A 21ª edição do Acampamento Terra Livre (ATL) – maior mobilização indígena do Brasil – reuniu milhares de lideranças de diferentes povos e biomas em Brasília (DF) para reivindicar direitos, fortalecer a luta pela demarcação dos territórios e denunciar as violações contra os povos originários. Entre os dias 7 e 11 de abril, plenárias, debates, atividades culturais e marchas mostraram a resistência coletiva em defesa da vida, das florestas, das águas e das culturas ancestrais.
Com o tema “Em defesa da Constituição e da Vida”, o ATL 2025 reuniu mais de 7 mil indígenas, segundo a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). O acampamento no centro do poder político brasileiro mostrou que povos indígenas de todo o Brasil seguem mobilizados e unidos em torno de suas pautas históricas.
Em duas grandes marchas, indígenas usaram táticas criativas para fazer denúncias e exigir a demarcação de terras. Fotos de políticos que não se comprometem com a pauta indígena foram colocadas dentro de caixões e enterradas. Em outro momento, uma réplica da estátua da Justiça foi exibida pelas ruas de Brasília com um cocar – adorno usado na cabeça por muitos povos indígenas.
No penúltimo dia, ao final de uma marcha, um grupo de indígenas sofreu violência policial e precisou de atendimento médico após ser atingido por gás lacrimogêneo. A Apib e várias outras organizações se manifestaram contra a repressão durante um ato legítimo.
Os protestos alertam principalmente para a urgência na demarcação das terras indígenas. A ausência de demarcação expõe comunidades inteiras à violência, à falta de políticas públicas, ao avanço do desmatamento, à contaminação de rios, invasões ilegais e a várias outras ameaças constantes. A regularização dos territórios protege a vida dos povos, preserva os biomas, a biodiversidade, o clima e fortalece a autonomia e o bem viver dentro das comunidades.
A programação do ATL contou a plenária “A Resposta Somos Nós: Povos Indígenas rumo à COP-30” , com comemorações aos 20 anos da Abip e com o lançamento da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) Indígena. Elaborada a partir do acúmulo de propostas das organizações regionais da Apib, a NDC Indígena reforça que o debate climático precisa considerar a equidade, a autodeterminação e a participação efetiva dos povos indígenas e comunidades tradicionais na implementação da NDC brasileira, no âmbito do Acordo de Paris.
O Acampamento Terra Livre reuniu também lideranças políticas, como as ministras Sônia Guajajara, Marina Silva, a deputada federal indígena Célia Xakriabá, além de outros parlamentares e representações políticas internacionais.
Neste ano o ATL também contou com a Tenda de Cuidados Digitais – um espaço estratégico de acolhimento, apoio prático e orientação sobre proteção digital para quem está na linha de frente da luta por direitos. Com escuta atenta, cuidado e foco na proteção coletiva, a iniciativa reuniu especialistas em segurança digital para orientar quem está na linha de frente das lutas, incluindo lideranças e comunicadores indígenas. Além da Escola de Ativismo, participaram representantes da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Semeadores, Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn) e Tapajós de Fato.
No último dia de evento a Carta Final do Acampamento Terra Livre, lançada pela Apib, afirma diante de um cenário global e nacional marcado pelo avanço da extrema-direita e por ataques sistemáticos aos nossos direitos, é preciso reafirmar a importância da resistência e da luta coletiva.
“As crises climática, ambiental, alimentar e civilizatória têm em nossos modos de vida, saberes e práticas tradicionais o caminho para a regeneração do planeta. Nossa ciência e sistema ancestral, expressa na agroecologia, nas economias indígenas, na gestão coletiva dos territórios, na nossa relação espiritual com a Mãe Natureza, preserva a biodiversidade, todas as formas de vida, incluindo os mananciais e sustenta sistemas alimentares saudáveis e equilibrados. Por isso, demandamos a retomada imediata das demarcações de todas as terras indígenas no Brasil, como uma política climática efetiva, e o financiamento direto para a proteção integral dos nossos territórios e nossos modos de vida”.
Confira aqui a Carta Final do 21º Acampamento Terra Livre na íntegra.