A resposta curta para a pergunta é: porque não temos tempo a perder. Ativistas raramente têm. Os territórios dos povos tradicionais estão ameaçados. De Norte a Sul do Brasil, nossos biomas queimam, nossos olhos ardem, sufocamos em fumaça, veneno e fogo ou nos afogamos em tempestades. As previsões sobre a crise climática não apenas confirmam-se como são, em inúmeros casos, o pior cenário imaginado. A desigualdade cresce, o agroextrativismo avança em labaredas, junto com a extrema-direita, que muda sem parar as regras do jogo e ameaça os avanços conquistados, a democracia e a sobrevivência do nosso planeta, com negacionismo e um modo de produção inviável, pautado pelo crescimento infinito. A fumaça cobre o país. Rios morrem. Estamos sob urgência e ameaça.
Precisamos de uma comunicação que amplie nossas demandas, que denuncie, que impacte, que fortaleça.
Mas somos Escola. E gostamos de ziguezague, de pintar e bordar, de percurso e de pensar junto. Então a resposta mais longa é: porque acreditamos que seja na paz ou na guerra só é possível caminhar e aprender se for junto com outras pessoas ativistas. A colaboração e o trabalho conjunto nunca foi perda de tempo, muito pelo contrário.
É comum que na militância, na vida ativista, na construção política certas frases se tornem carimbos indiscutíveis em qualquer argumento sobre o fazer político. “Precisamos fazer trabalho de base”, “nosso campo precisa aprender a se comunicar”, “precisamos de mais ação direta” etc. etc. Nós não discordamos de nenhuma dessas. Um dos problema dessas frases é justamente que elas fazem sentido. Mas queríamos falar de uma delas: “Precisamos furar a bolha”.
E olha, realmente, muitas bolhas precisam ser furadas. Faz parte da tarefa de pessoas envolvidas na luta social de amplificar o alcance de suas vozes, reunir apoiadores e conseguir com mobilização social efetivar mudanças na sociedade. Mas fomos entendendo também, no processo de construção de uma comunicação para uma escola de ativismo, o que quer que ela seja, que precisamos cuidar da nossa bolha.
E essa noção faz muito sentido para a Escola. Fundada em 2012, ela já foi muitas escolas. E segue sendo. Mas sempre trabalhando com algumas chaves muito importantes: educação e comunicação popular, justiça ambiental e climática e segurança e cuidado integral. Ela é uma organização pautada por aprendizagens e pelo fortalecimento das dimensões organizacionais, físicas, estruturais, psicossociais, subjetivas, comunicacionais de ativistas, coletivos e organizações.
Queremos ser começo, meio e começo de novo, como ensinou Nego Bispo. De forma que a Escola sempre fez uma escolha política de ficar nos bastidores. Nos territórios. Na vida concreta. O protagonismo não é nosso. Nunca foi. E a vigilância e a repressão exigem que nos mantenhamos, ainda que transparentes, difusos e disfarçados.
Como ativistas que um dia já tiveram dúvidas sobre os caminhos a percorrer na luta, que já erraram muito, acertaram demais também, mas ,sobretudo, aprenderam coisas inesperadas e incríveis no caminho, chegamos aqui nesse site.
Calma, não queremos dar conselhos arrogantes que ninguém pediu – e nem vamos. Aqui nos propomos a articular a experiência, os sentimentos, a intuição, as invenções e tecnologias ancestrais já inventadas do campo ativista para fazer a roda girar. Traremos o que tem sido visto e escutado. Experiências Sistematizadas. Proposições de percursos de cuidado e bem viver. Partilha de táticas, estratégias, invenções e subversões. A diversidade das lutas. Provocação, desobediência, Reflexão, Análise, Pensamento e aquilo que fica entre o dito e o não dito nas conversas.
Não importa se você é uma pessoa que já nasceu ativista, ou se você se tornou ativista em algum momento ou se você está nesse processo intenso e complexo de se comprometer com a luta por direitos humanos e socioambientais. A gente tá aqui pra fortalecer você que nos lê na sua briga pelo seu sonho.
Então, é por isso que estamos lançando um site de ativistas para ativistas.
Aqui você vai encontrar notícias ativistas, com denúncias e também contação de histórias que nos inspiram. Material de aprendizagem e reflexão para pensar juntos caminhos de enfrentamento dos desafios que compartilhamos. Vídeos que falam da luta ou transmitem saberes. Olhares ativistas para nos inspirar. Vozes ativistas para mantermos a fala alta e a escuta aberta.
E tudo mais que conseguirmos inventar juntos no caminho. Afinal, não temos tempo a perder. Mas ninguém nunca perdeu tempo cuidando de si, de alguém ou do mundo.