Por Luciana Ferreira e Velot Wamba

“Um processo educacional que convidava a população a definir junto com a prefeitura, os investimentos a serem realizados na cidade” assim explica Ivan Rubens Dário Jr, educador popular e geógrafo, sobre a experiência das “Caravanas do OP”. Ivan participou deste projeto que aconteceu durante o processo de construção das reuniões para o Orçamento Participativo da cidade de Suzano, região da Grande São Paulo, entre 2005 e 2008.

As Caravanas do OP tratavam a Educação de Jovens e Adultos de uma maneira ampliada. Não era apenas um processo de alfabetização convencional da leitura e da escrita, mas seguindo Paulo Freire, a aprendizagem que ela proporcionava só fazia sentido se viesse acompanhada da leitura de mundo: “a leitura de mundo precede a leitura das palavras”.

A experiência de Suzano guarda similaridades com as Missões Pedagógicas realizadas na Espanha no início do século XX assim como com as 40 horas de Alfabetização de Adultos realizada por Paulo Freire na década de 1960, em Angicos, Rio Grande do Norte, ambos momentos icônicos de como a alfabetização foi muito além de um processo de aprender a ler juntando letras.

           Caravana do Orçamento Participativo em Suzano/SP

As Missões Pedagógicas na Espanha

A Espanha viu, a partir do final do século 19, uma explosão de alternativas educacionais para jovens e adultos, sobretudo a partir da emergência do sindicalismo operário e, em seu interior, das correntes anarquistas e socialistas, com a constituição das primeiras escolas operárias, casas do povo e ateneus populares, por exemplo. Como resposta, a Igreja Católica criou academias cívicas gratuitas para trabalhadores, escolas dominicais e noturnas vinculadas aos Patronatos da Juventude Operária e aos Círculos Operários de Assistência e Educação.

Assim, a educação de adultos tornou-se um direito e ganhou progressiva institucionalidade mediante leis e decretos que instituíram escolas noturnas e dominicais gratuitas, abonaram os salários dos educadores que a elas se dedicassem e normatizaram seu ensino.

Uma inciativa importante e que marcou o período foram as Missões Pedagógicas, criadas em 1922, uma exaustiva campanha de educação popular que alcançou zonas rurais de menor desenvolvimento socioeconômico. Aos adultos, as Missões dirigiam práticas de alfabetização e difusão cultural – conferências, bibliotecas e museus itinerantes, teatro, cinema e música – inspiradas nas experiências de educação informal promovidas pelos socialistas nas Casas do Povo.

Porém, a tensão crescente na Espanha resultou na sublevação militar que conduziu à Guerra Civil (1936-39), durante a qual as regiões controladas pelos republicanos foram alvo de ações educativas dirigidas aos jovens e adultos com forte conteúdo antifascista, seja no front de batalha, seja na retaguarda e nas zonas rurais. Com a vitória das forças da reação lideradas por Francisco Franco, as experiências inovadoras em educação encontraram um fim abrupto, que deu lugar a um ensino marcadamente confessional atrelado aos valores da Igreja Católica, o que representou um retrocesso atroz.

Método Paulo Freire em Angicos

Quase 30 anos depois, no Brasil, tivemos uma experiência revolucionária de alfabetização de 300 adultos no interior do Rio Grande do Norte, na cidade de Angicos, em 1963, que ensinou também direitos trabalhistas. “Depois do trabalho a gente seguia para a aula com o caderninho debaixo do braço. Aquilo mudou a minha vida, porque quando a gente não sabe ler a gente não participa de nada, a gente não é ninguém”, relembra Paulo Alves de Souza, um dos alfabetizados pelo programa em matéria que trata do legado deste projeto. “A grande originalidade foi o respeito ao analfabeto, o respeito à cultura e linguagem do analfabeto. Na época predominavam as cartilhas com a linguagem do alfabetizador, do MEC. Paulo Freire ridiculariza a cartilha do MEC. Alfabetização se faz na discussão de temas políticos”, relembra Marcos Guerra, um dos coordenadores da experiência em Angicos (veja o vídeo abaixo).

Em apenas 40 horas, um grupo de professores liderados pelo educador Paulo Freire, ensinou 300 adultos a ler e a escrever, gerando novas possibilidades de emprego, e dando aos trabalhadores o tão sonhado poder do voto. Paralelamente, ensinou os trabalhadores sobre seus direitos – especialmente os trabalhistas – o que, coincidentemente, culminou em uma greve de trabalhadores da construção civil na cidade. Ironicamente, o projeto em Angicos foi financiado pela Aliança para o Progresso, do governo dos Estados Unidos, que era um braço educacional na luta contra o avanço do comunismo na América Latina.

Vale lembrar que na década de 1960, 40% dos brasileiros eram analfabetos e só um terço das crianças frequentavam a escola. Com a ascensão da Ditadura Militar em 1964, o método Paulo Freire virou uma bandeira a ser combatida, Paulo Freire e outros responsáveis pela missão em Angicos foram perseguidos e exilados, e a experiência só voltou a ser referência e a servir de inspiração para projetos similares massivos a partir da redemocratização em 1985.

E o que temos hoje? 13 milhões de jovens e adultos com mais de 15 anos ainda não sabem ler nem escrever, dado que coloca o Brasil entre os dez países com mais analfabetos no mundo, segundo a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).

Treinamento de professores que atuaram em Angicos, nas 40 horas de alfabetização

Alfabetização em sentido ampliado em Suzano

As Caravanas do OP foram realizadas pelos conselheiros e conselheiras do Orçamento Participativo e aconteceram em 12 regiões da cidade, para conhecer as 36 prioridades eleitas nas plenárias regionais deliberativas. “Um processo educacional que convidava a população a definir junto com a prefeitura, os investimentos a serem realizados na cidade”, assim explica Ivan Rubens Dário Jr., geógrafo com estudos na área da educação, nosso entrevistado. “Na prática, era decidir se faria creche, unidade de saúde, asfalto, enfim, serviços e obras públicas nos bairros da cidade”. Na chegada às regiões, a condução da Caravana era assumida pelos conselheiros e conselheiras, que apresentavam as características locais para os demais, discutindo três prioridades eleitas, que saíram do papel e ganharam vida no encontro com a população participante.

O processo envolvia ainda algumas assembleias nos bairros, que ofereciam diversas atividades: formação, arte, cultura pra crianças, pros adultos… Era uma partilha sobre a cidade! Uma interação com a cidade e com as pessoas que nela viviam. No caso das Caravanas do OP, o processo de Alfabetização ganhava contornos de educação, pois inspirados em educadores como Paulo Freire, o trabalho buscava alfabetizar na temática do orçamento público, lidando com números, planilhas, dados, mil palavras novas para a população, mas, principalmente, em criar um sentido político para esta atividade. Discutir sobre os rumos da cidade era decidir também sobre a vida em comunidade. Um modo de vida bom para todes.

Ivan, afinal: o que eram as caravanas do Orçamento Participativo? O que acontecia?

Ivan Rubens Dário Jr – Bem, realizadas todas as Plenárias Regionais, o conselho do OP iniciava o seu trabalho. O primeiro passo era conhecer a si mesmo: Suzano é uma cidade de muitos contrastes regionais. Demos o nome de CORPO para o Conselho do Orçamento Participativo. Devagar as pessoas dos diferentes pontos da cidade iam se conhecendo. Conheciam também os conselheiros e as conselheiras indicad@s pelo prefeito para representar as diferentes secretarias municipais. O CORPO tinha maioria popular. Neste processo percebemos que as pessoas conheciam da cidade aqueles lugares, aqueles pontos, aqueles trajetos mais usuais. Ou seja, de casa para a escola, de casa para o trabalho, um pouco do bairro, o centro da cidade, os trajetos mais utilizados e tal. Então, como decidir as prioridades para um ponto da cidade que eu mal conheço?

As caravanas eram o momento dedicado a esse tipo de conhecimento empírico da cidade. Era um dia dedicado a andar pela cidade, pelos bairros, pelas ruas, conhecer equipamentos públicos, praças, ruas e avenidas, falar com as pessoas, trocar ideia, bater papo.

Era um dia inteiro dedicado a isso. Saíamos do centro da cidade em um ônibus da prefeitura e passávamos o dia investigando, descobrindo, conhecendo um pouco mais da cidade de Suzano. O desafio era passar por todas as 12 regiões e olhar, parar, cheirar, sentir os lugares. Nesse esforço, pensar um pouco a respeito da vida e da realidade local, das necessidades locais e, desta maneira, qualificar as decisões a serem tomadas nas reuniões do CORPO. Preparávamos material de apoio com mapas da cidade, com o trajeto do ônibus, com os tempos e as paradas previstas, enfim, com a organização do dia que era definida nas reuniões anteriores à Caravana.

E tem um detalhe interessante: Suzano é conhecida como a cidade das flores. Então, quando o ônibus entrava na região Hortênsia, por exemplo, a dupla de conselheiros/as da Hortênsia apresentava a região dizendo o que sabiam a respeito dela. As características, os equipamentos públicos, os aspectos mais gerais, um pouco da história de formação daquele conjunto de bairros e loteamentos. Veja que as pessoas precisavam se preparar, estudavam bastante. Eu percebia que, ao assumirem tal responsabilidade, passavam a olhar seu bairro com mais atenção, percebiam detalhes, falavam coisas interessantíssimas e, neste processo, descobriam seu próprio bairro – menos naquilo que falta e mais naquilo que tem. Conselheiros e conselheiras faziam uma espécie de mergulho em sua região e, durante a Caravana, conheciam também as outras 11 flores (ops), regiões. Veja que todo o CORPO ia devagarinho ampliando seu olhar para a cidade: uma cidade é maior que os pontos e trechos. Uma cidade é um organismo vivo, é dinâmica, está permanentemente em processo de construção, uma cidade é também seus fluxos. Quero dizer que, ao apresentarem seu bairro, ao conhecerem um pouco mais a sua cidade, conheciam a si mesmos também. Com o tempo, me dei conta que uma espécie de “cidade subjetiva” ia se produzindo, ou seja, ao produzir uma cidade, produz-se também uma cidadania, ou melhor, um jeito de pensar a cidade, um outro olhar para a cidade e, sobretudo, de lutar por ela.

Veja que as pessoas precisavam se preparar, estudavam bastante. Eu percebia que, ao assumirem tal responsabilidade, passavam a olhar seu bairro com mais atenção, percebiam detalhes, falavam coisas interessantíssimas e, neste processo, descobriam seu próprio bairro – menos naquilo que falta e mais naquilo que tem. (…) Com o tempo, me dei conta que uma espécie de “cidade subjetiva” ia se produzindo, ou seja, ao produzir uma cidade, produz-se também uma cidadania, ou melhor, um jeito de pensar a cidade, um outro olhar para a cidade e, sobretudo, de lutar por ela.

Ivan Rubens Dário Jr

Geógrafo e educador popular

Evidentemente que o Pensamento de Paulo Freire está muito presente em todo esse movimento, influencia isso tudo. Em Suzano particularmente, entre 2005 e 2008, nossa equipe lia o Paulo Freire. (…) Mas nossa aposta sempre foi no encontro. Porque se o ambiente é bom, se as pessoas se encontram despidas de verdades absolutas, os conhecimentos e os saberes vão nascendo. (…) Tinha gente organizando as discussões, deixando fluir as conversas, trazendo informações e elementos para o debate. Mas o que rolava mesmo era debate, conversa. Quem disse que um técnico da prefeitura sabe mais que um morador ou uma moradora do bairro?

Ivan Rubens Dário Jr

Esta matéria fala sobre as Missões Pedagógicas na Espanha do início do século XX e sobre a alfabetização de adultos de Paulo Freire em 1963, você vê semelhanças nessas experiências com a caravana do OP?

O Orçamento Participativo tem origens no processo de redemocratização do Brasil. Ele surge de uma maneira bem experimental em pequenos municípios num esforço de democratizar a as decisões e, ao mesmo tempo, mostrar a realidade e o funcionamento da máquina pública. Suas origens estão nos governos locais e nas lutas populares. Quero dizer que os governos populares iam aprendendo a ‘pilotar’ a máquina e esse aprendizado era coletivo. Com o crescimento do Partido dos Trabalhadores e outros partidos também, com o crescimento eleitoral de lideranças políticas populares, o Orçamento Participativo foi ganhando corpo, novas experiências foram acontecendo e se espraiando pelo país. A experiência de Porto Alegre, por exemplo, deu grande visibilidade ao OP, nacional e internacionalmente. Evidentemente que o Pensamento de Paulo Freire está muito presente em todo esse movimento, influencia isso tudo. Em Suzano particularmente, entre 2005 e 2008, nossa equipe lia o Paulo Freire. Me lembro de um grande amigo, o professor Juarez Braga, um sujeito maravilhoso que representava a Secretaria de Educação no CORPO, chegando nas reuniões com livros nas mãos. Lemos juntos, dentre outras coisas, “Educação como prática da liberdade”. Depois lemos juntos “Pedagogia do Oprimido”, e o Juarez, já velhinho e franzino, falando com alegria dos livros em análises interessantíssimas que nos empolgavam muito.

Então eu acho que sim, tudo isso está relacionado e se relacionando até hoje. As experiências populares vão se fazendo e se refazendo. Em Suzano nós não seguimos protocolos. Claro que uma grande plenária popular exige uma organização. Claro que um conselho popular composto por pessoas eleitas livremente precisa de uma organização inclusive em respeito ao tempo que as pessoas estão deixando suas casas para, juntas, construírem uma grande casa chamada cidade. Mas nossa aposta sempre foi no encontro. Porque se o ambiente é bom, se as pessoas se encontram despidas de verdades absolutas, os conhecimentos e os saberes vão nascendo…

Veja, estamos falando de Educação de Jovens e Adultos. As Plenárias Populares aconteciam sempre em escolas e, apesar disso, não havia uma institucionalização. Quero dizer que não havia uma pessoa dizendo o que se deveria fazer, o que se deveria aprender, tampouco como fazer. Tinha gente organizando as discussões, deixando fluir as conversas, trazendo informações e elementos para o debate. Mas o que rolava mesmo era debate, conversa. Quem disse que um técnico da prefeitura sabe mais que um morador ou uma moradora do bairro? Claro que o técnico da prefeitura ou a secretária de Saúde, a secretária de Educação e o secretário de Obras sabem coisas fundamentais para a discussão. Mas quem sabe do bairro, da rua, é quem vive ali. Quem sabe da vida na região Hortênsia é a dona Neide que mora no Jardim Nova América, que conversa com as vizinhas, que frequenta a Unidade Básica de Saúde e participa do Conselho Gestor da Unidade, que participa da comunidade da Igreja, que organiza a barraca do pastel nos dias de festa, que visita as crianças devido ao seu trabalho na pastoral da família. Estou dando um exemplo aqui… Então esses saberes todos iam se encontrando, se enredando e, neste enlace o que saia ao final era um tecido. Fizemos inclusive uma bandeira cujos retalhos simbolizavam cada região da cidade num grande mapa de Suzano tecido pelas muitas mãos do CORPO.

Vou dizer mais umas poucas palavras para finalizar. Nosso OP em Suzano era todo pontuado por cultura. As plenárias começavam com um teatro inspirado no pensamento do Augusto Boal. Nosso material sempre trazia uma música popular, às vezes uma imagem, uma arte plástica. Apostávamos na arte também como abertura de perspectivas, abertura de pensamentos, abertura de possibilidades e horizontes. Trago este elemento para dialogar com as Missões Pedagógicas na Espanha. De alguma maneira e na medida do possível, nós realizamos uma espécie de alfabetização em Orçamento Público. Dentre as decisões do CORPO, a primeira obra inaugurada foi um Centro Cultural, o orçamento destinado à Secretaria de Cultura atingiu números incríveis e nós realizamos festivais de teatro, de cinema, de música, cursos gratuitos de violão etc… Não estou exagerando em dizer que Suzano respirava cultura e democracia.

Passados todos esses anos desta inciativa e, diante da situação da perda de direitos, do desmonte de políticas públicas que vem ocorrendo no Brasil, você vê espaço pra Caravana acontecer novamente? Qual seria o formato, a abordagem?

(risos) Vamos pensar um pouco nesta palavra, na origem (etimologia) da palavra Caravana. Pense comigo num grupo de pessoas nômades andando no deserto com seus camelos. Num deserto não tem avenidas, esquinas, sinais de trânsito, nada disso. Num deserto tem areia, vento e sol. E este grupo faz o seu percurso nômade. O que vemos hoje é um território político cada vez mais demarcado, cujos movimentos são meio que pré-definidos e controlados. Vigiados. Estamos diante de um governo genocida. O Presidente da República não gosta de gente, não gosta da vida. Ele é um cara de mal com a vida. Ele deu inúmeras declarações que nos levam a conclusão que ele prefere a morte, e ele atua para o desmonte das políticas públicas e direitos sociais que garantam, na medida do possível, vida para as pessoas. O Jair se associa a esses grupos que gostam mais de dinheiro que de gente, gostam mais de armas, têm um prazer sádico em matar, em derrubar florestas, em poluir rios, em devastar os sonhos. Eles gostam mesmo é de monocultura.

E também tem este contexto de pandemia que nos coloca em isolamento. Há alternativas? Claro que sim. Sempre há. E quando não há alternativas, isso não nos paralisa porque há também um caminho aberto para inventar, para construir alternativas. Neste sentido, há Caravanas de todo tipo a serem inventadas. Dentro da caravana tem “van”, isso mesmo, van que leva um grupo de pessoas para algum lugar na cidade, para uma viagem, para a praia. Tem as vans do SAMU, do bombeiro, do transporte público complementar. Tem aquelas vans adaptadas que viram escritório, tem as que viram casa até. Ao criar as Caravanas, vamos criando novos modos de viver na cidade, vamos criando novos encontros, novos modos de vida… Vamos criando a nós mesmos. O Paulo Freire transformou esperança em verbo: esperançar. Esperançamos caravanear por aí em nossos ativismos.

 

 

E também tem este contexto de pandemia que nos coloca em isolamento. Há alternativas? Claro que sim. Sempre há. E quando não há alternativas, isso não nos paralisa porque há também um caminho aberto para inventar, para construir alternativas. Neste sentido, há Caravanas de todo tipo a serem inventadas.

Ivan Rubens Dário Jr.

Geógrafo e educador popular

Ivan, você lançou um livro, em co-autoria com Romualdo Dias, “Pedagogias da Cidade: corpos e movimento”. É um relato sobre a sua experiência com Suzano e a política do Orçamento Participativo, certo? O livro tem muita música, muita poesia, muita cultura popular. Conta um pouco pra gente sobre essa escolha em conectar arte, orçamento e educação?

Então, é uma aposta na arte. Tem um cara de bigode grande que nos convida a “fazer da vida uma obra de arte”. Então eu me deixei levar por isso. Deixei minha escrita fluir… Uma ideia trazia uma letra de música ou uma melodia, então eu não brigava, não. Eu aceitava essa deriva e ia tentar entender porque a canção apareceu. O que ela estaria me dizendo? De onde veio a canção? Eu aceitava esses devaneios e me deixava levar. Como se ventos soprando me desviassem um pouco e, nesses percursos outras novas paisagens fossem se revelando. Deixei meu pensamento vagar como os nômades no deserto em caravanas.

Talvez eu sempre tenha me deixado derivar pela arte, sobretudo pelas canções. Escuto muita música desde muito menino. As canções foram, e ainda são, minha escola (no sentido forte da palavra), minha EJA. Assim conheci Clementina de Jesus, Ivone Lara, Cartola, Gilberto Gil, Noel Rosa, Aldir Blanc, Paulo Cesar Pinheiro… Gente mais nova como Chico Cesar, Paulinho Moska, Zélia Duncan, Adriana Calcanhoto. É tanta gente linda fazendo música. Aliás, o que seria da vida, o que seria de nós sem a música? Quero nem pensar… A arte nos atravessa… A arte produz aberturas, a arte alarga as fronteiras do possível.

Minha formação inicial é em Geografia, daí a paixão pelas cidades. Sou um andarilho, adoro vagar, andar sem destino, me perder e me encontrar como canta a Clementina de Jesus na canção “Será Mangueira”, adoro caravanear pelas cidades. Faço isso sempre que posso. Paralelo a isso, tem uma paixão pela Educação: nasci em uma família de professores e professoras. Então, à medida que fui me alfabetizando na gestão da cidade de Suzano e no orçamento público, veio o desejo de convidar mais gente para se alfabetizar também. Mais do que isso, produzir sentidos para a cidade com todo tipo de gente que mora na cidade.

Por fim, acredito na potência política da arte no sentido de abrir perspectivas para a produção de uma singularidade, nem melhor e nem pior – não se trata disso, mas singular, algum tipo de criação, de experiência estética a fim de tornar a vida um pouco melhor e mais bela.

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