A cidade de Seattle, nos Estados Unidos, viveu um desses momentos na virada do último século. As multidões conseguiram arruinar o sucesso de um evento neoliberal com mais de 134 países. Essa é história da Batalha de Seattle.

Em plena década do fim do mundo bipolar e de um capitalismo cada vez mais consolidado, tensões sobre a globalização avançavam. Pessoas falavam cada vez mais como se incomodavam com a homogenização do consumo e da vida. Isso é um mero resumo pra entender o que vem a seguir.

A Organização Mundial do Comércio (OMC) marcou a sua última reunião do milênio em Seattle. O encontro, que buscava consolidar a agenda neoliberal pelo mundo, contaria com diplomatas e representantes comerciais de 134 países. Na véspera do 1º dia de evento, a cidade acordou repleta de faixas e cartazes...

Naquele 30 de novembro, milhares de manifestantes estavam espalhados pela cidade. A polícia não se planejou o suficiente para entender que ativistas planejavam protestar e interromper o evento há meses. A história começou a ser escrita.

A polícia esperava um público cinco vezes menor do que o calculado: com protestos em todos os cantos, a ofensiva estatal ficou desnorteada. Planejado por nove meses e gestado também através do uso da mídia para criticar o evento, a quantidade de pessoas presentes também surpreendeu organizadores.

Pelo tempo que foi planejado, muitos grupos se juntaram ao processo de organização do protesto. Algo que fez diferença foi um conselho participativo e democrático para debater e deliberar táticas de ação nos dias de bloqueio do evento. Com uma narrativa amarrada, a definição do lema  “outro mundo é possível”  unificou os ativistas e ativismos.

E apesar da mensagem ser uma, a pluralidade das pessoas é imensa: por isso, o protesto não foi um só. Foram vários. Em uma parte da cidade, acontecia um teatro a céu aberto. Reuniões corporativas também eram interrompidas com a arte.  Em outro ponto, bloqueavam a chegada de delegados da conferência. Tudo isso irritou e funcionou.

A falta (ou tática) de preparo da polícia foi revelada através do uso ostensivo de armas brancas contra manifestantes. Até mesmo a Força Nacional dos EUA foi convocada. Muita gente foi presa no processo. E apesar de toda a violência nos dias de manifestação, a cerimônia de abertura da conferência foi cancelada e as poucas negociações que ocorreram foram um fracasso.

Muita coisa rolou ali: mais pessoas estavam sabendo  o que era o movimento antiglobalização, pessoas detidas não foram processadas criminalmente e, um dos pontos mais chave: a mídia cobriu muito mais a indignação das pessoas do que a Conferência.  Isso é o que acontece  quando as pessoas se unem.

Este conteúdo foi baseado nos textos ‘Battle In Seattle’ de John Sellers para a Beautiful Trouble e ‘A “Batalha de Seattle”: um marco do movimento antiglobalização’ de Bruno Leal para o Café História.