala global, nacional e local.
“Quem defende soluções para o clima vai ser alvo, e aí é importante pensar ‘clima’ dentro de uma agenda
intersetorial: educação, saúde, economia, migração, direitos humanos. Por isso, povos indígenas e comunidades tradicionais, defensores ambientais, periferias urbanas e populações vulneráveis a eventos extremos são duas vezes impactados. A mentira viral se torna licença social para atacar quem protege os biomas”, ressalta.
A especialista acredita que as mentiras sobre o clima tendem a aumentar nos próximos anos, especialmente em contextos eleitorais. Isso mostra que a desinformação não é espontânea, mas sim um recurso estratégico de campanha usado para manipular o debate público e minar políticas socioambientais, inclusive de mitigação e adaptação para cidades.
“Quem defende soluções para o clima vai ser alvo, e aí é importante pensar ‘clima’ dentro de uma agenda intersetorial: educação, saúde, economia, migração, direitos humanos."
O racismo ambiental evidencia como determinados grupos, especialmente populações negras, indígenas, quilombolas e camponesas são desproporcionalmente afetados pelos danos ambientais e pela lógica excludente da monocultura. “Entre as consequências mais graves estão os problemas de saúde decorrentes do uso de agrotóxicos, da contaminação das águas e do ar, bem como a precarização das condições de vida e de educação nesses territórios. O racismo ambiental revela-se como uma das faces mais cruéis da crise climática e do modelo de desenvolvimento hegemônico no Brasil”, analisa Olavo Lisboa.
Para mitigar os danos, a longo prazo, a solução é a educação midiática e climática local, mas com recortes de gênero, raça e clima, ancorada no que as pessoas já sabem e trazendo-as para pensar junto. “É um processo de alfabetização crítica, que não só explica como a mentira circula, mas também devolve poder às comunidades para questionar e resistir”, aponta Thais.
É interessante também saber identificar as mentiras com maior alcance no cenário nacional. A especialista traz uma lista dos principais pontos de atenção:
Maria Divina Lopes, educadora popular, militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) da Região Amazônica, mestre em Desenvolvimento Territorial na América Latina e Caribe pela UNESP, considera o agro um modelo predatório.
“Para manter os seus lucros o agronegócio avança cada vez mais sobre a natureza, intensificando a exploração da terra, água, minérios e biodiversidade, e ainda financeirizando os bens comuns que se mantém conservados, garantindo às empresas e países poluidores, ‘o direito de poluir’ compensando as suas emissões de gases de efeito estufa comprando os ditos créditos de carbono”, disse.
Para a militante, o agronegócio não tem nada de pop e até a sua “modernidade” na produlção intensiva é prejudicial. “Esse modelo se apropria de forma privada da floresta, da biodiversidade, da água, do solo e até mesmo da energia, a exemplo dos grandes projetos de energia eólica que causam enormes impactos no Nordeste e as hidrelétricas que continuam explorando os rios causando enormes impactos ambientais e sociais para gerar lucros extraordinários”.
A Agro é Fogo – articulação que reúne movimentos, organizações e pastorais sociais que defendem a Amazônia, o Cerrado, o Pantanal e seus povos – têm mostrado os impactos do modelo agropecuário predatório dando visibilidade às lutas dos povos tradicionais. Isolete Wichinieski, coordenadora operativa da Agro é Fogo e também coordenadora da Campanha Nacional em Defesa do Cerrado afirma que as atividades agrícolas promovem desigualdades sociais, com a alta concentração no campo, com a expulsão de povos originários, comunidades tradicionais e o enfraquecimento da agricultura familiar.
Segundo dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT), somente no Cerrado em 2024 foram registrados 970 ocorrências de conflitos em que o principal agente causador é o agronegócio (59,32%). Conforme dados registrados pelo Centro de Documentação Dom Tomás Balduíno da CPT (Cedoc), de 2019 a 2024, foram registradas 840 ocorrências de incêndios em territórios de povos e comunidades tradicionais no Brasil, resultando em cerca de 180 mil famílias afetadas. “Em média, foram 30 mil famílias impactadas por ano, evidenciando que os incêndios não são fenômenos naturais isolados, mas sim expressões de uma violência ambiental sistemática, marcada por disputas fundiárias, avanço de atividades econômicas ilegais e ausência de fiscalização”, disse Isolete.
Ela explica que na série há grandes oscilações, com picos em 2021 (com cerca de 39 mil famílias afetadas) e 2024 (cerca de 49 mil famílias afetadas). “O aumento registrado em 2024 representa um crescimento de 336% em relação a 2023, quando 11,4 mil famílias foram atingidas. Comparando o início e o fim da série, o número de famílias impactadas quase dobrou entre 2019 (cerca de 27 mil) e 2024, indicando agravamento dos conflitos territoriais e intensificação da destruição ambiental. No período de seis anos, 2021 e 2024 concentram juntos 49% do total das famílias afetadas”, explicou.
A partir de 2020, até o último ano de dados totais publicados (2024), cerca de 227 mil famílias foram vítimas de desmatamento ilegal em diferentes territórios tradicionais do país. Os dados revelam uma concentração expressiva no Norte, que responde sozinho por 61,7% das famílias atingidas (140 mil). Em seguida aparecem as regiões Nordeste (27,4%), Centro-Oeste (9,3%), Sul (1%) e Sudeste (0,7%). Em termos estaduais, o Pará lidera amplamente, com cerca de 70 mil famílias afetadas, quase um terço do total nacional (31,2%).
Baseada em dados que mostram as destruições, ataques e violência, Isolete afirma que há muitas contestações no que se refere a narrativa do agro é pop. Para ela, o agronegócio brasileiro destrói e mesmo assim se mantém privilegiado por uma série de benefícios legais e financeiros.
“O agro é isento de impostos e beneficiado pela Lei Kandir, contribui zero para a arrecadação. Além disso, garante uma grande fatia anualmente em crédito subsidiado pelo plano safra (R$ 516,2 bilhões para o setor empresarial, que engloba médios e grandes produtores), sobrando apenas R$ 78,2 bilhões para a agricultura familiar, via Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf)”.
O cenário é desanimador e triste. Em algumas partes do país, a sensação é que quem julga, legisla e executa as leis são pessoas ligadas aos interesses do agronegócio. Para Sara Tamioso, há um descaso visível por parte do próprio Estado em favorecer a concentração de terras para um público e negar direitos para outros. “Qualquer produtor pode dizer que segue o Código Florestal, mas a verdade é que o próprio Código está defasado em relação à crise climática, e o Cerrado, bioma legalmente desprotegido, acabou sendo o alvo do desmatamento que “vazou” da Amazônia quando a proteção ao bioma aumentou. É muito triste ouvir um bioma tão lindo e rico como o Cerrado ser tratado e relatado como “bioma de sacrifício” para uma produção que não nos agrega nada e concentra renda entre os grandes produtores (de prejuízo ambiental)”.
Apesar de ser possível melhorar o aparato legal, uma solução mais rápida e simples seria implementar de melhor forma as regras que já existem. Arilson Favareto explica que já existem políticas para uma agricultura de baixo carbono e para a agricultura familiar, além de programas e linhas de financiamento para grupos mais vulneráveis. “O problema é que tudo isso é feito sem mudar as grandes prioridades. Um exemplo é o plano Safra: a parte dos recursos que vai para os produtores familiares e mais vulneráveis é muito menor do que aquela que vai para os grandes produtores; a parte que vai para as práticas regenerativas é muito menor do que aquela que vai para as práticas predatórias. Por que até agora não se avançou na implementação do Cadastro Ambiental Rural? O problema maior não é criar novas leis ou programas”.
O pesquisador afirma que o Brasil precisa de uma estratégia de transição para o sistema agroalimentar com uma prioridade: superar a monotonia que hoje marca a forma como produzimos e consumimos alimentos.
“A monotonia das lavouras – cada vez mais concentrada na monocultivo de poucas espécies; a monotonia da criação animal, baseada em baixa variedade genética dos animais, criados de maneira confinada e com elevado uso de antibióticos; e a monotonia das dietas, cada vez mais baseada no consumo de ultraprocessados”, explica dizendo que essa estratégia precisa se traduzir em metas a serem monitoradas pela sociedade, que é zerar o desmatamento, diminuir progressivamente o uso de insumos químicos, substituir o consumo de ultraprocessados por uma dieta mais diversificada e baseada em alimentos frescos.
Enquanto o agro produz pouca variedade em larga escala, a agricultura familiar produz a grande maioria de toda a diversidade de produtos que vai para a mesa do povo brasileiro. Ao mesmo tempo, os povos, comunidades tradicionais e camponesas utilizam de tecnologias ancestrais adaptadas a sua realidade.
“Os povos, comunidades tradicionais e camponesas apostam na produção em pequenas escalas, com tecnologias sociais adaptadas a sua realidade e ao meio em que vivem. Tem no seu território o espaço de vida que está interligado com os biomas e o ecossistema em que vivem. Guardam as sementes, as águas, a biodiversidade, os animais, as plantas, a terra, assim como a sua vida. Os territórios dos povos originários e comunidades tradicionais têm os maiores índices de recuperação das florestas e de proteção de nascentes. Cuidar da terra, para esses povos, não é política de governo, é expressão da própria vida”, disse Isolete Wichiniesk.
Assim como a Agro é Fogo divulga dados e informações que contrapõe as diferentes formas de produção, o MST tem pautado a questão ambiental e climática como uma frente de disputa nas batalhas das ideias com o agronegócio e defendido a garantia da reforma agrária popular, a proteção dos territórios indígenas e quilombolas e o fim do desmatamento em todos os biomas. O reflorestamento das áreas degradadas, controle rigoroso sobre a mineração e a revisão das regras que permitem a exportação de recursos naturais como petróleo, ouro e madeira sem benefícios concretos para a sociedade também são pautas do MST.
“Em nosso plano: “Plantar árvores produzir alimentos saudáveis”, nosso esforço de plantio já soma mais de 40 milhões de árvores, mas sabemos que é preciso muito mais, porém, em cada árvore estamos plantando o cuidado e o compromisso com a construção de um outro projeto de sociedade, onde os direitos de todas as pessoas e da natureza sejam garantidos”, afirmou a educadora popular Maria Divina Lopes.
O cenário é ruim e as pessoas precisam perceber o risco que estamos correndo, porque as consequências serão devastadoras. É preciso construir um futuro diferente e para isso é necessário transformar práticas.
“Hoje podemos sentir na pele as mudanças do clima. Indígenas, quilombolas, ribeirinhas, camponesas, entre outras formas de organização vivem em contato direto com a natureza e podem nos ensinar a reconectar com ela e adiar, como diz Krenak, o fim do mundo. Sempre penso que há caminhos lindos, da cooperação, da vida em comunidade, da abundância, mas acabo tendo que me lembrar que somos muitos e que a diversidade, fundamental, também inclui pessoas ruins, individualistas e mesmo crueis”, disse Sarah Tamioso.
As análises de especialistas apontam que temos que optar por uma agricultura não destrutiva, diversa e que produza alimentos saudáveis, livres de agrotóxicos. Nesse contexto, é urgente buscar modelos mais sustentáveis que respeitem o meio ambiente e os povos que vivem nela. Assim, também será possível reduzir as doenças relacionadas à alimentação e à contaminação ambiental.
“É fundamental que a sociedade, e especialmente os representantes eleitos pelo povo, repensem o modelo de desenvolvimento vigente. Mais do que isso, é essencial que a população exerça seu voto de forma crítica, escolhendo representantes que não estejam vinculados aos lobbies do agronegócio. Esses grupos políticos, frequentemente compostos por grandes proprietários de terra e empresários do setor, legitimam práticas que aprofundam as desigualdades socioambientais, reforçando a exploração da natureza e a marginalização de povos e comunidades tradicionais. Assim, repensar o papel político e econômico do agronegócio é também um ato de resistência contra o racismo estrutural e ambiental que marca a história do Brasil”, finalizou Olavo.
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