A gente já sabe que é preciso de água pra sobreviver e, por isso, pessoas tendem a viver perto das águas. Ao passar do tempo, um senso de comunidade no entorno se desenvolve.  Isso não seria diferente no Vão Grande.

No Pantanal, essas ligações com as águas são ainda mais profundas. E no Mato Grosso, e em especial no Vão Grande, a iniciativa privada tentou findar com a história e os laços das comunidades quilombolas com um certo rio.

Em 2018, a Agência Nacional de Energia Elétrica (ENEEL) incluiu o Rio Jauquara num inventário de possíveis pontos para a construção de uma Pequena Central Hidrelétrica (PCH).  Apesar do ‘pouco’ tamanho, tem o potencial de fazer um grande estrago.

Pasmos com essa notícia, os quilombolas do Vão Grande se uniram com o Ministério Público Federal (MPF). A construção da hidrelétrica fere a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT): não é permitido realizar empreendimentos sem a consulta de quem vive na região impactada.

No decorrer do processo, a comunidade se viu mais unida e fortalecida do que nunca: naquele ano, foi fundado o Comitê Popular do Rio Jauquara, organização dos moradores do Vão Grande e região para denunciar ameaças às águas.  Mas outra importante medida também foi tomada.

Para defender a criação da PCH, alegaram no tribunal que os moradores do Vão Grande não haviam cultura, tradições, costumes e nada que configurasse a população enquanto comunidade: por isso, o jovem Pedro Silva escreveu um livro necessário que conta a história das tradições de quem vive na região.

O livro Narrativas do Interior documenta orações, cantigas, mitos, causos e sabedorias do Vão Grande. O jovem diz que “Se não tivesse o rio ali, não teria comunidade. Ele é muito importante para qualquer atividade de lá”.  A obra foi editada e publicada pela Escola de Ativismo e a Sociedade Fé e Vida.

O livro, disponível gratuitamente em nosso site, foi uma peça fundamental para a vitória da Ação Civil Pública movida pela população O impacto foi tão grande que a escola quilombola da região, a José Mariano Bento, começou a escrever um livro de histórias contadas pelos alunos.

Viva o povo do Vão Grande! Viva o Comitê Popular do Rio Jauquara!